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4.3.1 Relações entre a Igreja e o Estado em Cuba desde a Revolução

Segundo investigações,341 no ano de 1959, 95% da população cubana apoiava a Revolução. Ao mesmo tempo, esse era o percentual dos que se afirmavam religiosos. Logo, certa quantidade de sacerdotes se assustou com a linha socialista radical assumida por Castro e a Igreja Católica começou a considerar a relação entre Cuba e União Soviética como algo negativo, além do fato de boa parte de suas propriedades terem sido nacionalizadas em Cuba. Os anos 60 foram um período de restrição das atividades religiosas: eliminou-se o Natal do calendário civil; os religiosos não poderiam afiliar-se ao Partido Comunista Cubano (PCC); não poderiam fazer reunião de massas em áreas públicas, dentre outras restrições. Nos anos 70, diminuiu um pouco a discriminação direta. No entanto, Cuba e a URSS aproximavam-se ainda mais, o que produziu um ensino escolar de base ateísta, onde religião igualava-se à ideologia. Em fins dos anos 70, o governo cubano e a ala progressista da Igreja identificaram um inimigo comum: as ditaduras latino-americanas apoiadas pelos Estados Unidos.

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MOOR, M. J. Aguantar, condescender y criticar: La Iglesia cubana y el régimen revolucionario (1959-2000). In: Las teologías cubanas: de buena fe en el futuro. El rol (potencial) de las iglesias en el proceso de

democratización en Cuba. Pax Christi Holanda. 7 de oct. 2005. Disponível em:

<http://www.cubacenter.org/media/recent_briefs/rapport%20definitief%20spaans.pdf> Último acesso em:

09.12.06 p d fMachine

Em Cuba, tem-se liberdade de culto, porém não se tem liberdade religiosa. Não há livre acesso ao sistema publicitário, nem aos periódicos. Desde 16 de abril de 1961, quando declarou-se o caráter socialista da Revolução, forçado pelo episódio da Baía dos Porcos, os colégios católicos e protestantes passaram às mãos do governo Revolucionário que privou a Igreja do domínio da prática educacional e hospitalar, sobrou-lhes, entretanto, os Seminários. Por conta das querelas entre Igreja e Estado, diversos sacerdotes católicos, pastores protestantes e leigos das diversas igrejas exilaram-se no exterior ou foram expulsos.

A situação inicial no ambiente religioso logo após a Revolução foi a de uma divisão em três grandes grupos, como nos diz Noel Collot:

os que não podiam viver sob este fenômeno revolucionário, porque não se podia ser cristão em uma sociedade socialista e preferiram debandar-se para outros espaços; os que preferiram abandonar a fé e as igrejas e somar-se à corrente ateísta em voga e que lhes brindaria, assim diziam muitos, oportunidades de estudo e trabalho sem contratempos nem discriminações. Afortunadamente, houve um terceiro grupo [...] que preferiu permanecer dentro da Igreja e manter firmes suas convicções. Não passou muito tempo para que este “remanescente” se fragmentasse em dois. Uns que converteriam a Igreja em um grande gueto, isolando-se das debilidades do mundo, da participação social e assumindo a fé como “ópio”. Os outros, os que preferíamos enxergar “do sol a luz” e fazer tudo o que fosse possível para que “a Igreja fosse a Igreja” e assumisse seu papel profético ao lado do bem,

da justiça e do progresso, tomando partido.342

O mesmo autor nos diz que nesta empreitada de nada serviam os antigos manuais fornecidos à Igreja. A nova perspectiva viria pelas mãos do MEC e da Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos (FUMEC), através do envio de textos teológicos que foram repartidos em todo país, assim foi com o pensamento de Bonhoeffer, Brunner e Barth, dentre outros, além da entrada via professores que estudaram no exterior. São exemplares os textos que circularam ainda nos anos 60: El Evangelio para Ateos, de J. Hromadka, Honestos para con Dios, do bispo Robinson e Un pastor en la Alemania Oriental, que tornou conhecido o esforço teológico desenvolvido em outra sociedade socialista, a República Democrática Alemã.343

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COLLOT, Noel Fernández. La teología cubana: una mirada a sus aportes y desafíos desde la segunda generación. Selecciones de Cuba teológica. Revista del Seminario Evangélico de Teología. Ciego de Ávila, 12 de abril de 2005. Disponível em: <http://www.cuba-theological-seminary.org/SELECCIONES-DE-CUBA- TEOLOGICA. htm> Último acesso em: 09.12.06

343 REYES, Adolfo Ham. Teología y tradiciones nacionales: una visión protestante. In: Filosofía, teología,

literatura: aportes cubanos. Disponível em: <http://www.ensayistas.org/critica/cuba/fornet/ham.htm> Último

acesso em: 09.12.06. p d fMachine

Com a Revolução na Nicarágua, Cuba teve um novo aliado. Por conta da proximidade geográfica, começou um vivo intercâmbio de pessoas entre estes países, e os cubanos puderam observar que revolução e Igreja podiam colaborar. Em 1985, sai publicada a entrevista de Fidel Castro realizada por Frei Betto sobre Fidel y la Religión.344 No mesmo período, Fidel deixou-se mostrar com a Bíblia na mão em seu encontro com Jesse Jackson, proeminente político afro-americano e pastor batista.

A desintegração da União Soviética trouxe graves conseqüências em todas as esferas da vida cubana. A teologia não esteve ausente deste terrível momento. Segundo Collot, alguns pensaram em reviver a Teologia da Esperança, porém outros fizeram nascer o que ele chama de uma teologia da desesperança, forjada sobre os “apagões”, falta de transporte, carência de alimentação, etc. Diante da situação vivida no chamado “período especial”, a Igreja tem adquirido cada vez mais um enorme prestígio perante o povo, porque ela tem se ocupado de atender aos pobres: cuidando dos doentes, através da oferta de medicamentos, etc. Porém, desde 1990, percebe-se uma aproximação entre a Igreja e o Estado Cubano. Contudo, somente a partir de 1991, as pessoas religiosas poderiam afiliar-se ao PCC e, em 1992, se eliminaram da constituição todas as referências ao ateísmo.