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Relação professor/aluno: influências da avaliação nesse processo

1. O SISTEMA DE CICLOS DE APRENDIZAGEM

2.2 A AVALIAÇÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

2.2.4 Relação professor/aluno: influências da avaliação nesse processo

A educação pautada no paradigma positivista tem o professor como o protagonista do processo ensino aprendizagem, por sua vez, o aluno é concebido como um coadjuvante a quem cabe apenas receber as informações, repeti-las e memorizá-las. O docente deve então agir sobre o aluno, incutindo neste os conhecimentos previamente programados no currículo. É uma relação de um sujeito sobre um objeto, caracterizada pela neutralidade, imparcialidade e distanciamento. A função do professor é transmitir o conhecimento. Cabe ao aluno aprender.

As relações são verticalizadas em todas as práticas escolares (ensino e aprendizagem, avaliação, etc.). Logo, são compreendidas como um “agir sobre” no qual apenas um tem voz e vez. Nessa ótica, Esteban (2005) declara que a avaliação é concebida “como uma ação de um sujeito sobre outro que se torna objeto nessa relação” (p.34). Importa destacar também a relação entre avaliador e avaliado que muitas vezes prepondera no âmbito da sala de aula. Quando a aprovação torna-se o cerne do ato educativo, a avaliação passa a mediar a relação professor-aluno, tornando-se um instrumento de poder para o primeiro e de subjugação para o segundo.

A avaliação com função classificatória e sancionadora incita uma relação de coação entre o docente e o discente, a qual La Taille (1997) afirma caracterizar-se por: a) ser unilateral; b) um pólo de interação impor ao outro seu pensamento e suas ordens; c) Exigir repetição e obediência; d) afirmar ou mandar sem maiores explicações sobre as razões das verdades ou ordens impostas.

Para Perrenoud (1999), a avaliação comumente existe na relação pedagógica como um modo de pressão indispensável para que o aluno estude e seja disciplinado. Além disso, um ambiente educativo no qual só o acerto tem valor e apenas os melhores tem o

direito de prosseguir faz com que o aluno omita suas dúvidas, esconda suas fraquezas para que o professor não perceba o que ele não sabe e, por conseguinte, para que não seja punido, seja com uma humilhação pela exposição verbal do seu erro, ou mesmo com a reprovação. Nesse sentido, a avaliação estimula uma relação de desconfiança, um “agir estratégico” do aluno, tornando o processo de ensino e de aprendizagem um verdadeiro jogo de esconde-esconde.

Por outro lado, quando a função social da educação é a formação humana do sujeito multidimensional, a escola se configura como um meio funcional no qual a criança tem contato com a cultura e com novos tipos de relações interpessoais, ampliando a possibilidade de assumir vários papéis em diversas redes de relacionamento, enriquecendo o seu “eu” e, por conseguinte, seu processo de humanização. Com isso, a instituição escolar torna-se um importante espaço no processo de construção de identidades pessoais e coletivas, ou seja, na constituição da natureza humana na qual “o homem precisa interagir com o outro para se preencher, situar-se, significar-se” (SILVA, 2004, p. 32).

Nesse sentido, “a relação professor-aluno aparece sob o horizonte da autoconstituição da humanidade enquanto humanidade solidária e que implica o reconhecimento mútuo de sujeitos” (BOUFLEUER, 2001, p. 86). Sob essa ótica, a ação educativa torna-se, essencialmente, interativa e intersubjetiva, uma ação de sujeitos que se compreendem como tais em um processo recíproco de educação. O educando é compreendido como protagonista do seu ato de construir conhecimento, por sua vez, o professor é o articulador de situações significativas de aprendizagem, aproximando o fazer docente das condições subjetivas e objetivas dos aprendentes.

A relação docente/discente torna-se, assim, uma relação horizontal de colaboração, participação, transparência e confiança. Uma relação em que ambos atuam em conjunto, de forma colaborativa, em uma construção compartilhada de conhecimentos, pautada na argumentação e no entendimento.

Todavia, o ato de avaliar está no cerne dessa relação, ou seja, é essencial, que a avaliação perca seu caráter punitivo para que este clima de confiança se estabeleça, efetivamente, no interior da sala de aula, atuando numa perspectiva interativa, dialógica e includente. Dialeticamente, a avaliação formativa pressupõe um clima de confiança e transparência para que ela se concretize.

É necessário que o aluno compreenda o processo avaliativo como uma ajuda, para que ele possa revelar suas dúvidas, suas dificuldades, suas angústias, suas incertezas,

superando o medo do erro e revelando suas lacunas. O professor, por sua vez, necessita dessas informações para poder compreender os processos mentais dos seus alunos, posto que, na maioria das vezes, estes não são diretamente observáveis.

Portanto, para a que a avaliação torne-se de fato inclusiva, é indispensável uma relação de cooperação entre o educador e o educando. Para La Taille, uma relação de cooperação é caracterizada pela reciprocidade, além disso, a imposição é substituída pela explicação; a obediência é determinada pela concordância; a explicação sumária das verdades é trocada por sua demonstração (1997, p. 40).

Nessa lógica, a prática educativa, inclusive a avaliativa, pauta-se pelo entendimento, através do diálogo, exigindo juízo e deliberação entre os sujeitos do ato educativo. Dessa forma, “o diálogo desempenha uma função fundamentalmente epistemológica, além de educativa, que coloca quem ensina e quem aprende em relação com o conhecimento” (MÉNDEZ, 2002, p. 60). Esteban aponta o diálogo como condição para a consecução de uma avaliação formativa, observe-se:

avaliar como uma ação de um sujeito sobre o outro que se torna objeto na relação se mostra impossível. O que abre a possibilidade da avaliação com o outro, em que avaliar é indagar e indagar-se, num processo compartilhado, coletivo em que todos se aventuram ao conhecimento buscando o autoconhecimento. Processo em que a interação sujeito-sujeito é indispensável e insubstituível (2005, p. 34). Quando a avaliação é realizada de forma interativa e dialógica constitui um mecanismo democrático, contribuindo para que o educando compreenda-se enquanto sujeito desse processo, propiciando ações emancipatórias e transformadoras, em oposição às posturas objetivadoras que resultam em práticas autoritárias e desumanizadoras.