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3.4     Instrumentos de Coleta de Dados 98

3.4.1   Registro das mensagens dos fóruns 98

As mensagens registradas nos dois fóruns constituíram a base fundamental dos dados coletados para esta investigação. No total, os nove grupos do primeiro fórum

computaram 282 mensagens e os quatro grupos do segundo fórum foram 141 mensagens, totalizando 423.

Essas mensagens foram reduzidas às mensagens dos fóruns que tiveram a participação dos interlocutores da Argentina, principal foco de estudo deste trabalho, sendo 207 mensagens do primeiro fórum e 100 do segundo fórum, num total de 307 mensagens. A unidade de análise considerada no tratamento de dados foi a mensagem do fórum. Todas as mensagens foram impressas, organizadas por grupo e por fórum e espiraladas para o tratamento dos dados. Em seguida, cada mensagem foi numerada, ou codificada, para a análise, por exemplo “1.4.18”, sendo que: o primeiro número representava o fórum (1o. ou 2o.); o segundo se refere ao grupo (grupo 1 a 9, para o primeiro fórum); e o último era o número da mensagem dentro do respectivo grupo.

Os procedimentos utilizados para a análise das mensagens foram o método de análise de conteúdo e o de comparação constante. Merriam (1998) afirma que o método de análise de conteúdo envolve comparar um corpus de dados, contrastar e construir categorias que capturem as características relevantes do seu conteúdo.

O processo de construção de categorias é elucidado por Lincoln e Guba (1985). Os autores explicam que a primeira unidade de análise (uma sentença, um texto, um parágrafo, uma imagem etc.) é lida e observa-se seu conteúdo e, de acordo com seu teor, será criada uma primeira categoria. A segunda unidade de análise é lida, observado seu conteúdo e analisado se seu teor é semelhante ou diferente da primeira. Se sim, será colocada junto com a primeira; se não, será criada uma nova categoria, e assim acontece sucessivamente com cada unidade de análise, construindo-se categorias apropriadas para cada conteúdo. O

método que orienta esse processo é o de comparação constante. Para Merriam (1998), a estratégia básica desse método é comparar um segmento de informação com outro, a fim de determinar semelhanças ou diferenças.

Com o propósito de descrever a forma em que a análise das mensagens dos fóruns foi implementada, apresento as etapas do processo de tratamento desses dados.

A primeira fase de análise objetivou separar as mensagens postadas pelos alunos ou pelos argentinos e classificar os tipos de interações que contribuíram para a experiência intercultural dos alunos. Para realizar essa classificação, criei uma tabela no Word de seis colunas e 50 linhas, sendo a primeira coluna utilizada para anotar o número/código da mensagem e as outras cinco para cada um dos cinco tipos de interações que puderam ser observados e analisados nos fóruns digitais desta pesquisa, extraídos da figura 4 da fundamentação teórica: aluno/aluno, aluno/outro (argentino), aluno/professor45, aluno/conteúdo, outro/conteúdo. Para cada interação observada na mensagem, anotava um “X” na respectiva coluna. Imprimi várias cópias dessa matriz, escrevi na primeira coluna os números/códigos de cada mensagem e examinei cada uma buscando identificar quem foi o autor da mensagem, seus receptores e em que tipo de interação se classificava. Em relação às interações aluno/conteúdo e outro/conteúdo, o conteúdo indicado para ser pesquisado e consultado pelos alunos no contexto dessa experiência intercultural era a web e seus recursos (ver seção 2.2.2 do capítulo anterior). Desse modo, ao classificar as mensagens como aluno/aluno (de aluno para aluno) ou aluno/outro (de aluno para interlocutor argentino ou vice-versa), aquelas que continham material extraído da web (texto, link,                                                                                                                          

45   A interação aluno/professor foi utilizada pouquíssimas vezes, normalmente para a mensagem inicial do

imagem, vídeo entre outros), apresentando claros indícios da interação do participante com conteúdos da Internet, eram também computadas como aluno/conteúdo ou outro/conteúdo. Separei a análise por grupo e em um cômputo geral. Os resultados obtidos estão expostos na seção 4.2.1 do próximo capítulo.

Na segunda etapa do tratamento dos registros dos fóruns, busquei analisar os resultados que emergiram das interações. Para tanto, criei uma matriz com três colunas para a análise de conteúdo das mensagens, sendo que a primeira coluna deveria identificar o número/código da mensagem, a segunda identificava o emissor “B” para alunos brasileiros ou “A” para os interlocutores argentinos e a última coluna provia uma descrição do conteúdo de teor cultural de forma sintética. As cópias da matriz foram utilizadas cada uma para uma categoria de caráter cultural que foi criada, de acordo com os conteúdos das mensagens. Por meio da análise do conteúdo e de uma comparação constante, as mensagens eram analisadas segundo o teor de seu conteúdo e agrupadas por categorias construídas nesse processo. Algumas mensagens apresentaram mais de uma categoria de conteúdo, sendo também inseridas nas categorias do teor correspondente. Uma vez as mensagens analisadas, foram então computados em cada categoria, por grupos e por fórum, os tipos de conteúdos apresentados pelos alunos ou pelos participantes argentinos. As categorias criadas foram agrupadas em categorias maiores e tornaram-se subcategorias, conforme apresentado no quadro 4, do próximo capítulo.

Durante a análise de conteúdo das mensagens da segunda fase, foram também separados os registros que informavam reações, posturas, reflexões dos alunos em relação ao contato cultural com os interlocutores argentinos. O objetivo foi examinar nas mensagens dos estudantes, conteúdos que pudessem refletir algum dos estágios de

desenvolvimento da sensibilidade intercultural, conforme apresentado por Bennett (1993). Para essa questão foram também considerados os registros dos questionários pós-fórum, das anotações reflexivas dos alunos e das entrevistas realizadas com os alunos, conforme descrito mais adiante neste capítulo.

Por último, a terceira parte de análise das mensagens dos fóruns visou examinar, de acordo com as cinco fases do Modelo de Análise de Interações (GUNAWARDENA, LOWE E ANDERSON, 1997), que etapas puderam ser identificadas no processo de interação com os falantes nativos para a compreensão dos aspectos culturais da L-alvo.

Conforme mencionado no capítulo anterior, o Modelo de Análise de Interações consiste em cinco fases da construção do conhecimento, iniciando-se do mais elementar para o mais complexo (ver quadro 2, seção 2.2.3, do capítulo anterior). Em termos de interação no ambiente digital, esse modelo é interessante pois busca, dentro de um contexto social de aprendizagem, identificar as etapas alcançadas no processo de interação em grupo.

Utilizando como unidade de análise cada mensagem inserida na discussão, busquei saber em que níveis evoluíram as 307 interações dos participantes dos fóruns. Com esse propósito, fiz uma matriz com seis colunas principais, sendo a primeira para o número/código da mensagem, e as outras cinco para cada etapa do modelo. Através da análise de conteúdo e o método de comparação constante, cada mensagem foi analisada à luz das categorias oferecidas pelo modelo teórico. Ocasionalmente, aquela que continha duas ou mais ideias ou comentários distintos eram codificadas em duas ou mais fases do modelo. Depois de analisadas todas as mensagens, os dados coletados foram computados e discutidos na seção 4.2.2 do próximo capítulo.