• Nenhum resultado encontrado

2.1 ESTRATÉGIA

2.1.2 A Tipologia de Miles e Snow

A tipologia de estratégias proposta por Miles e Snow (1978) parte do princípio de que, para a maioria das organizações, o ajuste ao ambiente, definido pelos autores como uma rede de influências e relacionamentos em que a organização está inserida) é bastante complexo e abrange uma série de decisões e comportamentos de diversos níveis da organização. Portanto, para analisar a adaptação das organizações ao ambiente, os autores propõem um quadro de análise teórico que considera a estratégia, estrutura e processos.

Este quadro de análise tem dois elementos principais: a) um modelo geral dos processos de adaptação que especifica as principais decisões necessárias às organizações para manter um alinhamento efetivo com o seu ambiente; e b) uma tipologia organizacional que apresenta diferentes padrões de comportamento adaptativo dentro de um setor ou outro agrupamento.

Miles e Snow (1978) desenvolveram um modelo do processo adaptativo, que chamaram de ciclo adaptativo, formado pelos problemas empresariais, de engenharia (ou tecnológicos) e administrativos.

O problema empresarial refere-se basicamente ao domínio mercado, para o qual a solução é buscada por meio da “imagem”2 [aspas dos autores] que define a organização e o mercado, bem como a orientação da primeira a este último.

______________

2MILES, R. E et al. Organizational Strategy, Structure, and Process. The Academy of Management Review, 1978, p. 549.

O problema de engenharia envolve a criação de um sistema que resolva o problema empresarial, geralmente por meio da seleção da tecnologia apropriada para este fim.

O problema administrativo refere-se à redução da incerteza no sistema organizacional, o que envolve mais que a racionalização do sistema, mas também a formulação e implementação de processos que capacitam a organização a continuar a se desenvolver, ou seja, inovação (Miles e Snow, 1978; Miles et al, 1978).

A movimentação das organizações dentro do ciclo adaptativo para a solução dos problemas acima referidos caracteriza os tipos de organizações. Desta forma, Miles e Snow (1978) categorizam-nas em três tipos: Defenders, Analysers e Prospectors, sendo que um quarto tipo, o dos Reactors, aparece como uma forma de falha estratégica, quando há inconsistência entre a estratégia, a tecnologia, a estrutura e os processos da empresa.

Os autores observam que nas organizações maduras, os gestores precisam resolver cada um destes problemas simultaneamente, embora para a discussão teórica eles sejam apresentados seqüencialmente.

Miles e Snow (1978) também chamam a atenção para o fato de que as decisões de adaptação feitas num dado momento tendem a dificultar mudanças da estrutura organizacional no futuro.

A tipologia de Miles e Snow (1978) parte do princípio de que há mais de uma maneira de prosperar num determinado ambiente ou numa determinada indústria. Este aspecto estimulou e continua servindo de base para inúmeros estudos desde sua proposta há quase três décadas.

A tipologia tem sido usada não apenas em pesquisas na área de estratégia, mas também nas áreas gestão de recursos humanos, marketing, tecnologia e gestão de

No Quadro 1, a seguir, é apresentada a tipologia de estratégias proposta por Miles e Snow (1978), com os quatro tipos de organizações (Defender, Prospector, Analyser e Reactor), as definições de cada categoria e os respectivos problemas empresariais, de engenharia e administrativos.

QUADRO 1 - TIPOLOGIA ESTRATÉGICA DE MILES E SNOW

Defender

Define e mantém um ambiente para o qual uma forma de organização estável é apropriada. Desenvolve uma tecnologia principal que é altamente eficiente em custo. Gestão fortemente focada em custos e eficiência. Para os competidores, é difícil tirá-la deste pequeno nicho, mas uma grande mudança no mercado pode ameaçar sua sobrevivência. Problema empresarial: como lacrar uma fatia do mercado total a fim de criar um domínio estável produzindo apenas um conjunto limitado de produtos dirigidos a um estreito segmento do mercado potencial total.

Problema de engenharia: como produzir e distribuir mercadorias ou serviços tão eficientemente quanto possível. Problema administrativo: como fazer um controle estrito da organização a fim de garantir a eficiência.

Prospector

Define um ambiente mais dinâmico do que outros tipos de empresas no mesmo setor. Sua capacidade principal é encontrar e explorar novas oportunidades de produto e mercado, portanto investe pesadamente neste fator. A reputação de inovador pode ser mais importante do que ter alta lucratividade. Problema empresarial: como localizar e desenvolver oportunidades de produto e mercado.

Problema de engenharia: como evitar comprometimentos de longo prazo com um único processo tecnológico. Problema administrativo: como facilitar, mais do que controlar, as operações organizacionais.

Analyser

Tenta minimizar os riscos e maximizar a oportunidade de lucro. Move-se em direção a novos produtos e mercados somente se a viabilidade tenha sido comprovada (imitação). Apresenta altos níveis de padronização e mecanização na tentativa de ter eficiência de custo. Problema empresarial: como localizar e explorar novas oportunidades de produto e mercado mantendo simultaneamente o foco nos produtos e clientes tradicionais. Problema de engenharia: como atingir e proteger um equilíbrio entre as demandas conflitantes pela flexibilidade e pela estabilidade tecnológicas. Problema administrativo: como diferenciar a estrutura e os processos da organização para acomodar áreas de operação dinâmicas e estáveis.

Reactor

Exibe padrão de ajustamento ao ambiente inconsistente e instável. Carece de um conjunto de mecanismos de resposta às mudanças do ambiente, portanto permanece num estado quase perpétuo de instabilidade. O ciclo “adaptativo” [aspas dos autores, Miles et al (1978, p. 557)] dos Reactors consiste em responder de forma inapropriada à mudança e à incerteza ambiental, com desempenho baixo e tornando-se relutante em agir agressivamente no futuro. Portanto, é uma estratégia “residual”

[aspas dos autores Miles et al (1978, p. 557)] emergindo quando uma das outras três estratégias foram seguidas de forma não apropriada.

FONTE: Adaptado de MILES, R. E; SNOW, C.C. Organizational Strategy, Structure, and Process.

Nova York: McGraw-Hill, 1978 e MILES, R. E et al. Organizational Strategy, Structure, and Process. The Academy of Management Review, 1978.

Vale registrar que o modelo de Miles e Snow (1978) sofreu algumas críticas com relação à generalidade dos tipos de estratégia propostos e a relação com o grau de desempenho das organizações, uma vez que estudos empíricos revelaram desempenhos diferentes para estratégias semelhantes (WALTER e RUEKERT, 1987; SLATER e NARVER, 1993).

Zahara e Pearce II (1990), por sua vez, sugerem que a relação entre a tipologia proposta por Miles e Snow (1978) e o desempenho das organizações pode ser mediada por fatores como o tamanho da organização, os atributos do ambiente e a consistência entre a estratégia e os processos organizacionais.

Entretanto, é importante destacar que a tipologia destes autores foi validada por diversos pesquisadores como, por exemplo, Hambrick (1981), Segev (1987) e James e Hatten (1995), entre outros estudiosos, e amplamente utilizada desde que foi proposta no final dos anos 70.

Os próprios autores ocuparam-se em aprofundar o quadro teórico proposto nos estudos subseqüentes, especificamente no tocante à consistência entre estratégia, estrutura, processos e desempenho (SNOW e HREBINIAK, 1980; MILES e SNOW, 1984) e à formação e interação de organizações em rede derivada de mudanças tecnológicas e da globalização em artigos de Miles e Snow (1984, 1986, 1992, 1994), Snow, Miles e Coleman Jr. (1992) e Miles e Snow (1995).

Nos anos 2000, os autores agregaram mais uma forma organizacional, a Empreendedora (Miles, Snow e Miles, 2000), que não será considerada neste estudo, uma vez que o modelo de 1978 apresenta maior número de validações, conforme os estudos já citados.