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Relação da depressão com a dependência em redes sociais

2.2 DISTÚRBIO MENTAL NA ERA DIGITAL

2.2.2 Relação da depressão com a dependência em redes sociais

A velocidade com que a informação é disseminada na Web permite que as pessoas estejam cada vez mais conectadas e interdependentes destes veículos de comunicação. Em meio à globalização, novas relações ou laços vem se formando e construindo a grande rede, sejam essas interações estabelecidas afetivamente ou profissionalmente. "Nesse sentido, avaliamos a rede social como uma ferramenta de interação social, feita por pessoas e organizações que estão conectadas por afinidade ou alguma razão em comum. São ferramentas em que os usuários podem efetuar um login através de uma conta em qualquer sistema que tenha acesso à internet." (GOMES; REIS, 2016).

Ribas e Ziviani (2008 p. 5) a descrevem como:

É o constante fluir de imagens, informações e mensagens que a rede possibilita, além de ser um espaço de transição, que permite a comunicação permanente, precisa e rápida entre os atores da cena mundial, ou seja, uma maneira de constituir-se socialmente com grande potencial interativo.

Embora o mecanismo seja altamente benéfico em âmbitos comunicativos, sociais e empresariais, 41% dos jovens brasileiros, desencadearam sintomas característicos de ansiedade ou depressão por causa das redes sociais, segundo o Indicador de Confiança Digital (2019) e como demonstrado, a disseminação do alto número percentual é uma informação nova. Outra pesquisa do American Journal of Preventive Medicine, realizado na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos (2017) analisou o comportamento de 1,8 mil pessoas avaliando seus acessos diários às redes sociais e a perspectiva de tempo gasto navegando. A conclusão é de que os mais dependentes delas têm quase o triplo de chances de desenvolver depressão, uma vez que o abuso na interação virtual aumenta essa tendência. O pesquisador Jonathan Haidt (2019), PHD em psicologia social, chega a relacionar o aumento de número de suicídio entre adolescentes com a popularização das redes sociais. Com intenção de desmistificar e esclarecer o tema, o documentário “Dilema das redes” (Jeff Orlowski, 2020), disponível na rede de streaming do Netflix, vem com o propósito de ensinar aos usuários detalhadamente do porque a população estar viciada e não conseguir equilibrar a vida real da virtual. Ao decorrer do documentário, experts da área explicam o quanto essas mídias fazem o possível para prender e manter seus usuários constantemente conectados, já que o engajamento é sinônimo de maior visualização de anúncios na plataforma, o que é igual ao lucro obtido. Uma frase do documentário que diz resumidamente essa questão é “as redes sociais e os traficantes de drogas são os únicos negócios que não chamam os consumidores de clientes, mas de usuários.” E é por essa preocupação e seriedade da situação que os pesquisadores e ex executivos envolvidos no documentário alertam sobre o uso excessivo e regulam o tempo usado pelos seus filhos em redes sociais, além de recomendar que um jovem não use essas mídias antes dos 16 anos.

Outro ponto pertinente do quanto o vício é alarmante foi retirado do livro "O uso de internet e Redes Sociais e a Relação com Indícios de Ansiedade e Depressão em Estudantes de Medicina” (Moromizato, 2017) que traz em uma de suas abordagens um estudo realizado no Círculo Psicanalítico de Sergipe para investigar a correlação entre indicadores do uso da internet e redes sociais e a presença de sintomas ansiosos e depressivos. Dos 169 estudantes que participaram da pesquisa, 98,8% (167) fazem uso diário da internet e/ou redes sociais e foi comprovada a prevalência de diversos indícios do uso prejudicial da internet, bem como a concepção dos participantes sobre seu uso.

É fato que veículos de comunicação interativa sempre abriram espaço para comparação mútua, porém o reconhecimento deste fator em consequência de como nos sentimos é um caminho no qual atualmente há mais rodas de conversa, pela maior importância ao se investigar mecanismos de gatilhos para jovens e o notório crescimento da insatisfação com a própria imagem, na qual se tornou quase uma característica dos novos adolescentes.

Ao mesmo tempo que a Geração Z lida com a exposição online intensamente, eles também dão importância significativa a inteligência emocional, por estarem antenados do quanto esse padrão de “perfeição” imposto está acabando com suas saúdes mentais “Eles cresceram sob essa redoma em que tudo é muito rápido, tem-se acesso a tudo e vê-se a todos em tempo real”, explica Luiz Arruda, diretor da divisão de consultoria WGSN Mindset. “Isso gera uma série de padrões de beleza e de sucesso a serem perseguidos.” (2018, p.12).

Para Elroy Boers, (2020, p.2) doutor em psiquiatria pela Universidade de Montreal, a relação se dá, porque jovens costumam lidar com versões idealizadas da vida real em programas de TV e redes sociais como Instagram e Facebook. A vida perfeita, condição financeira ou corpo ideal de um paradigma inalcançável, são pontos considerados tóxicos para a grande maioria das pessoas, entretanto, as mesmas não buscam alternativas para minimizar a exposição deste tipo de conteúdo.

Um dos aplicativos mais influentes nesta perspectiva de autoimagem é o Instagram, com mais de 800 milhões de usuários ativos, a rede social é uma das preferidas do público. No entanto, o impacto negativo na autoestima dos jovens traz receio quanto ao uso demasiado. Recentemente, os os filtros da plataforma passaram de inofensivos e caricatos para efeitos que transformam completamente o rosto dos usuários; esta fixação por uma aparência irreal e computadorizada pode representar riscos físicos e psicológicos às gerações que são nativas da internet. A diretora do Centro de Pele Étnica do Boston Medical Center, Dra. Neelam Vashi chamou esse fenômeno de “Snapchat

dysmorphia”, que trata da distorção da percepção das pessoas sobre a beleza (2018). Jovens mulheres

norte-americanas tem levado à cirurgiões plásticos fotos de si mesma com filtros como meta de como querem parecer na vida real e é fundamental repensar o por que disto tudo ter começado.

A autoestima tem sido classificada em positiva e negativa (Gallar, 1998; Fundichely e Zaldivar, 1999; Casique, 2004; Romero, 2005; Marsellach, 2006). Quando positiva, o indivíduo tem uma satisfação interna que o preenche e o faz sentir-se feliz, valorizando sua existência. Quando negativa, as pessoas sentem-se inferiores em suas capacidades e habilidades em comparação aos demais, são conformistas e não possuem espírito de luta, como é o caso daqueles que são acometidos por transtorno depressivo. Portanto, a estabilidade e os bons níveis de auto-estima podem ser fatores decisivos para a saúde mental.

Existem inúmeras maneiras de prezar pela melhora da autoestima, relembrando a diversidade que a palavra beleza remete, e expandir seu significado é imprescindível. Beleza, segundo o Dicionário Online de Português (2009 - 2020) é “caráter de ser ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, admiração ou prazer através dos sentidos.” Assim, a palavra não significa se encaixar em características pré determinadas, e sim estar feliz e realizado com a sua própria essência.

2.2.3 Aplicativos em favor da saúde mental

Aplicativos de celular podem ser considerados a nova arma no combate à depressão. O auxílio no tratamento de doenças mentais através do uso da tecnologia é recente e há ainda certa desconfiança do público, em decorrência disso, foram realizadas pesquisas para avaliar a confiabilidade de aplicativos adeptos a esse meio.

John Greist (2013, p.268) conta a história do primeiro estudo comparando psicoterapia feita pelo computador com aquela realizada por trabalho terapêutico. A conclusão da pesquisa demonstrou resultados equivalentes e significativos em ambos os grupos, ou seja, a terapia por computador e a terapia realizada pela terapeuta tiveram resultados semelhantes. Desde então, diversos softwares e aplicativos foram desenvolvidos para auxiliar no tratamento de transtornos psiquiátricos.

A tecnologia está melhorando os cuidados de saúde mental de várias maneiras, principalmente em poder fornecer serviços e informações aos usuários de uma maneira diferente e mais econômica, explicou Lena H. Sun, em artigo escrito para o Los Angeles Times (2015). Sun esclareceu que além dos aplicativos para smartphones que promovem o bem-estar mental, também existem certas plataformas disponíveis que permitem que os pacientes concluam cursos on-line de terapia comportamental cognitiva. Um aplicativo proposto por ela foi O "Big White Wall”, na qual é uma plataforma on-line que permite aos usuários que vivem com problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, possam gerenciar seus sintomas em casa através de ferramentas como recursos educacionais, conversas on-line e aulas virtuais sobre questões de saúde mental. A eficácia do Big White Wall é altamente significativa, já que a criadora do app relatou em um estudo de 2009 que a grande maioria dos usuários do serviço (em torno de de 95%) notou uma melhora em seus sintomas.

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