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Reflexão sobre o efeito do treino Multicomponente na aptidão física dos

3. E STÁGIO

3.2. Contexto Prático

3.2.2. Grupo de Idosos da Santa Casa da Misericórdia do Porto

3.2.2.5. Reflexão sobre o efeito do treino Multicomponente na aptidão física dos

Os valores anteriormente descritos, assim como a Tabela 19, permitem- nos observar uma melhoria das médias dos alunos em todas as variáveis avaliadas. Estas melhorias confirmam assim os benefícios e a importância do programa de treino aplicado a estes alunos.

Abordando especificamente cada parâmetro avaliado, podemos observar no caso do peso e do IMC uma ligeira redução dos valores médios entre o primeiro momento de avaliação e o segundo momento de avaliação. Apesar desta redução dos valores do peso e do IMC, estes valores não se mostraram significativos, o que demonstra a baixa intensidade do programa de treino.

Relativamente aos restantes parâmetros, numa avaliação inicial foram percetíveis os parâmetros em que os alunos exibiam menor desempenho físico, ou seja, valores mais baixos, como é o caso da resistência aeróbia e da força muscular dos membros inferiores e superiores. Apesar de se terem verificado melhorias após a aplicação do programa de treino, estas só se apresentaram estatisticamente significativas no teste “Dois minutos step” e no teste “Flexão do antebraço”, não apresentando assim significância estatística no teste “Levantar e sentar na cadeira”. Penso que este resultado se deve ao facto de uma grande parte das aulas de força muscular ter sido realizada através do método “chair- based exercises”, i.e., exercícios realizados numa cadeira, diminuindo assim a ação do peso do corpo sobre os membros inferiores e como consequência a intensidade dos exercícios. Todavia, tendo em conta a aptidão física inicial dos alunos, considero esta evolução positiva. Ainda assim, é possível que os

exercícios aplicados tenham sido mais intensos para os membros superiores do que para os membros inferiores.

De seguida foram os parâmetros de flexibilidade, tanto dos membros inferiores como dos membros superiores, que apresentaram mais resultados abaixo do percentil 50 (P<50). Apesar de ambos os parâmetros se apresentarem com valores muito baixos, a flexibilidade dos membros inferiores foi a que apresentou mais valores abaixo do percentil 25. No entanto, após a aplicação do plano de treino, os alunos melhoraram as médias destes parâmetros, tornando as diferenças entre os dois momentos de avaliação estatisticamente significativas. Desta forma, podemos concluir que os exercícios realizados ao longo do programa de treino para o desenvolvimento da flexibilidade foram eficazes.

Por fim, o equilíbrio dinâmico foi o parâmetro que apresentou os melhores valores iniciais em relação aos restantes parâmetros. Apesar de esta ter sido a componente com melhores resultados, a maioria da turma (6 alunos num total de 8 alunos) encontrava-se abaixo do percentil 50, o que demonstra a baixa performance física dos alunos. No entanto, ao longo do plano de treino os alunos melhoraram o seu equilíbrio dinâmico, obtendo-se assim uma diferença estatisticamente significativa entre o primeiro e o segundo momento de avaliação.

Desta forma, e sendo este um treino multicomponente que abrange todas as componentes avaliadas, é notória a melhoria dos valores médios alcançados por este treino em todas componentes anteriormente referidas. Todavia, apesar de as diferenças não terem sido estatisticamente significativas em todos os parâmetros, considero os resultados atingidos por estes alunos positivos.

3.2.2.6. Reflexão geral do estágio com a turma de ginástica de manutenção da SCMP

Sendo eu da área de saúde e trabalhando essencialmente com idosos de mobilidade reduzida ou com limitações físicas, fiquei desde logo motivada para trabalhar com este grupo de idosos.

Perceber quais as dificuldades dos alunos, assim como, entender as patologias e trabalhar em função dos vários graus de mobilidade, fizeram-me pensar, inicialmente, que este seria o grupo de trabalho mais acessível aos meus conhecimentos base do que o grupo de musculação. Porém, com o decorrer do estágio, esta ideia inicial foi mudando.

Apesar da minha experiência com idosos de características semelhantes às deste grupo, a realização do plano anual não foi tarefa fácil. No entanto, tal como se sucedeu no planeamento do grupo de musculação, após uma pesquisa aprofundada sobre tema e o conhecimento das várias recomendações existentes para este tipo de população, penso que consegui compreender as várias recomendações e perceber as que se ajustavam a este grupo de alunos, tendo em conta o reduzido número de aulas e as numerosas limitações físicas.

Após a realização do “trabalho de casa” e de um mês de lecionação de aulas, verifiquei que o número de alunos presente nas mesmas variava bastante. Apercebi-me igualmente que a maioria dos alunos não sabia os dias nem o horário em que se realizavam as aulas, o que me dificultava a lecionação, uma vez que as aulas eram constantemente interrompidas.

Posto isto, foi realizada uma reunião com a assistente social do lar da SCMP e com a professora Manuela Costa, onde ficou decidido que os funcionários da instituição teriam de avisar previamente os alunos da realização das aulas, assim como, ajudar no encaminhamento dos mesmos para a sala de EF. Ficou ainda decidido que, devido ao número de alunos apresentado pelo lar para a participação nas aulas, a turma seria dividida em dois grupos: os idosos autónomos e os idosos não-autónomos.

Em função dessa decisão, reajustei o meu plano, procurando que este se adaptasse o mais possível às necessidades dos diferentes grupos e, com isso, pudesse garantir uma maior motivação e segurança dos alunos nas aulas. Efetivamente, foi possível verificar uma maior integração por parte dos alunos após as alterações efetuadas, uma vez que as aulas se tornaram mais apropriadas às dificuldades dos mesmos.

Apesar dos ajustamentos efetuados, com o decorrer do estágio, fui-me novamente deparando com algumas dificuldades. Uma delas foi a ausência

frequente das minhas colegas de estágio de licenciatura e, outra, a repetida ausência dos funcionários do lar no encaminhamento dos alunos para o local de realização das atividades. Esta falta de colaboração levou a que tivesse de ser eu (e as colegas de licenciatura, quando presentes) a encaminhar alguns dos alunos para a sala de EF, abdicando assim da supervisão momentânea dos idosos já presentes.

Dada a situação recorrente e novamente em conjunto com a professora Manuela Costa e a direção do lar, foi entretanto sugerido por parte desta instituição que as aulas passassem a decorrer na sala de estar.

Apesar deste não ser o espaço mais indicado, foi aquele que melhores resultados permitiu alcançar, uma vez que o número de participantes nas aulas aumentou, tal como a motivação dos alunos.

Assim, após um estágio atribulado pelas constantes alterações de espaços de aula e número de alunos participantes, penso que acabou por ser bastante proveitoso para mim. Aprendi a lidar, não apenas com os alunos, mas também com condicionamentos logísticos inerentes ao contexto onde intervi, o que promoveu a minha capacidade de adaptação e resolução de problemas, preparando-me assim para um futuro ambiente profissional.

4. C

ONCLUSÃO E PERSPETIVAS DE FUTURO

É um facto que temos uma população cada vez mais envelhecida e que este escalão etário é o que apresenta menores níveis AF (ACSM, 2009; Stathi et al., 2012). É igualmente um facto que os baixos níveis de AF se encontram associados ao aumento das debilidades e limitações físicas, desenvolvimento de doenças crónicas, aumento da dependência e diminuição da qualidade de vida. De forma a quebrar esta tendência, ou seja, a diminuição dos níveis de AF com o envelhecimento, tem-se verificado como objetivo mundial o desenvolvimento e promoção de programas de AF/EF.

Para o desenvolvimento de programas específicos para esta população, é necessário um conhecimento aprofundado da mesma, de forma a perceber os fatores que os motivam, as patologias e limitações a estes inerentes e o seu nível de aptidão física.

Ao avaliar a população em estudo verifiquei que as principais motivações para a realização de EF foram a melhoria da qualidade de vida, a manutenção da capacidade física, a socialização e o divertimento. Estes dados permitem-nos verificar a importância que EF representa para os idosos, uma vez que vêm nela a resposta para a manutenção da independência e funcionalidade, assim como, para o isolamento social.

Relativamente às patologias mais frequentes, as doenças cardiovasculares ocupam uma grande fatia das mesmas, especialmente a hipertensão arterial, seguindo-se a diabetes, os problemas articulares e a osteoporose (Alves et al., 2007; Civinski et al., 2011; Felipe & Zimmermann, 2011). Vários estudos comprovam que a AF/EF regular apresenta benefícios nestas patologias, controlando a tensão arterial, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, melhorando a manutenção da massa óssea, prevenindo a osteoporose, melhorando a amplitude de movimentos e a independência funcional (ACSM, 2009; 2014; Farinatti, 2008; Spirduso et al., 2005).

No que concerne à aptidão física, as principais dificuldades dos idosos em estudo centraram-se nos parâmetros da flexibilidade e da força muscular (Carlson et al., 1998; Cristopoliski et al., 2007; Dantas 2002; Mero et al., 2013). Convém frisar que o nível de aptidão física inicial do grupo da SCMP, ou seja, o

grupo institucionalizado, era muito inferior ao grupo não-institucionalizado, o grupo de musculação da FADEUP (Ferreira et al., 2013; Pintagui et al., 2012).

Conhecidas as turmas, realizados os planeamentos e aplicados os respetivos programas de treino, observou-se em ambos os grupos uma melhoria de todos os parâmetros, tendo-se verificado uma diferença após treino significativa em quase todos eles.

Estes resultados sugerem que os programas de EF aplicados, a musculação e o treino multicomponente, apresentam benefícios na melhoria da aptidão física dos idosos e consequentemente potenciam uma melhoria da funcionalidade, da independência e da qualidade de vida (ACSM, 2009; 2014; Bergamin et al., 2012; Farinatti 2008; Spirduso et al., 2005).

No entanto, seria pertinente a aplicação dos programas de EF com uma maior frequência semanal, seguindo corretamente as recomendações existentes e verificar a diferença nos resultados obtidos, ou seja, a sua significância.

A um nível pessoal, penso que cresci muito como pessoa e profissional ao longo deste estágio. Superei muitos medos e receios iniciais, como planear aulas e encarar uma turma e desenvolvi os meus conhecimentos numa área que me era de todo desconhecida, vendo agora o Desporto de uma forma totalmente diferente. Inclusivé deixei de ser uma pessoa sedentária e comecei a praticar desporto.

Como perspetiva de futuro espero ter a oportunidade de fortalecer e aplicar os meus conhecimentos em Desporto, de forma a complementar a minha área profissional, a Fisioterapia.

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