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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.4.3 Reflexos da fusão entre Sadia e Perdigão no mercado acionário

Com a incorporação da concorrente Sadia, as duas empresas formaram a Brasil Foods, maior empresa no setor de alimentos processados do país e a 10ª maior do continente americano. A operação não envolveu dinheiro e as ações da Sadia passaram para as mãos de acionistas da Perdigão, que tiveram participação de 68% da nova empresa. Como todo ato de concentração de mercado precisa passar pela análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), as empresas prosseguirão separadas até que haja a aprovação.

Graficamente pode-se verificar que o aplicador financeiro nesta modalidade de investimento é ágil e rápido, reagindo a qualquer informação prestada e/ou ações de gestão que venham lhe prejudicar.

Comparando as oscilações ocorridas no período em análise, o gráfico 13, a seguir, mostra que as ações da Sadia S/A sofreram maior impacto em termos de desvalorização já que com o processo de fusão a empresa ficou com a menor parte do controle da nova empresa originária.

Gráfico 13. Oscilações no valor das ações da Sadia S/A e Perdigão S/A após anúncio da fusão

F Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.

Comparando estes dois mercados, as ações da Sadia S/A tiveram uma queda em percentuais expressivamente maiores que as da Perdigão S/A, conforme pode ser verificado na figura 7, a seguir.

Figura 7. Valor de mercado das ações da Sadia S/A e Perdigão S/A na Bovespa

Data SDIA3 % PRGA3 %

2/1/2008 9,85 100,00% 42,40 100,00%

30/12/2008 4,35 -55,84% 34,48 -18,68%

9/12/2009 6,42 47,59% 39,80 15,43%

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Tomando por base os meses de janeiro de 2008 a dezembro de 2009 constata-se que a Sadia S/A teve uma desvalorização de 34,82% em suas ações no mercado acionário, enquanto que a Perdigão sofreu uma desvalorização de 6,13%.

Analistas grafistas analisam o quadro como uma situação de mercado muito nervoso e inseguro devido à instabilidade na cotação das ações, principalmente da Sadia S/A, que obteve uma desvalorização acentuada no período em análise, intensificando-se a partir do início do processo de fusão anunciado em março de 2009.

No dia 10 de dezembro de 2009 as ações da BRFS3 (fusão da Sadia e Perdigão) tiveram seu primeiro lançamento na Bovespa, cujo fechamento da cotação da ação no dia foi de R$ 19,61. Observa-se que no processo da formação desta ação foi considerado que 68% do total das ações da Perdigão e 32% da Sadia formariam a nova empresa com a denominação BRFS3.

Durante o período em análise constata-se que ocorreram poucas oscilações e, embora iniciando com preços bem menores que os da Perdigão S/A (praticamente a metade), houve ganhos igualados ao da Perdigão no período.

Observa-se que enquanto a consolidação da fusão ainda não tinha sido concretizada ocorreram leves oscilações em função do receio dos aplicadores financeiros diante do impasse da Brasil Foods com o Cade e das transações que a empresa se viu obrigada a realizar para concretizar a fusão.

O gráfico 14, a seguir, apresenta a evolução da oscilação das ações no mercado acionário no período de 10/12/2009 a 30/04/2012, sendo que nesta data as ações da Brasil Foods tiveram sua primeira transação no mercado.

Gráfico 14. Comportamento das ações da Brasil Foods de 10/12/09 a 30/04/12

Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.

As ações da Brasil Foods tiveram sua primeira negociação na data de 10/12/2009, sendo que nesta data as ações da empresa estavam cotadas a R$ 19,61. No término do período em análise, passados praticamente dois anos e quatro meses, na data de 30/04/2012, as ações da empresa já estavam cotadas a R$ 34,85. Esta evolução ocorrida no preço das ações da empresa representa um crescimento médio de 2,07% ao mês e de 71,72% durante todo o período analisado.

Em maio de 2009 a Sadia e a Perdigão anunciaram a fusão das empresas, criando uma gigante dos alimentos, e até dezembro do mesmo ano essas negociações foram acordadas, quando uma nova nomenclatura entrou no mercado – a BRFS3.

O período da análise partiu de janeiro de 2008, ano em que ocorreu a crise na Sadia S/A, a primeira de sua história. Para recuperar sua saúde financeira, a empresa resolveu vender alguns de seus ativos para a Perdigão S/A. Esse período de janeiro de 2008 a março de 2009 foi crítico para a empresa, culminando na sua insolvência, pelo fato de que seu valor patrimonial estava bastante deteriorado nas vésperas no anúncio da fusão.

Em maio de 2009 a fusão foi anunciada e, com isso, o primeiro ativo da Brasil Foods somente foi negociado em dezembro daquele ano. A fusão foi autorizada em julho de 2011, com observância das determinações do Cade, que determinou a venda de alguns produtos e alienação de fábricas. O processo só foi concluído em março de 2012, mediante assinatura do acordo entre as partes.

O gráfico 15, a seguir, apresenta estes resultados e mostra claramente o comportamento do investidor frente às decisões do mercado.

Gráfico 15. Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a julho/11

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Em tempos de crise, a desconfiança se torna uma das maiores vilãs da economia. A princípio não é racional quanto aos setores mais afetados ou empresas melhor preparadas para enfrentar turbulências. No desespero, medo e insegurança todas se tornam igualmente perigosas para a maioria dos investidores.

Após a confirmação do Cade referente à fusão das empresas, as ações a preço de mercado começaram a crescer, ainda com algumas oscilações, mas já trouxe maior segurança para o investidor. O gráfico 16, a seguir, mostra que este mercado não desvalorizou seu preço, considerando o início das operações da Brasil Foods na Bolsa de Valores. A queda mais acentuada ocorreu em agosto de 2011, um mês após o voto contrário do relator do Cade e a retomada das negociações com a Brasil Foods, o que gerou temor entre os investidores.

Gráfico 16. Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a abr/12

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Deve-se ainda ressaltar que toda organização é conceitualmente entendida como sistema aberto, isto é, interage com o meio no qual está inserida. Desse modo, sua saúde financeira está exposta a solavancos e crises econômico-financeiras, como o caso da “crise de 2008”, quando empresas que não tinham situação saudável no curto prazo e não estavam preparadas para o longo prazo em termos financeiros, não puderam resistir à catástrofe econômica e provaram que não eram sustentáveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo verificar o desempenho do valor das ações da Brasil Foods S/A (BRFS3) no mercado mobiliário da Bovespa após a fusão da Sadia S/A e da Perdigão S/A. De maneira geral as análises apresentadas responderam às questões propostas nos objetivos específicos.

Todo o investidor e/ou especulador sempre faz comparações gráficas em períodos distintos. Analisando o desempenho das ações da Sadia percebe-se que com antecedência de dois meses da fusão, esta já havia perdido força no mercado acionário, em grande parte devido ao trabalho de divulgação da imprensa falada e escrita. A Perdigão, embora ainda com um valor de seu patrimônio elevado, também viu as suas ações oscilarem muito no mercado imobiliário, que se encontrava nervoso e volátil.

Tomando por base a rentabilidade dessas ações em cada pregão da Bovespa, e comparando-a com a nova e gigantesca empresa Brasil Foods S/A, observa-se que nos dois primeiros meses do lançamento da nova empresa, o mercado não reagiu com muito entusiasmo, ou seja, a rentabilidade no período de transição manteve-se praticamente nos mesmos patamares.

Várias são as considerações que podem confirmar este comportamento no preço de mercado acionário, sendo um dos mais relevantes a confiabilidade que o investidor e/ou especulador tem a respeito do futuro da empresa. Também são consideradas as decisões necessárias para os ajustes finais deste mercado, tomando por base informações tanto da empresa como do contexto macroeconômico, pois o investidor, ao entrar neste mercado sempre busca a otimização de três aspectos básicos: retorno, prazo e proteção e, ao analisá-lo, realiza um projeção de sua rentabilidade, liquidez e grau de risco.

O gráfico 17, a seguir, mostra um comparativo do desempenho das ações da Sadia, da Perdigão e da Brasil Foods (BRF) no período de agosto de 2009 a fevereiro de 2010.

Gráfico 17. Comparativo das ações da Sadia (SDIA3), Perdigão (PRGA3) e Brasil Foods (BRFS3) no período de agosto/09 a fevereiro/10

0,900000 0,960000 1,020000 1,080000 0 3 /0 8 /0 9 0 3 /0 9 /0 9 0 3 /1 0 /0 9 0 3 /1 1 /0 9 0 3 /1 2 /0 9 0 3 /0 1 /1 0 0 3 /0 2 /1 0 SDIA3 PRGA3 BRFS3

Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Em primeiro lugar, o que pode ser observado em relação ao comportamento do valor de mercado das ações BRFS3 (Brasil Foods) desde seu início até a confirmação final da fusão é que ocorreram oscilações e pouca valorização. Esta metodologia de análise é possível quando se analisa o contexto econômico no qual as empresas estão inseridas, as variáveis e os acontecimentos que afetaram o comportamento das ações. Através deles pode-se verificar a tendência do mercado, tendo como base a provável ascensão do valor de mercado de suas ações na Bovespa. É provável que essa ascensão ocorra mais precisamente a partir da consolidação total desta fusão, já que alguns produtos e/ou marcas de produtos (conforme apresentado) devem sair do mercado, como também os ajustes a serem feitos como resultado do processo de fusão.

Em segundo lugar foi diagnosticada a formação de um GAP no mês de agosto de 2011, que demonstra a influência do acordo entre as empresas na tomada de decisão dos investidores. Graficamente pode-se perceber a reação do mercado, ora para mais ora para menos, como mostra o gráfico 18, a seguir, onde pode ser visualizada a formação de um GAP no período acima referido.

Gráfico 18. Evolução da cotação diária dos pregões na Bovespa das ações da Brasil Foods S/A – dezembro/09 a abril/12

Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.

Segundo Matsura (2007), na análise gráfica esses movimentos denominados GAPs, que são movimentos que revelam uma descontinuidade dos preços, o preço dá um salto ou uma queda, formando um intervalo em que não houve negócio. A situação acontece, muitas vezes, em função de algum fato inesperado, divulgado após o fechamento do pregão, quando não existe a possibilidade de negociação imediata. Os investidores têm mais tempo para digerir o fato novo e, eventualmente, concluir que o nível de preço se deslocou para um novo patamar.

Uma das análises prováveis deste ocorrido pode ter sido motivado pelo fato antecedente e pelas várias informações escritas e faladas a respeito das divergências existentes sobre a fusão das empresas, já que esse fato corresponde à data de 8 de junho de 2011, quando o relator do Cade votou contra a fusão das empresas. Em 12 de julho do corrente ano, porém, véspera da retomada do julgamento, BRF e Cade buscaram um acordo para permitir a operação das ações da empresa na Bolsa de Valores. O investidor, sabedor desse impasse, preferiu preservar suas aplicações.

A gigante Brasil Foods S/A tornou-se uma empresa de referência mundial no ramo de alimentos de origem animal, sendo a maior exportadora de carne de frango do mundo. Com inegável importância no ramo de carnes e frios a empresa consolidou-se no mercado com os recentes resultados obtidos em termos de produção, exportações, faturamento e lucro.

O sucesso obtido pela empresa deixou os investidores seguros, confiantes na perpetuação da posição da empresa no mercado devido à solidez e estrutura conquistadas junto ao mercado consumidor, bem como no tipo de produto com que a empresa trabalha, no caso a alimentação humana, que se configura em uma necessidade básica de todos.

No contexto da análise são evidentes os impactos causados pelo processo de fusão no âmbito do mercado conquistado pela Brasil Foods, o que prova o impulso originado pela fusão e o crescimento que a empresa vem obtendo no cenário mundial. É possível verificar também o comportamento da empresa na dimensão do mercado financeiro para se obter informações sobre o assunto proposto.

Observa-se que durante o período analisado, o comportamento do mercado acionário com os resultados alcançados pela Brasil Foods S/A e as perspectivas de tendência do mercado tornaram o país mais confiável para investimentos estrangeiros.

Desde o início do processo de fusão os investidores se mantiveram atentos ao analisar o andamento das negociações das empresas, direcionando o olhar na estabilidade econômica, tanto da empresa como no país de origem.

Durante a realização da pesquisa surgiram questionamentos que não foram contemplados, já que não era esse o objetivo principal. Estas questões, relatadas a seguir, ficam latentes como sugestões para futuras pesquisas.

A primeira está relacionada às várias metodologias de análises, as quais podem ser amplamente comparadas e assim prever com mais critérios as tendências do mercado financeiro, além de buscar teorias econômicas de análise que possam contribuir para uma população carente de conhecimentos sobre o conteúdo.

A segunda diz respeito à necessidade de os estudantes de Economia terem mais clareza desse mercado, hoje privilégio de alguns, e embora sendo do interesse particular do acadêmico o avanço neste conhecimento, muito ainda há para melhorar. Há convicção por parte do acadêmico que o estudo poderá proporcionar o conhecimento de um mercado a ser explorado nesta região, já que o mesmo é natural de Três Passos, e a economia do município depende muito da Seara3

, sendo sua contribuição de alta representatividade para a geração de emprego e renda no município.

3 Seara Foods: unidade de aves e processados vendida pela Brasil Foods ao Grupo Marfrig – a unidade do

município de Três Passos/RS integra o conjunto de ativos — dez fábricas, oito centros de distribuição e onze marcas — que a Brasil Foods precisou se desfazer para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizasse sua criação, fruto da incorporação da Sadia pela Perdigão, em 2009.

A terceira questão aqui apresentada refere-se à continuidade do estudo. O resultado desta investigação contribuiu para melhor identificar e analisar os riscos que este mercado apresenta. Como acadêmico do curso de Economia e aplicador financeiro, existe um empenho cada vez maior na busca de conhecimento para análise deste mercado, sendo que este estudo representou conhecimentos de grande valia.

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