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1 FINANCIAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO NO BRASIL

2.4 Valor mínimo aluno/ano

Uma vez recolhidos os impostos e enviados ao Fundo, cada estado e município recebe verbas de acordo com o número de alunos matriculados no ano anterior, levantados pelo Censo Escolar. Para tanto deve ser calculado o valor mínimo a ser gasto por aluno/ano, dividindo-se a arrecadação total do Fundef pela “matrícula total do ensino fundamental no ano anterior, acrescida do total estimado de novas matrículas”, conforme o parágrafo 1o

, do artigo. 6o

, Lei nº 9.424/96 (BRASIL, 2001). Desse modo, em cada estado, os impostos dos municípios que arrecadam mais que o necessário para cobrir o valor mínimo por aluno/ano, serão redistribuídos, em forma de complementação, para aqueles cujos gastos por aluno/ano são inferiores ao valor mínimo definido em nível nacional, atendendo ao que dispõe o artigo 6o

da Lei nº 9.424/96. Nos estados em que a arrecadação não for suficiente para aplicar o valor mínimo estabelecido por aluno/ano, a União se

encarrega de prover a complementação. O cálculo do valor mínimo aluno/ano tem sido objeto de polêmica que remete à interpretação dos artigos 1º e 6º da Lei nº 9.424/96. Segundo Semeghini (2002a, p. 2), então Diretor do Departamento de acompanhamento do Fundef, o artigo primeiro deixa claro que o Fundef é um fundo criado no âmbito de cada estado e do Distrito Federal. Assim sendo, o cálculo do valor gasto por aluno/ano deve ser feito tomando-se os valores e matrículas de cada estado e não os valores totais do país, o que resultaria num valor médio e não em valor mínimo. Tendo em vista o aumento da arrecadação e a redução das matrículas pela regularização do fluxo, a tendência do valor médio aluno/ano nacional é aumentar. Se o valor médio for tomado como valor mínimo, em poucos anos a União passaria a ser o principal financiador do ensino fundamental obrigando-se à utilização de fontes adicionais de recursos. “Quanto melhor a situação, tanto maior terá que ser a complementação da União. Trata-se de procedimento equivalente ao de um médico que resolve ir aumentando a dosagem de remédio quanto melhor está o paciente.” Semeghini (2002a, p. 2) explica que “a própria lei 9.424 deixou claro que não confundia os conceitos: com um valor médio (na época) de cerca de R$ 400,00, fixou o mínimo em R$ 300,00 para o primeiro ano de funcionamento do fundo.”

Desde a implantação do Fundef a interpretação dada por todos os que criticaram o valor mínimo aluno/ano fixado pelo Governo Federal se fez considerando os cálculos da arrecadação e matrícula do país e não de cada estado. A fixação do valor mínimo a partir do menor valor/aluno entre os estados iria isentar a União da complementação. Estados como o Maranhão e o Pará teriam permanecido, em 1998 com o valor anual por aluno menor que R$200,00. O valor mínimo definido por estado não modificaria a situação geral já que cada unidade da federação passaria a redistribuir os poucos recursos (nos casos dos estados mais

pobres) entre as escolas estaduais e municipais de ensino fundamental. Deve-se considerar que o principal mérito do Fundef está exatamente em aumentar esse valor possibilitando o repasse de maior volume financeiro para estados e municípios com problemas educacionais mais graves. Os valores definidos para o custo mínimo têm sido os maiores alvos das críticas que vêm sendo feitas ao Governo Federal em relação à complementação de recursos para o ensino fundamental. Se considerado um valor médio nacional, em 2002 cerca de doze estados brasileiros receberiam complementação da União. Isso poderia ser inviável diante das metas de redução e racionalização de recursos definidos pelo Governo Federal mas, certamente, contribuiria para o deslanchamento de ações visando o crescimento qualitativo na oferta do ensino fundamental em todo o país.

Em 1997 foi definido o valor mínimo de R$300,00 para os gastos aluno/ano. Este valor, segundo Monlevade e Ferreira (1997), havia sido proposto com base na arrecadação de 1995 e matrículas de 1994. Obedecendo-se ao mesmo critério para cálculo, o valor mínimo para 1997 ficaria em R$364,75.

Os estudos realizados pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação indicaram que, com o Valor Mínimo de R$ 315,00, definido para 1998, o aporte da União para os Fundos se reduziu para aproximadamente R$ 491.000.000,00 anuais, destinados a seis Estados: PA, MA, PI, CE, PE e BA. Se o Valor Mínimo se fixasse em R$ 400,00, o complemento da União seria de aproximadamente R$1.559.000.000,00 anuais, beneficiando os Fundos de quinze Estados: RO, PA, MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, BA, MG, PR, MT, MS e GO. (MONLEVADE; FERREIRA, 1997, p.71).

Em 1999, segundo Castro (1999 a), dentre os 5.506 municípios brasileiros havia 2.159 (39%) cujos recursos não eram suficientes para aplicar o valor de R$

315,00 por aluno. Dentre estes, 921 tinham um valor por aluno inferior a R$150,00. Esses 2.159 municípios tiveram um aumento médio de 129% em sua receita para o ensino fundamental. A estimativa do valor mínimo para o ano 2000 ficava em de R$511,35 (1ª à 4ª série) e R$536,91(5ª à 8ª série e educação especial), entretanto foram estabelecidos os valores de R$ 333,00 (1a à 4a série) e R$ 349,65 (5a à 8a e

educação especial).

Pode-se verificar as modificações que ocorreriam com a fixação da média nacional como valor mínimo na Tabela 04, retirada do Relatório sobre a fixação do valor mínimo nacional por aluno/ano para 2003, elaborado pelo Grupo de Trabalho instituído pela Portaria/MEC nº 71, de 27 de janeiro de 2003 que teve seus membros designados pela Portaria/MEC nº 212, de 24 de fevereiro de 2003 (FERNANDES, 2003, p. 8). Ter-se-ia um maior número de estados beneficiados e o total da complementação da União, no período de 1998 a 2002, se elevaria de dois para quinze bilhões de Reais.

Tabela 04 – Comparativo entre o valor mínimo nacional do Fundef (Valor médio X Valor praticado)

ANO

VALOR MÍNIMO NACIONAL (R$) COMPLEMENTAÇÃO DA UNIÃO