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A primeira parte da presente pesquisa consistiu em avaliar as relações entre Estratégia e Informatização das organizações da amostra. Para este fim, utilizou-se a prova H (Prova de Kruskall-Wallis) e o coeficiente de Spearman, dada a natureza das variáveis envolvidas na análise. Vale lembrar que a variável Informatização foi medida por meio de três construtos: Infra-estrutura, Uso e Gestão. Portanto, foi realizado o cruzamento da variável Estratégia com estes três construtos que envolveram, na sua totalidade, 58 variáveis. Constatou-se relações significativas entre Estratégia e quatro variáveis de Infra-estrutura e Estratégia e uma variável de Gestão. Não foi constatada nenhuma relação significativa entre Estratégia e as variáveis de Uso. Os resultados significativos são apresentados a seguir.

4.2.1 Estratégia e Infra-estrutura

Para analisar-se esta relação, a variável Estratégia foi cruzada com as 17 variáveis que compuseram o construto Infra-Estrutura (ITEQP, ITMOV, ITTEMRED, ITREDE2, ITINTER2, ITSERV, ITSERVPP, SICLIEN, SIFINAN, SIVENDA, SIFISC, SISERVI, SIPEÇA, SITRADEP, SITRAAD, SIFRODEP e SIFROADE). Vale observar que as variáveis ITREDE (porcentagem de equipamentos conectados à rede interna) e ITINTER (porcentagem de equipamentos conectados à Internet), que eram contínuas, foram transformadas em categóricas, respectivamente denominadas de ITREDE2 e ITINTER2, para melhor adequação aos cálculos estatísticos. Para este construto, criou-se também a variável ITEQP2, que representa a divisão do número de funcionários por equipamentos,

medida também usualmente utilizada em pesquisas sobre informatização. Considerou-se o nível de significância a 10% (HAIR et al, 2005, p. 312). As relações significativas são apresentadas no Quadro 17, abaixo.

QUADRO 17 – ESTRATÉGIA E INFRA-ESTRUTURA

ITEQP ITQP2 ITMOV SIFROADE

Qui-quadrado 1,406 5,271 5,408 6,042

df 2 2 2 2

Significância 0,025 0,072 0,067 0,049

FONTE: Pesquisa de campo

Pelos resultados acima, verifica-se que existe relação significativa entre a estratégia e o número de equipamentos (ITQP) das empresas da amostra. O cruzamento de dados revelou que, na amostra, as organizações do tipo Prospector têm um número maior de equipamentos do que as dos tipos Analyser e Defender. As organizações do tipo Defender são as que apresentam as menores quantidades de equipamentos em suas organizações, enquanto que nas do tipo Analyser verifica-se uma distribuição equilibrada no tocante ao número de equipamentos, embora a maioria destas empresas também esteja na faixa de menor número de computadores, quando comparadas às Prospectors.

Com relação ao número de funcionários por computadores (ITQP2), verifica-se que as empresas do tipo Prospector da amostra são as que apresentam, em geral, o menor número de funcionários por equipamento (a maioria delas concentra-se na faixa de 1,36 a 1,67 funcionário por computdor), enquanto as do tipo Analyser e Defender tendem a apresentar um número maior de funcionários por equipamento. As organizações do tipo Analyser concentram-se na faixa de 1,67 a 2,86 empregados por computador. Já a maioria das Defender estão na faixa de 2 a 3,44 (número máximo) empregados por computador.

Quanto aos equipamentos móveis, as organizações do tipo Prospector da amostra tendem a ter o maior número deste tipo de equipamentos: das 16 organizações deste tipo, 6 (37,5%) têm entre 5 e 12 (número máximo) equipamentos móveis. As empresas do tipo Defender e Analyser são as que apresentam as menores quantidades de equipamentos móveis (a maioria situa-se na faixa de até 4 equipamentos), sendo que quase metade das do tipo Analyser (9 entre 21 organizações da amostra) não têm nenhum equipamento móvel.

O maior investimento das empresas do tipo Prospector em equipamentos pode ser explicado pelo problema de engenharia que caracteriza estas organizações: como evitar comprometimentos de longo prazo com um único processo tecnológico (MILES e SNOW, 1978; MILES et al, 1978), o que pode incluir os investimentos em hardware.

Vale destacar também que a maioria das empresas do tipo Prospector é de tamanho grande (10 entre 16), enquanto a maioria dos Defenders (8 entre 12) é de empresa pequenas, o que pode explicar o maior investimento em computadores das primeiras. Já as empresas Analyser apresentam uma distribuição equilibrada com relação ao tamanho, sendo que o maior número é de empresas médias (9 entre 21).

A análise da relação entre a estratégia e a dependência dos módulos front office (SIFROADE), ou seja, sistemas voltados para o atendimento aos clientes, sugere que as organizações do tipo Defender apresentam o maior nível de dependência deste módulo:

das 12 organizações deste tipo, 4 declararam ter dependência muito alta e 3 declararam dependência alta. Isso significa, como descrito no questionário (Apêndice 1), que quanto mais alta a dependência, mais afetadas ficam as operações da empresa se o sistema se tornar inoperante. As empresas do tipo Prospector apresentam também alto nível de dependência: das 16 organizações deste tipo, 9 declararam ter dependência alta.

O fato de as empresas dos tipos Defender e Prospector apresentarem níveis de dependência altos deste tipo de módulo pode ser explicado pela própria característica destas organizações com relação à tecnologia e à gestão: os Defenders buscam o mais alto nível de eficiência possível, que pode ser proporcionada pela informatização, entre outros fatores, e os Prospectors procuram diversidade tecnológica e meios de facilitar as operações organizacionais (MILES e SNOW, 1978; MILES et al, 1978, que também podem ser proporcionados por meio da informatização de processos (LAUDON e LAUDON, 2004).

As empresas do tipo Analyser são as que apresentam os níveis mais baixos de dependência do módulo front office: das 21 organizações, 8 declararam dependência média, 3 declararam dependência baixa e 3 declararam dependência muito baixa. O fato de que as operações destas empresas sejam pouco afetadas caso este sistema se torne inoperante sugere que a baixa informatização vai ao encontro das características deste tipo de organização, que busca o equilíbrio entre a flexibilidade e a estabilidade tecnológicas (MILES e SNOW, 1978; MILES et al, 1978).

4.2.2 Estratégia e Gestão

O construto Gestão abrangia originalmente 10 variáveis: GPESTI, GPESTER, GPLAN, GDESSIS, GSISCON, GSISMON, SOFTHOU, GSISSOF, INVEST e INVFAT.

As duas últimas variáveis, INVEST (investimento e despesas em TI em 2005) e INVFAT (porcentagem do faturamento investido em TI), como já mencionado, foram descartadas da análise pelo baixo índice de respostas. As variáveis GSISCON, GSISMON e

respectivamente denominadas de GSISCON2, GSISMON2 e SOFTHOU2, para se adequarem melhor aos cálculos estatísticos. Considerou-se o nível de significância a 10%

(HAIR et al, 2005, p. 312).

A única variável de Gestão que apresentou relação significativa com a estratégia das empresas pesquisadas foi a GSISMON2 (sistemas desenvolvidos pela montadora), conforme Quadro 18, abaixo.

QUADRO 18 – ESTRATÉGIA E GESTÃO

GSISMON2 Qui-quadrado 7,320

df 2

Significância 0,026 Fonte: Pesquisa de campo

A análise revelou que as organizações do tipo Prospector utilizam a menor proporção de sistemas desenvolvidos pela montadora: 13 das 16 organizações têm até 19% dos sistemas desenvolvidos pela montadora, considerando-se todos os sistemas utilizados. Isso pode ser interpretado como uma maior independência da montadora neste aspecto, que é uma das principais atividades de gestão de TI. Vale lembrar, novamente, que este tipo de organizações evita comprometimentos de longo prazo com um único processo tecnológico (MILES e SNOW, 1978; MILES et al, 1978), processo este (desenvolvimento de sistemas) que pode ser executado pela própria concessionária, pela montadora ou pela software house.

As empresas do tipo Analyser também tendem a utilizar menores proporções de sistemas desenvolvidos pela montadora: das 21 organizações, 10 têm até 19% dos

sistemas desenvolvidos pela montadora e 8 têm entre 20% e 39% dos sistemas desenvolvidos pela montadora.

As organizações do tipo Defender são, proporcionalmente, as que mais utilizam sistemas desenvolvidos pela montadora: das 12 empresas, 4 têm de 40% a 59% dos sistemas desenvolvidos pela montadora e uma empresa tem mais de 80% dos sistemas desenvolvidos pela montadora. Mais uma vez, o fator pode ser explicado pela busca da máxima eficiência (utilizando-se de sistemas já desenvolvidos pela montadora, em vez de desenvolver os próprios ou encomendá-los a uma software house). Vale observar que o tamanho das organizações, neste caso, pode ser uma variável interveniente: em sua maioria, as empresas Defender são pequenas.