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Capítulo II | Dimensão Investigativa

Anexo 5 Reflexão X da Prática Pedagógica em contexto de Jardim de Infância

Nesta última semana de prática pedagógica em contexto de Jardim de Infância, continuámos a trabalhar o tema do Inverno. Neste sentido, e como no primeiro dia da semana fomos ver uma peça de teatro proposta pela instituição, começámos, no dia seguinte, por fazer um jogo dramático tendo, ainda como referência o livro “Sonho de Neve” pois as crianças continuam a falar desta história com grande entusiasmo. Assim, e tendo como intenção despertar o interesse das crianças para a alteração paisagística com a chegada do Inverno e como nos adaptamos às suas características, sugeri às crianças que imaginássemos que o agricultor da nossa história vivia numa serra, parecida com a Serra da Estrela, mas esta serra chamava-se “Serra dos Sonhos”. Deste modo, a estagiária diz que o agricultor escreveu uma carta e contou-nos como se vivia no cimo daquela montanha e sugeriu às criança que imaginássemos que éramos agricultores e que fazíamos tudo o que ele conta nesta carta.

As crianças estavam muito entusiasmadas enquanto mimavam a história, e muito envolvidas. Algumas faziam de conta que estavam a fazer o seu boneco de neve (uma das ações da história) e no fim da narração todos caíam e, nesta altura, algumas mostraram-se indignadas porque tinham caído em cima do boneco de neve que elas tinham construído naquele lugar. Todavia, a maior parte das crianças demostraram capacidade de respeito por si e pelo outro enquanto se movimentavam pela sala.

Creio que, de fato, as crianças estavam muito envolvidas nesta tarefa, tendo assumido e encarnando a personagem do agricultor a sério.

Com esta proposta podemos constatar que as crianças conseguem reconhecer as condições atmosféricas do Inverno, nomeadamente a chuva, o vento e a neve, bem como as peças de vestuário usadas nesta estação do ano, como o gorro, o casaco grosso, as botas, o cachecol e as luvas. Durante este jogo, as crianças interagiam entre si através dos gestos e ajudavam-se umas às outras, sendo mais visível enquanto faziam de conta que estavam a construir o boneco de neve. Sousa (2003) refere que, segundo Vigotsky (1970) e Bolton (1976), o jogo imaginativo é “algo que desenvolve de um modo muito especial as capacidades de pensamento abstracto, por levar a criança a conceber imaginariamente acções e objectos que não estão imediatamente presentes na sua percepção do real.” E continua citando, ainda McCaslin (1974) e Wood (1981), que chama “a atenção para que uma grande parte da actividade natural da criança é jogo «dramático», contendo componentes de fantasia e de acting-out.” e termina com a opinião de L.Valente (1991), que diz que “jogo, drama e desenvolvimento psicológico estão, na criança, inextricavelmente ligados.”

Enquanto dirigia a proposta senti alguma dificuldade em gerir o grupo, uma vez que estavam muito entusiasmadas e, por isso, conversavam entre si. Mas, penso que este diálogo entre elas é também importante pois partilhavam entre si momentos já vividos com as suas famílias e amigos em circunstâncias parecidas com a que estávamos a representar naquele instante. Por este motivo, não alterava a proposta, no entanto, preferia ter feito no polivalente (como estava planeado), mas estava ocupado por outras crianças que, por estar a chover, tiveram música naquele espaço. Acho que, no polivalente as crianças teriam tido mais espaço para se movimentarem e expressarem livremente.

Seguindo uma metodologia de projeto, a minha colega continuou a trabalhar o Inverno “pegando” no boneco de neve que tínhamos construído na nossa imaginação durante o jogo do dia anterior, mas agora teriam de o representar através da expressão plástica.

15 Neste sentido, a estagiária levou uma fotografia de um boneco de neve (real) e uma imagem de um boneco construído através da reutilização de material, e convidou as crianças a construírem um. Por isso, enquanto uma parte das crianças brincava nas áreas de brincadeira livre, a estagiária foi chamando pequenos grupos para construírem o seu boneco de neve recorrendo essencialmente a rolos de papel higiénico. De acordo com Sousa (2003), “Entre os materiais que a criança pode e deve utilizar podemos citar os tradicionais como os lápis; as tintas; os papéis; as cartolinas; as colas; as madeiras; o plástico; os metais e o gesso e outros não convencionais/os materiais de desperdício como garrafas de plástico; as latas de conserva vazias; as caixas de remédios, de cereais, de bolachas; os jornais; as revistas; os copos de iogurtes; as rolhas das garrafas; cápsulas de cafés expresso, etc. (…) Explorar materiais de desperdício, pintar com água, amassar papéis…, são acções que concretiza com objectos e materiais e que se convertem progressivamente em actividades criadoras. No entanto, a criança assume responsabilidade ao cuidar da recolha e manutenção dos materiais que necessita, e os materiais, ao serem utilizados pela criança, contribuem para o desenvolvimento da sua actividade expressiva total.”

As crianças mostraram entusiasmo na realização da construção do boneco de neve. Algumas até queriam construir os bonecos de neve dos colegas que estavam a faltar naquele dia. Todas elas conseguiram contar o número de rolos de papel higiénico utilizados e a maior parte revelou dificuldades a enrolar o papel crepe para fazer o nariz do boneco, tendo por isso, sido necessário a ajuda de um adulto para começar a enrolar e depois elas continuavam mais facilmente.

Sousa (2003) refere também que, “A ligação desde tenra idade à linguagem plástica permitirá à criança ir ampliando os seus esquemas de pensamento, de acordo, com o que compreende e num tempo cronológico próprio. Neste processo, a criança irá evoluindo, obtendo melhores resultados no dia-a-dia, melhorando e sua técnica e expressando-se criativa e logicamente ao mesmo tempo, isto é, desenvolvendo-se de forma harmónica e integral.” E refere também que “As explorações sensoriais são importantes para a libertação das tensões, para o desenvolvimento da motricidade fina e o domínio da plasticidade e a resistência dos materiais leva a uma progressiva actividade criadora.” Terminámos a semana com uma música do Inverno. Nesta proposta as crianças mostraram-se bastante envolvidas. Estas souberam fazer silêncio para escutar a música, pois tinham a missão de ajudar o Rato a completar a letra da música, que estava escrita numa cartolina, e que estas teriam de completar com imagens. Desta forma, à medida que íamos cantando tomei a iniciativa de seguir com o dedo a letra da música despertando assim a curiosidade das crianças pelo código escrito, bem como para a diferença da escrita e do desenho. Além disso, as crianças puderam ainda verificar que aquilo que se diz se pode escrever, num código com regras próprias.

As crianças gostaram muito desta tarefa de completar a letra da música, bem como da sua sonoridade, pois durante o dia ainda cantavam e, sempre que tinham oportunidade, dirigiam-se para perto da cartolina que tinha a música e que fixou exposta na sala, para cantarem e apontarem à medida que cantavam. Esta foi sem dúvida uma proposta significativa para as crianças.

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