• Nenhum resultado encontrado

Agrupamento 4: temas – assinar abaixo assinado; participar de reuniões sociais ou políticas; colher abaixo-assinado; usar adesivo ou broche para

8 SÍNTESE DE RESULTADOS E ANÁLISES

8.4 Redes Sociais, Jogos, Noticiários e Participação Política

Um grau mais alto de interesse nas redes sociais não corresponde a uma maior participação política. Ao contrário: um menor interesse nas redes sociais está relacionado a uma maior participação politica.

Identificou-se também que a mesma relação existe quando analisamos o interesse por jogos: um grau de interesse menor ou moderado na utilização da internet para jogar está associado com maiores médias de participação política. Dito de outra forma, quanto maior o interesse em jogos, menor a média de participação política. Lembramos aqui, que a faixa etária mais jovem (13 a 15 anos) que é a que mais joga e menos participa politicamente, está iniciando ainda seu processo de socialização política.

A atenção dada a noticiários em diversas mídias mostrou ser positiva e direta: quanto maior o interesse em ler ou assistir aos informativos, maior a média de participação política. Não nos é possível averiguar se essa relação foi retroalimentada pela própria participação na amostra estudada. Imaginamos que sim, por conta da coincidência da coleta de dados com as manifestações de junho de 2013, por conta da ampla divulgação dos eventos pela mídia.

Por fim, ao investigamos a relação entre participação política e os diferentes conteúdos acessados ao utilizar a internet, percebemos a formação de grupos de interesse relacionados distintos. Concluímos, portanto, que a utilização da internet

pode estimular a participação política, mas a possibilidade desse despertar de consciência está também fortemente vinculado à utilização que o próprio usuário faz do instrumento. Ou seja: o uso da internet está sim relacionado à participação política, mas não em uma relação direta e positiva: dependerá da forma de utilização do instrumental e de outros estímulos do ambiente no processo de socialização e composição de uma cultura política.

9 CONCLUSÃO

O principal objetivo deste estudo foi analisar a influência das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), na participação e consciência política de jovens da região metropolitana de São Paulo. O uso da internet foi base para investigação das demais variáveis que impactam esse processo.

A partir de nossa principal hipótese (H1), de que o uso indiscriminado da internet não está relacionado diretamente com a participação e consciência política dos jovens, concluímos que embora exista forte impacto da utilização dos meios virtuais na participação política, a mediação individual do usuário se faz de acordo com seus próprios e diversos interesses. Sendo assim, a utilização da internet não conduz direta e indiscriminadamente à participação e consciência política dos jovens da amostra estudada.

A nossa segunda hipótese; (H2) de que apenas os usuários que fazem uso diferenciado da internet sofrem a influência positiva e direta em termos de participação e consciência política, foi confirmada pelos resultados do estudo.

Esta constatação evidencia o papel fundamental exercido pelo usuário na utilização do instrumento, e na relação existente entre os seus valores, em como ele se relaciona com os espaços de pertencimento e seus sentimentos de eficácia pessoal e política. Ou seja, fortes elementos de subjetividade que compõem a sua identidade política.

Tais conclusões são condizentes com resultados alcançados em estudo análogo realizado pela equipe do YeS (EKSTROM; OSTMAN, 2013), com jovens na cidade de Orebro, na Suécia. A investigação mostrou que a utilização da internet está relacionada à participação política, mas que os jovens têm papel ativo em sua própria socialização política.

Os resultados também estão alinhados com estudos realizados no campo da mídia e socialização política de jovens. Essas pesquisas indicam que o uso da internet em si tem pouco impacto determinístico no comportamento social, reforçando o caráter proativo dos jovens nos seus processos de socialização nesse campo (AMNA et al, 2009).

Os primeiros dados analisados apontam a formação básica do tecido social da estrutura da amostra, e nos revelam principalmente o forte impacto de duas

variáveis: a condição socioeconômica e a questão racial/étnica. Ambas se imbricam na composição histórico-cultural de nossa sociedade.

A grande questão por trás dos estudos de participação política e internet é a possibilidade que a tecnologia oferece para reduzir as lacunas de participação democrática provocadas pela disparidade econômica e social do país. As diferenças apontadas entre os usuários e não usuários da internet nos mostram tanto uma condição já conhecida – a da desigualdade e suas sequelas – assim como a possibilidade, de avançar em direção a uma maior participação e consciência política. A desigualdade digital apenas expressa o panorama social e econômico que contempla outras desigualdades.

O espectro de informações exibido permitiu verificar quais são as variáveis que provocam maior impacto na participação e consciência política no universo da amostragem, incluindo vários cruzamentos que possibilitaram também avaliar como essas variáveis relacionam-se com o uso da internet.

A testagem estatística em relação ao interesse e participação política entre as diferentes raças/etnias e renda familiar mostrou haver diferenças entre as categorias; ou seja, significância estatística. Isso evidencia que o universo dos que se autodeclaram brancos é distinto dos pardos/negros, num país em que pobreza e exclusão envolvem especialmente a segunda categoria. Assim, os brancos apresentam médias bem maiores de participação política do que os pardos/negros (Gráficos 15 e 16). O problema é complexo e não pode ser examinado como apenas como uma questão racial.

Esse dado é bastante significativo e pode talvez ser compreendido ao analisarmos historicamente a composição étnica e social do país. Referimo-nos aqui ao processo de libertação dos negros no Brasil, em fins do século XIX, e a forma que os seus descendentes passaram a participar da vida social e política do país. Esses passaram a compor, desde então, a base inferior da pirâmide social em relação a recursos econômicos e seus consequentes efeitos, que se refletem naturalmente nas possibilidades de participação política.40 Não se trata, portanto, de uma condição étnica, mas sim social e econômica com fortes reflexos no comportamento político desse segmento.

40 Para maiores informações ver: Florestan Fernandes, A integração do negro na sociedade de

Dentre todas as variáveis estudadas, a de maior impacto na participação política da amostra mostrou ser a renda familiar. Os testes estatísticos comparando renda familiar e participação política mostraram haver diferença significativa entre os grupos, apontando que as rendas superiores a R$ 3.020,00, que correspondem às classes A, B e C apresentam maior participação política que as rendas abaixo desse valor, que correspondem às classes D e E (Gráfico 18).

Observamos que à maior faixa de renda da amostra corresponde também à maior utilização da internet. De outra parte, o maior percentual de não usuários está entre aqueles com renda de até dois salários mínimos. Isso se deve não apenas ao custo do acesso, mas dentre outras possibilidades, também à maior disponibilidade de tempo livre destinada à navegação virtual.

Estudos clássicos sobre participação política (VERBA; SCHLOZMAN; BRADY, 1995) apontam condições socioeconômicas, gênero e idade como variáveis de forte impacto no envolvimento político. Na amostra analisada neste estudo, vimos que a variável gênero não mostrou diferenças, e a faixa etária que demonstrou maior participação política foi a de 21 a 25 anos. A variável de maior impacto neste estudo, porém, demonstrou ser a renda familiar.

Sabemos que quanto mais recursos materiais ou renda as pessoas possuem, mais tempo e energia para se envolverem em questões políticas elas terão. Tais fatores, associados ao acesso a recursos de tecnologia e informação possibilitam que as camadas mais altas busquem informação e reflexão sobre temas relacionados à política. O mesmo não acontece com os estratos de baixa renda.

Observamos também na análise entre participação política online e offline, que as camadas mais altas têm médias maiores de participação. Foi identificada pelo estudo uma clara divisão entre as classes, compondo dois segmentos distintos a partir da classe C (renda de R$ 2265,01 até R$ 3020,00 - gráfico 38), apresentando dessa forma esse valor ou ponto, como um marco para maiores possibilidades de participação política.

Sabemos também que existe uma relação positiva entre o sentimento de eficácia pessoal e participação política online, trazendo assim mais um elemento para o fortalecimento daqueles que dispõem de acesso às tecnologias de informação e comunicação.

Possibilidades de ampliação dos espaços democráticos através da participação política existem. Mas no Brasil ainda subsistem os limites que só

poderão ser vencidos pelo incremento de uma cultura política, que por sua vez depende de formação e investimento constantes em educação formal, saúde, cultura, dentre outros.

Ao considerarmos a internet um espaço, podemos traçar paralelos com o conceito de mapas mentais, que são basicamente representações do mundo e uma estratégia cognitiva de apreensão da realidade (DOWS; STEA, 1982). Segundo esse conceito, a permissão para penetrar os espaços nos é previamente estabelecida por um mapeamento “permitido” pelas relações sociais. Sendo assim, mesmo que tenhamos a possibilidade de conhecer outros conteúdos por meio da utilização da tecnologia, nos restringimos em geral à nossa possibilidade cognitiva. Essa relação pode ser evidenciada pelos diversos usos que grupos distintos fazem da internet.

Podemos ainda nos apoiar no conceito de habitus desenvolvido por Bourdieu e muito bem trabalhado por Serpa, ao discorrer sobre os espaços cognitivos, para compreender essa questão:

Cada posição/condição é definida por suas propriedades intrínsecas, mas também por suas propriedades relacionais em um sistema de diferenças, de posições diferenciadas, por tudo aquilo que ela não é, tudo que a distingue e que a opõe a outras posições/condições (2005) .

Sendo assim, a identidade política dos jovens vai se compor por meio da integração de elementos do seu próprio contexto social, permeados pelas condições de gênero, cor/raça, estratificação social, que, por sua vez são moldados de acordo com os valores sociais internalizados pelos jovens, e as “permissões” cognitivas para explorar ou não os espaços virtuais ou presenciais que vão definir os repertórios possíveis de atuação política nas suas vidas41.

A internet oferece imensas possibilidades de romper essas barreiras, mas os aprisionamentos cognitivos aprendidos pelas relações sociais e determinantes econômicos, e a ausência de elementos que impulsionem a reflexão podem impedir que o processo de conscientização da importância de sua participação política e do próprio valor da política, como elemento de transformação do mundo a sua volta, aconteça. O grande diferencial continua sendo um problema já conhecido no cenário nacional: a distribuição de renda.

A pesquisa realizada se constitui em um painel geral inédito do comportamento político dos jovens em termos de amplitude de variáveis investigadas e tipo de análise. As limitações do estudo devem-se à própria natureza de caracterização geral, impossibilitando análises mais aprofundadas de todas as variáveis investigadas. Os pontos levantados nesse estudo serão analisados separadamente e divulgados em forma de artigos em futuro próximo.