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Redistribuição e reconhecimento: caminhos para a busca por justiça social

CAPÍTULO 1. As bases teóricas da pesquisa: literatura fundamental

1.6. Redistribuição e reconhecimento: caminhos para a busca por justiça social

As noções trazidas por Fraser (2002, 2006, 2007), podem contribuir para a análise no que tange os conceitos de: justiça, redistribuição, reconhecimento e paridade de participação.

Para Fraser (2007), o conceito de justiça é composto por duas vias fundamentais, a da redistribuição e a do reconhecimento e é com base nelas que procurei analisar e interpretar as políticas e as ações no contexto das políticas educacionais. Para a autora, só é possível falar de justiça se tivermos redistribuição e reconhecimento atuando conjuntamente. Portanto, a reivindicação por reconhecimento é uma reivindicação por justiça.

A autora propõe uma análise do reconhecimento como uma questão de status social, o que ela chama de modelo de status. Assim, “[...] o que exige reconhecimento não é a identidade específica de um grupo, mas a condição dos membros do grupo como parceiros integrais na interação social” (FRASER, 2007, p. 107). Esse modelo de status busca questionar os padrões institucionalizados de valoração cultural que subordinam alguns membros da sociedade.

Para Fraser (2006), as lutas por reconhecimento, mobilizadas por reivindicações ligadas às questões de raça, gênero, sexualidade, ou seja, ligadas às identidades de grupos

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específicos, aparece como um paradigma dos conflitos políticos do século XX. De certa maneira, o reconhecimento cultural vai se contrapondo à redistribuição socioeconômica e se apresentando como caminho na luta política por justiça. O que a autora propõe é que consigamos relacionar as vias de redistribuição, fundamentais porque é, em última instância, uma luta pela igualdade social, e a luta por reconhecimento, que se refere ao reconhecimento cultural. Trata-se do combate a duas formas de injustiças que compõem esse quadro de desigualdades ao qual estamos inseridos/as: a privação econômica e o desrespeito cultural (FRASER, 2006).

Partindo do princípio que não é justo que alguns indivíduos e grupos sejam alijados da condição de parceiros/as integrais da interação, simplesmente por não estarem em acordo com os padrões hegemônicos de valoração cultural, a noção de justiça da autora permite compreender como se inserem as políticas de reconhecimento no contexto das políticas educacionais. Essas políticas de reconhecimento visam combater a subordinação institucionalizada que viola os direitos à justiça de parte dos/as cidadãos/ãs.

Para Fraser (2006, p. 233), “[...] quando lidamos com coletividades que se aproximam do tipo ideal da sexualidade desprezada, em contraste, encaramos injustiças de discriminação negativa que precisam de remédios de reconhecimento”. Quando padrões institucionalizados depreciam o feminino, os/as não brancos/as, os/as não heterossexuais, os/as índios/as, os/as ciganos/as, dentre outros/as, essas pessoas são inseridas no lugar de outros/as ou de minorias e passam a enfrentar dificuldades em suas conquistas. Assim, é possível dizer que não há condições justas na igualdade de oportunidades.

O centro normativo da concepção de justiça aqui mencionado é a noção de paridade de participação, ou seja, iguais condições no que se refere a reconhecimento e distribuição. Como aponta a autora “[...] a condição de ser um par, de se estar em igual condição com os outros, de estar partindo do mesmo lugar” (FRASER, 2007, p.118).

No que se refere às políticas de reconhecimento e redistribuição, a autora enfatiza os dois principais caminhos para a superação dessas injustiças mencionadas: a afirmação e a transformação. Ela chama de afirmação àquelas políticas que visam corrigir as desigualdades sociais sem, no entanto, modificar a estrutura que as sustentam. As ações de transformação, em contraponto, buscam corrigir essas desigualdades por meio da mudança nas estruturas e arranjos sociais que as sustentam.

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Assim, tanto no tocante à redistribuição quanto a reconhecimento, os dois caminhos, o da afirmação e o da transformação, se apresentam como horizontes de possibilidade de combater as desigualdades econômicas e culturais.

No que se refere à luta contra a homofobia é possível visualizar por qual caminho seguem as políticas não só no âmbito da educação como no geral. Remédios de caráter afirmativo são as vias pelas quais têm seguido essas políticas, principalmente com caráter identitário, e muito ligadas às pautas estruturadas pelo movimento LGBT. Então, afirma-se a identidade do grupo como estratégia de reivindicação de políticas e direitos à justiça. Se caminhasse pela via da transformação, essas políticas teriam que buscar a desconstrução das dicotomias de pensar em uma sociedade que só seria composta por homo e heterossexuais. O objetivo transformativo aqui, não visa à consolidação da identidade gay ou transexual ou lésbica, mas sim, a desestabilização das identidades fixas, abrindo espaços pra outras possibilidades de reagrupamentos (FRASER, 2002, 2006, 2007).

Se fosse sugerir uma política de redistribuição que tivesse como foco garantir uma inserção econômica para travestis, por exemplo, poderia pensar em políticas afirmativas que, tentassem garantir espaços pra essa população no mercado de trabalho, na educação, no que se refere ao direito ao lazer, por meio de programas de seguro social e outros tipos de auxílios. Isso talvez abrisse um canal para inserção das travestis nesse espaço, mas não garantiria uma transformação da estrutura social que visasse uma mudança na estrutura econômico-política existente. Assim, as políticas afirmativas compensariam as injustiças econômicas, mas manteriam intactas as estruturas que engendram esses arranjos sociais legitimadoras das desigualdades (FRASER, 2006).

O que a autora sugere é uma busca por reformulações que questionem e desestabilizem os arranjos sociais que nos aprisionam. Procurarei analisar as políticas de promoção da diversidade sexual na escola nessa perspectiva, identificando por quais caminhos elas têm seguido, quais as conquistas e avanços, bem como retrocessos dessa caminhada em prol de uma sociedade mais justa (FRASER, 2006).

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CAPÍTULO 2. Gênero e diversidade sexual no cenário das políticas públicas para a