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2.2. O SETEMBRISMO E A FUNDAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA

2.2.4 O REGULAMENTO DO CONSELHO DE SAÚDE

O Regulamento estava organizado em onze Capítulos, onde se previa a estrutura orgânico- funcional e as atribuições do Conselho e dos seus delegados, na rede periférica (Quadro 4).

Quadro 4 - Índice do Regulamento do Conselho de Saúde Pública Capítulo I Da organização do Conselhos, suas secções e expediente

Capítulo II Das delegações e subdelegações do Conselho Capítulo III Dos Cabeças de Saúde

Capítulo IV Das atribuições do Conselho de Saúde Capítulo V Das atribuições dos delegados do Conselho Capítulo VI Das atribuições dos subdelegados do Conselho Capítulo VII Das atribuições dos Cabeças de Saúde Capítulo VIII Dos guardas dos cemitérios e suas atribuições Capítulo IX Disposições gerais permanentes

Capítulo X Disposições transitórias

Capítulo XI Dos vencimentos dos empregados de saúde, fontes de receita e sua arrecadação Fonte: Collecção de Leis e outros documentos officiais publicados no 1º semestre de 1837, 7ª Série, 1ª

Parte, 1837, p. 28-35

Competia ao Conselho de Saúde propor ao governo os oficiais, os amanuenses, os empre- gados de secretaria, os médicos e os empregados da visita de saúde nos portos e nomear os seus delegados nos diferentes distritos.

Tudo o que dissesse respeito à saúde e higiene pública estava sob a sua jurisdição e con- trolo: a) a visita às lojas dos boticários, de bebidas espirituosas, de víveres e de comestíveis; b) a inspeção dos cemitérios públicos e a prescrição de medidas para conservar a salubridade, evitar

exalações pútridas e proceder convenientemente aos enterramentos; c) a visita e a elaboração de relatórios sobre os hospitais civis, os recolhimentos, os lazaretos, os asilos de mendicidade e outros estabelecimentos de caridade e de recolha de enfermos, inválidos, órfãos ou expostos, bem como as cadeias e fábricas (curtumes, velas, etc.), cujas matérias-primas ou manufaturadas pudessem prejudicar a saúde pública, e d) a visita aos portos de mar.

Também estava sob a sua alçada o despiste de focos de infeção relacionados com pântanos, charcos, águas estagnadas e poços; cabia-lhe indicar às câmaras o melhor método para se limparem as ruas, os canos e cloacas e exercer o policiamento médico.

No âmbito do controlo do exercício das várias profissões, era sua incumbência comunicar às autoridades competentes a existência de médicos estrangeiros, de cirurgiões e outros que não tivessem licença para curar, bem como a venda de remédios cuja composição fosse desconhecida, ou não estivesse aprovada pelo próprio Conselho. De igual modo, competia-lhe examinar e conferir os diplomas a boticários, a farmacêuticos e a cirurgiões que pretendessem curar de medicina, a médicos formados em universidades estrangeiras, enquanto não se estabelecessem as escolas de medicina, cirurgia e farmácia, a parteiros e parteiras, a sangradores, a algebristas e a dentistas. No seguimento desta atribuição, tinha por função proceder à matrícula e inventariação de todos os médicos, cirurgiões, boticários, farmacêuticos, dentistas, parteiros e parteiras, etc., e classificar (confidencialmente) o seu serviço como ótimo, bom, sofrível ou mau. Tinha ainda a prerrogativa de conceder licenças para a venda de remédios especiais e particulares.

O controlo da mortalidade era uma área de particular acuidade para o Conselho na medida em que devia elaborar um mapa necrológico do reino, que incluísse as relações dos óbitos ocorridos no exército e na marinha e organizar os modelos dos atestados médicos, dos bilhetes de enterra- mento, das guias dos hospitais e misericórdias e dos mapas necrológicos, de forma a uniformizar o sistema em todo o reino.

No controlo das epidemias, competia ao Conselho regular as quarentenas e, no âmbito da promoção da saúde, velar pela educação física dos habitantes, especialmente nas casas de expostos e órfãos, nos colégios públicos e particulares e publicando instruções elementares de higiene e conservação da saúde.

Finalmente, competia-lhe fiscalizar o serviço dos seus delegados distritais e, a estes, por sua vez, fiscalizar e fazer cumprir as orientações emanadas pelo Conselho, remetendo-lhe relatórios sobre as principais doenças, tratamentos efetuados, número de mortos, qualidade e melhoramen- tos a efetuar nos estabelecimentos de saúde, bem como a relação dos seus empregados e respeti- vas competências.

O subdelegado concelhio estava incumbido de aplicar as determinações do delegado, atra- vés, nomeadamente, da visita aos portos, da verificação da validade dos títulos dos vários empre- gados da saúde, da inibição da venda de remédios proibidos, da vigilância da venda pública de co- mestíveis e bebidas, devendo, ainda, remeter ao Conselho as contas da subdelegação.

O cabeça de saúde, isto é, o regedor da paróquia, tinha por missão não permitir que se enterrassem cadáveres nas igrejas ou em qualquer outro local que não fosse o cemitério, que se conferissem os bilhetes de enterramento sem atestado do médico assistente, ou ordem da autori- dade judicial ou administrativa competente e remeter ao subdelegado, no princípio de cada mês, a relação dos bilhetes de enterramento do mês anterior, acompanhada dos respectivos atestados e o valor das cotas dos emolumentos pertencentes ao Conselho de Saúde.

Os trabalhos do Conselho deviam ser compilados e publicados mensalmente, com a refe- rência às medidas empregues e aos seus resultados e a inclusão de mapas necrológicos, com as observações que demonstrassem o estado sanitário e os progressos obtidos.

O Regulamento previa ainda as funções dos guardas dos cemitérios e, nas disposições finais e permanentes, continha diversas orientações sobre a fiscalização das lojas, vendas e armazéns, das boticas, da obrigação dos médicos dos partidos das câmaras, de notificar os enfermos ao seu cuidado, da fiscalização dos empregados da saúde por parte das autoridades administrativas, da forma de pagamento pelas visitas dos delegados ao distrito e dos termos para a elaboração dos respetivos relatórios.

O regulamento da secretaria do Conselho de Saúde Publica estabelecia que a mesma se organizasse em três divisões. Uma, incluindo o arquivo com os registos das ordens do Governo e das atas do conselho, a contabilidade, o registo do pessoal da secretaria e demais repartições, os negócios referentes à vacina e todos os outros que não pertencessem a outras divisões; outra re- ferente à polícia externa (polícia sanitária dos portos de mar), responsável por todos os assuntos relativos ao serviço de Lazareto e às estações de saúde e suas dependências e, por último, uma divisão para a polícia sanitária interna, urbana e rural308.