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Nos capítulos anteriores, apresentou-se a discussão a respeito do processo de formação do bacharel em Geografia, desde a institucionalização do saber geográfico no mundo, até a discussão acerca da formação do bacharel no curso de graduação em Geografia da UFRN. A análise em questão contribuiu para entender o processo de formação do geógrafo – além do perfil e os campos de atuação.

No que concerne aos procedimentos metodológicos da investigação empírica, buscou-se a compreensão do problema através de um levantamento de campo, no qual o instrumento de coleta de dados utilizado é um questionário, que foi aplicado por meio de uma amostragem por conveniência, que para (HILL, 1998, p. 30) “O método tem vantagens por ser rápido, barato e fácil”. Quanto a população (discentes de Geografia bacharelado da UFRN, campus Natal que realizam/realizaram ou nunca realizaram algum estágio não obrigatório durante a graduação) da amostra, a priori, tentou-se levantar um maior número de dados possíveis sobre os discentes em situação acadêmica e pós acadêmica, através da coleta de dados pessoais (nome, telefone, e-mail, contratos de estágio e etc.) na Secretaria do Departamento de Geografia, entretanto, não foi possível neste primeiro momento levantar dados satisfatórios.

Todavia, decidiu-se então, partir para outros métodos que viessem a satisfazer a população da amostra. Nesse sentido, as pesquisas foram realizadas por meio de questionários virtuais, disponibilizados em link – questionários web elaborado a partir do Google Forms11 – aplicativo do Google

que permite a criação, o compartilhamento e disponibilização de formulário na web. Esses questionários foram encaminhados para o site da Rede Social Facebook, o qual oferece espaços denominados “Grupos” os quais:

[...] agregam pessoas, objetivos e interesses em comum, dentro deles são discutidos assuntos cujo interesse é afunilado, fugindo do alto grau de dispersão provocado pela atualização ininterrupta da página inicial e do mural. Além da característica inerente ao Facebook que é

a publicação de conteúdos multimídia no mural, os grupos permitem conversa simultânea entre seus membros, a inserção de documentos em sua página lateral, sendo esta ferramenta de utilidade prática considerável, já que, devido a sua dinamicidade, os conteúdos publicados no mural do grupo vai dando espaço a novas publicações, e os documentos possuem links fixos,podendo ser alterados e reconstruídos pelos membros do grupo [...] (CARMO, 2011, p. 3).

Nesta perspectiva, foi elaborado um questionário com 16 questões, com perguntas abertas e fechadas. A elaboração do questionário baseou-se nos objetivos específicos desta pesquisa – os quais foram disponibilizados no grupo de Geografia da UFRN e respondidos durante os meses de fevereiro a maio de 2017. No momento da postagem do questionário no grupo de Geografia existente na rede social Facebook, o mesmo totalizava 601 membros, sendo que desta totalidade, participam alunos tanto do bacharelado como da licenciatura, além de membros que estudam em outras universidades – a amostra obtida foi de 61 estudantes do curso de Geografia Bacharelado da UFRN, campus Natal.

A investigação empírica através da pesquisa de campo analisou a influência do estágio não obrigatório na formação dos estudantes do curso de Geografia. Nesta pesquisa, buscou-se obter maiores informações sobre o perfil dos estágios em Geografia, e a percepção dos estudantes quanto à importância do estágio para a construção e/ou desenvolvimento de habilidades e competências profissionais relevantes ao curso de Geografia bacharelado. Nesse sentido, a partir das informações obtidas no questionário foi construída a amostra comprovando as contribuições do estágio não obrigatório na formação profissional.

A primeira questão analisada perguntou: Você está estagiando ou já estagiou durante o curso de Bacharelado em Geografia? Dos 61 estudantes que responderam o questionário 51% mencionaram que já realizaram atividade de estágio durante a graduação em Geografia bacharelado e 49% responderam que não estagiou. Dessa análise vemos que boa parte dos entrevistados realizaram algum estágio, mas é importante considerar que boa parte dos que responderam não realizaram.

A pergunta 2, procura responder o motivo da não realização do estágio de acordo com as repostas da questão anterior. No Gráfico 1: Se sua resposta foi NÃO. Qual o motivo de você não ter realizado a atividade de estágio?

Gráfico 1. Motivo da não realização do estágio

Fonte: Levantamento de campo, 2017.

De acordo com o Gráfico 1, a maioria dos respondentes, ou seja, 67% relata que o curso não ofereceu condições/incentivo para a realização do estágio. Os 13% afirmaram que procuraram estágio, mas não encontrou vagas. Já os 10% dos estudantes preferiram atividades junto ao DGE. Enquanto que os 7% não procuraram estágio porque já estavam trabalhando, mas em outra área. E por fim, os 3% dos estudantes responderam que não estagiaram porque abriram empresa própria. A questão aberta quanto ao motivo da não realização de um estágio, segundo o entrevistado 1:

Os estágios acabam sendo feitos pelos alunos que tem um vínculo maior com os professores, dessa forma os alunos que não participam de bases de pesquisas ou grupos estudantis que fazem parte do departamento de Geografia são deixados de lado (Entrevistado 1, março, 2017).

Na visão do entrevistado 1, a realização do estágio acaba sendo mais propicio quando o aluno tem um vínculo maior com os professores, e dessa maneira poder ter experiência voltada a pesquisa, que também é outro campo no qual o geógrafo pode atuar.

Acredito que, a Geografia deve ser melhor reconhecida,

considerando, principalmente, sua importância para

conhecermos a atual conjuntura social, política e econômica em que vivemos. Logo, penso que o corpo docente, enquanto professores, deveriam estar mais preocupados com a formação do profissional que eles estão pondo no mercado. Falta apoio, incentivo e oportunidades para que os alunos se engajem em atividades fins (Entrevistado 2, março, 2017).

De acordo com o entrevistado 2, os professores devem estar preparados para propiciar uma formação considerando a conjuntura atual da sociedade. Na visão dele, falta apoio, incentivos e oportunidades para que os alunos realizem um estágio.

A questão 3, perguntou aos que estagiaram: Seu estágio está relacionado com o curso? 97% dos estudantes responderam que realizaram a prática de estágio relacionado ao curso. E uma pequena porcentagem de 3% responderam que a prática do estágio não obrigatório não está relacionada com a área de Geografia. É importante ressaltar que o estágio realizado na área do curso pode ser a porta para uma futura contratação por parte da empresa concedente do estágio. Corroborando com esta visão Heidrich e Verdum (2001), trata-se inegavelmente de que os estagiários como técnicos podem obter uma perspectiva da futura contratação como geógrafos.

A questão 4, trata do tipo de empresa na qual foi realizado o estágio: Seu local de estágio foi em empresa pública ou privada? De acordo com as respostas, 84% dos estudantes realizaram estágio em empresas públicas, e 16% relataram que o estágio foi em empresa particular. Desta análise, podemos inferir que boa parte das ofertas de estágios não obrigatórios está sendo oferecidos, sobretudo, por parte dos órgãos públicos.

A questão 5, relata o nome da empresa que os estudantes estagiaram: Em qual empresa você estagiou/está estagiando?

Gráfico 2. Nome da empresa que o aluno estagiou

Fonte: Levantamento de campo, 2017.

A análise do Gráfico 2, mostra que dos 51% dos estudantes que realizaram estágio, 4 deles realizaram a prática do estágio na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (SEMURB) e 4 realizaram estágio na Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS). Pode-se inferir a partir da análise deste gráfico o perfil das empresas concedentes do estágio – a maioria das empresas que ofertaram estágio são as públicas municipais e federais. As empresas particulares que concederam estágio foram a Aquonsult, a Bioconsultants, a Geoconsult e a START. Neste gráfico, vê-se que um estudante estagiou em uma empresa que se localiza no município de Goianinha – o qual faz parte da Região metropolitana de Natal.

Quando questionados sobre a correlação entre teoria e prática, a questão de número 6: Quais componentes curriculares da grade do curso de Geografia foram mais aplicados na atividade de estágio?

Gráfico 3. Componentes curriculares

Fonte: Levantamento de campo, 2017.

No gráfico acima, percebe-se que 55% dos entrevistados menciona que cartografia e geoprocessamento foi o componente curricular mais aplicado na prática do estágio, 20% afirmaram planejamento ambiental, 16% geologia geral, e ambos com 3% geomorfologia, meteorologia/climatologia e Geografia da população. Desta análise, podemos inferir que as empresas no município de Natal estão ofertando vagas em sua maioria na área técnica de cartografia e de geoprocessamento. Para enfatizar essa visão, o entrevistado 3 relata que:

Infelizmente hoje o mercado procura um geógrafo mais físico, um geógrafo que vá a campo e leia a paisagem, um geógrafo

que compreenda bem matemática, lógica, estatística,

topografia, geodesia, química, inglês, que tenha uma excelente base de cartografia, e que possa relacionar tudo isso com a sociedade e natureza, e infelizmente sabemos que a universidade não ensina isso, só vamos aprender essa realidade no mercado de trabalho (Entrevistado 3, março, 2017).

Segundo o entrevistado 3, o mercado de trabalho exige uma formação voltada para a Geografia física, e que nesse sentido, o curso não prepara o aluno, tendo que o mesmo adquirir experiência fora da universidade.

Em relação ao período no qual os entrevistados realizaram a atividade de estágio, a questão 7: A partir de qual período do curso você estagiou?

Gráfico 4. Período do curso que o aluno estagiou

Fonte: Levantamento de campo, 2017.

A análise do Gráfico 4, nos mostra que 26% dos entrevistados, realizaram estágio a partir do 6° período. Consecutivamente, 23% afirmaram estagiar a partir do 8° período, os 19% estagiaram a partir do 7% período. Desta análise, podemos constatar que boa parte dos estagiários são contratados entre o 6° e 8° período do curso. Esta realidade tem correlação com as disciplinas que os estudantes cursaram durante esses períodos. No quadro 3 do capítulo anterior vemos que do 6° e 7° período os alunos cursam as disciplinas de Geografia de Bacias hidrográficas, Geografia Física do Brasil, Planejamento Ambiental, Planejamento Urbano e Regional e Geoprocessamento.

Em relação ao recebimento de alguma remuneração durante o estágio, a questão de número 8: Recebe/recebeu algum tipo de remuneração pelo seu estágio? De acordo com as respostas, 87% dos estudantes entrevistados receberam alguma remuneração durante a prática. E apenas 13% afirmaram não receber nenhum tipo de remuneração. De acordo com a Lei n° 11.788/2009 o estágio não obrigatório deve ser remunerado – sendo outro fator de influência para que o aluno opte pela prática do estágio

Em se tratando das contribuições do estágio não obrigatório para o crescimento acadêmico/profissional do aluno, a questão número 9: O estágio não obrigatório contribuiria/contribui para o seu crescimento

acadêmico/profissional? Os 93% dos entrevistados afirmam que o estágio contribuiria/contribui para o seu crescimento acadêmico/profissional. E uma pequena amostra de 7% respondeu que não. Nesse contexto, a vivência da prática no mercado de trabalho auxilia a aplicabilidade das teorias vistas em sala de aula. Na visão do entrevistado 4:

Acho o estágio fundamental para a formação do geógrafo, pois o insere no campo profissional, preparando-o para o mercado de trabalho. Tendo em vista que a formação teórica não proporciona capacitação suficiente para que o profissional se coloque de maneira competitiva no mercado de trabalho (Entrevistado 4, abril, 2017).

Quando questionados se após o término da realização do estágio não obrigatório, conseguiram ser efetivados em uma empresa, em função das habilidades adquiridas no estágio, a questão de número 10: Você foi contratado pela empresa após o término do seu estágio?

Gráfico 5. Porcentagem dos alunos que foram contratados após o término do

estágio

Fonte: Levantamento de campo, 2017

No gráfico acima, 64% dos entrevistados afirmaram que não foram contratados pela empresa após o término do seu estágio. Uma porcentagem de 26% afirma que foram contratados. E os 10% relataram que foram contratados por outra empresa. Nesse sentido, a experiência adquirida no mercado de trabalho pode proporcionar ao estudante experiência profissional, a

oportunidade de ser efetivado pela empresa concedente do estágio, além de poder tentar outras oportunidades diferentes daquela do estágio de origem.

Quando questionados a respeito das atividades que o curso não oferece de forma satisfatória – questão de número 11: Quais destas atividades o curso não oferece de forma satisfatória?

Gráfico 6. Atividades que o curso não oferece de forma satisfatória

Fonte: Levantamento de campo, 2017

No Gráfico 6, verifica-se que 52% dos entrevistados responderam que as aulas de campo não são ofertadas pelo curso de forma satisfatória, além das aulas nos laboratórios com 26%. Os minicursos com 10%, as provas com 5%, os debates em sala de aula com 3%, e ambos com 2% seminários e as aulas na estação climatológica. Nesse contexto, os alunos acham mais importante a prática de campo para seu crescimento acadêmico. Na visão do entrevistado 5:

A formação do corpo docente do curso é bastante elevada, e são bastante dedicados ao ensino de suas disciplinas. Porém, o curso estimula mais a atuação acadêmica que técnica do profissional geógrafo, nesse caso seria necessário o contato dos alunos com as legislações que regulamentam o uso do

espaço geográfico, com softwares de produção de

cartas/mapas/plantas (muitos bacharéis saem sem noção nenhuma nessa prática fundamental do geógrafo), disciplinas relacionadas a relatórios de campo (elaboração de EIA, RIMAs e PRADs, e tantos outros comuns no mercado), e ainda cursos de atuação profissional do geógrafo – empreendedorismo,

gestão de projetos, tecnologia da informação (Entrevistado 5, abril, 2017).

Para o entrevistado 5, o curso não prepara o aluno para atuar como geógrafo técnico e sim para atuação no campo acadêmico. Desse modo, pontua a importância da prática técnica na formação do aluno.

Quando questionados sobre a atual estrutura curricular do curso – questão de número 12: você acha que a atual grade curricular atende as demandas/necessidades do mercado de trabalho? Os 84% dos alunos responderam que a atual estrutura curricular do curso não atende as demandas/necessidades do mercado de trabalho. E apenas 16% dizem que sim. É importante ressaltar que o PPP do curso de Geografia bacharelado é do ano de 2001, deste tempo para cá, as disciplinas da estrutura curricular, praticamente não sofreram alterações. De acordo com um entrevistado:

O curso de Geografia tem que passar por grandes modificações, não formam geógrafos para o mercado de trabalho e sim para serem acadêmicos. Um exemplo de número que precisa ser levado em consideração é quantos professores possui registro no CREA? Devido ao departamento com pensamento arcaico os geógrafos formados por falta de alternativas e preparo buscam a licenciatura (Entrevistado 6, março, 2017).

Para nortear essa questão, segundo Pedroso (1996), a formação do geógrafo é apresentada como de bom padrão conceitual – no que concernem as teorias ensinadas em sala de aula, mas em relação a técnica, possui uma certa dificuldade de aplicabilidade no mercado de trabalho. Para tanto, o autor afirma que é necessário ter consciência de um mercado exigente. Nesse sentido, a universidade deve moldar estes profissionais para atender tais exigências.

A questão de número 13, responderam os alunos que concluíram o curso: Sua atividade profissional atual está relacionada ao curso? Os 54% dos que concluíram o curso, diz que sua atividade profissional atual não está relacionada com a prática geográfica. Sendo que 46% disseram que sim está relacionado. Pode-se constatar dessa análise que boa parte dos que concluíram o curso não estão exercendo sua atividade profissional na área de

Geografia. As poucas vagas ofertadas para os profissionais podem ter influenciado esse resultado, ou a formação profissional destes não se mostrou satisfatória.

A próxima questão de número 14 perguntou aos que concluíram o curso e que atualmente exercem a profissão de geógrafo: Atualmente você exerce a profissão de geógrafo em qual empresa?

Gráfico 7. Empresa na qual exerce a profissão de geógrafo

Fonte: Levantamento de campo, 2017.

Entre aqueles que responderam à pesquisa 44% dos entrevistados exercem a profissão de geógrafo em empresas públicas, 37% mencionam que trabalham em empresas privada, os outros 19% exercem a atividade como autônomo (abriu sua própria empresa). Podemos notar que a maioria dos profissionais exercem suas atividades profissionais em órgãos públicos – mesmo sendo poucas as vagas ofertadas nos concursos públicos.

Quando perguntados sobre a importância do estágio, a questão de número 15: Você avalia como imprescindível a realização de um estágio não obrigatório para a sua formação profissional? 95% responderam que sim, o estágio não obrigatório é imprescindível/importante para sua formação profissional, ao passo que apenas 5% menciona que não é imprescindível tal prática. Para elucidar os dados, um entrevistado respondeu que:

Acho que não apenas estágio não obrigatório, mas ter obrigatório, visto que o curso não oferece suporte a prática, 99% das aulas são apenas teóricas e muitas vezes não conseguimos aliar teoria à prática por falta de experiência, que poderia ser adquirida através do estágio, o problema é a dificuldade em conseguir estagiar na área de Geografia, o que poderia ser resolvido com uma parceria da UFRN com as empresas e instituições, como ocorre no IFRN (Entrevistado 7, março, 2017).

De acordo com o entrevistado 8:

Concluí o curso sem me sentir capacitado, não tive experiência alguma na área que me desse firmeza como geógrafo. Hoje estou desempregado pois apenas tive oportunidade de lecionar a base de contrato, concurso não tem para geógrafo. Creio que se tivesse uma oportunidade de estágio naquele tempo tudo hoje seria diferente (Entrevistado 8, abril, 2017).

Destes dados, percebe-se que o aluno considera importante a prática do estágio não obrigatório e até sugeri que possa existir o obrigatório para sua formação profissional – o elo entre a teoria e prática vivenciada no ambiente de trabalho auxilia o estudante para que o mesmo possa escolher sua futura profissão. Corroborando com esta visão Bianchi (2009), o estágio é uma atividade que pode trazer muitos benefícios para a aprendizagem – isso gera resultados para o estudante, na melhora do ensino e da prática.

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