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4.3 Dados obtidos com o Método de Rorschach

4.3.2 Análise dos modos de apreensão

4.3.2.1 Respostas G

4.3.2.1.2 Relação com os determinantes

No grupo com assiduidade regular, as respostas G associaram-se a determinantes formais puros (∑= 30; 22+, 2±, 6-), cinestésicos (∑=11; 7+, 2±, 2-), cromáticos (∑=9; 1+, 3-, 5±), de tonalidade (∑=8; 3+, 2±, 3-) e de claro-escuro com tonalidade disfórica (∑=3; 2+,1-). Verificou-se a predominância do controle formal do estímulo, que foi bem sucedido, dada a maior frequência de respostas de boa qualidade formal. Isto ocorreu também com as respostas associadas a determinantes cinestésicos. Já a produção de determinantes cromáticos revelou um movimento de repressão e/ou evitação da mobilização dos afetos. Pode-se perceber, na leitura da tabela 20, que metade dos

1A contagem dos determinantes sensoriais incluiu respostas já registradas em outra categoria de determinante, devido

à presença de determinantes duplos (exemplo: KC, kobE). Este procedimento foi adotado com a finalidade de não perder a riqueza das respostas produzidas pelos sujeitos. Por essa razão, o somatório dos determinantes excede o total de respostas do grupo.

protocolos não apresenta este tipo de determinante. Nos demais, predominou a qualidade formal imprecisa, característica de uma reação emocional menos intensa, mais superficial. Nas poucas tentativas de controle formal sobre a cor, o esforço resultou ineficaz, produzindo respostas de má qualidade formal em sua maioria, evidenciando o efeito desorganizador dos afetos. Em relação aos determinantes de tonalidade, a forma prioritária pareceu conferir um controle frágil sobre os sentimentos de ansiedade, tendo em vista a predominância de respostas imprecisas e de má qualidade formal. Quanto às respostas de claro-escuro de tonalidade disfórica, foram registradas em três protocolos, evidenciando sentimentos de angústia neste grupo. No entanto, a predominância de respostas de boa qualidade formal denota a capacidade de reação frente à mobilização destes sentimentos.

No grupo com assiduidade irregular, as respostas G apresentaram-se associadas a determinantes formais puros (∑= 52; 31+, 2±, 19-), cinestésicos (∑= 17; 10+, 3±, 4-), sensoriais cromáticos (∑= 9; 3+, 2±, 4-), acromáticos (∑=2; 1+, 1-) e de tonalidade (∑= 2; 1-, 1E). Aqui, a tentativa de controle intelectual do estímulo (predomínio de respostas F) foi medianamente bem sucedida, considerando-se o alto número de respostas de má qualidade formal. Notou-se maior projeção cinestésica (todos os sujeitos apresentaram respostas de movimento), que resultou em perceptos de boa qualidade em sua maioria. Quanto aos determinantes sensoriais, constatou-se a repercussão desorganizadora da cor, apesar da tentativa de controle intelectual sobre o estímulo (predomínio de respostas com forma prioritária e má qualidade perceptual), denotando o esforço de manejo dos afetos. As respostas acromáticas foram encontradas em dois protocolos, ambas denotando sensibilidade à cor preta, expressando certa tendência depressiva dos sujeitos que não pareceu constituir uma característica mais geral do grupo. Da mesma forma, as respostas de tonalidade foram raras entre estes adolescentes.

No grupo sem assiduidade, as respostas G também estiveram associadas, em sua maioria, a determinantes formais puros (∑= 26; 14+,12-). No entanto, o controle intelectual do estímulo revelou-se menos eficaz comparado aos demais grupos, resultando em números quase equivalentes de respostas de boa e de má qualidade formal. A projeção cinestésica apareceu nos protocolos de 5 sujeitos, com predominância de perceptos de boa qualidade formal (∑= 13; 8+, 2±, 3-). Neste grupo, as respostas globais cromáticas também foram verificadas em apenas metade dos protocolos, sendo a maioria de má qualidade perceptual (∑= 10; 1+, 3±, 6-), apesar do esforço de controle intelectual sobre a mobilização dos afetos (respostas com forma prioritária). As respostas acromáticas (C’) foram produzidas em dois protocolos que não

apresentaram quaisquer respostas com uso da cor, denotando um movimento de evitação da mobilização afetiva que não se sustentou frente à sensibilidade à cor preta. Contudo, deve-se ressaltar que ambas caracterizaram-se pela boa qualidade formal (FC’+), revelando a presença de recursos para o manejo de sentimentos depressivos. Observou-se também o impacto emocional causado pela tonalidade, dado o expressivo número de respostas de má qualidade formal (∑= 13; 3+, 1±, 9-). As respostas Clob não configuraram uma tendência deste grupo, registrando-se apenas uma resposta de claro-escuro de tonalidade disfórica de boa qualidade formal (FClob+).

Estas diferenças verificadas na comparação dos grupos tornaram-se ainda mais significativas no aprofundamento da análise dos determinantes cinestésicos e sensoriais associados a G, apresentada a seguir:

- Determinantes cinestésicos

Grupo com assiduidade regular (2K+, 1KC-, 1KC+, 4kan+, 1kobC±, 1kanC-, 1kobE±) - Embora tenha sido possível observar uma sensibilidade à projeção cinestésica no grupo (oito adolescentes forneceram este tipo de resposta), cabe ressaltar que a maioria dos sujeitos (seis) forneceu respostas cinestésicas globais cotadas como k menores, sendo as respostas de conteúdo propriamente humano (K) apresentadas apenas por três participantes (S4, S15 e S22). Tal proporção entre as respostas K e k menores é sugestiva de imaturidade (4K<5kan, 2kob). Percebeu-se que quase a metade das respostas (5/11) estava associada a determinantes sensoriais, indicando um possível efeito da cor e da tonalidade na projeção cinestésica. Considerando que a associação com estes determinantes contribuiu para a deterioração da qualidade formal dos perceptos, constatou-se que o aporte dos afetos tem um efeito desorganizador para estes sujeitos.

Grupo com assiduidade irregular (5K+, 1K±, 1KC-, 1kan±, 3kan+, 3kan-, 1kob±, 2kobC+) - todos os sujeitos deste grupo apresentaram respostas globais cinestésicas, evidenciando a capacidade imaginativa, embora em nível mais infantil (7K< 7kan, 3kob). A presença de maior número de sujeitos que forneceram respostas K (seis adolescentes) também refletiu maior disposição ao envolvimento. A sensibilidade cinestésica dificilmente apareceu associada a determinantes sensoriais.

Grupo sem assiduidade (5K+, 1KE+, 1kp-, 1kpC-, 2kan+, 1kan-, 1kobC±, 1kob±) - aqui, somente metade dos sujeitos apresentou projeções cinestésicas nas respostas globais, sendo este o grupo com menor número de protocolos contendo este tipo de determinante. Além da imaturidade indicada pela proporção entre as cinestesias maiores e menores (6K<3kan, 2kp, 2kob), observou-se que a deterioração da qualidade formal ocorreu principalmente nas cinestesias animais (kan), de objeto (kob) e pequenas cinestesias (kp), cotadas como imprecisas ou de má qualidade perceptiva. Por isso, é significativo lembrar a observação de Rausch de Traubenberg (1970/1998, p.113), ao esclarecer que

“Esses elementos menores, substituições da verdadeira projeção ou repressões parciais dos sonhos e das necessidades, podem, quando são numerosos, significar a acumulação, a preponderância dos elementos fantasmáticos infantis ou mórbidos sobre as capacidades de integração com a realidade objetiva e com a identificação real.”

- Determinantes cromáticos

Grupo com assiduidade regular (4CF±, 1kobC±, 1FC-, 1KC+, 1KC-, 1kanC-) – observou-se a tentativa de enriquecimento das projeções cinestésicas com a utilização da cor, nem sempre bem sucedida, dada a maior presença de respostas globais de movimento com má qualidade formal. A evitação do contato com os afetos pareceu caracterizar o movimento do grupo, tendo em vista a quantidade de respostas imprecisas com forma secundária à cor (CF±, kobC±).

Grupo com assiduidade irregular (1CC’F+, 2CF±, 1CF-, 2FC-, 1KC-, 2kobC+) – a cor mobilizou intensamente os sujeitos deste grupo, trazendo um efeito ora enriquecedor (três respostas de boa qualidade formal), ora desorganizador (quatro respostas de má qualidade formal). O impacto emocional provocado pela cor foi observado particularmente nas respostas globais caracterizadas pela tentativa de controle intelectual do estímulo (respostas com forma prioritária - FC, KC), denotando um esforço lógico nem sempre eficaz diante da mobilização dos afetos.

Grupo sem assiduidade (2CF-, 1CF±, 1kobC±, 1FC+, 3FC-, 1FC±, 1kpC-) - Entre os sujeitos deste grupo, o efeito desorganizador da cor mostrou-se mais intenso, dada a predominância de perceptos de má qualidade formal. A tentativa de controle intelectual

do estímulo mostrou-se bastante ineficaz, evidenciando a fragilidade das defesas psíquicas perante a mobilização dos afetos.

- Determinantes acromáticos

Foram verificados nos grupos com assiduidade irregular (1CC’F+, 1FC’) e sem assiduidade – (2FC’+), denotando uma sensibilidade à cor preta em todos os casos, que reflete certa tendência depressiva. Embora tenham ocorrido em poucos protocolos, chama a atenção seu surgimento nos grupos com maior dificuldade de cumprimento da medida socioeducativa.

- Determinantes de claro-escuro

Foram registrados, em sua maioria, no grupo com assiduidade regular (1ClobF-, 2FClob+), evidenciando a presença de angústia entre estes sujeitos. A organização do estímulo em um percepto de boa qualidade formal mostrou a capacidade de reação diante da emergência deste sentimento. Respostas com este determinante não foram verificadas no grupo com assiduidade irregular. No grupo sem assiduidade, houve apenas uma ocorrência, também caracterizada pelo controle intelectual eficaz sobre a angústia despertada pelo estímulo (FClob+).

- Determinantes de tonalidade

Grupo com assiduidade regular (3FE+, 3FE-, 1FE±, 1kobE±) – as respostas de tonalidade foram registradas em seis protocolos. De acordo com Chabert (2004), a utilização do cinza e de suas variações reflete uma afetividade tímida, assim como “a busca ansiosa de adaptação, mais do que a adaptação com êxito” (Chabert, 2004, p.95).

Grupo com assiduidade irregular (1E, 1FE-,)- neste grupo, as respostas de tonalidade foram observadas em apenas dois protocolos. Além de pouco freqüente, este determinante não possibilitou a articulação de perceptos de boa qualidade formal. Cabe esclarecer que a resposta E sem registro de qualidade formal referiu-se ao percepto “fumaça”, apresentado por S21, que não conseguiu explicar como organizou o estímulo (“sei lá! Não sei da onde eu tirei também”).

Grupo sem assiduidade (1KE+, 1EF±, 9FE-) – neste grupo, as respostas de tonalidade mostraram-se freqüentes (presentes em sete protocolos), mas se caracterizaram pela predominância da má qualidade formal. Percebeu-se a tentativa de controle intelectual do estímulo (maior número de respostas com forma como determinante prioritário), mas este esforço não foi eficaz. O efeito desorganizador superou aquele causado pela cor, sinalizando o quanto a busca de adaptação constitui fonte de angústia para estes sujeitos.