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Capítulo I Comunicação Matemática dos futuros professores: Conceções e

2. A Comunicação Matemática

2.3 Reflexão dos professores sobre as suas práticas

A linguagem constitui uma ferramenta muito poderosa, utilizada para promover o ensino e a aprendizagem da Matemática. Diversos autores (Canavarro, 1993; Delgado, 1993; Domingues, & Martinho, 2012; Guerreiro, 2014; Guimarães, 1988; Menezes, F. Santos, A. Silva, & Trindade, 2003; Menezes, A. Silva, F. Santos, & Trindade, 2002; N. Oliveira, 2007) têm investigado a prática letiva dos professores relativamente à comunicação, no ensino e na aprendizagem da Matemática. Esta é um suporte fundamental das aprendizagens matemáticas, pelo seu papel determinante na construção, partilha e negociação de significados, envolvendo diferentes tipos de interações comunicativas. A linguagem é encarada como o instrumento central na interação entre o professor e o aluno, que através dela, aprende e expressa a sua compreensão do que adquiriu (Guerreiro, 2014).

Um aspeto determinante para promover a Comunicação Matemática, dentro da sala de aula, respeita ao tipo de tarefas que o professor privilegia. A promoção da comunicação relaciona-se com a forma como o professor atua dentro da sala de aula, ao criar um ambiente favorável a verdadeiros momentos de comunicação.

Os professores participantes do estudo de Guimarães (1988) afirmavam, ser da sua responsabilidade, “realizar a introdução dos assuntos matemáticos” (p. 221), entendida, pela maior parte dos professores, como um processo de transmissão que o professor garante através de exposição. Num dos casos, mencionados nesta investigação, um dos participantes, Filipe, afirmou que os alunos aprenderam tudo aquilo que o professor lhes transmite, sendo este um dos objetivos de aula. Já para Telma, nas partes práticas, das suas aulas, os alunos expõem se perceberam tudo o que tinha sido lecionado. Além disso, afirma caber ao professor ser claro e procurar atrair os alunos. Para ambos os professores, a introdução de novos conteúdos matemáticos define-se como parte teórica das aulas, sendo realizada através do discurso ou exposição oral do professor, recorrendo sempre a um apoio escrito. Outra professora

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participante, Paula, dizia, de igual forma, recorrer a uma parte expositiva nas suas aulas. Do seu ponto de vista, o professor não será apenas aquele que faz passar os conhecimentos, possuindo um papel meramente expositivo ou informativo, mas o que permite a participação e interação com os seus alunos, aquando da exposição dos conteúdos. Deste modo, o professor tem como papel principal proporcionar situações para os alunos pensarem, momentos de síntese e espaços de discussão. Por último, temos o caso da Julieta que foi a única professora que não utilizou os termos expor ou exposição para caraterizar o papel do professor. Pelo contrário, esta professora introduziu os temas matemáticos improvisando, dizendo que isso não significava não ser necessário uma preparação das aulas. Caraterizou, ainda, o professor como tendo um papel educativo, oscilando entre moderador e condutor, concluindo que considera uma boa aula a que for o mais participada possível.

Os professores referenciados no estudo de Guimarães (1988), assumem-se como polo principal na comunicação na sala de aula, pois daí partem as perguntas, que se dirigem as respostas, sendo o principal interlocutor e condutor do diálogo.

Guarda-se para o aluno a função de recetor (espetador), cujo papel essencial será

acompanhar a explicação realizada pelo professor e seguir as instruções e explicações que vão

sendo expostas, ao longo de todo o processo. Ao aluno, está reservado um espaço de participação no diálogo que permita a interação entre professor e aluno, a colocação de questões ou a troca de impressões com os colegas de turma. Ao escutarem os outros colegas, atentamente, tornam-se conscientes da existência de outras perspetivas e estratégias alternativas. Depois, precisará de refletir sobre as suas formas de resolver os problemas, bem como acerca dos seus conhecimentos, esforçando-se, com a ajuda do professor, por comunicar as suas ideias de forma clara, porque, só assim, estará a desenvolver uma maior compreensão do seu próprio pensamento (Guimarães, 1988).

Um dos professores, incluído no estudo levado a cabo por Canavarro (1993), considerava a participação dos alunos como algo essencial, no desenvolvimento das suas aulas, resolvendo problemas, colocando questões e explicando raciocínios. Um outro, considera a participação dos alunos, como algo desejável, mas não imprescindível, pois compete aos alunos ouvir a exposição do professor e, por vezes, resolver exercícios. Também Delgado (1993) analisou a prática profissional de uma professora que pensava ser igualmente importante, os alunos, interagirem uns com os outros, explicando e discutindo as suas ideias. No entanto, admite que, este tipo de atividades, como é o caso dos trabalhos de grupo, geram um pouco de confusão e barulho. Uma outra professora participante neste estudo defende que, os alunos

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devem trabalhar em grupo, porque só assim mostram estar mais à vontade para colocar as suas dúvidas. Considera, ainda, que, o trabalho de grupo é um método que deverá fazer parte da prática do professor, tendo como finalidade o desenvolvimento da comunicação entre alunos e a promoção da interação entre eles, tornando-os capazes de aperfeiçoar as formas, pelas quais, explicam as suas ideias. Em grupo ultrapassam-se dificuldades, conjugam-se ideias e potencia- se a confiança para encarar novos problemas, promovendo-se a discussão salutar.

Um estudo posterior, centrado nas práticas comunicativas dos professores, comprova que, a análise inicial da resolução das tarefas, com leitura e reconto, torna-se essencial para tentar despistar dificuldades, no que concerne à compreensão do enunciado (Menezes, et al., 2003). As dificuldades de leitura aparecem não só nos enunciados dos problemas de Matemática, mas, também, na ambiguidade de significados e desconhecimento funcional do conteúdo matemático. Sendo assim, parece urgente que, o professor dirija a sua atenção para o delicado processo de desenvolvimento de estratégias de leitura (N. Oliveira, 2007).

O envolvimento dos professores, em atividades de investigação das suas práticas, é suscetível de desempenhar um papel importante no seu desenvolvimento, tanto ao nível das suas capacidades de reflexão e envolvimento profissional, como dos seus conhecimentos e práticas (Menezes, et al., 2002).

Finalizamos este tópico com o estudo de Domingues e Martinho (2012), que teve como objetivo analisar o contributo da comunicação numa aula de Matemática. Estas autoras sublinham, em particular, a importância da discussão coletiva para o desenvolvimento da capacidade de Comunicação Matemática, na explicitação e desenvolvimento dos raciocínios, dos alunos. A professora participante neste estudo procura que, o ambiente de trabalho, seja desafiador, privilegiando discussões, em pequenos grupos, e incentivando a comunicação entre os alunos.