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Estágio não obrigatório: contribuições para a formação profissional dos estudantes do curso de bacharelado em geografia da UFRN, campus Natal

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

JANY KELLY FERNANDES DE ARAÚJO

ESTÁGIO NÃO OBRIGATÓRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A

FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS ESTUDANTES DO CURSO DE

BACHARELADO EM GEOGRAFIA DA UFRN, CAMPUS NATAL

NATAL/RN 2017

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JANY KELLY FERNANDES DE ARAÚJO

ESTÁGIO NÃO OBRIGATÓRIO: CONTRIBUIÇÕES PARA A

FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS ESTUDANTES DO CURSO DE

BACHARELADO EM GEOGRAFIA DA UFRN, CAMPUS NATAL

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profª. Drª. Eugênia Maria Dantas

NATAL/RN 2017

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho envolveu a colaboração de muitas pessoas. Aqui manifesto minha gratidão a todas elas e em particular:

À minha orientadora Profª. Drª. Eugênia Maria Dantas, pelos incentivos, confiança, paciência, leituras indicadas e, principalmente, por ter aceitado me orientar. Expresso por este motivo o meu profundo agradecimento;

Ao meu amigo e companheiro João Guilherme pelo suporte emocional e psicológico dado durante os meses que se passaram. Muito obrigada pelo carinho, paciência, atenção, incentivo e principalmente por ter me ajudado com a escolha do tema;

Às minhas amigas, Luana, Suelen e Viviane pelo incentivo, pela amizade, e apoio emocional, o meu muito obrigada;

Aos colegas de trabalho, que me deram apoio no momento em que precisei me ausentar, muito obrigada;

Aos colegas de curso que colaboraram respondendo ao questionário, muitíssimo obrigada;

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Departamento de Geografia, pela oportunidade de ter cursado a graduação;

Finalmente, àqueles que contribuíram indiretamente para a realização desta monografia.

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EPÍGRAFE

Apesar das ruínas e da morte, onde sempre acabou cada ilusão, a força dos meus sonhos é tão forte, que de tudo renasce a exaltação e nunca as minhas mãos ficam vazias.

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RESUMO

A presente pesquisa objetivou uma análise sobre a influência do estágio não obrigatório na formação dos estudantes de Geografia bacharelado, no Campus da UFRN, localizado no município de Natal, bem como discutir a respeito do processo de formação do Bacharel em Geografia considerando a literatura vigente e o projeto pedagógico do curso; Deste modo, buscou-se identificar o perfil dos estágios não obrigatórios na área de Geografia na cidade de Natal e a repercussão no curso de Geografia bem como analisar a percepção dos estudantes quanto à importância do estágio para a construção e/ou desenvolvimento de habilidades e competências profissionais relevantes ao curso de Geografia. Nesse sentido, como procedimentos metodológicos foi utilizado uma pesquisa bibliográfica sobre o processo de formação do bacharel em Geografia e buscou-se a compreensão do problema, apreendida a partir da aplicação de questionários com os estudantes a respeito da importância da prática do estágio. Nesta perspectiva, vê-se que tanto alunos que exerceram a prática do estágio como aqueles que não exerceram consideram imprescindível a prática do estágio não obrigatório para sua formação profissional. Enfim, por meio de todo o estudo realizado pode-se confirmar que o estágio não obrigatório vai muito além da aplicação prática dos conhecimentos teóricos – fato que este promove o desenvolvimento de habilidades e competências indispensáveis para que o futuro geógrafo possa atuar na área de trabalho na qual ele foi habilitado.

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ABSTRACT

The present study aimed to analyze the influence of the non-compulsory practice in the formation of bachelor 's degree students at UFRN, located in the city of Natal, as well as discussing the process of formation of the bachelor in Geography, considering current literature and the pedagogical project of this academic course; to identify the non-compulsory practice profiles in the Geography workfield in the city of Natal, the repercussion in this academic course internally and analyze the students' perception of importance of the practice for the construction and / or development of professional skills and relevant competences to the academic course of Geography. Following these discussions, as methodological procedures, a bibliographical research was used about process of bachelor's degree training in Geography and the aim was to understand the problem, seized from the application of questionnaires with the students about the importance of practicing the internship. In this perspective, it is seen that both students who practiced the non-compulsory internship, and those who did not, considered it essential to practice the non-compulsory internship for their professional training. Finally, through the whole study, it can be confirmed that the non-compulsory stage goes far beyond the practical application of theoretical knowledge - a fact that promotes the development of skills and competences indispensable for the future geographer to work in area to it qualified.

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LISTA DE SIGLAS

AGB: Associação dos Geógrafos Brasileiros ART: Anotação de Responsabilidade Técnica

CAERN: Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte CBTU: Companhia Brasileira de Trens Urbanos

CCHLA: Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes CNG: Conselho Nacional de Geografia

CONFEA: Conselho Federal de Engenharia e Agronomia CONSEPE: Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão CREA: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia DF: Distrito Federal

DGE: Departamento de Geografia EIA: Estudos de Impacto Ambiental

EMATER: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural FUNASA: Fundação Nacional de Saúde

IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente IEL: Instituto Euvaldo Lodi

INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INE: Instituto Nacional de Estatística

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LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC: Ministério da Educação e Cultura

PET: Programa de Educação Tutorial

PPGE: Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia PPP: Projeto Político Pedagógico

PROPESQ: Pró-Reitoria de Pesquisa RIMA: Relatório de Impacto Ambiental

SEARA: Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária

SEMPLA: Secretaria Municipal de Planejamento

SEMURB: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo SEMUT: Secretaria Municipal de Tributação

SIG: Sistema de Informação Geográfica SMS: Secretaria Municipal de Saúde UDF: Universidade do Distrito Federal

UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte USP: Universidade de São Paulo

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Áreas de atuação do Bacharel em Geografia ... 29 Quadro2. Estrutura Curricular proposta para o curso de Geografia bacharelado... 45 Quadro 3. Estrutura Curricular do curso de Geografia bacharelado 2014.1 ... 46

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Motivo da não realização do estágio ... 50

Gráfico 2. Nome da empresa que o aluno estagiou ... 52

Gráfico 3. Componentes curriculares ... 53

Gráfico 4. Período do curso que o aluno estagiou ... 54

Gráfico 5. Porcentagem dos alunos que foram contratados após o término do estágio ... 55

Gráfico 6. Atividades que o curso não oferece de forma satisfatória ... 56

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

2. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO ... 15

2.1 A Geografia escolar ... 18

2.2 A Geografia como saber universitário ... 20

3. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL ... 22

3.1 AGB – associação dos geógrafos brasileiros ... 26

3.2 A LEI Nº 6.664/79: DISCIPLINA A PROFISSÃO DE GEÓGRAFO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS... 27

3.3 CREA – órgão fiscalizador da profissão de geógrafo ... 28

4. O PERFIL DO GEÓGRAFO E O TRABALHO ... 31

4.1 A formação do geógrafo e as exigências do mercado de trabalho ... 34

5. O CONCEITO DE ESTÁGIO ... 37

5.1 Aspectos legais do estágio ... 39

6. O CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA BACHARELADO DA UFRN, CAMPUS NATAL ... 41

6.1 Caracterização da área da pesquisa ... 41

6.2 A formação do bacharel em Geografia de acordo com o projeto político pedagógico do curso ... 42

7. REFLEXÕES E PERSPECTIVAS ACERCA DO ESTÁGIO NÃO OBRIGATÓRIO: O OLHAR DO DISCENTE ... 48

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 60

REFERÊNCIAS ... 62

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1. INTRODUÇÃO

Traçando um panorama das constantes transformações e mudanças sociais e econômicas que podem ser observadas através da globalização e das inovações tecnológicas que se processam diariamente, nota-se que no espaço laboral, essas inovações têm acarretado mudanças de comportamento dos trabalhadores e das empresas. Isto ocorre porque tanto profissionais quanto empresas se reestruturam para se manterem no mercado, que por sua vez é mais competitivo, o que exige de todos os segmentos a melhoria na qualificação e nos processos que regem o mundo do trabalho.

Tal situação, contudo, não fica restrita ao trabalho e a empresa, mas se irradia também para os processos formativos, de maneira que na universidade os cursos de graduação se materializam em campos abertos às reformas curriculares que visam, em parte, adequar-se as exigências que decorrem das mudanças.

Nesse contexto, o curso de Geografia está também associado a essa necessidade de reformulações na medida em que forma bacharéis para atuar no mundo do trabalho, devendo dominar competências teóricas e habilidades técnicas oriundas de uma ciência cuja finalidade e contribuição está em desvelar aspectos do espaço produzido pelo homem em sua constante laboração com a natureza. De tal modo, a formação do bacharel em Geografia é bastante abrangente e vem, a cada momento, acompanhada das inovações tecnológicas no que concerne a metodologias e tecnologias de representação do espaço, das quais podemos destacar: técnicas de geoprocessamento, sistemas de informação geográfica, cartografia automatizada e sensoriamento remoto.

Esses dispositivos que se associam à Geografia e se tornam forças motrizes na formação do bacharel impulsionam a necessidade de aproximação da universidade com a realidade do mercado de trabalho, articulando deste modo teoria e prática para a condução de estratégias que levem o estudante a realizar estágios, sejam estes obrigatórios ou não. Logo, o mundo do trabalho do geógrafo se apresenta como um campo situado nos avanços tecnológicos

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apreendidos no campo teórico-prático de interpretação e intervenção no espaço.

Diante desse contexto, perguntamos: em que medida o estágio não obrigatório influencia na formação profissional dos estudantes de Geografia na modalidade Bacharelado da UFRN - Campus Natal? Como se apresenta a discussão sobre a formação profissional e o estágio não obrigatório? Em Natal, qual o perfil das empresas que oferecem estágio para estudantes de Geografia e quais as interfaces com o bacharelado em Geografia? Quais as percepções dos estudantes de Geografia sobre o papel do estágio não obrigatório para a formação profissional?

Dentro deste espectro de questões a serem respondidas, a fim de orientar esta pesquisa definiu-se como objetivo geral traçar uma análise da influência do estágio não obrigatório na formação profissional dos estudantes de graduação em Geografia Bacharelado da UFRN, Campus Natal; e como objetivos específicos, discutir a respeito do processo de formação do Bacharel em Geografia, considerando a literatura vigente e o projeto pedagógico do curso; identificar o perfil dos estágios não obrigatórios na área de Geografia na cidade de Natal – RN e a repercussão no curso de Geografia; analisar a percepção dos estudantes quanto à importância do estágio para a construção e/ou desenvolvimento de habilidades e competências profissionais relevantes ao curso de Geografia.

A justificativa dessa pesquisa partiu da premissa de que o papel das universidades é preparar o discente para sua inserção profissional de forma adequada às exigências do mercado de trabalho, provendo desta forma condições para integrá-lo sem maiores dificuldades no mundo laboral. Nesse contexto, para que o aluno entre em sintonia com as exigências do mercado de trabalho, o estágio não obrigatório pode ser um importante aliado para a complementação a vida profissional dos estudantes. A vivência da pesquisadora com o tema em questão foi outro fator motivador, pelo fato de que a mesma exerceu durante três anos estágios (não obrigatórios, a salientar) em instituições públicas, observando que a prática profissional é de grande importância para experiências futuras. Outro motivo para esta pesquisa foi o

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fato da autora ter tido acesso às indagações dos alunos quanto à importância do estágio profissional para a complementação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula, além de ser um tema novo para discussão no curso de Bacharelado em Geografia.

Para o desenvolvimento deste trabalho, fez-se um levantamento teórico sobre o assunto – através de pesquisa bibliográfica para discussão e sustentação da temática – no tocante ao processo de formação do bacharel em Geografia e sobre o conceito de estágio, a partir de livros, artigos, monografias, dissertações, documentos e sites de internet. No que concerne aos procedimentos metodológicos da investigação empírica, buscou-se a compreensão do problema através de um levantamento de campo, no qual o instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário.

Por fim, o trabalho de conclusão de curso estruturou-se em sete capítulos, são estes: no primeiro, tratou-se sobre a institucionalização da ciência geográfica – da Geografia escolar e a Geografia como saber universitário. No segundo, abordou-se sobre a institucionalização da Geografia brasileira – da associação dos geógrafos brasileiros, a lei nº 6.664/79 e o CREA. No terceiro, adentrou-se sobre o perfil do geógrafo e o trabalho, sua formação e as exigências do mercado de trabalho. No quarto, explanou-se sobre o conceito de estágio e seus aspectos legais. No quinto, foram tratados o curso de Bacharelado em Geografia da UFRN, a caracterização da área da pesquisa e sobre a formação do bacharel segundo o PPP do curso. No sexto, as reflexões e perspectivas acerca do estágio não obrigatório: o olhar do discente. No sétimo, por fim, apresentaram-se as considerações finais.

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2. A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO

A produção do conhecimento geográfico passou por um longo processo de sistematização, obedecendo a diferentes fases do desenvolvimento da ciência como um todo. A sua trajetória está atrelada, em grande parte, aos itinerários que foram sendo percorridos para a organização desse conhecimento, de maneira que somente na metade do século XIX, Geografia começa, na Alemanha, a alçar voos de independência, com arranjos que lhe propiciam certa identidade no âmbito científico.

Remontando aspectos desses itinerários, Moraes (2005), resgata que o termo Geografia foi etimologicamente definido, no âmbito da cultura grega, como a escrita da Terra. Naquela sociedade, o seu conteúdo apresentava-se muito variado, recebendo contribuições de diferentes pensadores, dentre eles, filósofos e matemáticos que produziam as primeiras sistematizações sobre a decifração da terra para a cultura ocidental, estando vinculados a conhecimentos de Cartografia e Astronomia.

Nesse contexto, para Moraes (2005), a sistematização da Geografia estava baseada em observações e descrições de fenômenos naturais, relatos de viagens, narrativas míticas, dentre outros. Embora houvesse unidade epistemológica, ali se revelavam os primeiros indícios do que seria, mais tarde, evidenciado como os primeiros pressupostos desse conhecimento.

Na Antiguidade o saber geográfico foi sendo sistematizado a partir de importantes contribuições oriundas de alguns pensadores como Heródoto, Estrabão e Ptolomeu, que desenvolveram técnicas cartográficas e ideias como a do heliocentrismo, além de compilar uma ampla narrativa sobre as regiões conhecidas por meio de relatos de Viagem. Com essas colaborações, começara a surgir reflexão sobre a heterogeneidade nas feições apresentadas nos cenários conhecidos, sendo estes de caráter físico e humano, fazendo emergir os primeiros rascunhos de uma provável Geografia regional e contraposição a uma Geografia geral.

Na Idade Média, a Geografia se retrai em seu processo de sistematização e circulação das ideias, em virtude das condições espaciais estarem atreladas ao desenvolvimento de uma cultura voltada para o

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imobilismo populacional e a escassez das viagens marítimas, o que resultou em uma baixa troca de experiência entre povos, territórios e nações. O modelo feudal que caracterizou esse período apresentou como consequência uma imobilidade do conhecimento, nas mais distintas esferas, inclusive o geográfico. Se este conhecimento, na antiguidade, se valia do deslocamento dos viajantes que descreviam as novas terras e os seus habitantes, durante o período feudal estes deslocamentos tornaram-se escassos. Outro aspecto a ser considerado foi que a Igreja deteve a centralidade da produção explicativa do mundo e a própria bíblia passou a ser uma fonte de conhecimentos geográficos. Como um contraponto a esse contexto, se sobressai a expansão árabe, que desenvolveu a Geografia atrelada a cartografia, sendo este um instrumento bastante profícuo para o avanço deste povo sobre outros territórios.

Com o declínio da cultura feudal, há uma retomada das ideias filosóficas gestadas na Antiguidade bem como a curiosidade e as estratégias de conhecimentos e dominação dos povos europeus sobre outras culturas. Dessa forma, no final do século XIV e início do século XV iniciou-se o período das Grandes Navegações que se caracterizou pela busca dos europeus das novas terras, ou o “descobrimento” do Novo Mundo. Essas viagens resultaram em grandes narrativas sobre os povos que iam sendo conhecidos, seu modo de vida particular, sobre as novas paisagens, sobre uma nova Geografia. Retornam, então, dois grandes campos geográficos que já existiam na Antiguidade: uma Geografia de vertente mais matemática, ligada a cartografia e a astronomia; e uma Geografia mais descritiva, vinculada a encontro com outros e novos lugares e modos de vida. Com esse retorno, voltam à tona a reflexão sobre a Geografia Geral, que se voltava às características físicas da Terra e uma Geografia Regional, voltada para a descrição dos lugares específicos. Com o declínio do mundo feudal as ciências voltaram a florescer na Europa e a Geografia seguiu nessa trajetória de ascensão.

Segundo Andrade (2006), o desenvolvimento da ciência geográfica ocorrerá de modo mais sistemático a partir dos séculos XVIII e XIX, resultando em novas concepções e compreensões do espaço geográfico. Ora, em tese, a

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sistematização da ciência geográfica no século XIX ganha importantes contribuições de Alexander Von Humboldt e Carl Ritter, o primeiro elaborou desenhos sistemáticos em suas inúmeras viagens no qual alavancaram os estudos no ramo da Botânica e da Ecologia, o segundo deu importantes contribuições nos estudos da paisagem, valorizando a relação "homem-natureza", por exemplo. É pertinente enfatizar que a obras destes autores vai compor a base da Geografia Tradicional, diante disso, é importante ressaltar que, conforme coloca Moraes (2005, p. 17):

Todos os trabalhos posteriores vão se remeter às formulações de Humboldt e Ritter, seja para aceitá-las, ou refutá-las. Apesar das diferenças entre estas – a Geografia de Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o Globo sem privilegiar o homem – os pontos coincidentes vão aparecer, para os geógrafos posteriores, como fundamentos inquestionáveis de uma Geografia unitária.

Conforme citado acima, a ciência geográfica ganha um aparato científico muito importante para institucionalização da mesma como ciência, estes autores vão contribuir para a sistematização da Geografia como disciplina, oferecendo arcabouços científicos e influências diretas para as escolas que surgem posteriormente.

Fica evidente, diante desse quadro, que a constituição da ciência geográfica foi moldada desde a antiguidade e ao longo do tempo, foi ganhando avanços, recebendo contribuições de diferentes autores. É importante destacar que os conhecimentos da Geografia se ampliaram muito durante a expansão colonialista, o que proporcionou as bases para a construção da Geografia enquanto ciência. Os conhecimentos adquiridos sobre as descrições dos fenômenos naturais serviram para dar embasamento e sistematizar os conhecimentos, para assim fomentar suas técnicas, seus campos de atuação e formular as metodologias necessárias a instituição da Geografia como ciência.

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2.1 A Geografia escolar

Foi ao longo do século XIX que a Geografia se institucionalizou como uma ciência, daí surgiu a Geografia escolar. A Geografia escolar tinha uma estreita relação com os interesses expansionistas e colonialistas da época, o Estado teve importante contribuição para o processo de institucionalização da Geografia escolar. Essa relação propiciou a delimitação e o desenvolvimento de teorias e metodologias da Geografia.

Segundo Matias (2008), a Geografia foi introduzida nas escolas com o objetivo de construção de uma identidade de pertencimento territorial, estas difusões de ideias corroboraram para o nacionalismo patriótico, portanto, a Geografia estava ligada aos interesses políticos e econômicos do Estado-Nação. Na escola eram ensinadas matérias sobre os fatos, acontecimentos e fenômenos dos aspectos físicos a fim de fornecer dados sobre a descrição dos lugares. Estes fatos são a base do desenvolvimento e sistematização das principais escolas do pensamento Geográfico que se iniciou na Alemanha.

Do ponto de vista de Melo, Vlach e Sampaio (2012), a Geografia escolar foi institucionalizada afim de propósitos expansionistas do Estado Alemão. O autor destaca que nessa conjuntura a Prússia desejava fundar um Estado-Nação, dessa forma o governo instituiu a formação básica para todos, a fim de difundir a cultura e o nacionalismo que levou a Alemanha a conquistar a vitória na guerra franco-prussiana, está vitória se deu pelo fato de que os soldados tiveram conhecimentos sobre o território que levara a conquista do mesmo.

Conforme citado acima, foi através do sentimento de patriotismo instituído nas escolas que a Prússia ganhou a guerra. A difusão dos conhecimentos sobre o território a ser conquistado, levou a Alemanha a fundar seu Estado-Nação. A divulgação de conhecimentos do espaço geográfico para os soldados teve fundamental importância para a vitória dos alemães. Lacoste (1993, p. 53) ressalta que:

Durante séculos, até o fim do XIX, antes de aparecer o discurso geográfico universitário, a Geografia era unanimemente percebida como um saber explicitamente político, um conjunto de conhecimentos variados indispensável aos dirigentes do aparelho de

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Estado, não somente para decidir sobre a organização espacial deste, mas também para preparar e conduzir as operações militares e coloniais, conduzir a diplomacia e justificar suas ambições territoriais

Na citação acima fica evidente o discurso político e expansionista no qual a Geografia estava inserida. Nesse contexto, o principal intelectual que influência o discurso expansionista alemão é Friedrich Ratzel, em sua obra denominada: Antropogeografia1 – fundamentos da aplicação da Geografia à História, esta obra funda a Geografia humana, além de ter em seu conteúdo a definição do“[...] objeto da Geografia como o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade” (MORAES, 2005, p. 19).

Em outras palavras, Moraes enfatiza que essas colocações de Ratzel definiram o que seria a escola determinista de Geografia “[...] as condições naturais determinam a História, ou “o homem é um produto do meio[...]” (MORAES, 2005, p. 20). As formuçaões ratzelianas constituiram a geopolítica, além do estudo do território afirmando a ação do Estado sobre o mesmo. Ainda de acordo com Moraes, o território para Ratzel era visto como essencial, sua perda implicaria em decadência para a sociedade, dessa forma, para o progresso humano era necessário aumentar o território, justicifando assim a expansão alemã através da conquista de novas áreas. Este racicínio ficou conhecido como conceito de “espaço vital2”.

Neste contexto a Geografia teve importância para a constituição do patriotismo e incentivos expansionistas do Estado-Nação alemão. O sucesso militar da Alemanha logo influencia a França que mais tarde institucionaliza a Geografia nas universidades. Vidal de La Blache funda a escola francesa de Geografia. Este autor irá se opor a algumas ideias difundidas por Ratzel. La Blache, definiu o objeto da Geografia como a influência das ações do homem sob o meio, nesta concepção segundo Moraes (2005, p. 24), “[...] a natureza passou a ser vista como possibilidades para a ação humana; daí o nome de

1 “A análise das relações entre o Estado e o espaço foi um dos pontos privilegiados da

Antropogeografia” (MORAES, 2005, p. 19).

2 “[...] este representaria uma proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada

sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais (MORAES, 2005, p. 19).

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Possibilismo [...]”. Neste sentido, o homem é o principal agente transformador da natureza, dela pode-se obter varias possibilidades. La Blache definiu o conceito de “gênero de vida3” que permitiram as bases das metodologias

importantes para a institucionalização da Geografia como ciência.

Por fim, cabe ressaltar que a Geografia escolar primeiramente serviu aos interesses do Estado para fins militares. Sua função era ensinar aos soldados os conhecimentos referentes ao território a ser conquistado. Desta visão expansionista e patriótica é que são criadas as primeiras bases das teorias e metodologias da Geografia que mais tarde irá torna-la uma ciência, sendo institucionalizada nas universidades.

2.2 A Geografia como saber universitário

Segundo Capel (2008), a Geografia como saber universitário é primeiramente iniciada na Alemanha por volta de 1960 e depois se institucionaliza na França. Ora, em tese, a Geografia universitária na Alemanha demandava a formação de professores para o ensino primário e secundário. Esta demanda provocou o surgimento de cátedras universitárias gerando oportunidades profissionais para os jovens, além da liberdade de pensamento aos teóricos universitários. Daí surgiu as sociedades geográficas, em que viabilizou o conhecimento do espaço e do território dos diversos estados nacionais.

Quanto a institucionalização da Geografia universitária na França, é importante compreender que, após a derrota desta na guerra para a Alemanha é que há um incentivo da expansão do ensino de Geografia nas escolas. Enfatizando este pensamento Capel (2008, p. 85):

A demanda de professores de Geografia para a escola primária e secundária será sentida muito lentamente, apesar da expansão das cifras de escolarização. Foi o impacto produzido pela derrota de 1870

3 “[...] o conceito de gênero de vida criado por La Blache opôs-se ao conceito de espaço vital

por estabelecer que é a cultura quem determina o uso do espaço e sua adaptação ao homem. Para La Blache, o território é repleto de possibilidades e as técnicas podem auxiliar a superar as barreiras naturais, tornando-as favoráveis à sociedade (SPOSITO & SOBREIRA, 2013, p. 35).

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frente à Alemanha que constituiu o impulso decisivo para a reforma do ensino, dando maior presença à Geografia no nível primário e secundário e ampliando, por sua vez, o ensino desta matéria na universidade.

Como se pode verificar nessa citação, a derrota da França para a Alemanha constituiu em incentivo ao ensino de Geografia nas escolas. É a partir deste contexto que se dá importância desta matéria nas universidades.

Com o advento da institucionalização da Geografia nas universidades, surgem as correntes que caracterizaram a Geografia no período mencionado. Nesse sentido, surge a Geografia Tradicional distinguida pelos conceitos de “[...] paisagem, região natural e região-paisagem, assim como os de paisagem cultural, gênero de vida e diferenciação de áreas” (CASTRO, GOMES e CORRÊA, 2000, p. 17).

As principais escolas deste período são as alemã e francesa. Os principais autores da escola alemã (como vimos no capítulo anterior) são: Alexander Von Humboldt, Carl Ritter e Friederic Ratzel e da escola francesa Elisée Reclus4 e Vidal de La Blache. “De maneira muito geral, reputa-se à

escola alemã o que se chama determinismo geográfico e Geografia geral e a escola francesa é citada como possibilista e com a abordagem da Geografia regional”. (SPOSITO e SOBREIRA, 2011, p. 26).

Logo, é importante compreender que o que foi exposto aqui reflete de maneira geral a evolução do pensamento geográfico. Nesse sentido, a institucionalização da ciência geográfica ao longo do tempo foi ganhando contribuições de diferentes autores, que irão corroborar com a sistematização de conceitos e métodos pertinentes ao estudo da Geografia.

4 O projeto de sociedade proposto na obra de Reclus assenta-se na formação de um sujeito

histórico e geográfico, consciente das contradições que envolvem o mundo em que vive e capaz de assumir sua responsabilidade no processo de transformação social. A luta social cotidiana, marcada pela soberania individual e pelo apoio mútuo, aparece em sua obra como um dos caminhos para a transformação social, uma vez que podem permitir a distribuição mais igualitária dos meios de produção. Porém, não há possibilidade de uma mudança social radical sem a formação de uma consciência autônoma, capaz de por em xeque os fundamentos de uma sociedade calcada no poder e na desigualdade produzida também através dele (GIROTTO e RECH, 2016, p. 4).

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3 A institucionalização da Geografia no Brasil

Ora, em tese, a educação no Brasil recebeu importantes contribuições dos jesuítas, estes chegaram em terras brasileiras por volta do ano de 1549 (Brasil colônia) com o propósito de ensinar índios e colonos, é importante considerar que ambos tiveram uma educação diferenciada. Segundo Melo, Vlach e Sampaio (2012), o ensino religioso tinha o propósito de catequizar os índios e uma educação humanística para os colonos, através da literatura e poesia referente a paisagem. É importante ressaltar que nesse período os jesuítas possuíam um documento sobre as regras e gestão da prática educacional dos colégios – o Ratio Studirum, este documento só fora modificado depois de muito tempo através das Reformas Pombalinas em 1759. Não menos importante que essa consideração, entretanto, é que a abordagem geográfica nesse período perpassava pela descrição e relatos de viagens realizadas por cronistas e cientistas em suas diversas viagens pelo território colonial.

No tocante as Reformas Pombalinas, segundo Menardi e Amaral (2006), a origem desse quadro é facilmente percebida devido a um contexto histórico em que o reino de Portugal se encontrava. As transformações da sociedade portuguesa no século XVIII levaram a modificações nas esferas, econômica, administrativa e educacional em Portugal e na colônia. As Reformas Pombalinas visavam transformar Portugal em uma metrópole capitalista, esta transformação se deve ao fato de uma emergência de transição do modelo mercantil para o capitalista, para que isso ocorresse, era necessário o acumulo de capital para modernização industrial, vale destacar que nesse período a Inglaterra era considerada potência capitalista e industrial e se beneficiava dos lucros obtidos nas colonias portuguesas.

Cabe apontar que, tais reformas visavam inserir Portugal com condições economicas capazes de competir com as nações estrangeiras, a exemplo da Inglaterra. Quanto as reformas educacionais deste período, na colônia, Pombal resolve expulsar os jesuítas, tornando os índios libertos da tutela religiosa. Não menos importante que essa observação, entretanto, Pombal é fortemente influenciado pelas ideias iluministas que confrontava diretamente com a

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educação de base religiosa ensinada pelos jesuítas. Diante disso, vale considerar que foi através do Alvará Régio de 28 de junho de 1759 que Pombal suprimiu todas as escolas jesuítas, criando aulas régias ou avulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retórica. Por final, a expulsão dos jesuítas da colônia deixou uma verdadeira lacuna na educação, as reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal não foram suficientes para dar continuidade a expansão das escolas.

Como bem nos assegura Godoy (2010), as reformas Pombalinas prevaleceram até 1808. Pode-se dizer que, mesmo através de grandes mudanças na estrutura educacional, o ensino de Geografia nas escolas se configurava como mínimo, se restringindo apenas a imagens vagas do território brasileiro e permanecia atrelado a instituições públicas e a exploradores. Contudo, essa realidade passa a ser modificada no momento em que o Brasil recebe importantes contribuições através da chegada de cientistas europeus, mesmo que tais conhecimentos estivessem diretamente ligados aos interesses do Estado. Mesmo durante o império do Brasil (1822), há poucas referências sobre a ciência geográfica, se limitando ainda a relatos e descrição de lugares por viajantes estrangeiros. Após todo esse processo, finalmente a Geografia passa a constituir um currículo na educação brasileira em 1832.

Conforme verificado por Melo, Vlach e Sampaio (2012), a institucionalização da Geografia no currículo escolar brasileiro irá ocorrer apenas no ano de 1837, com a criação do Imperial Colégio de Pedro II. Nesse sentido, o Colégio tinha por finalidade dotar a corte no Rio de Janeiro, de um sistema de Ensino Médio, que seria mais organizado. Nesse contexto, a Geografia passa a ser disciplina obrigatória, o Pedro II tornou-se modelo para outros colégios, pois era referência oficial de educação secundária no Brasil. Para os autores citados, a obrigatoriedade da disciplina de Geografia no Colégio Pedro II foi impulsionador da fixação dessa disciplina no currículo permanecendo como obrigatória, até recentemente no país. Sobre o contexto histórico do pensamento geográfico nesse período, Godoy (2010, p. 79) evidencia que:

[...] nesse mesmo início do século, na Alemanha, a Geografia começou a ser organizada cientificamente, em especial por Humboldt

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e Ritter, que definiram princípios de pesquisa e análise baseados no positivismo das ciências naturais, estabelecendo o primeiro grande paradigma da ciência geográfica.

Na citação acima, verifica-se o estabelecimento da ciência geográfica no século XIX, dessa forma, o ensino de Geografia nas escolas brasileiras recebe influências desses autores da chamada “Geografia Tradicional”. O modelo de ensino era baseado na descrição, memorização de muitas informações – Geografia clássica/mnemônico, tal modelo levava o aluno ao distanciamento da realidade. De acordo com Melo, Vlach e Sampaio (2012), no ano de 1817 fora lançado o primeiro livro de Geografia do Brasil, chamado de "Corografia Brasílica" do padre Manoel Aires de Casal, entretanto, este livro possuía inúmeros problemas epistemológicos e metodológicos, seu conteúdo apresentava uma Geografia de nomenclaturas e descrições improdutivas. Pode-se inferir que, antes da institucionalização da Geografia nas universidades brasileiras, o saber geográfico era discutido pelos professores do ensino secundário. O modelo de ensino mnemônico foi amplamente discutido nas escolas brasileiras. Não menos importante que essa consideração, entretanto, é que logo em seguida nasce o método de ensino intuitivo. Esse método, segundo Godoy (2010, p.80) "[...] baseia-se no oferecimento de experiências para os alunos para que, orientados pelo professor, possam ser intuídos sobre a origem e funcionamento das coisas.” Diante disso, vale considerar que estes métodos de ensino permaneceram quase que inalterados até a década de 1930, quando surgem os cursos universitários.

Neste contexto, nasciam no país a organização de cursos universitários pelas principais cidades do país, as chamadas faculdades de História e Geografia. Vale ressaltar que, o primeiro curso superior de Geografia nascia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 1934. De acordo com Godoy (2010), para tal façanha foi necessário a vinda de professores estrangeiros, especificamente Franceses, são eles, Deffontaines e Pierre Monbeig, estes professores eram fortemente influenciados pela escola Francesa, baseada em Vidal de La Blache. Para o autor, esta colaboração foi muito importante para a Geografia escolar, contudo, foi nessa perspectiva que se deu início à profissionalização da docência, desencadeando a formação

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qualificada para o exercício do magistério. Nesse sentido, o autor destaca que antes disso, os professores de Geografia eram graduados em diversas áreas “[...] como direito, engenharia, entre outras, e os cursos eram compostos, por vezes, por professores leigos (GODOY, 2010, p. 84).

Vê-se, pois, que a institucionalização da Geografia brasileira perpassa pelas escolas de ensino básico, até surgirem as faculdades de Geografia. É preciso ressaltar que além desses marcos da institucionalização da Geografia, surgem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros) e o CNG (Conselho Nacional de Geografia).

No tocante a criação do IBGE, este órgão nasceu em 1938 (correspondente ao governo de Getúlio Vargas) com o intuito de construir saberes técnicos e científicos, para fornecer suporte as ações governamentais. Este órgão nasceu com o objetivo de dar suporte as políticas referentes à gestão territorial do país. Segundo Aranha (2014, p. 2) o IBGE foi criado através do “[...] Decreto-Lei n° 218. Sua estrutura, no entanto, consistiu na união de dois órgãos que já existiam formalmente, o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Conselho Nacional de Geografia (CNG) ao Serviço Nacional de Recenseamento”.

É interessante, aliás, destacar que o IBGE surgiu devido as exigências da união geográfica internacional para que houvesse uma instituição governamental que empregasse geógrafos, este fato veio a incidir no início da formação do técnico em Geografia, de certo modo, o bacharel.

Nesse contexto, portanto, a criação desses órgãos fora de fundamental importância para consolidação da Geografia no currículo escolar – além da formação universitária para professores.

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3.1 AGB – associação dos geógrafos brasileiros

A AGB é uma entidade civil, sem fins lucrativos. Nela se reúnem geógrafos, professores e estudantes de Geografia. Nesse sentido, as reuniões objetivam o debate do conhecimento científico, político, filosófico e técnico da ciência geográfica. As discussões têm o propósito de fornecer a crítica da sociedade numa abordagem geográfica, além do intuito de aprimorar o debate científico da Geografia, para assim, proporcionar alternativas e iniciativas a promoção do bem-estar social.

É interessante mencionar que a AGB (1934), nasce, sobretudo, no período da chamada institucionalização da ciência geográfica brasileira. Este fato sobrepõe ao surgimento dos primeiros cursos de graduação em Geografia do país. A AGB foi fundada por grupos de pesquisadores liderados pelo geógrafo francês Pierre Deffontaines. Segundo Aranha (2014), Deffontaines foi o primeiro representante universitário no Brasil pela chamada Escola Geográfica Francesa. Este representante fora contratado pela USP em 1934, e logo em seguida pela UDF entre 1936 e 1938.

Neste sentido, as contribuições de Deffontaines não foram somente no âmbito da formação universitária dos estudantes, mas sobretudo, no empenho a criação de institutos e associações que ofereceram base a divulgação da pesquisa científica. Nesse contexto, Antunes (2010, p. 2) destaca que

A AGB surge num contexto da Geografia brasileira chamado por muitos de período de institucionalização da ciência geográfica, ao lado de um conjunto de outras instituições já existentes ou ainda que surgiram logo após sua criação, vai conformar não só esse período, mas a possibilidade de produzir e pensar a Geografia no Brasil na perspectiva de uma dada modernidade científica.

Vê-se, pois, que num primeiro momento fazia parte dessa entidade intelectuais que interessavam-se pela Geografia do Brasil, e em seguida deu espaço para sócios, estudantes e profissionais que deram colaborações nas primeiras seções regionais. De acordo com Sposito e Sobreira (2011), em 1972 aconteceu uma modificação interna na associação, isto proporcionou a abertura para que todos os profissionais e estudantes de Geografia pudessem votar e serem votados nos cargos de direção da associação. Nesse contexto, a

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AGB possuia direções tanto em nível nacional como regional. Dessa conjuntura, é importante destacar a ocorrência do I Encontro nacional dos Geógrafos em Presidente Prudente, no qual participaram 600 pessoas. Deste acontecimento a partir de então, se iniciaram os vários encontros posteriores, que reuniram geógrafos brasileiros e do exterior, com o qual levava a presençade muitos estudantes. Esses encontros tinham como objetivo a divulgação do pensamento geográfico de várias partes do mundo e acontecem até os dias de hoje.

Desde o início de sua criação a AGB tem objetivado a contribuição do pensamento geográfico brasileiro, dando suporte metodológico e teóricos do saber científico desta disciplina. As contribuições dos profissionais e estudantes nos encontros realizados pela associação alavancaram debates importantíssimos, além das contribuições no campo político e democrático da sociedade. Por final, grande parte da produção científica da Geografia brasileira encontra-se publicada em anais de seus congressos e encontros.

3.2 A Lei nº 6.664/79: disciplina a profissão de geógrafo e dá outras providências

A lei que regulamenta a profissão dos geógrafos foi decretada no ano de 1979 através da Lei 6.664. Esta Lei foi sancionada pelo então Presidente João Baptista Figueiredo. O decreto tem como objetivo apresentar o exercício e atribuições inerentes aos profissionais geógrafos, àqueles que estão devidamente habilitados para a execução das atividades dando o amparo legal a esses profissionais. Este decreto disciplina a profissão de Geógrafo e prescreve a quem é permitido exercer a profissão. De acordo com a Lei 6.664:

Art. 1º Geógrafo é a designação profissional privativa dos habilitados conforme os dispositivos da presente Lei.

Art. 2º O exercício da profissão de Geógrafo somente será permitido: I - aos Geógrafos e aos bacharéis em Geografia e em Geografia e História, formados pelas faculdades de Filosofia; Filosofia, Ciências e Letras e pelos Institutos de Geociências das Universidades oficiais ou oficialmente reconhecidas;

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III - aos portadores de diploma de Geógrafo, expedido por estabelecimentos

estrangeiros similares de ensino superior, após revalidação no Brasil. IV - aos licenciados em Geografia e em Geografia e História, diplomados em estabelecimento de ensino superior oficial ou reconhecido que, na data da publicação desta Lei, estejam:

a) com contrato de trabalho como Geógrafo em órgão da administração direta ou indireta ou em entidade privada;

b) exercendo a docência universitária; (Inciso acrescido pela Lei nº 7.399, de 4/11/1985)

V - aos portadores de títulos de Mestre e Doutor em Geografia, expedidos por Universidades oficiais ou reconhecidas; (Inciso acrescido pela Lei nº 7.399, de 4/11/1985)

VI - a todos aqueles que, na data da publicação desta Lei, estejam comprovadamente exercendo, há cinco anos ou mais, atividades profissionais de Geógrafo. (Inciso acrescido pela Lei nº 7.399, de 4/11/1985)5

Esta Lei define, portanto, a quem é reconhecido o exercício da profissão. É importante destacar que o Art. 2° da referida lei foi alterado pela Lei n° 7.399 de 04 de novembro de 1985 com a inclusão de pós-graduados em Geografia com qualquer curso de graduação.

Portanto, é importante compreender que as leis de regulamentação da profissão também são um marco da institucionalização da Geografia como ciência e do fazer profissional.

3.3 CREA – órgão fiscalizador da profissão de geógrafo

O órgão que fiscaliza a profissão de geógrafo é exercido pelo CREA. Os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia são dotados de personalidade jurídica de direito público, desse modo, constituindo-se em serviço público federal com jurisdição nos limites de cada estado brasileiro. Os conselhos estão vinculados ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) - este órgão está sediado em Brasília (DF), apresentando-se como instância superior e normativa.

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O sistema CONFEA/CREA`s tem o dever de fiscalizar o exercício das profissões de acordo com lei especifica dos seguintes profissionais: Engenheiros/Engenheiros Agrônomos, Geólogos, Geógrafos, Meteorologistas e Técnicos e Tecnólogos. Os CREA`s atuam no registro prévio dos profissionais, empresas e nas anotações de responsabilidade técnica (ART), além de fiscalizar empreendimentos através da visita de campo pelos agentes ou por outros meios (jornais, diários oficiais).

Em se tratando do geógrafo dentro dos CREA`s, este, está inserido dentro do campo de atuação profissional na modalidade Agrimensura e Geografia, vê-se através da resolução n°1.010 de 22 de agosto de 2005, a qual dispõe sobre a regulamentação da atribuição de títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito de atuação dos profissionais inseridos no Sistema CONFEA/CREA, para efeito de fiscalização do exercício profissional, isto considerando a Lei nº 6.664, de 26 de junho de 1979, que disciplina a profissão de geógrafo. Nesse sentido, de acordo com o CREA, as áreas no qual o geógrafo pode atuar encontra-se no Quadro 1 a seguir:

Quadro 01. Áreas de atuação do Bacharel em Geografia

ÁREA ATUAÇÃO

Ambiental

• Elaboração de Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIAs e RIMAs); • Avaliações, pareceres, laudos técnicos, perícias e gerenciamento de recursos naturais;

• Plano e Relatório de Controle Ambiental (PCA e RCA);

• Monitoramento Ambiental

Planejamento

• Planos diretores urbanos, rurais e regionais; • Ordenamento territorial;

• Elaboração e gerenciamento de Cadastros Rurais e Urbanos;

• Implantação e gerenciamento de Sistemas de Informações Geográficas (SIG);

• Estruturação e reestruturação dos sistemas de circulação de pessoas, bens e serviços; • Pesquisa de mercado e intercâmbio regional e inter-regional;

• Delimitação e caracterização de regiões para planejamento;

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Cartografia

• Mapeamento Básico; • Mapeamento Temático; • Cartografia Urbana;

• Delimitação do espaço territorial municipal, distrital, regional;

• Cartas de declividade e perfil de relevo; • Cálculo de áreas;

• Transformação e cálculo de escalas; • Locação de pontos ou áreas por coordenadas geográficas;

• Interpretação de fotografias aéreas e imagens de satélite;

• Geoprocessamento e cartografia digital.

Hidrografia

• Delimitação e Plano de Manejo de Bacias Hidrográficas;

• Avaliação e estudo do potencial de recursos hídricos;

• Controle de escoamento, erosão e assoreamento dos cursos d’água.

Meio Físico

• Caracterização do Meio Físico; • Planos de recuperação de áreas degradadas;

• Estudos e pesquisas geomorfológicas; • Climatologia;

• Cálculo de energia do relevo.

Turismo

• Levantamento do potencial turístico;

• Projetos e serviços de turismo ecológico (identificação de trilhas);

• Gerenciamento de pólos turísticos. Fonte: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

A resolução nº 1.010/2005 é um avanço, pois permitiu melhorar a qualificação e credibilidade de todas profissões na área tecnológica. Isto quer dizer que, permitiu atribuições profissionais em função do conhecimento adquirido ao longo da formação acadêmica. E ao profissional já diplomado e registrado, será permitida a extensão de suas atribuições conforme a resolução, no qual o credenciado pode adquirir conhecimentos através dos cursos de pós-graduação, ou seja, especialização, mestrado ou doutorado. A extensão de atribuições de profissionais já credenciados permite maior flexibilidade, agregando conhecimentos continuamente a sua formação. Por fim, os cursos devem estar cadastrados no sistema CONFEA/CREA para que o profissional possa atuar no mercado de trabalho.

A de se acrescentar esse conjunto de dispositivos que enquadram o profissional de Geografia no mundo do trabalho algo que preside esse

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processo: a formação inicial desse profissional. Essa condição se associa a existência dos cursos superiores nessa área e a definição do perfil do egresso. Nesse sentido, é importante saber sobre como está sendo formado o profissional em Geografia.

4. O PERFIL DO GEÓGRAFO E O TRABALHO

A Geografia tem como objetivo, dentre vários, incitar a observação, fornecer ferramentas básicas para a compreensão dos eventos relacionados ao espaço geográfico. Discutir e propor soluções frente aos problemas ambientais é um papel importantíssimo para os geógrafos da atualidade. De acordo com Pedroso (1996), o geógrafo é o responsável pela resolução dos problemas do espaço geográfico, seja ele natural ou modificado. Nos estudos ambientais, a compreensão dos eventos relacionados ao espaço torna-se crescente no mercado de trabalho, isto devido ao novo contexto econômico, social e político. É importante destacar que o geógrafo tem participado de trabalhos que envolvem acompanhamento e gerenciamento de estudos de impacto ambiental, gestão territorial, projetos de controle ambiental, entre outros. Vale ressaltar a importância de uma formação condizente com as exigências do mercado de trabalho, portanto é que se faz necessário a discussão acerca do currículo de graduação e do papel do geógrafo frente as necessidades deste mercado tão exigente.

Do ponto de vista de Pedroso (1996), os conhecimentos adquiridos pelo geógrafo no curso de graduação, através de disciplinas que trabalham os meios (biótico, antrópico e físico), serão fundamentais para a atuação profissional no que tange a análise do espaço geográfico. Neste contexto, fica claro que os elementos técnico-científicos estudados em sua formação, serão importantes para a atuação profissional. Além disso, esses saberes nas diversas áreas de enfoque geográfico permitem que os profissionais habilitados possam trabalhar em variados segmentos, isto porque, esses temas possuem características transdisciplinares, ou seja, para Suertegaray (2003, p. 51), “[...] a capacidade de transitar pelos diferentes campos é algo a ser buscado”.

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Conforme citado acima, analisar o espaço geográfico e propor soluções para os problemas decorrentes das ações antrópicas, se constituem como técnicas indispensáveis para a atuação do bacharel. Vale ressaltar que a objetividade e habilidade para analisar e interpretar o dado da realidade observada, juntamente com a capacidade de síntese são habilidades e competências que devem ser desenvolvidas no geógrafo. A sua formação técnica e teórica deve permitir que o geógrafo possua estas qualificações. Este enfoque transdisciplinar mencionado pela autora, é decorrente das disciplinas de natureza física e as relacionadas as ciências humanas, isto quer dizer que o profissional durante a graduação estuda disciplinas de Geologia, Climatologia, Geomorfologia, além das disciplinas de natureza técnica e prática que envolvem Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto, Sistemas de Informações Geográficas (disciplinas instrumentais) – estas são vinculadas a temática ambiental, que atualmente tem grande potencial de mercado.

De acordo com Pedroso (1996), para atuar como geógrafo é necessário possuir diploma de bacharel fornecido em universidades devidamente reconhecidas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e se inscrever no CREA. Portanto, para exercer a profissão na área técnica (estudos ambientais) é obrigatório que o formado em Geografia bacharelado tenha inscrição no CREA de seu estado, atender as normas legais e observar o seu código de ética. No entanto, se assim não fizer, o profissional infringirá a lei e será passível de punição legal. Constata-se que o autor deixa claro que o geógrafo é o indivíduo com bacharelado em Geografia e inscrito no sistema CONFEA/CREA.

Pode-se dizer que Pedroso (1996), norteia o que são as atribuições do geógrafo, pois busca ressaltar a importância da formação acadêmica, ou seja, durante o curso de graduação. Neste contexto, ele enfatiza que a aptidão técnica para a análise e interpretação do espaço geográfico se dá através do currículo de abrangência transdisciplinar, “O currículo de Geografia talvez seja um dos mais condizentes em termos de uma abrangência transdisciplinar” (PEDROSO, 1996, p.10). Outra observação foi enfatizada por Pedroso, o autor deixa claro que o profissional geógrafo esteja inscrito no CREA para assim poder exercer suas atividades. Portanto, as atribuições técnicas da profissão

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abrangem estudos de natureza ambiental. Neste contexto, fica claro que esses estudos fazem com que o geógrafo esteja habilitado para realizar trabalhos que envolvem gerenciamento e planejamento ambientais. Por isso, é que se deve ampliar a discussão acerca do papel e atribuições do geógrafo ainda durante sua formação profissional.

Para Callai (2003), essas competências de trabalho exigem do profissional geógrafo a capacidade de articular teoria e prática, tendo a clareza da análise territorial, que saiba trabalhar conceitos básicos, entendendo a sociedade e o espaço como resultado do trabalho dos homens.

Segundo análise de Pedroso (1996), os geógrafos têm como área de atuação: planejamento urbano, rural e regional, controle ambiental, consultoria e pesquisa. E enquanto atribuição profissional podemos destacar os estudos e pesquisas referentes ao planejamento urbano, zoneamento, parcelamento do solo urbano; elaboração de mapas através do processamento de imagens de satélites, utilizando geoprocessamento e SIG; elaboração de banco de dados para fabricação de mapas; levantamentos topográficos; elaboração de estudos de impacto ambiental (EIA) e relatórios de impacto ambiental (RIMAs); serviços de assessoria ambiental; aerofotogrametria; estudos e pesquisas climáticas e geomorfológicas, entre outros. Pode-se perceber a gama de temas em que o geógrafo pode atuar. Para Argento (1996), há uma certa insegurança do profissional em sua atuação no mercado de trabalho, isto pode ser constatado pela falta de “agressividade” no trato transdisciplinar. O autor argumenta que é preciso minimizar esta insegurança se houvesse o cumprimento de estágios curriculares em empresas que trabalham os objetivos da Geografia. Dessa maneira o aluno teria como relacionar teoria e prática, salutar ao desenvolvimento de habilidades que possam engrandecer sua vida profissional após concluir o curso.

Fica evidente, diante desse quadro, que o geógrafo tem a responsabilidade de contribuir nos estudos da dimensão dos processos humanos e naturais que modificam a superfície terrestre. Dessa forma, os geógrafos se tornam ativos e contribuem de forma imprescindível para a resolução de problemas, considerando seus campos de atuação (costumam

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atuar em vários segmentos) e suas preferências pessoais. Portanto, cabe ressaltar a importância de se ter formação adequada durante a graduação e o incentivo a prática de estágio. Estes incentivos podem contribuir positivamente para sua futura carreira profissional.

4.1 A formação do geógrafo e as exigências do mercado de trabalho Atualmente, entrar para o mercado de trabalho é um dos principais objetivos do recém-formado e as exigências e a alta competitividade dificultam este processo. Sendo assim, para que o profissional ingresse no mercado, é preciso fazer o diferencial, na busca continua de conhecimentos. Segundo Nunes (2004), há dois mercados de trabalho para os profissionais formados em Geografia – o licenciado dá aulas e o bacharel atua como técnico em órgãos de planejamento, consultoria e em atividades semelhantes. No caso do Geógrafo bacharel, a sua atuação profissional vai depender das exigências do mercado de trabalho, ou seja, em que área as empresas estão exigindo mais desse profissional.

É sabido, neste contexto, que as novas configurações territoriais no qual a terra está inserida têm demandado uma nova postura do profissional de Geografia, isto quer dizer que, os geógrafos devem estar preparados para as novas respostas a questões pertinentes ao espaço. Nesse sentido, as modificações no qual o espaço vem passando, tem mudado rapidamente a configuração dos lugares, territórios e regiões. A facilitação de ferramentas tecnológicas para responder tais processos, tem exigido dos profissionais qualificações para poder atuar no mercado de trabalho. Podemos citar o crescimento da demanda por conhecimentos técnicos em Cartografia Digital, Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento como exemplos. Para que este profissional não fique de fora das vagas exigidas, é importante que este tenha uma formação qualificada para não perder seu lugar no mercado de trabalho.

De acordo com Signori e Verdum (2009), a expansão de oportunidades no mercado de trabalho para os geógrafos nos setores públicos e privados é marcada pelo sombreamento das habilidades deste profissional com a de outras carreiras, o que tem levado a conflitos, são estes – os engenheiros

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cartógrafos, biólogos, arquitetos entre outros. Este sombreamento é devido as técnicas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e Sensoriamento Remoto amplamente utilizadas por esses profissionais no âmbito do CONFEA. A competitividade entre eles já se presencia na abertura dos concursos públicos, que muitas vezes as atribuições listadas nos editais são igualmente aplicadas para o geógrafo como para de outro profissional, fazendo com que as oportunidades de trabalho sejam insuficientes, além do desconhecimento das habilidades do geógrafo por parte da sociedade em geral.

Com base no Quadro 16, observa-se as várias áreas em que o geógrafo

pode atuar. Entretanto, há uma certa dificuldade de empregabilidade do geógrafo, visto que há uma competição deste profissional com outros, sobretudo com engenheiros da área ambiental. Porém, é importante destacar que o geógrafo possui em sua formação a função técnica (que permite um fazer geográfico) e a função social (adquirida durante sua formação na graduação através de disciplinas da área de humanas) o que faz deste profissional diferenciado, pois este responde questões formuladas pela sociedade, sob a ótica de um “olhar geográfico”.

Conforme Callai (2003), a atitude profissional do geógrafo e sua atuação vão depender de uma formação específica e continuada. Trata-se inegavelmente de um conhecimento significativo, a compreensão de sua função social. Assim, reveste-se de particular importância refletir sobre a dimensão pedagógica na formação do geógrafo. Sob essa ótica, ganha particular relevância o perfil desse profissional e o curso de graduação que o habilita. A autora deixa claro que o geógrafo como profissional tem o dever de interpretar a realidade, fazer a análise do espaço enquanto um resultado de ações do homem. Perceber que os problemas do território são bem mais que problemas do espaço, são questões sociais. Por isso, a importância da função social da Geografia atrelado a função técnica e instrumental para fazer deste diferenciado no seu fazer profissional.

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Pode-se dizer que há uma dificuldade do recém-formado em atuar no mercado de trabalho, isto é, devido aos conhecimentos adquiridos na graduação que dizem mais a respeito da formação teórica do que pratica afinal a função primordial da universidade é formativa e não de treinamento. Neste contexto, fica claro que a competitividade entre os geógrafos e os profissionais das engenharias, tem dificultado a inserção deste no mercado de trabalho, conforme Signori e Verdum (2009, p. 134) assinalam:

Embora os bacharéis em Geografia e suas entidades representativas afirmem que há uma expansão de oportunidade no mercado de trabalho e um maior conhecimento nos setores privado e público, é nítido o desconhecimento da profissão pela sociedade

Isto é verificado pelo fato das pessoas só conhecerem o profissional da Geografia como professor. O mais preocupante, contudo, é constatar que normalmente o profissional formado acaba partindo para a carreira de docente, isto é verificado pelo fato de haver mais oportunidades para geógrafos professores do que para geógrafos técnicos.

Neste sentido, o mercado de trabalho para o geógrafo perpassa por um desconhecimento da atuação desse profissional por parte da sociedade. Mesmo tendo uma legislação profissional definida, lamentavelmente, o geógrafo como técnico dos serviços geográficos ainda é pouco reconhecido. As atividades que são realizadas pelo geógrafo, comumente são realizadas por outros profissionais, por exemplo, a fabricação de mapas através de ferramentas de geoprocessamento para análise ambiental, também é realizada por engenheiros florestais, ambientais, agrônomos entre outros. Pedroso (1995, p. 30) ressalta que:

Como o amplo conjunto de atribuições legais do geógrafo é de interfaces com atribuições de outros profissionais, é importante que ele mostre as suas atividades com o objetivo de aumentar a produção geográfica tanto na área do conhecimento como na área de planejamento, uma vez que dirige pesquisas, pessoas, ideias e até ações.

Conforme citado acima, as atividades inerentes aos geógrafos têm interfaces com a de outros profissionais, frisando que é importante que os

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profissionais atuantes mostrem suas habilidades para que as empresas tenham conhecimento das funções realizadas pelos geógrafos.

Por fim, habitualmente os recém-formados por não conseguirem emprego nas áreas de planejamento técnico, acabam partindo para área de docência, muitos já entram no mestrado ou acabam indo para a licenciatura pelo fato de haver mais oportunidades para professores. No entanto, para que haja a sua inserção no mercado de trabalho é importante que a universidade torne as disciplinas de instrumentalização, práticas de campo e em laboratórios com uma maior qualidade, além de atividades práticas de estágio – tão importantes para a vida profissional do aluno. Vale salientar que na grade curricular do curso de Geografia da UFRN, campus Natal não existe a disciplina de estágio obrigatório. Portanto, cabe ressaltar a importância de se ter formação adequada tanto para a área técnica como para a área científica, é nesse contexto que o estágio poderia ser uma prática importante para os alunos, pois, a experiência no mercado de trabalho durante o curso ajudaria os estudantes a se prepararem para o futuro e exigente mercado de trabalho.

5. O CONCEITO DE ESTÁGIO

O estágio profissional tem como objetivo complementar a formação acadêmica dos estudantes. Trata-se de uma atividade que pode ser obrigatória ou opcional de acordo com as diretrizes curriculares do curso de graduação. É através desta atividade que o aluno pode colocar em prática os conteúdos apreendidos em sala de aula.

Para o IEL7 (2010), o estágio é o ato educativo escolar supervisionado,

ele é desenvolvido no ambiente de trabalho e tem como objetivo principal a preparação do aluno para o trabalho produtivo. Além de ter sua importância no processo educativo e na formação do aluno, pois prepara este para a vida profissional valorizando a função social da parte concedente do estágio. Sua prática está vinculada ao projeto pedagógico do curso, bem como suas atividades devem estar relacionadas com seu desenvolvimento educacional.

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