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1 FINANCIAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO NO BRASIL

2.2 Receita do Fundef

A receita para a educação se compõe de 25% de toda a arrecadação estadual e municipal, proveniente de impostos e transferências. A receita do Fundef se compõe do complemento da União mais 15% da arrecadação:

● do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços e de Comunicação (ICMS);

● do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) - transferência constitucional, definida pelo Art.159 da Constituição Federal, composta por 22,5% do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

● do Fundo de Participação dos Estados (FPE) – transferência constitucional, também definida pelo Art. 159 da Constituição Federal, composta por 21,5% do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

● da Lei Complementar nº 87/96 (Lei Kandir) – prevê o ressarcimento, pela União, em favor dos estados e municípios, a título de compensação financeira pela perda de receitas decorrentes da desoneração das exportações de produtos primários. Esta Lei dispõe sobre o imposto dos estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e da comunicação, e dá outras providências.

Dos demais impostos estaduais e municipais, 25% continuam compondo a receita para a educação devendo 60% dela ser utilizada para o ensino fundamental. Entre os recursos municipais que não entram na composição do Fundef, mas que participam da receita para a educação, estão aqueles provenientes dos seguintes impostos: Imposto sobre Serviços Sociais (ISS); Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis (ITBI). Dos recursos estaduais não entram no Fundef o Imposto sobre Transferência de Causas Decorrentes (ITCD) - resultante do leilão de bens nos casos de morte sem herdeiros, ficando o estado com 100% do arrecadado, e 50% do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA). Além do FPE e do FPM, estados e/ou municípios recebem recursos de outras transferências constitucionais como: Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) - 0,6% do IR e do IPI; Fundo do Norte (FNO) - 0,6% do IR e do IPI; Fundo do Nordeste (FNE) - 1,8% do IR e do IPI; Fundo de Compensação pela Exportação de Produtos Industrializados (FPEX) - 10% do IPI – cada estado repassa 25% do valor recebido aos municípios; Imposto Territorial Rural (ITR) e Imposto sobre Operações Financeiras sobre a Comercialização do Ouro (IOF-OURO).

Com a implantação do Fundef, a União (18%), os estados e os municípios (25%) continuarão com a obrigação de aplicar os mesmos percentuais mínimos

destinados à manutenção e desenvolvimento da educação. O que muda, segundo o INEP (1998c) é que:

● parte dos recursos vinculados à educação agora forma um Fundo vinculado ao ensino fundamental;

● os estados e os municípios perdem o controle direto sobre os recursos que passaram a formar o Fundo;

● os recursos do Fundo são distribuídos em função do número de alunos existente em cada rede pública de ensino fundamental; ● estado ou município que oferece educação fundamental, recebe dinheiro para custeá-la, assim, aquele que não proporciona o atendimento no ensino fundamental, repassa a administração dos seus recursos àquele que propicia esse atendimento;

● as redes estadual e municipal são compelidas, legalmente, a propiciar a valorização dos profissionais do magistério, oferecendo-lhes novo Plano de Carreira e Remuneração, melhorias salariais, de acordo com a disponibilidade de recursos, treinamento e aperfeiçoamento;

● esses fatores concorrem para uma mudança de atitude das autoridades educacionais, que passam a valorizar a permanência do estudante em sua rede de ensino, induzindo o poder público a oferecer um ensino de melhor qualidade.

Do total de recursos do Fundef, o artigo 70 da Lei nº 9.424/96 determina que 60% deverão ser utilizados pelos estados, Distrito Federal e municípios “para a remuneração dos profissionais do magistério, em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público.” (BRASIL, 2001). Os 40% restantes devem ser gastos em despesas com manutenção do ensino fundamental. Todos os recursos do Fundef ficam destinados exclusivamente a despesas com o ensino de 1a

a 8a séries da rede pública, vedada sua utilização

como garantia de operações de crédito internas e externas, contraídas pelos governos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, admitida somente sua utilização como contrapartida em operações que se destinem, exclusivamente, ao

financiamento de projetos e programas do ensino fundamental.” (§6o,

Art. 2o, Lei nº 9.424/1996).

Os recursos (60% do Fundef) destinados à remuneração do magistério do ensino fundamental (regular, especial, indígena, supletivo, inclusive alfabetização de adultos), podem ser utilizados para:

● Despesas com remuneração de professores - estas despesas abrangem,

“além do salário, também abonos, gratificações, 13° salário, férias e outros encargos sociais imbutidos na folha de pagamento, inclusive as parcelas do empregador” (MEC, 2000b, p. 13). Até o ano 2001 podiam ser incluídas as despesas com professores leigos.

● Capacitação de professores leigos – no período de 1997 a 2001 foi permitida a utilização destas verbas para a formação de professores leigos de modo a habilitá-los ao exercício da docência. Essa habilitação só poderia ser oferecida no

ensino médio, para professores que atuam da 1a à 4a série do ensino fundamental, e

em curso superior, graduação plena, para professores que atuam da 5a à 8a série do

ensino fundamental, oferecidos por instituições credenciadas, com os cursos devidamente reconhecidos pelos respectivos Conselhos de Educação (MEC, 2000b, p. 13-14).

Os demais recursos destinados à manutenção do ensino fundamental (40% do Fundef) podem ser aplicados, segundo o MEC (2000b, p. 15-17):

● Na remuneração e aperfeiçoamento dos demais profissionais da educação

– Entre estes profissionais podem ser incluídos os profissionais do ensino fundamental que desenvolvem atividades técnico-administrativas ou de apoio, lotados nas escolas ou em órgão/unidade administrativa do ensino fundamental. Não devem ser remunerados com recursos do Fundef o Secretário de Educação nem os profissionais que prestam assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica a alunos do ensino fundamental.

● Aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino – incluem-se aqui despesas com a compra e manutenção de equipamentos necessários ao funcionamento do ensino fundamental, ampliação, construção e acabamento de escolas e instalações físicas utilizados exclusivamente para o ensino; materiais de limpeza e serviços de vigilância e reformas totais ou parciais das instalações físicas destinadas ao ensino fundamental.

● Uso e manutenção de bens vinculados ao ensino – entre as despesas que podem ser incluídas nesse item encontram-se aquelas realizadas com a locação de prédios para o funcionamento de escola, a aquisição de materiais de consumo e a realização de consertos e reparos nas instalações físicas.

● Levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino – estes estudos podem envolver professores, alunos e custos no ensino fundamental.

● Realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento do ensino – entre as despesas com atividade-meio podem ser incluídas aquelas realizadas com o pagamento de serviços de apoio (vigilância, limpeza, etc) e compra de materiais de consumo.

● Amortização e custeio de operações de crédito destinados a atender ao disposto nos itens anteriores – despesas para “quitação (principal e encargos) de empréstimos destinados a investimentos em educação. Exemplo: financiamento para construção de escola municipal.” (MEC, 2000b, p. 16).

● Aquisição de material didático-escolar e manutenção de transporte escolar - nesse item podem ser incluídas: a compra de material desportivo, livros e material de consumo para alunos e professores; a aquisição de veículo para transporte escolar ou locação de veículo, desde que seja a opção mais econômica e as despesas com manutenção desses veículos, incluindo a remuneração do motorista, os produtos e serviços necessários à conservação e funcionamento dos veículos.

De 1998 a 2002 houve aumento das verbas redistribuídas pelo Fundef. Verificou-se o aumento percentual da parcela que coube aos municípios como reflexo da evolução do processo de municipalização do ensino fundamental. Em 1998 os municípios receberam 38% das verbas redistribuídas pelo Fundo. Em 2002 esse percentual aumentou para 49,21%. (Tabela 01).

Tabela 01 - Redistribuição das verbas do Fundef entre Governos estaduais e Governos municipais - 1998/2002

Valores em R$ Milhões

ANOS

GOVERNOS ESTADUAIS GOVERNOS MUNICIPAIS Receita TOTAL Contribuição ao Fundef Receita % Contribuição ao Fundef Receita % 1998 8.604,7 8.181,6 62,0 4.166,1 5.075,4 38,0 13.257,0 1999 9.922,3 8.706,0 57,0 4.679,6 6.475,8 43,0 15.181,8 2000 11.698,8 9.285,8 55,2 5.421,2 7.544,5 44,8 16.830,3 2001 13.307,6 10.612,0 53,43 6.161,4 9.248,5 46,57 19.860,5 2002 14.549,7 11.159,3 50,79 6.924,6 10.811,3 49,21 21.970,6

Na maioria dos estados houve redistribuição de verbas da rede estadual para a rede municipal. Em 1998 aconteceu em cinco estados (Roraima, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo) a transferência de verbas da rede municipal para a estadual. Em 1999, 2000 e 2001 isto aconteceu em Roraima e São Paulo e, em 2002 somente em Roraima que vem apresentando os maiores percentuais de atendimento do ensino fundamental pela rede estadual apesar de ter acontecido uma redução dos 95,9%, registrados em 1998, para 89,5% em 2002.

Na composição das verbas do Fundef a maior parcela fica por conta da arrecadação do ICMS que vem representando mais de 60% do total do Fundo. O aumento no montante de verbas não tem representado grandes modificações percentuais. As menores parcelas ficam por conta do IPI exp., seguido da LC nº 87/96 e da Complementação da União, como se pode verificar na Tabela 02 retirada do Balanço Fundef 1998/2000 (MEC, 2000a, p. 33) e complementado com dados da Secretaria do Tesouro Nacional.

Tabela 02 – Composição do Fundef segundo origem dos recursos - 1998/2002 ORIGEM DOS RECURSOS 1998 1999 2000 2001 2002 FUNDEF R$ Milhões % FUNDEF R$ Milhões % FUNDEF R$ Mil % FUNDEF R$ Mil % FUNDEF R$ Mil % FPM 1.838,3 13,8 2.042,0 13,4 2.238.733 12,7 2.626.914,9 13,1 3.249.839,4 14,2 FPE 1.638,1 12,3 1.819,9 12,0 2.149.846 12,2 2.531.969,2 12,7 3.131.050,3 13,6 ICMS 8.758,9 66,0 9.834,3 64,7 11.924.683 67,5 13.519.214,3 67,6 15.275.094,3 66,6 IPI exp 238,0 1,8 239,7 1,6 264.624 1,5 284.702,0 1,4 281.718,0 1,2 LC 87/96 314,0 2,4 684,6 4,5 565.665 3,2 536.004,6 2,7 591.492,1 2,6 SUB-TOTAL 12.787,2 96,3 14.620,4 96,2 17.143.551 97,1 19.498.805,0 97,5 22.529.194,1 98,2 Compl. União 486,6 3,7 579,9 3,8 505.637 2,9 502.979,9 2,5 421.804,0 1,8 TOTAL FUNDEF 13.273,8 100,0 15.200,3 100,0 17.649.188 100,0 20.001.784,9 100,0 22.950.998,1 100,0 FONTE: MEC e MF/STN