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REESTRUTURAÇÃO DAS ENTIDADES DESPORTIVAS NO BRASIL

4 SOCIEDADE EMPRESÁRIA DESPORTIVA

4.3 REESTRUTURAÇÃO DAS ENTIDADES DESPORTIVAS NO BRASIL

A adoção do regime empresarial pelas entidades de prática desportiva no Brasil, em busca do processo de reestruturação, pode ocorrer de duas diferentes maneiras: através da conversão propriamente dita da associação ou da constituição em tipo societário do destacamento do departamento de futebol profissional.

A primeira possibilidade trata de uma transformação propriamente dita de um clube desportivo, sob o modelo associativo, em uma sociedade empresária, conforme algum dos tipos previstos nos arts. 1.039 a 1.092 do CC, constituída na integralidade de seus bens e suas atividades. Alternativa que carece de vantagens aos clubes, sendo de difícil exequibilidade diante da incompatibilidade entre os dois institutos, assim como analisado em Portugal, e, portanto, não cabe maiores considerações acerca.

A segunda hipótese é a formação de uma nova pessoa jurídica, sob a forma de sociedade empresária, com o objetivo de gerir e promover o departamento de futebol profissional e a devida manutenção da estrutura associativa do clube desportivo, agora como participante do capital social da sociedade ou até mesmo controlador desta. Ainda que não exista um processo específico definido, com diretrizes e parâmetros norteadores para a devida formatação jurídica, a lei também não impede a adoção deste caminho de estruturação jurídica das entidades de prática desportiva.

Cabe assinalar, neste momento, a existência de duas realidades concomitantes e incompatíveis dentro da organização e funcionamento dos clubes de futebol profissional: de um lado tem-se o clube social sob o modelo jurídico associativo, com a integração social e suas raízes históricas, além dos vínculos subjetivos com seus associados e a promoção recreativa de seus departamentos amadores; e do outro lado o departamento de futebol profissional, de viés fortemente pautado no capitalismo de cifras milionárias, que exige, assim, uma gestão adequada à exploração comercial do futebol baseada no âmbito empresarial.

Assim sendo, é por meio de uma estruturação jurídica híbrida, com a coexistência de dois modelos jurídicos em paralelo, que permita tanto o desenvolvimento das atividades sociais como da atividade esportiva de alto rendimento relativa ao futebol profissional.

Nesse sentido, devem ser mantidas as atuais estruturas jurídicas das associações (ou das sociedades civis, ou das sociedades simples), para manutenção e desenvolvimento das atividades de promoção cultural, educacional e esportiva amadora, geralmente desenvolvidas sem fins

lucrativos, e voltadas fundamentalmente para a satisfação dos interesses comuns dos sócios ou associados. Sob essas estruturas jurídicas tradicionais devem ser mantidas, portanto, a história desses clubes, os vínculos “afetivos”, “familiares” e “paroquiais” geralmente existentes entre os associados ou sócios.138

Por outro lado, o desenvolvimento do futebol profissional de alto rendimento e a sustentabilidade dos negócios relativos ao mercado da bola é estabelecido mediante uma estruturação adequada baseada no regime empresarial.

Relativamente ao tipo societário a ser adotado pela nova pessoa jurídica criada pelos clubes, isto é, entre aquelas previstas nos arts. 1.039 a 1.092 do CC, é preciso que a sociedade criada seja capaz de suportar as exigências apresentadas no atual mercado do futebol profissional. Deste modo, as únicas opções minimamente compatíveis aos objetivos buscados são a sociedade limitada e a sociedade anônima – tema tratado ao item 3.2.

Como já mencionado, em sendo de singular importância o desenvolvimento econômico dessas sociedades empresárias desportivas, o principal objetivo nesse contexto é a captação de recursos e a valorização da marca através de uma gestão altamente profissional, de modo que a sociedade anônima apresenta melhores condições e ferramentas como estrutura jurídica.

Como destaques, observa-se a divisão do capital social das sociedades anônimas em ações e a responsabilidade de cada sócio ou acionista será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas139, mecanismos para capitalização de recursos, composição de

uma estrutura de gestão profissional e transparente, tudo em conformidade com as disposições reguladas na Lei das Sociedades Anônimas, Lei n.º 6.404/76.

Ao considerar a natureza peculiar da atividade desportiva profissional, é necessário que se busque formas que abarquem essas nuances sem que prejudique a instituição consagrada, como é o caso dos clubes brasileiros de futebol. Para tanto, o processo de constituição dessa sociedade empresária desportiva pode ocorrer por meio de um instrumento jurídico chamado “drop down” de ativos.

138 COSTA, Fabiano de Oliveira; GABRICH, Frederico de Andrade. Futebol S/A - Soccer Company. In: XXI Congresso

Nacional do CONPEDI. Livro Direito Empresarial. Niterói-RJ: UFF, 2012. p. 257.

Como bem ensina Ricardo Tepedino:

[Drop down é] a operação em que a sociedade empresária (aqui chamada de sociedade conferente), a título de integralização do capital de uma subsidiária (aqui denominada sociedade receptora), verte nesta última a empresa organizada sobre o seu nome, ou unidades produtivas dela, mediante o aporte de todo o seu estabelecimento ou algum de seus estabelecimentos e outros elementos necessários ao exercício da atividade cedida, recebendo em troca ações ou quotas representativas do capital social da sociedade receptora.140

O autor ainda enfatiza que não haverá redução de capital na sociedade conferente, mas tão somente a substituição de elementos patrimoniais:

Onde antes estavam contabilizados os bens e obrigações transferidos, a resultar num certo valor, após a operação estará registrado esse mesmo montante a título de participação no capital social de subsidiária cujo capital foi subscrito e integralizado mediante a conferência daqueles mesmos bens141

Em suma:

O “drop down” provoca a substituição de elementos patrimoniais, uma vez que a sociedade conferente transfere bens (ativos) e recebe o equivalente em participação societária (quotas ou ações), não existindo redução de capital social.142

No tocante ao tema aludido, a transferência de bens (ativos) relacionados ao futebol profissional na formação do capital social da nova pessoa jurídica, constitui em ceder, por exemplo, os direitos de uso e exploração das marcas notórias do clube, os contratos de patrocínio e fornecimento de material esportivo, os contratos desportivos dos atletas, os direitos de transmissão do espetáculo esportivo, e imóveis ligados ao desenvolvimentos da atividade desportiva profissional143, de modo que a associação desportiva, na figura de entidade conferente, aufere, em contrapartida, participação no respectivo capital social, na forma ações.

O principal objetivo deste estudo é apontar a possibilidade de reestruturação jurídica dos clubes de futebol com a adoção de uma estrutura empresarial adequado que viabilize a finalidade lucrativa com o desenvolvimento sustentável e econômico, e por outro lado, sem que

140 TEPEDINO, Ricardo. O trespasse para a subsidiária (Drop Down). In: CASTRO, Rodrigo R. Monteiro de. ARAGÃO.

Leandro Santos de. (Coord). Direito Societário e a nova lei de falências e recuperação de Empresas. São Paulo. Quartier. Latin. 2006. p. 64-65

141 Ibid., p. 65.

142 BOTTESELLI, Ettore. Drop down de ativos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3360, 12 set.

2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/22599>. Acesso em: 03 de jun. de 2019.

143 CATEB, Alexandre Bueno. Desporto profissional e direito de empresa: de acordo com o Código Civil de 2002. São Paulo

seja ceifada a história e a cultura dessas instituições de grandes torcidas e apaixonados pelo esporte.

Como tentativa recente de modernização e desenvolvimento do futebol brasileiro, o Deputado Felipe Francischini apresentou, em 08/05/2019, o Projeto de Lei nº 2758/2019, que dispõe “sobre o futebol profissional e dá outras providências”, que será tratado a seguir. 4.3.1 Projeto de Lei nº. 2758/2019

O Projeto de Lei nº. 2758/2019 proposto visa o destacamento do futebol dos demais desportos, em razão “do estágio mais avançado de profissionalização do futebol em relação às demais modalidades esportivas no Brasil”, a exemplo dos contratos, patrocínios e do mercado milionário, exigindo, portanto, um ambiente competitivo e uma gestão profissional e sustentável no ínterim das entidades de prática desportiva144.

Importa neste momento, tecer alguns comentários acerca dos principais dispositivos legais do respectivo PL, que se referem, especialmente, a estruturação jurídica dos clubes desportivos – permitindo uma análise destacada, sem adentrar nos demais pontos do projeto, como formação de atletas, normas trabalhistas, justiça desportiva etc.

De início, cumpre destacar o intuito do legislador em apresentar meios práticos de estimular a efetiva adoção de um tipo societário por parte das associações desportivas, principalmente pelo estabelecimento de um regime específico de transformação destas entidades e, com relevante importância, os poderosos incentivos fiscais.

O PL traz o conceito de entidade desportiva profissional de futebol como aquela que desenvolve a atividade de futebol em participação de competição profissional (art. 41)145. A estas, é facultada a constituição sob 3 forma distintas: a) sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados nos art. 1.039 a 1.092 do Código Civil; b) associação, nos termos do Código Civil; c) sociedade anônima de futebol, regulada nos artigos 71 a 112 do próprio diploma146.

144 Projeto de Lei nº. 2758/2019. Dispõe sobre o futebol profissional e dá outras providências. Disponível em:

<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1743567&filename=PL+2758/2019>. Acesso

em: 02 de jun. de 2019.

145“Art. 41. Considera-se entidade desportiva profissional de futebol a entidade de prática de futebol participante de competição profissional de futebol, as ligas em que se organizarem e as entidades de administração profissionais de futebol”.

Projeto de Lei nº. 2758/2019.

146

Nota-se que, apesar da possibilidade de manutenção da estrutura associativa, o PL guarnece alguns institutos que visam o fortalecimento dos clubes, principalmente do ponto de vista da responsabilidade financeira e da gestão profissional e transparente.

A exemplo, sublinha-se o reforço já trazido pela lei nº. 13.155 (Lei da Responsabilidade Fiscal do Esporte) a respeito da gestão temerário, o condicionamento de obtenção de recursos públicos a requisitos específicos, como apresentar demonstrativos financeiros e adotar modelo profissional e transparente, bem como a responsabilização dos dirigentes das entidades profissionais de futebol, independente da forma jurídica adotada, segundo o art. 1.017 do CC147, que se destina às sociedades simples:

Art. 42. As entidades desportivas profissionais de futebol, independentemente da forma jurídica adotada, sujeitam-se ao disposto nos arts. 24 a 27 da Lei n.º 13.155, de 04 de agosto de 2015, que regulam a gestão temerária nessas entidades.

[...]

§ 3o Sem prejuízo de outros requisitos previstos em lei, as entidades de que trata o caput deste artigo somente poderão obter financiamento com recursos públicos ou fazer jus a programas de recuperação econômico- financeiros se, cumulativamente, atenderem às seguintes condições:

I - realizar todos os atos necessários para permitir a identificação exata de sua situação financeira;

II - apresentar plano de resgate e plano de investimento;

III - garantir a independência de seus conselhos de fiscalização e administração, quando houver;

IV - adotar modelo profissional e transparente; e

V - apresentar suas demonstrações financeiras, juntamente com os respectivos relatórios de auditoria, nos termos definidos no inciso I do art. 10 desta Lei. [...]

§ 7º Os dirigentes das entidades desportivas profissionais de futebol estão sujeitos às sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros.

Como principal diferença daquilo estabelecido atualmente, o PL apresenta uma nova estrutura societária, com nuances a vista da peculiaridade trazida pela atividade do desporto profissional: a Sociedade Anônima do Futebol (SAFUT). O modelo da SAFUT foi consideravelmente inspirado no tipo de Sociedade Anônima Desportiva (SAD) adotado na legislação portuguesa – tratado no item 4.2.

147“Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito

próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá”. LEI nº. 10.406, de 10 de jan. de 2002. Institui o Código Civil.

A Sociedade Anônima do Futebol, SAFUT, é entendida como “pessoa jurídica de direito privado constituída sob a forma de sociedade anônima com o objetivo precípuo de participar de competição profissional de futebol”148, sendo-lhe aplicada, subsidiariamente, a Lei

das Sociedades Anônimas, Lei nº 6.404/76, conforme art. 69 do referido PL.

O PL permite a transformação de uma entidade de prática desportiva (associações em sua maioria) em uma SAFUT149, todavia, como já exaustivamente tratado no presente trabalho,

essa possibilidade carece de interesse jurídico e prático, dada as naturezas jurídicas distintas dos respectivos institutos.

No momento da formação do capital social da SAFUT, o PL estabelece a obrigatoriedade da associação em transferir os direitos e obrigações “decorrentes de relações, de qualquer natureza, estabelecidos com entidades de administração do futebol ou ligas profissionais de futebol, inclusive direitos de participação em competições profissionais”, além disso, os contratos de trabalho, de formação desportiva, de uso de imagem ou quaisquer outros contratos vinculados a atividade do futebol”150.

Na mesma esteira, cabe ao estatuto da SAFUT a fixação do número de ações em que se divide o capital social (art. 75), de maneira correspondente às disposições da LSA: à SAFUT é possibilitada a emissão de ações ordinárias e preferenciais (§1º, art. 75), sendo que cada ação ordinária corresponde a um voto nas deliberações da assembleia geral (artigo 76). As ações ordinárias podem ser de uma ou mais classes, todavia, “a SAFUT emitirá, necessariamente, ação ordinária ‘classe A’, a qual somente poderá ser subscrita pela associação ou entidade de prática desportiva”151, de acordo com o caso, e que conferem direitos especiais previstos no art.

78 do referido PL.

As deliberações a respeito da obrigação de emissão de ações ordinárias “classe A” e seus respectivos direitos especiais, aliadas aos mecanismos de proibissem de diluição, como a subscrição de novas ações, visam a proteção da tradição e cultura dos clubes por vezes centenários e de relevante importância na identidade com o povo brasileiro.

148 Projeto de Lei nº. 2758/2019. Art. 68. 149 Ibid., art. 68, parágrafo único. 150 Ibid., art. 71, § 2º.

Referente a administração da SAFUT, o Projeto de Lei nº 2758/2019 determina, obrigatoriamente, que competirá ao conselho de administração e à diretoria (artigo 79). Vale lembrar, que tal exigência normativa diverge da faculdade disposta na LSA, com relação ao conselho de administração152. No mais, sendo a associação ou entidade de prática desportiva

única acionista da SAFUT, “a metade, menos um dos membros do conselho de administração deverá ser independente”, conforme conceito de estabelecido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)153:

Art. 26. Conselheiro independente é aquele que não mantém vínculo com: I – a entidade administradora, sua controladora direta ou indireta, controladas ou sociedade submetida a controle comum direto ou indireto;

II – administrador da entidade administradora, sua controladora direta ou indireta, ou controlada;

III – pessoa autorizada a operar em seu mercado; e

IV – sócio detentor de 10% ou mais do capital votante da entidade administradora154.

A orientação da CVM com relação à formação da administração reflete as principais diretrizes do Novo Mercado, como nortear das melhores práticas a serem seguidas pelas companhias, como forma de habilitá-las ao registro de suas ações para negociação na bolsa. Ou seja, vemos aqui o estabelecimento de um padrão ideal de segurança jurídica e gestão.

Na busca pela independência entre as administrações da associação (objeto social) e da SAFUT (tipo empresarial), por total incompatibilidade, demonstrada nos dias atuais, o PL aqui tratado assenta em seu artigo 81, § 6º, que os “diretores da associação ou entidade de prática desportiva não poderão ser indicados para cargo de diretoria da SAFUT constituída pela própria associação ou por entidade de prática desportiva, conforme o caso”.

No mesmo caminho das previsões sobre o conselho administrativo, o artigo 95 do PL diverge da LSA ao também obrigar o funcionamento de um conselho fiscal na administração da SAFUT, assim como a respeito dos conselheiros independentes, conforme o caso previsto:

Art. 95. A SAFUT terá um conselho fiscal de funcionamento permanente. [...]

§ 2º Enquanto a associação ou entidade de prática desportiva, conforme o caso, for acionista único da SAFUT, a maioria, pelo menos, dos membros do conselho fiscal será independente, conforme conceito de independência estabelecido pela CVM.

[...]

152“Art. 138. A administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administração e à

diretoria, ou somente à diretoria”. LEI nº. 6.404, de 15 de dez. de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. 153 Projeto de Lei nº. 2758/2019. Art. 81, § 2º.

Art. 96. Aplicam-se aos conselheiros fiscais das sociedades anônimas de futebol as disposições constantes dos arts. 162 e 165 e seguintes da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.

Outro ponto de destaque reside na possibilidade da SAFUT realizar todas as publicações previstas na LSA exclusivamente em sítio próprio na internet, conforme art. 99 do referido PL.

Conforme exposto até o presente, as ideias de reestruturação societária dos clubes de futebol – em bem da verdade com muitos fundamentos consagrados na LSA –apresentadas pelo PL nº. 2758/2018, como a imposição do conselho fiscal e do conselho de administração na SAFUT e a exigência de gestão responsável e diligente para obtenção de recursos financeiros públicos, de fato possibilitam maior transparência e profissionalismo na administração do futebol brasileiro.

Cabe esclarecer, que o referido PL apresenta um sistema tributário diferenciado à pratica das atividades desportivas do futebol profissional, destinado a cada uma das formatações jurídicas estabelecidas no §6º, do artigo 42 do projeto155. Não cabe, porém, neste trabalho a

discussão acerca da reforma tributária no futebol, o que desencadearia uma séria de questões complexas inerentes ao tema e, além disso, pode-se afirmar que a adequação do modelo organizacional dos clubes de futebol, com uma gestão profissional e estratégica, não depende da implementação de benefícios fiscais.

O PL nº. 2758/2019 trata de forma diversa a entidades desportiva sob a forma associativa e as empresas que utilizam o futebol como fonte lucrativa, sobretudo, trouxe estímulos à profissionalização da administração das associações, bem como um processo específico de adequação ao modelo empresarial, seja pela transformação propriamente dita ou

155 “1) Entidades de prática de futebol em forma de associações civis (art. 42, §§ 8º e 9º): isenção de impostos federais para

as entidades cujo faturamento anual seja inferior ao limite máximo de enquadramento da empresa de pequeno porte na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2016; isenção do pagamento de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido; isenção do pagamento da COFINS e aplicação da alíquota de 1% da contribuição ao PIS/PASEP;

2) Regime Especial de Tributação Aplicável às Entidades de Prática de Futebol constituídas em sociedade empresária (art. 47 a 52): pagamento equivalente a 5% (cinco por cento) da receita mensal, apurada pelo regime de caixa, o qual corresponderá ao pagamento mensal unificado dos seguintes impostos e contribuições: Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas – IRPJ, Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS; e contribuições previdenciárias patronais;

3) Regime Tributário Especial da SAFUT (Re-Fut) [art. 104 e 105]: regime semelhante ao anterior, mas com duração de cinco anos após a adesão e com vigência máxima de dez anos após a publicação da norma regulamentadora do Poder Executivo.”.

da criação de uma nova pessoa jurídica responsável pelo departamento profissional de futebol em uma SAFUT.

Não se pode olvidar que o futebol, como atividade desportiva de alto rendimento, na busca da consagração esportiva e conquistas dentro do campo, necessita da sustentabilidade econômica e devida gestão de seus recursos.

As conquistas desportivas e os fins empresariais lucrativos são, hoje, objetivos que dependem um do outro, e o respectivo afastamento entre eles refletem a atual situação do futebol brasileiro, como por exemplo: o relativo “baixo nível” técnico, refletido na decadência das categorias de base da seleção brasileira156, em que aqueles que se destacam são vendidos

para o exterior tão logo se profissionalizam (por vezes sequer chegam a estrear157) na

necessidade de aumentar as receitas dos clubes; a falta de expoentes no comando de equipes europeias; o desprestígio das entidades de administração do futebol nacional; a crise econômica de insustentável passivo fiscal e previdenciário dos clubes; e a consequente perda de protagonismo no âmbito mundial do futebol, tanto individual como coletivamente.

Nesse contexto, em conformidade com outras legislações, a criação de dispositivos norteadores e um regime jurídico próprio e especial, e não a aplicação crua de legislação societária já existente, cabem na busca da profissionalização da gestão e a sustentabilidade financeira das entidades de prática desportiva.

Assim evidencia o professor Alexandre Bueno Cateb:

[O]s países europeus de maior tradição no futebol reorganizaram seus

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