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Objetivando alcançar o ponto de vista das crianças no que se refere às relações interpessoais em contexto hospitalar, foi questionado às mesmas: Quem são as pessoas que cuidam de você no hospital? Assim, parte-se da perspectiva que o cuidado expresso na pergunta, possa obter das crianças reflexos de como ocorriam as relações interpessoais no hospital, indo além do ato de “ser cuidado”, mas de “sentir-se cuidado”. Diante disso, as respostas foram agrupadas em três categorias predominantes durante as entrevistas como explanada na Tabela 7:

Tabela 7 - Percepções das crianças pesquisadas em relação aos seus cuidadores.

CRIANÇAS CATEGORIAS f %

A, B, C, D, E, F, G, H, I Família 8 80%

A, B, D, E, G Profissionais da Saúde 5 50%

Analisando-se a tabela 7, foram estabelecidas categorias, que envolviam:

familiares e profissionais da saúde. Desta forma, 80% das crianças revelaram ser cuidadas

por seus familiares (A, B, C, D, E, F, G, H, I) e 50% (A, B, D, E, G) por profissionais da saúde, como pode ser visto nas falas seguintes:

É meu pai... (Criança A)

Os médicos, minha mãe e meu pai (CriançaB) Minha mãe e meu pai (Criança C)

As “enfermeira”, a minha mãe, só. (Criança D) Meu pai e todo mundo. (Criança E)

É... meu pai, minha mãe, meu tio, e... minha avó...só (Criança F) Os “médico”, minha mãe... (Criança G)

Sei lá, só minha mãe que cuida de mim (Criança H) A minha mãe que vem comigo todo dia (Criança I) É a mãe. (Criança J)

As restrições dos cuidados das crianças pelos seus familiares expressas em suas falas e a extensão desse cuidado aos profissionais da saúde, podem ser analisadas através de duas perspectivas, que mais se aproximam de seu contexto, como enfatizado anteriormente: o ato de “ser cuidado” e o “sentir-se cuidado”. Esse cuidar oriundo dos familiares pode envolver questões afetivas, através do vínculo familiar, o compartilhamento das vivências e experiências, tendo em vista que os familiares acompanhantes dedicam sua vida à luta diária ao tratamento de saúde de seus filhos (as) e/ou crianças, as quais são responsáveis desde o início da descoberta da patologia, alguns já há longos anos.

Essas questões são enfatizadas por Saccol, Fighera e Dorneles (2004) quando discorrem que o vínculo e acolhimento pela família e pelos profissionais de saúde são essenciais para garantir a integridade físico-emocional da criança, evitando prejuízos dessa ordem. As relações permanecendo saudáveis e as crianças sentindo-se acolhidas, facilitam a aceitação da criança à realidade que vivem, bem como amenizam os impactos da hospitalização e/ou atendimento ambulatorial hemodialítico.

O cuidado oriundo dos profissionais da saúde relatado pelas crianças, pode ser também de caráter afetivo, dependendo da relação estabelecida em contexto hospitalar aos mesmos. No entanto, é representado predominantemente pelas crianças, devido ao tratamento da saúde. Assim, a criança pode ser cuidada e ter ciência disso, porém não sentir-se cuidada, o que caracteriza dimensões diferenciadas que se intercalam entre o cuidar e o tratar.

Em consonância com Borges (2010) a ação de cuidar transforma tudo que mobiliza a energia de vida, ou seja, redimensiona os efeitos causados pela hospitalização. Desta forma, entende-se que o tratar exclui o indivíduo e se centra na doença, sem se preocupar com a essência do ser e acarreta prejuízos aos seus estados físico, psíquico e social

subitamente para tratamento hospitalar ou ambulatorial. Além disso, tem-se o cuidar, que irá atender tão somente de todo o processo de tratar e cuidar da doença, mas também do ser que ali se encontra, de forma que amenize seu estado e atenda integralmente às suas necessidades apresentadas, emergindo no princípio da humanização, ou seja, em um cuidado humanizado.

Como retratado por Fontes (2007) a pessoa acometida por uma enfermidade, especialmente a criança, precisa ser reconhecida enquanto ser social e não pela sua enfermidade, sendo essencial nesse processo a sensibilização e o acolhimento afetivo, pela família e pelos profissionais de saúde. A criança assim deve ser participante ativa durante sua permanência no hospital e este deve estar em consonância com o seu universo relacional e social, para que de fato possa se efetivar a humanização. Complementando este olhar, foi indagado às crianças: Como são as pessoas no hospital? Objetivando conhecer como ocorrem as relações interpessoais entre crianças e profissionais da saúde e/ou demais pessoas no hospital.

Tabela 8 - Percepções das crianças pesquisadas em relação às pessoas do hospital.

CRIANÇAS CATEGORIAS f %

A, B, D, F, G, H, I, J Consideram legais, os profissionais e outras pessoas do hospital.

8 80%

C, E, H Consideram boas, os profissionais e outras pessoas do hospital.

3 30%

Fonte: Elaborado pela Autora (2016).

O convívio saudável no âmbito hospitalar é imprescindível para manter a harmonia em processos tão invasivos que são a hospitalização e a hemodiálise. As crianças e as famílias em situação de tratamento de saúde precisam se doar inteiramente às exigências hospitalares, para assim obterem êxito na saúde. Em relação às crianças pesquisadas, os olhares em relação às pessoas do hospital dividiram-se, alguns bem gerais e outros bem específicos. No entanto, as crianças detalharam suas respostas em relação a essas questões.

A maioria das crianças, correspondendo a 80% da totalidade, respondeu que as pessoas do hospital eram legais e 30% se expressaram, dizendo que são boas Algumas detalharam um pouco mais suas falas, mostrando algumas insatisfações e outras grandes satisfações:

B)

“As enfermeira” são legal, tem uns que não são muito não. “Só um que não gosto”. (Criança A)

Boa. (Criança C)

Mais ou menos. Só umas duas, são legais. (Criança D) Boas. (Criança E)

São boas. (Criança F) Legal. (Criança G)

São boas, são legais. (Criança H)

São legal, tem umas que, nem falam assim não, mas são legal. (Criança I) Sei lá... são legal. (Criança J)

Assim, destacam-se as falas das crianças B e I. A Criança B ressaltou que a maioria das pessoas é legal em seu ponto de vista, especialmente os médicos que o acompanham desde a gestação de sua mãe, demonstrando carinho, gratidão e uma relação saudável perante eles. A Criança I revelou em sua fala a ausência dos diálogos entre as pessoas no hospital, especialmente, em relação a outras crianças que nem sempre é possível, por permanecer grande parte do tempo na máquina de hemodiálise, dificultando esta relação. Sendo uma criança muita comunicativa, exprimiu em suas tristezas e alegrias, à necessidade de conversar com alguém, por sentir-se presa, impossibilitada de brincar e estudar, tendo em vista que esses processos são proporcionadores de socialização. Em sua fala a Criança I relatou o seguinte:“Só um que não gosto”.

Como relatado na pesquisa de Amorim (2014) as relações sociais representam a autoidentidade da criança. Complementando esse pensamento Silva (2011) afirma que as desordens causadas pela doença crônica podem ocasionar prejuízos das relações sociais, necessitando de acomodações especiais e adesão de cuidados que favoreçam a amenização desses impactos.

O vínculo com a equipe médica é fundamental, considerando os contextos da hospitalização e da hemodiálise, pois todo o estado clínico da criança, assim como a construção de suas expectativas e perspectivas de vida, depende do parecer do profissional da Medicina. As crianças e as famílias ficam ansiosas, à espera das visitas médicas, buscando conhecer o estado de saúde que se encontram, quais procedimentos se submeterão, principalmente, a alta hospitalar, para as crianças que estão em processo de hospitalização. Assim, a palavra tem grande significância em suas vidas e a partir dessas relações, são atribuídos sentimentos adversos, frustrações e impactos, tornando assim as interações delicadas, que necessitam de muita cautela em suas expressões.

no contexto hospitalar, são imprescindíveis os contatos, considerando que o ser humano é um ser sociável. Assim, as relações com profissionais da saúde, familiares, outras crianças e demais pessoas do hospital podem ser representativas à criança, ou mesmo, restritas a ponto de sentirem necessidade de relacionar-se. Em compatibilidade com Pennafort, Queiroz e Jorge (2012) as crianças sentem falta das relações, que mantinham fora do hospital, sofrendo com a ausência delas e buscando de alguma forma as relações no contexto hospitalar, que possam suprir essa necessidade de relaciona-se.

As demais crianças (A, C, E e H) restringiram-se na caracterização das pessoas do hospital em “Boas e legais”, talvez motivadas por se sentirem amparadas e acolhidas, considerando que a maioria das crianças possui o discernimento da necessidade de estar ali para se curarem ou pela convicção de estarem doentes, bem retratado por Ribeiro e Angelo (2004).

Considerando todas as questões já abordadas, que variam entre sentimentos, sensações e o ponto de vista das crianças em relação ao hospital e às pessoas que as rodeiam, compreender como ocorre o contexto concretamente, fez-se necessário. Assim buscou-se entendimento no que se refere ao cotidiano dessas crianças, seja em processo de hospitalização e/ou atendimento ambulatorial hemodialítico, objetivando averiguar se há práticas pedagógicas adotadas pelo hospital em prol de seus direitos, sobretudo que amenize os impactos causados ao processo de escolarização, conforme será discorrido a seguir.