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Capítulo II | Dimensão Investigativa

Anexo 3 Reflexão IV da Prática Pedagógica em contexto de Jardim de Infância

“Observar cada criança e o grupo para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades, recolher as informações sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças vivem, são práticas necessárias para compreender melhor as características das crianças e adequar o processo educativo às suas necessidades.” Escolhi esta citação para iniciar esta reflexão porque me parece que, depois de duas semanas a observar e a cooperar e depois de caracterizarmos o grupo e a sala, faz sentido que comecemos a “planear situações de aprendizagem que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a interessar e a estimular cada criança, apoiando-a para que chegue a níveis de realização a que não chegaria por si só.” (OCEPE, 2009) Aliás, e citando ainda a mesma fonte, “Planear o processo educativo de acordo com o que o educador sabe do grupo e de cada criança, do seu contexto familiar e social é condição para que a educação pré-escolar proporcione um ambiente estimulante de desenvolvimento e promova aprendizagens significativas e diversificadas (…).”

Seguindo esta linha de pensamento, e porque me coube a mim planear esta semana, achei que seria interessante iniciar esta minha “aventura” com a leitura de um livro “O Segredo dos Sabonetes” e através dele introduzir o tema que a instituição decidiu abordar durante a semana, colaborando assim num projeto a nível nacional que pretendeu sensibilizar as crianças e toda a comunidade que todas as crianças têm direito a crescer numa família, relembrando assim os seus valores onde deve permanecer o carinho, a cumplicidade, uma história ao deitar, o aconchego e a ternura. Momentos que muitas crianças gostariam de ter e que, infelizmente são vitimas da sua ausência. Neste sentido, o Dia Nacional do Pijama foi o mote de toda a semana que iniciou, como já atrás referi, com a leitura do livro do proposto também pela organização deste projeto. Quando vi o livro fiquei um pouco assustada porque a história era um pouco longa para as crianças desta faixa etária. Por isso, lembrei-me que teria de adaptar a história para captar a sua atenção e para que conseguissem acompanhar a sequência e os pormenores deste conto e sobretudo a sua mensagem. Adaptei o texto, e fui lendo à medida que ia mostrando as ilustrações do livro. A moral desta história era que tal como um sabonete espalha o seu cheiro que todos sentimos, também nós devemos espalhar o perfume do amor aos outros através da amizade, do carinho e do tempo que lhes dedicamos.

As crianças demonstraram interesse pela história e estavam motivadas e atentas. A proposta que se seguiu, ainda no mesmo espaço, que me pareceu adequado, surgiu a ideia de observarmos três saquinhas com raspa de sabonetes que tinham fragrâncias diferentes que representavam a amizade, o carinho e o tempo. Estas tiveram a oportunidade de as explorar, ao tocar e cheirar, a maioria comentava que gostava do perfume, porém outras diziam o contrário, mostrando-se mais sensíveis à intensidade dos perfumes.

O projeto do Dia Nacional do Pijama pedia que cada sala construísse uma casa e a decorasse a seu gosto com o objectivo de angariar fundos para ajudar as crianças desfavorecidas, que vivem sem o aconchego da sua família. Por isso, e depois de debater com as crianças este assunto, chegámos à conclusão que poderíamos fazer saquinhas com cheiro, como a avó da nossa história fazia, e assim colar numa caixa de cartão com formato de casa.

Segundo as OCEPE (2009), “A participação democrática na vida do grupo é um meio fundamental de formação pessoal e social”. Deste modo, e por consenso, teríamos uma casinha com o cheiro da amizade, o cheiro do carinho e o cheiro do tempo e assim

10 poderíamos espalhar “o amor” a todos os que se aproximassem desta casa. Durante e, após a construção, foi visível o interesse pela proposta, pois colaboraram com facilidade, dando inúmeras sugestões. Isto leva-me a crer que estavam motivadas e envolvidas. Achei também que reagiram bem a todas as sugestões que os colegas foram dando respeitando-se uns aos outros. O espaço e os recursos utilizados foram, na minha opinião, adequados e suficientes. Durante a construção da casinha as crianças souberam respeitar as regras de convivência, interagiram e cooperaram uns com os outros, ajudando-se mutuamente, partilhando também os materiais utilizados.

No dia seguinte brincámos ao Jogo da Seta e ao Jogo da Estátua. Tendo em conta que “os jogos de movimento com regras progressivamente mais complexas são ocasiões de controlo motor e de socialização, de compreensão e aceitação das regras e de alargamento da linguagem.” (OCEPE, 2009), achei que seria importante continuar o trabalho da educadora e, acrescentar algumas regras. Por isso, no Jogo da Seta, as crianças, que antes tinham apenas de enviar a seta ao colega dizendo o nome de quem a recebia, agora teriam de trocar de lugar com o colega a quem enviavam a seta. De acordo com as OCEPE (2009), “Todas estas situações permitem que a criança aprenda a utilizar melhor o seu corpo e vá progressivamente interiorizando a sua imagem.” O Jogo da Estátua foi também alterado com vista a acrescentar algumas regras. Uma vez que durante a semana falámos sobre alguns sentimentos como o amor, neste jogo teríamos de dar um abraço e um beijinho ao colega que estivesse mais próximo, ao som de um ferrinho que batia no triângulo e ao som de uma maraca, respetivamente. Este exercício, exigia das crianças uma atenção redobrada para escutarem os instrumentos e, isso foi nitidamente observado, demonstrando assim motivação, responsabilidade e respeito pelos colegas. Segundo as OCEPE (2009), “O trabalho com o som tem como referência o silêncio (…). Saber fazer silêncio para escutar e identificar esses sons faz parte da educação musical.” Na minha opinião, o espaço e os recursos foram adequados, pois os jogos decorreram com normalidade.

No Dia Nacional do Pijama todas as crianças, educadoras, assistentes operacionais e estagiárias foram de pijama para a instituição respondendo assim ao apelo do projeto. Deste modo, e criando um ambiente familiar coloquei estrelas e uma lua no tecto e escureci a sala colocando cartolinas pretas nas janelas e cortinas de tecido preto já existentes na sala simulando assim a noite. As crianças quando entraram na sala ficaram surpreendidas e depois de uma breve conversa sobre o porquê de estarmos todos vestidos de pijama e numa sala escura, brincaram livremente com os peluches, mantas, lanternas e almofadas. Foi muito interessante observar estas brincadeiras do faz-de- conta, nomeadamente na área da casinha.

As OCEPE (2009) afirmam que “Na interacção com outra ou outras crianças, em actividades de jogo simbólico, os diferentes parceiros tomam consciência das suas reacções, do seu poder sobre a realidade, criando situações de comunicação verbal e não verbal.” Penso que as lanternas foi a novidade maior da sala. Todas queriam brincar e contestavam entre si quem brincava com este objecto, mas com uma conversa, a negociação foi sempre aceite de ambas as partes com satisfação.

Os jogos de luzes foram, também, um momento muito significativo para as crianças. Através de um retroprojetor foi possível cada uma delas projetar o seu corpo, ou apenas as mãos num lençol branco. Depois, com a ajuda da educadora foi possível construir silhuetas mais elaboradas que as crianças tentaram imitar seguidamente. Deste modo, constatei e confirmei através das OCEPE (2009), que “as formas mais elaboradas exigem o apoio do educador”.

11 Estava também planeado fazer jogos de luzes coloridas através de corantes coloridos que se dissolvem na água e que as suas cores são projetadas no lençol branco e, ainda fazerem experiências com o papel celofane no retroprojetor fazendo assim jogos de luzes coloridas mas, não foi possível, porque o retroprojetor avariou inesperadamente durante a brincadeira com as sombras. Por isso, prolongámos a proposta da projeção de sombras com o corpo mas utilizando as luzes das lanternas.

O contador de história foi também uma proposta planeada para esta semana e, pude verificar que as crianças demonstraram entusiasmo neste papel de contadores, contando a história através das ilustrações que iam mostrando aos colegas. Foi curioso observar que o grupo é que interage mais com o contador no sentido de lhe fazer perguntas sobre a história que contou. Penso que assumem este papel por imitação à referência do adulto, a educadora, que costuma orientar esta atividade questionando as crianças. Segundo as OCEPE (2003), “É através dos livros, que as crianças descobrem o prazer da leitura e desenvolvem a sensibilidade estética.” E, de acordo com a mesma fonte, as histórias contadas pelas crianças a partir de imagens “são um meio de abordar o texto narrativo que, para além de outras formas de exploração, noutros domínios de expressão, suscitam o desejo de aprender a ler.”

Termino esta reflexão consciente de que esta semana foi rica em experiências significativas para as crianças. Senti que foi, de facto, marcante pela satisfação das crianças que dias mais tarde ainda comentavam algumas das experiências vividas durante a semana.

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