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4.2 Referenciação e Apontamentos Sobre a Análise e a Figura do “Ideólogo” Um Preâmbulo Analítico

Iniciamos agora o ponto mais importante da tese, o do campo analítico específico Tudo o que foi escrito anteriormente, é importante para a plena compreensão desta etapa, mas é aqui que será realizado aquilo que penso ser fundamental em um trabalho sobre Análise de Discurso: a análise em si, lançando mão do vasto aparato teórico desta área de conhecimento.

O tema central, e quase monopolizador a ser analisado, são as formações discursivas produzidas desde o momento em que, o ex-deputado federal e atualmente presidente, Jair Bolsonaro e seu grupo político começam a intentar sua chegada ao poder, até os dias atuais. Trata-se, portanto, daquilo que Eco denominou de “tese monográfica”, em oposição à tese panorâmica. Para ele, a tese panorâmica teria um espectro maior, e a primeira tentação do estudante, pois significa falar de muitas coisas.

Ao contrário, a tese monográfica está voltada para um ponto específico, bem delimitado e que possa ser percorrido, no caso em tela, por um aspirante ao título de doutor. Não se trata de um mero reducionismo, mas sim de um cuidado necessário para escrever algo que seja útil sem incorrer nos erros habituais do panoramicismo. (ECO, 2002. pp. 7-9).

Entendo que essa explicação que poderia vir em páginas bem anteriores e introdutórias fica melhor aqui, pois assim, no momento em que enfrento o campo analítico, tenho a oportunidade de explicitar ao leitor como ele será desenhado.

A ideia monográfica está centrada nos recortes específicos de análise, ou seja, o

bolsonarismo. A partir das doutrinas e pensamentos exarados pelo discurso bolsonarista, caracterizado por uma formação discursiva de direita. Manifestamente

surgirá uma vasta gama de explorações, mas o caráter monográfico (sempre tomado na acepção de Eco) estará preservado. Não se trata, portanto, de um “panorama discursivo da política brasileira no século XXI”, ou de um pretencioso “tratado das ideias políticas no Brasil contemporâneo à luz da Análise de Discurso”, ambas as exemplificações cairiam na área do panoramicismo, como o chamamos a partir de Eco.

Nosso trabalho estará, reafirmamos, centrado na análise da produção discursiva que vai desde a gênese até a atualidade dos caminhos percorridos por esta ideologia de extrema direita no Brasil. Daí seu caráter monográfico.

Seguiremos aprioristicamente uma linha temporal, mas que ao longo do trabalho não tomará nuances ortodoxas. Isto ocorre, pois determinadas inversões de temporalidade serão necessárias para apresentarmos de maneira mais subsistente a análise de vários discursos, provenientes de vários atores ideológicos, e que assim podem dar melhor corpo e sentido à tese. A temporalidade é, portanto, uma linha, mas de forma alguma um padrão absoluto e definitivo, o que causaria uma perda significativa da qualidade analítica.

Iniciamos falando de uma personagem que se tornaria central nos primeiros meses do governo, o escritor Olavo de Carvalho. Bem pouco mencionado, quase silenciado ao longo da campanha presidencial, Carvalho se tornou, desde cedo, o que chamariam de “guru”, ou “ideólogo” das práticas políticas do novo governo50.

O livro O Jardim das Aflições é considerado a sua mais importante obra filosófica51; nele Carvalho tenta traçar uma crítica, sem bases ou fundamentos teóricos, ao epicurismo. Para tal ataca com violência um dos maiores especialistas brasileiros em Epicuro, o Professor José Américo Motta Pessanha, que havia morrido em 1993, dois anos antes da publicação do livro de Carvalho. O ideólogo de Bolsonaro utilizou o caminho de basear parte significativa de seus escritos para contestar a obra de Motta Pessanha52.

Lançaremos olhares sobre a obra de Olavo de Carvalho a partir da utilização de uma metodologia qualitativa. Assim, retiramos alguns pontos que mostram a formação discursiva a qual se filiam o seu pensamento. Todas as citações a seguir são da segunda edição do livro O Jardim das Aflições – Ensaio Sobre o Materialismo e a Religião

Civil, publicado pela editora É Realizações, no ano de 2010 (a primeira edição é de

1995). Assim, ao final de cada trecho, colocaremos apenas a página da qual foi retirada a citação.

Todos os excertos têm sentido em si mesmo. Isto é, em hipótese alguma citamos trechos fora de contexto, ou retirados aleatoriamente, o que desvirtuaria o que foi escrito

50 Não trataremos aqui da biografia ou da trajetória de Carvalho, mas de seu discurso.

51 Na verdade se trata de um de seus pouquíssimos livros que tem, ao menos, como objetivo declarado abordar a Filosofia. Os demais são voltados para áreas que vão do ocultismo à “espiritualidade”, passando por um grande número de escritos (os que o tornaram conhecido), que são meras opiniões, em sua quase totalidade virulenta, na qual ataca o pensamento e os intelectuais de esquerda.

52 O nome do Professor Motta Pessanha é citado inúmeras vezes, em uma a cada seis páginas do ensaio, desde o início até o fim, sempre de maneira depreciativa.

pelo autor. O rol de citações é exemplificativo, se exaustivo fosse, inviabilizaria o prosseguimento desta tese. Escolhemos alguns recortes cuja análise de sua textualização permite ao menos uma percepção do discurso que assujeita o “ideólogo” do Ur- Fascismo brasileiro, posto em prática em nossa contemporaneidade.

A partir dos recortes extraídos, e partimos desta prévia para chamar a atenção do leitor, fomos reconhecendo com bases analíticas, como toda a construção intelectual de Olavo de Carvalho não está fulcrada em um rígido, ou mesmo técnico conhecimento da Filosofia. Também que seu objetivo não é realizar um estudo filosófico, mas sim atacar o pensamento de intelectuais de esquerda, e todo e qualquer ideário progressista. Isto está inserido muito mais na Linguística do que em qualquer outra ciência, por uma questão bastante simples: Carvalho se vale de artifícios linguísticos para endossar e tornar “verdadeiros e legítimos” seus pensamentos.

Todo seu ideário de extrema direita, que ele quer fazer preponderar, é realizado por meio de construções textuais, assim entendidas como o uso da língua para produzir um sentido de linguagem de natureza retórica e de opinião, sem lastro em aparatos da Filosofia. A língua na obra de Carvalho não é um meio, mas um fim53. Sua escrita conturbada, eivada de vícios e que não mostra nenhum aparato científico do que se poderia chamar de Filosofia, se insere de forma plena na construção de uma neolíngua, como identificada por Eco, em sua pobreza lexical e sintaxe pedestre. Como seus outros livros este toma a forma (para intertextualizarmos o semioticista italiano) de um book-

show, que diverte e pode entreter um vasto número de pessoas com baixo letramento

científico e que pensam estar lendo “obra filosófica”.

Este é o pressuposto que encontramos, para afirmar que antes de ser um filósofo, Carvalho é um “ilusionista da linguagem”, que utiliza a língua como ferramenta de confronto para contraditar a esquerda e afirmar os sentidos produzidos pelas formações discursivas de direita, que, no Brasil54 são aquelas que simbolizam a superioridade

estamentária das elites, resguardam os interesses da plutocracia e buscam inviabilizar a

53 Evidentemente, a língua, mesmo enquanto “meio”, como em uma produção de teor verdadeiramente filosófico, já carreia para si um fim. Mas no caso específico de Carvalho, desnutrido de conhecimentos históricos e teóricos sobre Filosofia, a língua é tão somente um instrumento para si própria.

54 Compreendemos que as formações discursivas de direita sofrem afetações, mesmo que mínimas, de acordo com as condições de produção de discurso. Assim o discurso de direita francês, por exemplo, por ter condições de produção diversas, irá se diferir do brasileiro.

ascensão social e a justa distribuição de renda. Além de perpetuar gestos de elevado preconceito contra as mais diversas minorias.

O estudo de sua obra, ganha contornos de algum interesse para a observação linguística ou literária, pois ao se distanciar por completo da Filosofia ganha ares de artigo de opinião com realces panfletários juvenis, tendentes à determinação ideológica por meios frágeis, mas agressivos. Não é obra de convencimento, mas de imposição.

Não à toa, uma de suas mais festejadas obras denomina-se Como vencer um Debate

sem ter Razão. Para tal mobilizamos um aparato multidisciplinar, que não é estranho à

Linguística ou à Análise de Discurso, mas não consideramos uma Análise de Discurso no sentido mais puro, uma vez que alternamos aparatos próprios de nossa ciência, com outros primados, que são de seu interesse, mas não são “propriamente” Análise de Discurso. Mas serão muito importantes para o desenvolvimento da tese, quando as formações discursivas serão estudadas única e exclusivamente com o aparato teórico da Análise de Discurso. Sendo assim, não realizaremos aqui uma análise de trecho por trecho, mas uma análise que englobe a formação discursiva de direita, a qual já aludimos, e se filia sua produção. Para não confundir o leitor enumeramos os trechos extraídos de O Jardim das Aflições. Todos os grifos são nossos.

1) Meditando os eventos à luz do preceito de Hegel, segundo o qual a essência de uma coisa é aquilo que ela enfim se torna, achei então que a destruição política do Sr. Collor de Mello, e a consequente ascensão das esquerdas à posição dominante, tinham sido realmente os únicos objetivos da campanha55 , que não começara propondo metas tão gerais, amplas e profundas, senão para atingir o alvo particular, estreito e raso que lhe interessava. (p. 24).

2) A notícia da morte de José Américo Motta Pessanha, ocorrida no início de 1993 mas da qual só tomei conhecimento muito depois, não alterou em nada a minha disposição de publicar este livro, já pronto, na parte que a ele mais se refere, desde 1990. Sustentam essa decisão três razões. A primeira é que, apesar da veemência com que contesto aqui as ideias de Pessanha, nada digo contra sua pessoa, nem poderia fazê-lo se quisesse, por ignorar tudo a respeito. A segunda é que a morte de um filósofo não torna verdadeira as ideias falsas que tenha defendido, nem exime do dever de contestá- las, para defesa e esclarecimento dos vivos, quem não tenha podido fazê-lo em vida dele. A terceira é que aquilo que possa ter havido de maligno na influência de Pessanha sobre o público não veio dele enquanto indivíduo, mas enquanto membro atuante de um grupo; grupo este que continua vivo e passa bem. (p. 27)

3) Um aspecto particularmente biruta da filosofia de Epicuro é o seu alegado materialismo, tão diferente daquela grossa metafísica de caixeiro de loja que

55 Dentro do contexto, a campanha a qual Carvalho se refere á realizada a favor do impeachment de Collor.

costumamos conhecer por esse nome, e dela aparentado tão-somente na distância que ambos guardam da verdadeira filosofia. (p. 44)

4) A física de Demócrito e sua refutação por Epicuro são ambas igualmente falazes, mas Pessanha condenou a primeira e endossou a segunda sob a alegação de que aquela favorece a uma ética “conservadora” e esta uma ética “progressista” –Pessanha enxergou conservadorismo na física de Demócrito pela razão de que a lei de queda impõe um determinismo integral, não deixando para os pobres átomos outra saída senão a obediência servil a uma necessidade tirânica; ao passo que, na física de Epicuro, sobra lugar para o imprevisto e o livre-arbítrio. Aliás sobra até demais, porque aí os átomos, usando e abusando do seu direito ao clinamen, acoplam-se e desligam-se à vontade na mais obscena gandaia cósmica, e vão gerando e destruindo mundos e mais mundos sem dar a mínima satisfação a seres, coisas ou deuses.

O devotado interesse de um filósofo pelos direitos políticos dos átomos pode parecer um tanto bizarro, porém mais inexplicável ainda é que os átomos devam ter o direito a estar livres da lei da queda, enquanto nós os viventes, ficamos inapelavelmente submetidos à arbitrariedade dos átomos, sem podermos dar um pio contra o seu maldito clinamen e só nos restando, em face dele, a alternativa de relax and enjoy que nos é oferecida pelo epicurismo. Tudo isso é, de fato, uma concepção muito singular acerca da liberdade.

A associação que Pessanha fez entre cosmologia e política é pura figura de estilo. Metaforicamente, a festança dos átomos no liberou geral da cosmologia epicúrea pode parecer mais progressista ou democrática do que a submissão implacável à lei de queda. (pp. 54-55)

Quando hoje vemos hordas de intelectuais ativistas lutando para que o aborto se torne um direito inviolável, para que as manifestações de antipatia a qualquer perversão sexual sejam punidas como delitos, para que a interferência dos pais na educação sexual dos jovens se limite à instrução quanto ao uso de camisinhas, para que a Igreja abençoe a prática da sodomia e castigue quem fale contra, é forçoso admitir que algo, agindo sobre essas pessoas, destruiu nelas a intuição de moral elementar; que, diria Lorenz, alguma interferência externa apagou de seus cérebros os registros da experiência moral acumulada ao longo da evolução biológica. (pp. 66-67)

5) A discrição de Marx foi sensata: um passado epicúreo é como ter a mãe na zona. Que críticos de Marx tentem lembrar esse detalhe é compreensível. Mas por que um pensador de simpatias marxistas deveria querer tocar no assunto? Por mero interesse biográfico? Não é verossímil que Pessanha tenha levado sua devoção por Marx à carolice de pretender “resgatar” Epicuro só pela razão de haver o filósofo de Trier se ocupado do epicurismo no curso de sua formação acadêmica. Não, Pessanha não era um mero colecionador de relíquias. Se ele buscou entre Marx e Epicuro uma síntese que ao próprio Marx não interessou enfatizar, foi certamente porque viu entre eles uma afinidade mais interessante e, digamos logo, mais “prática”. (p.120)

6) O impulso de comparar, analisar e criticar documentos é um instinto filológico. Ele brota do novo amor pelas línguas, um movimento a que se costuma chamar humanismo, um termo tremendamente equívoco, pois um humanista da renascença tem menos amor pelo ser humano, concreto e vivente, do que pelos textos, pelos documentos, pelos velhos diplomas empoeirados e pelas velhas línguas. “Humanismo” não vem de amor pelo homem, mas pelas humanae litterae, “letras humanas”, o que significa apenas qualquer texto que não seja as Sagradas Escrituras. Qualquer coisa serve: uma carta, um contrato de arrendamento, uma lei promulgada por um rei de um reino extinto – tudo é documento da fala humana, e como tal é desejado, conservado, estudado, analisado. “Humanismo” significa o espírito museológico o amor aos documentos vem junto com a mania das coleções – selos, moedas, pedaços de velhas estátuas. O impulso de colecionador surge de um misto de motivos estéticos e ocultistas: atribui-se aos fragmentos de estátuas um poder mágico; aos homens do século XV, sobretudo na Itália, sua utilização em rituais de bruxaria oferecia expectativas mais promissoras que olhos de sapos, patas de corvos, unhas e cabelos humanos; os aficionados da bruxaria

pagam grossas quantias por um dedo de Vênus, por um cotovelo de mercúrio. (pp. 164- 165)

7) Terá o leitor, a esta altura, perdido o fio da meada? Vamos revisar o itinerário percorrido. Estávamos tratando de recompor a coerência interna do universo de José Américo Motta Pessanha. Ali não se encontrava, como vimos, aquele tipo de solidez que se exige dos sistemas filosóficos, e que lhes permite sair incólumes, no todo ou em parte, aos ataques da crítica racional; (...) (p.184)

8) Os neoliberais têm toda a razão em apontar os Estados Unidos como um exemplo de que a democracia capitalista é – para dizer o mínimo – o menos inviável dos sistemas políticos. Mas os méritos do sistema norte-americano não são devidos à ideia democrática enquanto tal, nem muito menos ao capitalismo como tal, mas ao fato de que uma e outro, para absorver e neutralizar hegelianamente o cristianismo na nova sociedade que geraram, tiveram que cristianizar-se ao menos em parte. Os valores cristãos, profundamente arraigados na mentalidade popular, serviram constantemente de balizas que limitavam e disciplinavam os movimentos do Estado e do mercado, dando um sentido ético e até espiritual ao que por si não tem nenhum; e, como o discurso político era fatalmente interpretado e julgado em função desses valores, mesmo o político que não acreditasse neles, mesmo o maçom de estrita observância , tinha de proceder exteriormente como cristão. (p. 302)

A análise dos recortes revela um discurso conservador, por vezes reacionário, inserido em uma formação discursiva que é atravessada por uma ideologia contrária às esquerdas, de apoio ao discurso neoliberal. Dois acontecimentos discursivos que permeiam o Jardim das Aflições merecem ser estudados, e que assinalam uma formação discursiva ambígua, marcada pelos equívocos e falhas na produção discursiva:

A primeira é uma suposta filiação ao pensamento filosófico ocidental, que é constituído ideologicamente pelos valores da lógica, ordem, sistema e busca pela verdade. Essa formação discursiva filosófica ganhou os mais variados campos e se refletiu, por exemplo, nos aparatos dedicados ao discurso da ciência. Então definiríamos como base nessa formação discursiva (para as humanidades, concebidas como ideias ou pensamentos) a proposição de que “a partir do pensamento lógico, e por meio de uma ordem sistêmica busca-se a verdade” essa proposição vai ao encontro das necessidades do pensamento filosófico ocidental ser de índole “construtiva”, ao menos em suas bases. Ao contrário Carvalho realiza uma produção de efeitos que nega de per si a categorização por ele assumida, toda a sua formação acaba por produzir deslizamentos que são “destrutivos”. Para o campo das ideias (e aqui, não estamos dentro da Análise de Discurso, o que é mostrado pela utilização de palavras como “ideias” e “pensamento”), não é de grande relevo, ao menos nos dias de hoje, uma filiação à “construção” ou “desconstrução”, até pelas razões mesmas, tanto axiológica quanto ontológicas que permitem um e outro (construção e desconstrução) somar ao

pensamento. O que se torna curioso, ou mesmo contraditório em Carvalho é que sua pregação filosófica estaria, segundo suas próprias exortações, inseridas no padrão tradicional do discurso filosófico ocidental, mas é assujeitado por uma formação discursiva diversa. Cria-se um paradoxo.

Sua obra, e o Jardim das Aflições é apenas um exemplo, tem como meta a desconstrução das esquerdas e do marxismo, e não pela inferência dos efeitos de sentido da direita que ele defende. Pois ao perder-se em seu desconhecimento filosófico, e não compreender as bases que sustentariam textualizações, se lança unicamente a um ataque verbal.

O recorte 1 identifica no afastamento de Collor de Mello uma conspiração de esquerda. E entende que a partir daí houve uma “ascensão das esquerdas”, assim sendo, para a filiação discursiva de Olavo de Carvalho, o Brasil estaria “dominado” pelas esquerdas desde 1992, com a chegada à presidência de Itamar Franco. Todo o discurso neoliberal produzido, não só sob o governo Itamar, quanto incrementado, por meio de ações, no governo FHC, estaria “desconstruído” pelos efeitos discursivos produzidos por Carvalho. Para o anticomunista ferrenho que é o ideólogo do Bolsonarismo, Fernando Henrique Cardoso e o PSDB estão tendentes a uma esquerda que é textualizada, muitas vezes, como radical.

Os recortes 2, 3, 4 e 5, são também atravessados por uma ideologia destrutiva que foge aos padrões que Olavo diz seguir. São em sua totalidade ataques ao Professor José Américo Motta Pessanha, e ao marxismo, mas realizados discursivamente no “fora da Filosofia”, e isso fica patente pela não utilização de terminologia ou aparatos científicos da Filosofia, mas sim de uma linguagem comum, por vezes vulgar. No recorte 2, por exemplo manifesta desprezo por Motta Pessanha, inclusive, dizendo não ter tido notícia de sua morte, que foi amplamente divulgada, de maneira consternada, nos meios acadêmicos e intelectuais. Ainda textualiza “ignorar tudo a respeito” dele, de fato, Carvalho desconhecia, inclusive, que Pessanha era professor da UFRJ, afirmando se tratar de professor da USP. Por fim, em juízo ainda maior de desvalor, se refere ao “grupo” ao qual Pessanha faria parte.

No campo das designações, Carvalho utiliza termos, no mínimo “pouco filosóficos”, escreve como blogueiro, e textualiza expressões como: “Um aspecto particularmente