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Em relação a funções baseadas em localização, quais destas ações você mais costuma realizar em redes sociais?

saturação dentre os usuários. A mudança de rumos anunciada pelo Foursquare, ao criar o aplicativo Swarm e dividir suas affordances e funcionalidades, parece-nos sintomática de como o dado georreferenciado precisou ser angariado por outras estratégias, adotado ou incorporado a outros conteúdos midiáticos.

Quando perguntados quando e onde costumam realizar marcações georreferenciais, nossos respondentes indicaram massivamente situações de viagem: 82,2% dos participantes indicaram essa ação nesse tipo de contexto. Em seguida, aparecem estabelecimentos de entretenimento, como bares, restaurantes e casas noturnas em geral, com 67,8% das pessoas marcando essa opção. Em terceiro lugar, praças, parques ou praias são alvo de 48,9% dos respondentes. Mais uma vez, essa pergunta permitia a marcação de até 3 opções mais representativas. A seguir, no gráfico 6, o resumo dessas respostas.

Uma vez mais, é necessário perceber que essas ações também não se contrapõem de imediato. Alguém pode viajar e fazer um check-in numa praça ou num restaurante do local visitado. Por outro lado, não nos parece que haja situações corriqueiras em que uma pessoa esteja viajando e faça uma marcação georreferenciada ao chegar no seu ambiente de trabalho

– a não ser que, em termos de exceção, ela esteja viajando por motivos profissionais, como ressaltaram os participantes de números 9 (“Quando realizo uma atividade de trabalho e quero divulgar a ação realizada e o local onde a mesma se realiza”) e 83 (“Quando saio a trabalho e faço cobertura da participação”). Mas, no geral, as diversas situações apresentadas são corriqueiras e podem ser concomitantes e complementares.

O que aparece como discussão primordial nesse ponto é o fato de as situações extraordinárias se situarem no topo das preferências por marcações georreferenciadas, enquanto as situações mais comuns não se apresentem tão dignas de tais marcações. As respostas dessa questão, de certa forma, vão em sentido diverso (mas não necessariamente contraditório) dos dados trazidos por pesquisas como as de Noulas et al. (2011), que apontam que ferramentas e serviços baseados em localização são fagocitados pelo cotidiano, sem grandes alterações na rotina diária. Naquele momento, como discutido pelos autores, muitas das marcações georreferenciadas eram realizadas em situações corriqueiras, como a chegada ao ambiente de trabalho ou estudo, ou mesmo quando da chegada ao próprio lar. Essas opções, em nosso questionário, angariaram respostas pouco representativas (apenas 5,6% das pessoas disseram fazer esse tipo de marcação). A discussão possível quanto a essa mudança se dá quanto às propostas lúdicas que eram apresentadas pelo Foursquare naquele tempo e que já não se encontram tão ressaltadas na atual versão do Swarm. Por outro lado, é preciso perceber igualmente que fotos e vídeos (que, como vimos, são de preferência dos respondentes) podem ter mais sentido em situações que lhes pareçam especiais, apesar de também poderem ser amplamente corriqueiras.

Quanto às motivações (pergunta 7, Gráfico 7 a seguir), a resposta que obteve maior número de marcações foi aquela que explicita o gosto por mostrar as próprias movimentações para os amigos (61,1% das pessoas indicaram esse item). Em segundo lugar, o registro da própria mobilidade foi marcado por 44,4% dos respondentes. Em seguida, com 38,9% das indicações, vem a resposta que sublinha a sugestão de lugares para visitar. Com uma pequena margem de diferença, contudo, 34 respondentes (37,8%) disseram que algumas fotografias e vídeos só lhes tinham sentido se fossem localizadas. Uma vez mais, essa questão aceitava até 3 respostas concomitantes.

Esses índices demarcam razões de uso bastante egocentradas, voltadas à gerência das próprias informações e rastros deixados nesses serviços ou pautadas numa finalidade diretamente positiva. Se considerarmos que existe um esforço na utilização desses serviços e que as pessoas esperam uma espécie de recompensa por tal ação, a proposição de utilidade imediata parece bastante clara nesse sentido, especialmente que as situações de viagem ou de momentos de diversão são os principais alvos, como visto na questão 6. Mesmo a vontade de mostrar para os amigos por onde a pessoa esteve não nos parece ser, a priori, de caráter de compartilhamento de experiências (no sentido de desejar amigos no mesmo contexto), mas sim uma espécie de demarcação territorial simbólica, própria de uma necessidade de extroversão (nesse caso, não faz sentido realizar julgamentos críticos a esses serviços, como se lhes pudéssemos imputar culpas por uma suposta “morte da privacidade”; talvez eles simplesmente preencham uma demanda de expressividade inerente ao ser humano). Essa perspectiva está alinhada ao fato de apenas 10% das pessoas encontrarem motivação num encontro fortuito com amigos próximos, o que apenas corrobora a ideia de que a coordenação espacial, com o uso de serviços baseados em localização, é uma atividade que se mostra como exceção – ainda que existente ocasionalmente e bastante útil, a depender de situações e relações específicas. Uma discussão mais detalhada será realizada no eixo sobre coordenação espacial e temporal, logo adiante.

Outras respostas com baixas indicações, por outro lado, levam-nos à compreensão de que antigas promessas e perspectivas otimistas não se concretizaram massivamente. Quando poucas pessoas indicam utilizar serviços baseados em localização para participar de promoções em estabelecimentos comerciais (apenas 6,7%) ou para conhecer novas pessoas (11,1% dos respondentes), esse é um indicativo de que a utilidade em relação ao desbravamento de círculos sociais espacialmente contextualizado é inexpressivo, tanto quanto a eficácia de abordagens promocionais é bastante baixa89, o que nos leva a compreender que tanto a coordenação espacial quanto o encontro face a face dependem de mais variáveis que apenas o posicionamento físico no espaço.

O fato de 38,9% das pessoas se interessarem em dicas de lugares para visitação aponta uma tendência de cada vez mais serviços diversos serem sensíveis e precisos quanto à localização de pessoas e objetos. Além de uma ferramenta de expressão e conectividade sociais (sem necessariamente ser um fomentador de encontros presenciais), a localização articulada em rede apresenta um aspecto de utilidade premente, especialmente se, cada vez mais, buscas e indicações proativas se basearem nos elos sociais de alguém.

Mais uma vez, vale frisar, o aspecto lúdico-competitivo apresentado nesses serviços (hoje limitado ao Swarm, dentre nosso corpus empírico) decaiu bastante, sendo apontado por apenas 14,4% das pessoas como elemento motivador. Esse nos parece mais um indicativo de que essa dinâmica de competição foi bastante concentrada num determinado momento e que, passados mais de cinco anos do lançamento do Foursquare, essa é uma proposta de uso já sem tanto sentido no cenário atual. Não significa, contudo, que a ideia de gamificação não seja útil ou não tenha sua eficácia, podendo ser, afinal, explorada em outras atividades (como nos aplicativos de monitoramento de atividades físicas, se tomarmos algumas das indicações de nossos respondentes).

Ainda sobre as motivações, as respostas dessa pergunta podem nos levar a armadilhas conceituais. Por exemplo, como as pessoas querem manter registros pessoais e ainda assim exibir suas movimentações para os amigos? Para não incorrer num erro de interpretação, é necessário lembrar que cada um dos serviços apontados apresenta configurações peculiares de privacidade. É preciso notar também que a noção de privacidade é performativa e negociada, a depender de círculos de amizade, situações e contextos de interação. Manter um registro das movimentações é uma espécie de diário atualizado, incorporando um tipo de dado que nem 89 Nesse caso, não podemos afirmar se estabelecimentos comerciais (a) não realizam boas promoções baseadas

sempre é possível ou fácil de ser alocado em meios analógicos. Até pouco tempo, lembremos, escrevíamos no verso da fotografia a data e o local da foto. Tais informações hoje estão adicionadas ao próprio ato fotográfico em câmeras digitais e celulares, e, com tais recursos, não fica difícil recuperar esses dados, criando registros particulares (e, em boa medida, essa aglutinação de dados temporais, geográficos e multimidiáticos já é realizada automaticamente por alguns dispositivos e serviços). O modo como as pessoas registram sua história, suas movimentações, suas passagens em geral é um processo que merece uma investigação própria, mas o simples indicativo desse desejo, associado à manifestação pública (mesmo que seletiva, ou seja, para amigos) já nos leva à compreensão de que certos sentidos em torno de dados georreferenciais (assim como as atribuições temporais aos conteúdos publicados) são construções que fogem do isolamento, necessitando de outras pessoas para a complementação dos significados em jogo – o que equivale dizer que o indivíduo não existe por si só, mas em rede, em conexão. Ainda que as razões apontadas girem em torno de uma perspectiva egocêntrica, a utilização factual coloca os sujeitos em ligação com seus pares. A performatividade desse ato não fica explicitada em nossa pesquisa, tampouco foi objeto de nossa atenção, mas os dados e a discussão realizada aqui fornecem apontamentos para pesquisas futuras em torno das estratégias e negociações envolvidas nessa gangorra do que é registro pessoal e conteúdo compartilhável publicamente.

Tão importante quanto as motivações em torno da marcação são os motivos que levam as pessoas a evitá-las. Em termos de inércia, o esperado é a ausência de qualquer marcação – as razões para realizá-las, então, foram discutidas como motivações para o uso de tais serviços e funcionalidades. Mas acreditamos que haja circunstâncias ou razões que impeçam, dificultem ou criem barreiras (mesmo que simbólicas) para que a localização não seja disponibilizada publicamente. Nesse ponto (questão 8), questionamos quando as pessoas deixam de realizar alguma marcação georreferenciada. Não encontrar sentido na disponibilização da localização foi o principal motivo, com 78,9% das pessoas apontando tal resposta. Em seguida, considerar como inapropriado tal ato aparece com 73,3% de indicações. A preocupação com a segurança (ou de pessoas próximas) vem somente em terceiro lugar, com 61,1% dos respondentes marcando esse item. O resumo dessas respostas se encontra no Gráfico 8 a seguir.

Essas respostas nos levam à compreensão de que a violência urbana ou até medos distópicos (vigilantismo, práticas de espionagem, abordagens panópticas etc.) podem influenciar negativamente na disponibilização de marcações georreferenciadas em redes digitais. Ainda assim, a preocupação com as regras e os manejos sociais aparenta ter um peso mais significativo, especialmente se considerarmos a natureza dialógica apontada na pergunta anterior (questão 7), a qual nos indicou que o sentido de atribuição de localização a si mesmo é um processo relacional e de construção de sentido com outras pessoas. Ao unirmos essas duas perguntas (por que realizar uma marcação georreferenciada e por que evitá-la?), podemos ter um quadro referencial a nos indicar que a capacidade desse recurso não é tomada de maneira automatizada, precisando de uma leitura da situação e das formas de propagação dessa informação em rede. Na prática, a situação constituída no ato da marcação georreferenciada (seja um check-in, seja uma publicação localizada) apresenta um aspecto

Gráfico 8: Motivos para a não-realização de marcações georreferenciadas.

Quando acho inapropriado realizar tal ação em determinado contexto

Quando não vejo sentido em atribuir localização às minhas publicações Quando tenho algum receio sobre minha segurança ou a de pessoas próximas a mim Quando tenho vergonha do local onde me encontro Quando não tenho certeza do local onde me encontro Outros 73,30% 78,90% 61,10% 14,40% 6,70% 5,60%

Questão 8: Em que situações você DEIXA DE REALIZAR