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Regras de condução das audiências: as varas criminais como comunidades de interesse

celeridade e troca de papéis para punir na informalidade

2.3 Regras de condução das audiências: as varas criminais como comunidades de interesse

Guardadas as devidas distinções – a serem exploradas no próximo capítulo –, as audiências preliminares seguem um script comum. Como já mencionado, elas são solicitadas ao juiz pelo promotor que tem como alvo negociar a transação penal com o infrator. Não há conciliador e, portanto, a lógica que a preside gira em torno, sobretudo, da forma como será encaminhada a proposta de medida alternativa ao autor do fato. Em cada vara criminal as duplas de promotores distribuem ao seu modo as atividades relacionadas aos procedimentos de Jecrim. Essas atividades resumem-se, como visto, a três atos: recebimento do processo proveniente da delegacia, decisão sobre sua destinação – arquivamento, retorno à delegacia para produção de novas provas ou agendamento de audiência preliminar para a proposta da transação penal ao autor do fato – e comparecimento à audiência. Entretanto, nem sempre é o mesmo promotor a participar desses três momentos, podendo haver permutas de atividades entre eles, envolvendo as demais atividades processuais de cada um perante a justiça comum. Em uma das varas, como mencionado no capítulo anterior, apenas um deles, po à vo aç o ,à asà ealiza,à te doà e à vistaà oà desi te esseà daà out aà p o oto aà peloà

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Jecrim.14 Ao decidir levar o processo à audiência preliminar, alguns promotores estabelecem desde logo, por escrito, a proposta que será formulada ao autor do fato, informação que consta inclusive na pauta de audiência preliminar. Neste caso, sendo ele mesmo ou outro promotor a realizar a audiência, a medida alternativa a ser proposta já é decidida previamente. A outra opção do promotor é a de apenas solicitar a audiência, deixando em aberto para ele mesmo, ou para o promotor que a realizará, a decisão da medida a ser proposta. Cabe frisar que nas situações em que é escalado somente para realizar a audiência, nem sempre o promotor consulta o processo com antecedência, examinado-o rapidamente enquanto as partes entram e acomodam- se.15 De toda forma, a determinação prévia do desfecho da audiência denota sua intenção em agilizar seu andamento e fazer dela um momento de negociação voltado prioritariamente para a proposta da transação penal.

Neste contexto é que se situa também a maneira como os defensores públicos exercem seu papel nas audiências. Quando iniciei a pesquisa, o grupo de cinco jovens atuantes em São Bernardo acabava de ingressar na carreira, tendo em vista a recente criação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo.

A sala da defensoria reservada ao atendimento ao público é visivelmente identificada como aquela em há uma grande concentração de populares à espera de atendimento.16 Para isso, contam com o auxílio de um número significativo de estagiários de Direito que recepcionam a população, enquanto os defensores, em um gabinete contíguo, ou em uma sala coletiva localizada em outro extremo do corredor, permanecem concentrados em suas atividades processuais. Suas atuações quanto aos procedimentos de Jecrim são repartidas por vara e resumem-se a orientações ao autor do fato minutos antes da audiência preliminar, na qual o acompanham, com exceção de uma das varas como se verá.

14 Cheguei a ver este mesmo promotor realizando audiências inclusive em outras duas varas diferentes da sua. Em entrevista, ele explicou- eà assi à suaà vo aç o :à Euà faço questão de orientar todas as pessoas, eu gosto de fazer Jecrim e resolver o problema das pessoas, então eu não me limito a dizer:

olha você tem que pagar tanto ou vai ter que prestar serviços (promotor 1). 15 Nas situações em que há promotor substituto, isto, via de regra, acontece.

16 A sala da defensoria chama atenção por ser a única, no piso térreo do Fórum, na qual se observam as filas que caracterizam o serviço público. No mais, as imagens de excesso que tradicionalmente caracterizam o serviço público ficam por conta das pilhas de processos que, ora circulam dentro de carrinhos de supermercado pelos corredores, ora estão sobre as mesas de qualquer sala que se possa adentrar ou entreolhar.

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Observei alguns desses diálogos entre infrator e defensor no corredor do fórum, onde eles podem vir a acontecer. Nesse momento, o defensor explica como se desdobrará a audiência, isto é, o que é a transação penal oferecida pelo promotor e quais são suas vantagens quanto à aceitação da proposta, sobretudo, a de evitar o ônus do processo. Mas há também situações em que esse diálogo prévio pode não acontecer, principalmente nas tardes de audiências simultâneas nas cinco varas, quando há uma grande demanda de trabalho dos defensores na justiça comum. Nesse caso, o defensor entra na sala com a audiência já iniciada, tomando contato com o autor do fato ali mesmo.

Essa atuação prévia em que os defensores dialogam com sua clientela contrasta com sua postura dentro da sala de audiências. Nela os defensores quase não falam. Estabelecem, por vezes, conversas descontraídas com o promotor e os juízes, profissões às quais são, com poucas exceções, aspirantes.17 Nos estreitos diálogos que porventura estabelecem com o autor do fato, auxiliam-no a ponderar sobre qual das opções oferecidas pelo promotor na transação penal – prestação pecuniária ou prestação de serviços à comunidade – é mais viável de ser cumprida em função de compromissos financeiros e pessoais; orientam-no sobre a necessidade de depositar o comprovante de pagamento do valor monetário no cartório ou no caso de aceitar a prestação de serviços, o endereço e data em que devem comparecer para iniciar o cumprimento da pena, complementando, muitas vezes, a explicação já dada pela escrevente.

Os defensores não se indispõem com promotores e juízes a respeito da pertinência da transação penal, nem mesmo cogitam a possibilidade de uma contraproposta em relação aos seus termos. A presença do defensor, seja ele público ou privado, é exigida pela Lei para que, segundo estabelecem juristas, seja resguarda a livre vontade do autor do fato na transação penal (Grinover et al., 2005, p.133). Sua finalidade é, portanto, evitar que o autor do fato sofra algum tipo de pressão para que aceite um acordo sobre cujo teor não tem clareza. Mas o defensor público, assim como

17 Existe uma hierarquia ocupacional entre juízes, promotores e defensores, sobretudo sendo estes últimos jovens na carreira e aspirantes à profissões jurídicas de maior poder e prestígio. Em entrevista realizada com os defensores, boa parte deles afirmou estar ali temporariamente no aguardo de concursos para a magistratura e a promotoria. Um dos juízes comentou-me, em certa ocasião, o e pe hoàdeàu àdosàjove sàdefe so esàoà ualàad i ava:à Oàd . defensor é um idealista, muitos deles fazem dali um trampolim para outras carreiras, mas independente disso, ele é muito dedi ado .

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o advogado particular podem, em determinados casos, questionar a pertinência da transação penal ou tentar negociar seu conteúdo. Entretanto, uma vez que as audiências são marcadas com o intuito exclusivo de promover a transação penal, os promotores raramente, como observei, voltam atrás na decisão de não ofertá-la e arquivar o caso, e os defensores sabem disso. Tendo em vista que a proposta de transação é tendencialmente inarredável, o papel dos defensores resume-se a esclarecer seu conteúdo ao infrator e sugerir o aceite. A postura favorável ao aceite da transação penal é justificada por razões ideológicas, como manifestaram dois deles em entrevista:

A orientação padrão é para aceitar porque a gente sabe que se vai brigar, vai perder, nossos assistidos são sempre pobres e pretos, com passagem na polícia. [Se não aceitar] vai ser condenado [...] Um advogado particular ainda consegue trancar a ação,18 mas se eu alego a mesma tese meu réu é condenado, [porque] é preto, pobre, sem comprovante de residência. (defensor 1)

Para esse defensor, o sistema penal não favorece sua clientela, diferente daquela de um advogado particular que poderia obter resultados mais satisfatórios porque ligado a outro segmento social, menos vulnerável à condenação criminal. Segundo ele, independentemente de seu investimento profissional na construção do melhor argumento, o defensor público trabalha, de saída, na desvantagem e, por isso, deve ser mais cauteloso em sugerir que seu cliente rejeite a transação penal e seja processado, comprometendo sua ficha de antecedentes. Algo semelhante afirmou outro defensor:

Eu sempre aceito a proposta mesmo se meu cliente diz que é inocente, não corro o risco, porque os perfis ideológicos dos juízes variam. Mesmo eu sendo crítico da transação penal, não vou arriscar. (defensor 2)

ápesa àdeà e o he e à ueà h àjuízesàeàjuízes , isto é, nuances no que tange à perspectiva discriminatória mencionada por seu colega, é prudente, para este defensor, em nome da proteção de seu cliente, evitar um prejuízo maior, isto é, o processo, e aceitar a proposta do promotor, mesmo considerando que a transação

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penal redunde em uma sanção de um cliente inocente. Evitar o processo para uma clientela historicamente discriminada pela justiça penal é considerada a melhor saída.

Mas não é somente a postura inarredável do promotor e a ideologia de certos magistrados que promovem uma atuação mais conformada dos defensores públicos a respeito da transação penal, cuja aceitação é regra entre eles. No contexto estudado, ele é também um agente interessado na dejudicialização do conflito, possível mediante o aceite do autor do fato à proposta de transação penal feita pelo promotor. Evitar a judicialização do caso, isto é, o seu desdobramento em um processo, é também para eles um imperativo gestionário, diante da precariedade de mão de obra na qual estão imersos. Há ainda que se levar em conta o campo de forças já estabelecido no qual passaram a atuar os jovens defensores públicos recém- empossados na carreira, com pouco tempo de experiência profissional na comarca.19

Nesse aspecto, cumpre destacar alguns contrastes entre a postura destes jovens defensores e a de um antigo procurador da comarca a cujas audiências tive oportunidade de assistir no início de minha pesquisa.20 Em várias situações observei-o não somente questionar o conteúdo da proposta do promotor, sugerindo valores mais baixos de prestação pecuniária, mas também solicitar o arquivamento do caso, tendo em vista mudanças legislativas que poderiam favorecer o autor da infração.21 Não se trata de comparar desempenhos, mas de chamar a atenção para o fato de que a mudança institucional concernente ao quadro de advogados públicos atuantes na comarca tem também impacto no modo como esses novos e jovens profissionais vão sendo socializados na rotina das audiências preliminares. Os defensores públicos, assi à o oàosàadvogadosàp ivados,às oàosàú i osà ueàpode à o pli a àaà oti aàdasà

19 Conforme apurei em entrevista, o grupo de cinco defensores tinha entre 25 e 30 anos, quatro deles ingressos na carreira no primeiro concurso da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, realizado em maio de 2007, e uma no concurso de 2008.

20 Iniciei minhas observações no final de 2006 e, por isso, pude acompanhar as últimas audiências feitas por um antigo procurador atuante na comarca como defensor gratuito. Ressalte-se que com a criação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, profissionais como ele, ligados à Procuradoria de Assistência Judiciária do Estado puderam optar por qual das duas instituições prosseguiriam. Muitos deles, como o procurador citado, optaram por não ingressar na Defensoria, que passou a ser o principal órgão público responsável pela assistência judiciária gratuita à população.

21 Isto aconteceu em uma audiência relativa ao crime de porte ilegal de drogas (JEC/06) ocorrida na 1ª. vara em 28/11/2006, qua doà e à fu ç oà daà ha adaà Novaà Leià deà D ogas à Leià . / 6 à oà procurador, embasado em certa doutrina jurídica, debateu com a promotora a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal, defendendo o arquivamento do caso. Ela não recuou, mas ele buscou ali uma possibilidade de discussão.

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audiências questionando a pertinência da transação e seu conteúdo. No entanto, os jovens defensores parecem absorvidos por uma lógica já em andamento que eles têm poucas condições de reverter, seja por razões gestionárias, seja por acreditarem que para sua clientela precarizada mais vale um acordo punitivo do que um processo. Assim, adéquam-se ao modus operandi em curso nas varas criminais, compromissados com a dinâmica de audiências determinadas desde sempre pelos promotores em consonância com os juízes. Nesse aspecto, estão mais alinhados aos interesses dos promotores – em tese seus oponentes – do que poder-se-ia supor. A forma como o papel do defensor no jogo de uma disputa jurídica é redefinido, colocando-o mais ao lado do promotor do que contra ele, pôde ser observada de maneira mais contundente em duas das varas.

Em uma delas, o defensor tem por hábito deliberadamente não comparecer às audi ias,à se doà so e teà o vo adoà peloà juizà dia teà deà algu à p o le i ha ,à entenda-se, a dificuldade em obter-se o aceite da transação penal pelo autor da infração.à Oà fatoà deà atua à aà va aà doà juizà o he idoà o oà oà aisà ga a tista à daà comarca, isto é, de algu à ueà jogaà doà seuà lado ,à aà favo à daà í i aà i te ve ç oà punitiva e do respeito aos direitos processuais do autor do fato, justifica, segundo contou-me, a opção por manter-se em seu escritório ocupado com os demais afazeres da Defensoria que, aliás, não são poucos.

Mencione-se que as audiências nessa vara apresentam distinções importantes. Além de ser a única na qual elas acontecem de portas abertas, elas são iniciadas com uma enquete social feita pelo juiz ao autor do fato, e somente depois de concluí-la é que aquele passa a palavra ao promotor. Perguntas como grau de escolaridade, ocupação, salário, número de filhos e situação habitacional são feitas rápida e descontraidamente insinuando ao promotor a necessidade de um certo comedimento na proposta de transação a ser apresentada. A maneira como o juiz recebe o autor do fato, com um breve talk show no qual demonstra interesse por aspectos de sua vida pessoal, contribui para que a formalidade do ambiente ganhe um certo acolhimento. Foi nesta vara que presenciei uma situação inusitada na qual o juiz reduziu o valor da proposta de prestação pecuniária feita pelo promotor,22 favorecendo o infrator.

22 Em audiência ocorrida em 25/6/2008, em um caso envolvendo crime ambiental (IP n. 1.154/07), o autor, um idoso aposentado, possuía ilegalmente aves em cativeiro. Diante da proposta do promotor de

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Em outra das varas, a defensora assume um importante papel na condução das audiências, permanecendo mais tempo fora do que dentro delas. Em articulação com a promotora, a qual sempre anuncia a proposta de transação na pauta das audiências, a defensora tem por função adiantar o aceite da proposta pelo autor da infração, caminhando com ele da sala da Defensoria até a sala de audiência. Com o auxílio da escrevente externa, ela o introduz então à audiência, cujo objetivo é somente o de formalizar oàa eiteàdia teàdaàp o oto aàeàdaàjuíza.à E t o,àvaiàa eita ? ,à pergunta a promotora, buscando confirmação quando ele, enfim, senta-se diante dela. Diante do aceite, em geral obtido, o autor da infração assina o termo de audiência já digitado e impresso pela escrevente, recebe as orientações necessárias para o cumprimento da transação, sai e aguarda-se o próximo. As audiências nesta vara foram, sem dúvida, as mais difíceis de serem compreendidas, tamanha a sua celeridade, até o momento em que decidi observá-las do lado de fora.

As situações acima descritas demonstram que, do ponto de vista das identidades ocupacionais no campo da justiça informal, criam-se certos hibridismos: o juiz assume o lugar do defensor público; a defensora pública assume a tarefa de auxiliar de promotoria. Essa mescla de papéis está, por sua vez, atrelada a um determinado circuito de interesses e contraprestações mútuas: na vara em que o juiz atua como defensor, este ganha tempo para outras atividades, mas assume o compromisso de comparecer às audiências em apoio ao promotor e ao juiz, cujo propósito é obter o aceite da transação penal de modo a evitar o processo. Na vara em que a defensora auxilia a promotora, esta de algum modo lhe retribui optando por punições pouco severas que agilizam o tempo da audiência, por sua vez cronometrado pela juíza que apadrinha essa dinâmica. Longe de atuarem em polos opostos, defensor e promotor, intermediados pelo juiz, visam o mesmo objetivo: abreviar o tempo da audiência sem deixar de obter o aceite da transação penal, consensualmente vista naquela circunstância como a melhor saída para todos. Junte-se a esse hibridismo,

pagamento de prestação pecuniária no valor de 130 reais, o juiz, para a surpresa de todos os presentes, reduziu-a pela metade, realizando uma manobra interpretativa do texto legal em benefício do autor do crime. Assim, justificou sua decisão no § 1º. do artigo 76 da Lei do Jecrim, o qual eu mesma nunca havia es utadoàe àaudi ia:à Nasàhipótesesàdeàse àaàpe aàdeà ultaàaàú i aàapli vel,àoàjuizàpodeà eduzi-la at àaà etade .

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autorizado pela informalidade, a atuação do promotor como conciliador recorrente nas situações em que o juiz assume uma tímida participação nas audiências.

Nos casos observados, em diferentes combinações, a troca de papéis" entre juiz, promotor e defensor é inflexionado por exigências gestionárias ligadas ao controle do tempo, lembrando fenômeno semelhante ao notado por Sapori (1995) ao estudar a rotina de funcionamento da justiça criminal em Belo Horizonte. Lá o autor observou que, apesar de cada uma dessas categorias profissionais ocuparem funções claramente diferenciadas pelas regras processuais,

A atuação dos atores legais é balizada, em diversas situações, não pelas prescrições normativas do sistema, mas sim por programas de ação, de caráter informal, que estão institucionalizados nas varas criminais. Tais programas de ação, inclusive, impelem atores legais à violação das próprias prescrições normativas formalizadas em diversas situações. (Sapori, 1995, p.144)

Premidos por exigências relacionadas à produtividade, entendida como o controle do acúmulo de processos nas varas, esses atores estabelecem acordos tácitos com vistas a agilizar os trâmites processuais. Inspirado em Blumberg (1972), que havia verificado o mesmo na justiça criminal norte-americana, Sapori constata a existência, nas varas criminais estudadas, do que Blumberg de o i aàdeàu aà o u idadeàdeà i te esses à o p o etida, sobretudo, com o bom funcionamento do que traduz Sapori o oà justiçaàli haàdeà o tage ,23istoà ,àu à o ju toàdeà e eitasàp ti as eà a o dosà i fo ais à que dete i a à o oà faze à justiçaà deà odoà gil .à Estaà prioridade mobiliza a atuação dos atores legais,à ujoà o p o issoà oà à o à osà respectivos fins formalmente atribuídos a seus papéis ocupacionais, mas sim com o fim p ag ti oài stitu io alizadoà oàsiste a à “apo i, 1995, p.145-6).24

23 Versão de Sapori para a expressão assembly-line justice, cunhada por Blumberg. Ressalte-se que Ribeiro, Cruz e Batitucci (2004) em pesquisa realizada anos depois no Juizado Especial Criminal, também em Belo Horizonte, identificaram a presença da linha de montagem mencionada por Sapori, em práticas recorrentes, sobretudo de conciliadores, visando por meio de soluções padronizadas e rápidas promover mais transações penais em menos tempo, abafando possibilidades de interação mais prolongadas entre as partes em conflito, com vistas a outro tipo de desfecho.

24 Sapori (1995, p.152) esclarece ainda: ua doà falamos da existência de arranjos informais no ambiente organizacional, queremos afirmar que as atividades práticas da organização são caracterizadas por certos modelos de comportamento recorrentes em seu cotidiano, que, por sua vez, não estão previstos pelo arcabouço normativo que estrutura a organização. Tais modelos de comportamento, po ta to,àt à a te àdeà leisà oàes itas ,à oà o ve io ais .

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O autor problematiza aspectos desse fenômeno apontando o que considera ser seu paradoxo: a oposição entre o ideal de eficiência e os ideais protetivos da justiça criminal. Isso porque, como demonstra, acordos informais estabelecidos entre os ato esà legaisà o à vistasà aoà o à fu io a e toà daà justiçaà li haà deà o tage tendem a violar certos rituais burocráticos, cuja finalidade é preservar princípios democráticos básicos nas disputas jurídicas no campo penal.25 Quanto a esse aspecto vale notar que a pesquisa de Sapori foi realizada antes da Lei dos Juizados Especiais Criminais – Lei 9.099/95 – e revela que estratégias de agilização de processos relativos aài f açõesà ueàestaàLeiàveio,à aisàta de,àde o i a à deàpe ue oàpote ialàofe sivo à vinham sendo praticadas, ainda que na ilegalidade.26 É interessante verificar que mesmo o advento da Lei que, de certa forma, legalizou tais práticas, não elimina a

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