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Regime de Colaboração e a Autonomia e o Princípio da Subsidiariedade

CAPÍTULO III – O REGIME DE COLABORAÇÃO NOS ARTIGOS ANALISADOS E NA

3.2 O Regime de Colaboração nos Artigos Analisados

3.2.2 Regime de Colaboração e a Autonomia e o Princípio da Subsidiariedade

O princípio da subsidiariedade e do cooperativismo estão intrinsecamente ligados à ideia norteadora do Regime de Colaboração. A autonomia dos entes federados é fundamental para a existência de um Regime de Colaboração. Só pode existir subsidiariedade e cooperativismo se o ente federado possuir autonomia, mesmo que o entre federado ainda esteja vinculado a um sistema regulador gerido pelo Governo Federal.

Os princípios de subsidiariedade e cooperação foram analisados com destaque em 05 artigos da base bibliográfica estudada, relacionados no Quadro 07, do Capítulo IV desta dissertação. A ideia de autonomia dos entes federados associada ao Regime de Colaboração foi abordada com destaque por 05 artigos, que estão relacionados no Quadro 03, do Capítulo IV. Abaixo segue um breve resumo da posição dos autores.

Ao analisar a relação entre o Regime de Colaboração e a autonomia escolar e outros contextos, Ciavatta coloca um ponto importante para iniciar a busca pela definição de Regime de Colaboração, salientando como elementos essenciais “os fatos e fenômenos do contexto da promulgação da lei e com as condições de sua realização na educação” (2013, p. 962). Dentre esses fatos e condições, Ciavatta cita “a desigualdade socioeconômica, a privatização da educação, a qualidade da escola pública e o empresariamento da educação” (2013, p. 962). Na mesma linha de raciocínio, Andrade (2013) aponta que o fundamento de criação do Regime de Colaboração está na desigualdade econômica e social entre as

populações dos entes federados. O Regime de Colaboração se justifica na medida que norteará políticas e ações que corroborem para extinguir a disparidade na educação dos entes federados.

Araújo (2010) e Gemaque (2011) abordam os princípios de colaboração, e não de competição, existentes na Constituição Federal de 1988 que levaram a adoção do Regime de Colaboração, presente no artigo 211. Araújo (2010) expõe o princípio da subsidiariedade, que, dentro do federalismo, consiste no estado como ente fiscalizador e promotor da colaboração entre os entes federados de maneira a promover uma melhor igualdade entre os mesmos, mantendo a autonomia e soberania de cada ente federado. O Regime de Colaboração é um elemento claro do princípio da subsidiariedade na Constituição Federal brasileira de 1988.

Corroborando com os princípios de cooperação federativa e da subsidiariedade presentes na Constituição Federal de 1988, o Regime de Colaboração é apresentado por Farenzena e Marchand como “expressão, na educação, do federalismo cooperativo brasileiro consagrado no ordenamento constitucional-legal do país” (2013, p. 798).

Gemaque explica que o modelo cooperativista da Constituição Federal de 1988 retirou ações do governo central, reduzindo a centralização do governo, dando, assim, mais autonomia e responsabilidade para os governos subnacionais “do que para aumentar a colaboração intergovernamental com vistas à verdadeira expansão e melhoria de qualidade da educação nacional” (2011, p. 294).

Os princípios de cooperativismo existentes na Constituição Federal de 1988 também são abordados por Neto (2014), como norteadores para a plena execução do Regime de Colaboração. Neto apresenta o Regime de Colaboração como um elemento para combater as desigualdades entre os entes federados, tanto as desigualdades de cunho financeiro, como as desigualdades provenientes da falta de experiência administrativa e estrutural, fortalecendo assim as relações intergovernamentais e possibilitando que essa estrutura administrativa, de cooperação mútua, torne-se uma política de Estado. No cooperativismo, não é somente a questão financeira que deve ser discutida, mas também a questão do apoio entre os cooperados para que não haja sobreposição de interesses, abrindo possibilidades para uso comum dos recursos em detrimento de práticas competitivas. De acordo com Neto:

Com essas características, as práticas de cooperação permitem otimizar a utilização dos recursos comuns, auxiliar os governos menos capacitados ou mais pobres na realização de algumas tarefas, além de permitir o ataque a comportamentos financeiros predatórios e possibilitar o acesso a

informações sobre experiências exitosas no âmbito da administração. (NETO, 2014, p. 48).

A falta de regulamentação do Regime de Colaboração acabou levando a não existência plena dos princípios de subsidiariedade que nortearam a Constituição Federal de 1988, acarretando na desoneração de responsabilidades por parte dos entes federados, principalmente dos estados que delegaram a educação básica para os municípios, e de competitividade entre os entes federados por recursos para manter os seus sistemas educacionais. Nesse quesito, a subsidiariedade, ou seja, a cooperação entre os entes federados, deu espaço para a competição entre os entes federados.

Houve várias tentativas de regulamentação do Regime de Colaboração por meio de legislações, porém houve falta de entendimento até dos legisladores, que se viram na necessidade de arquivar projetos de lei com o objetivo de regulamentar o Regime de Colaboração, que não estavam relacionados à matéria. O Regime de Colaboração passou a ter um entendimento de descentralização da educação, um processo de transferência de competências, de desresponsabilização, para outras esferas administrativas. Araújo aponta que:

A falta de regulamentação do regime de colaboração no Brasil não ocorreu por falta de tentativas. Foram elaborados cinco projetos de lei que abordam o regime de colaboração na educação, todos de iniciativa do Legislativo. Entretanto, não houve debate sobre a matéria, uma vez que foram arquivados sem relatoria ou porque não estavam relacionados à matéria, ou por fim de legislatura, ou por trâmite indevido. [...] Os contornos dos conflitos federativos no Brasil, por falta de regulamentação do regime de colaboração, se tornaram ainda mais complexos e assumiram duas dimensões: uma vertical e outra horizontal. [...] Na educação, é possível observar a dimensão horizontal do conflito com a desresponsabilização dos entes federados para garantia de medidas de acesso, permanência e qualidade nas etapas e modalidades da educação básica. (ARAÚJO, 2010, p. 754-758).

O entendimento do Regime de Colaboração como cooperativista é preponderante, não somente pelos autores apresentados acima, mas também em um balanço geral dos demais autores analisados. O próprio Regime de Colaboração é uma manifestação de cooperativismo e cooperação entre os entes federados na construção de uma educação pública mais homogênea e com melhor qualidade.

Em decorrência da necessidade de autonomia dos entes federados para garantir o elemento de subsidiariedade do Regime de Colaboração, a Constituição Federal de 1988 deve

ter um papel descentralizador da educação, que não deve ser confundido com desconcentrador, no sentido de somente desconcentrar as ações e decisões, passando as responsabilidades com a educação para entes federados de esferas diferentes.