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THE RECONTEXTUALIZATION, MULTIMODALITY AND HYBRIDISM IN APPROACHING OF HUMOR GENRES

No documento Línguas Estrangeiras e outras áreas (páginas 197-200)

Maria Aparecida Resende Ottoni (UFU)

cidottoni@gmail.com

RESUMO: Com o objetivo de contribuir para o debate sobre gêneros, apresento uma discussão de algumas questões que têm sido identificadas como fundamentais na abordagem dos gêneros, especialmente dos humorísticos, e que cada vez mais têm merecido a atenção de diferentes estudiosos/as. Neste artigo, focalizo o papel da recontextualização, da multimodalidade e do hibridismo na constituição desses gêneros. PALAVRAS-CHAVE: recontextualização; multimodalidade; hibridismo; gêneros do humor.

198 ABSTRACT: Aiming at to contribute for the debate on genres, I present a discussion of some subjects that have been identified as fundamental in the approach of the genres, especially of the humorous ones, and that more and more have deserved the attention of different researchers. In this article, I focus the importance of the recontextualization, multimodality and hybridism in the constitution of genres of humor.

KEYWORDS: recontextualization; multimodality; hybridism; genres of humor.

Considerações iniciais

Com o advento da televisão e, mais tarde, da internet, houve um crescimento considerável na produção do humor e uma mudança na forma dessa produção, do consumo e distribuição dos gêneros do humor (GHs). Consequentemente, houve também uma transformação nesses gêneros e o surgimento de novos gêneros, o que está relacionado a mudanças discursivas mais amplas no seio da sociedade contemporânea e a mudanças nas práticas sociais.

Nesse contexto de transformações, considero que é preciso que se discutam algumas questões fundamentais envolvidas na constituição dos GHs – não só deles -, tais como: a recontextualização, a multimodalidade e o hibridismo. Assim, neste artigo, apresento uma discussão introdutória dessas questões importantes para a abordagem dos gêneros.

Com isso, objetivo contribuir para o debate sobre o tema e apontar alguns aspectos que ainda precisam ser mais investigados com relação aos gêneros, especialmente dos humorísticos.

Este trabalho é oriundo de reflexões realizadas durante a produção de minha pesquisa de doutorado, desenvolvida no Ensino Fundamental em uma escola pública e voltada para a leitura crítica dos GHs. Essa pesquisa teve como principais bases teóricas os pressupostos da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2003; FAIRCLOUGH, 2001; CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999) e da Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1978, 1989 E 1994; HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004; BUTT et al., 2000).

Diferentes questões envolvidas na abordagem dos gêneros do humor

De acordo com Fairclough (2003), uma forma pela qual os gêneros diferem uns dos outros é quanto às tecnologias de comunicação para as quais eles são especializados, e um fator na mudança dos gêneros são os desenvolvimentos nessas tecnologias. Tais

199 desenvolvimentos são acompanhados pelo desenvolvimento de novos gêneros, como, por exemplo, os ‘formatos’ na web, trazendo juntos gêneros que são tomados de outras tecnologias, como as entrevistas televisivas jornalísticas transformadas em gênero do humor em diferentes sites, e gêneros que têm se desenvolvido como parte da mudança tecnológica, como o e-mail. Isso, como já dito, está relacionado a transformações nas práticas sociais.

Fairclough considera que essas transformações são tanto manifestas nas mudanças no sistema de gêneros34 quanto em parte provocadas por tais mudanças.

Como Bakhtin teoriza, as limitações para a constituição dos gêneros são históricas e sociais e, como categorias históricas, eles são sujeitos a um processo de transformação contínua e sua estabilidade relativa é constantemente ameaçada por forças que atuam sobre as coerções genéricas. Essa visão de Bakhtin é básica ao estudo dos gêneros discursivos. Para ele, os estudiosos da linguagem deveriam sempre se preocupar com a construção de sentidos em relação a outros sentidos. Tudo isso está relacionado a questões importantes como: a recontextualização, a intermedialidade, a multimodalidade, a intertextualidade, a interdiscursividade e o hibridismo.

A recontextualização é um conceito desenvolvido na sociologia da educação (BERNSTEIN, 1996), que pode ser frutiferamente operacionalizado dentro da análise de discurso e texto (FAIRCLOUGH, 2003). Ela diz respeito à apropriação de elementos de uma prática social dentro de uma outra, colocando a primeira dentro do contexto da última e a transformando de formas particulares no processo (BERNSTEIN, op. cit.; CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999). Esse conceito significa, então, “o deslocamento, a apropriação, a relocação e o estabelecimento de relações com outros discursos em um contexto institucional particular” (MAGALHÃES, 2005, p. 235).

Pode-se dizer que a recontextualização e a intertextualidade imbricam-se, pois envolvem deslocamento, apropriação e relocação de materiais de um contexto para outro.

Fairclough (op. cit.), na sua abordagem do significado representacional, incorpora uma visão mais ampla da representação dos eventos sociais como recontextualização, segundo a qual ao se representar um evento social, entende-se que ele é incorporado ao contexto de um outro evento social, recontextualizando-o. Ele explica que campos sociais, redes de práticas sociais e gêneros particulares, como elementos de tais redes, têm

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Para Fairclough (2001, p. 161), o sistema de gêneros que é adotado em uma sociedade particular, em um tempo particular, determina em que combinações e configurações os tipos de atividade, estilo e discurso ocorrem. Ao se referir ao sistema de gêneros, o autor aplica o princípio da primazia das ordens de discurso: “uma sociedade – ou uma instituição particular ou domínio dentro dela – tem uma configuração particular de gêneros em relações particulares uns com os outros, constituindo um sistema. E, é claro, a configuração e o sistema estão abertos à mudança.” (idem, p. 162).

200 associados a eles ‘princípios recontextualizadores’ específicos (BERNSTEIN, op. cit.) e que a esses princípios subjazem diferenças entre os modos como um evento social particular é representado em diferentes campos, redes de práticas sociais e gêneros. De acordo com tais princípios recontextualizadores, os elementos dos eventos sociais são seletivamente ‘filtrados’.

Em outras palavras, as escolhas para a representação de um evento e de atores sociais são feitas em função do campo social em que se situa o/a produtor/a da representação, do gênero produzido e das redes de práticas em que ele se situa. Isso significa que em um gênero humorístico, por exemplo, a representação de um evento social e de atores sociais não se dá da mesma forma que em um telejornal. O propósito de cada gênero influencia na seleção dos elementos e no modo como a representação se dá.

No que diz respeito aos gêneros humorísticos, essencialmente mediados35, observo que com o surgimento da internet tem havido, em grande escala, uma recontextualização de gêneros do humor existentes na oralidade, ou impressos em revistas, livros e gibis, ou veiculados pela televisão, bem como a recontextualização de gêneros outros, não-humorísticos, pelos sites de humor e pela televisão. Esse é o caso, por exemplo, das piadas antes só contadas oralmente e ou impressas em livros, revistas humorísticas e gibis, e agora veiculadas em sites de humor; das entrevistas produzidas nesses sites, como “Tobby entrevista” do sítio eletrônico www.charges.com.br36

, que incorporam o gênero entrevista de programas televisivos de auditório; e dos esquetes do programa Casseta e Planeta, Urgente!, que trazem o gênero novela para a composição do programa de humor, satirizando principalmente as novelas da Rede Globo exibidas às 21 horas.

Nesse processo de recontextualização e em função de uma série de mudanças socioculturais, surgiram transformações nos gêneros já existentes e também nos enquadramentos desses gêneros. Navegando-se pelos diferentes sites humorísticos, pode-se perceber como são diversas as classificações para os gêneros do humor e como diferentes textos são agrupados sob a mesma designação. Para se ter uma idéia disso, veja parte da lista apresentada em três sites de humor:

Humor Tadela Charges.com.br Cia do Humor

35 A (inter)ação mediada é ‘ação a distância’, ação envolvendo participantes que estão distantes um do outro no espaço e/ou tempo e que depende de alguma tecnologia de comunicação.

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No documento Línguas Estrangeiras e outras áreas (páginas 197-200)