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3 APRESENTAÇÃO DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO

3.1 Requisitos de admissibilidade do recurso especial no CPC/73

3.1.4 Regularidade formal

A regularidade formal diz respeito aos requisitos formais que cada recurso deve ter para que seja conhecido pelo tribunal.

No tocante ao recurso especial, os requisitos gerais também se aplicam a este, tais como necessidade de fundamentação e pedido, no sentido de que o apelo recursal deve apresentar os fundamentos que ensejariam a mudança do decisum vergastado e o pedido de reforma da decisão.

Dessa forma, o recurso especial deve atacar especificamente os fundamentos da decisão recorrida, demonstrando os dispositivos legais infraconstitucionais violados ou apresentar, analiticamente, que o acórdão recorrido encontra-se em dissonância da jurisprudência de outro tribunal ou mesmo do STJ, conforme explanado anteriormente.

Além disso, acaso o recorrente não apresente o permissivo constitucional em que se fundamento o recurso especial, o apelo não será conhecido pela aplicação analógica da Súmula 284 do STF, entendendo que haveria um erro na fundamentação do recurso55.

Considerando-se o brocardo jurídico iura novit curia (o juiz conhece a lei), o entendimento acima exposto é excessivamente formalista. Se o juiz tem conhecimento da lei, é possível inferir, facilmente, a qual dispositivo constitucional o recorrente se refere ao demonstrar, no apelo recursal, contrariedade à lei federal, divergência jurisprudencial ou ato de governo local contestado em face de lei federal. Note-se que não existe qualquer erro na fundamentação do recurso, pois a parte apenas esqueceu de colocar a alínea do art. 105 da CF/88 em que se fundamenta o apelo. Assim, a aplicação da Súmula 284 do STF não seria cabível nesse caso, tratando-se de outro exemplo da jurisprudência defensiva.

Nesta senda, acaso a parte interponha recurso especial em face de acórdão

54 Art. 11. O abandono ou desistência do feito, ou a existência de transação que lhe ponha termo, em qualquer fase do processo, não dispensa a parte do pagamento das custas nem lhe dá o direito à restituição.

55 PROCESSUAL CIVIL - NÃO-INDICAÇÃO DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL AUTORIZADOR DO RECURSO ESPECIAL - IMPOSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA CONTROVÉRSIA - SÚMULA 284⁄STF - AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO - SÚMULA 283⁄STF. 1. Os recorrentes, nas razões de recurso especial, não indicaram qual seria o dispositivo constitucional autorizador da via especial. Ainda que se suponha a interposição da irresignação pela alínea "a" do permissivo constitucional, não se demonstrou qual o dispositivo legal violado (Incidência da Súmula 284⁄STF). 2. O recurso especial encontra óbice na Súmula 283 do STF, uma vez que os recorrentes não infirmaram os argumentos adotados pelo voto condutor do acórdão recorrido para negar provimento à apelação interposta. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no Ag 602.206⁄SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17⁄08⁄2006, DJ 12⁄09⁄2006 p. 299)

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fundamentado em matéria constitucional, o STJ não conhece o recurso, sob o fundamento de que o conhecimento do recurso ensejaria invasão da competência constitucional atribuída ao STF56. Dessa forma, se a parte não houver interposto recurso extraordinário, não poderá mais fazê-lo, pois o prazo recursal já haverá sido esgotado ao tempo da decisão do STJ, prejudicando o recorrente.

Ademais, existe uma peculiaridade acerca da regularidade formal do recurso especial, a qual não está presente no exame de admissibilidade dos demais recursos, como se demonstra a seguir.

Para a interposição de qualquer recurso, é necessária capacidade postulatória, sendo exigido que a parte esteja assistida por advogado, público ou particular.

Nesse sentido, o recurso deve ser assinado pelo advogado da parte, sendo necessária a juntada de procuração. Acaso tal documento não seja colacionado, o art. 1357 do CPC/73 possibilita a abertura de prazo para que o vício seja sanado.

Entretanto, apesar do supracitado artigo, o STJ tem entendimento pacificado no sentido de que a ausência de assinatura eletrônica do recurso ou juntada de procuração e/ou substabelecimento é causa de inadmissão do recurso, ainda que o vício seja sanado posteriormente58, em conformidade com a súmula 11559 do tribunal. O fundamento de tal entendimento seria que, nas instâncias ordinárias, o saneamento de irregularidades é possível, mas, na instância extraordinária, a excepcionalidade desta via recursal impediria a aplicação

56 PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO RECORRIDO FUNDAMENTADO EM MATÉRIA CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO STF. 1. Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, não cabe recurso especial contra acórdão fundamentado em matéria eminentemente constitucional. 2. A competência do Superior Tribunal de Justiça refere-se a matéria infraconstitucional. A discussão sobre preceitos da Constituição Federal cabe ao Supremo Tribunal Federal. Assim, inviável o exame do pleito da agravante, sob pena de análise de matéria cuja competência está afeta ao STF, nos termos do art. 102 da Constituição Federal. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp: 1507113 SC 2014/0327966-0, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 05/05/2015, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2015)

57 Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.

58 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO NOS AUTOS. RECURSO INEXISTENTE. REGULARIZAÇÃO DO FEITO. NÃO CABIMENTO. ART. 13 DO CPC. RECURSO INTEMPESTIVO. SUSPENSÃO DOS PRAZOS PROCESSUAIS NO TRIBUNAL ESTADUAL. COMPROVAÇÃO POR DOCUMENTO IDÔNEO. NÃO DEMONSTRADA. CÓPIA EXTRAÍDA DA INTERNET. TEMPESTIVIDADE. NÃO EVIDENCIADA. DECISÃO MANTIDA. [...] 2. Nesta Corte Superior, é pacificado o entendimento de ser inexistente, na instância especial, recurso interposto por advogado sem procuração nos autos, a teor da Súmula nº 115 do STJ. 3. Inaplicável, nesta instância, a providência prevista no art. 13 do CPC, considerando-se não sanável tal vício por juntada posterior de mandato ou substabelecimento, pois a regularidade da representação processual é aferida no momento da interposição do apelo nobre. [...] (STJ - AgRg no AREsp: 643164 PR 2014/0330244-2, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 23/06/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/07/2015)

59 Súmula 115 - Na instancia especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos. (Súmula 115, CORTE ESPECIAL, julgado em 27/10/1994, DJ 07/11/1994 p. 30050)

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do art. 13, pois os atos dilatórios são repelidos nas Cortes Superiores60.

Dessa forma, o entendimento acima exposto vai de encontro a legislação processual, pois não existe justificativa plausível para embasar a aplicação de um dispositivo legal apenas nas instâncias ordinárias, enquanto a instância extraordinária estaria “imune” a tal artigo. Ademais, considerando-se que se trata de mero vício formal, a abertura de prazo para anexar a procuração aos autos não comprometeria o regular andamento processual.

Assim, a súmula 115 do STJ é mais um exemplo da jurisprudência defensiva do tribunal, pois um mero vício formal é capaz de impedir o conhecimento do recurso especial, mesmo existindo dispositivo legal viabilizando o saneamento da irregularidade.

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