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O desenvolver de uma pesquisa demanda a utilização de diversos aportes teórico- metodológicos, que sejam compatíveis com o fenômeno estudado. Assim, além das classificações dos tipos de pesquisa, serão apresentadas questões pertinentes na realização de investigações com crianças. Desta forma, esta pesquisa caracteriza-se por ser do tipo exploratória, descritiva, documental e de campo, com abordagem quanti-qualitativa, subsidiada pelo método do estudo de caso.

A pesquisa exploratória é aquela que têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (GIL, 2010). Assim, o uso da pesquisa exploratória permitiu uma maior aproximação da pesquisadora ao fenômeno estudado.

Todas essas adoções metodológicas permitem estudar as características de um grupo social, levantando opiniões e descrevendo fatos e fenômenos de uma determinada realidade, destacando-se nesta pesquisa as vozes das crianças hospitalizadas e/ou em atendimento ambulatorial hemodialítico. Segundo Gil (2010) a pesquisa descritiva tem como finalidade identificar possíveis relações entre variáveis, no caso, a infância articulada ao processo de hospitalização e seus impactos à vida infantil e ao seu processo de escolarização.

A pesquisa documental propõe-se a analisar as fontes documentais para fornecer informações relevantes aos objetivos propostos pela pesquisa, contribuindo para o alcance destes. Em consonância com estes aspectos Ludke e André (1986, p.39) discorrem que “[...] não são apenas uma fonte de informações contextualizadas, mas surge num determinado contexto e fornecem informações sobre um mesmo contexto”. Foram analisados documentos como prontuários médicos, para a obtenção de dados pessoais e informações básicas a respeito das crianças pesquisadas. As crianças em atendimento ambulatorial hemodialítico, não possuíam prontuários por não estarem em regime de internação, somente fichas de acompanhamento. No entanto, durante o processo de pesquisa, considerando a totalidade das crianças, foram disponibilizados somente dois prontuários das crianças hospitalizadas.

Considerando o fenômeno estudado, é necessário situar a pesquisa na abordagem quantitativo-qualitativa. A abordagem quantitativa apresenta rigorosidade no que se refere ao que é mensurável na experiência humana, baseado em hipóteses e variáveis, enquanto que na abordagem qualitativa objetiva-se buscar compreensão e interpretação do objeto de estudo. Corroborando com esta perspectiva, Minayo (1994, p.22) afirma:

A diferença entre quantitativo-qualitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatísticas apreendem os fenômenos apenas a região ‘visível,

ecológica, morfológica e concreta’, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas.

Desta forma, a abordagem qualitativa permite ir além do quantificável, possibilitando a inserção direta e interativa do fenômeno pesquisado, refletindo e interpretando- o. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.50), “[...] os investigadores que fazem uso desse tipo de abordagem, estão interessados no modo como diferentes pessoas dão sentido ás suas vidas”. Sendo assim, a abordagem qualitativa possibilita a interpretação e descrição dos atos e das falas, valorizando as vivências, que constituem a infância no contexto hospitalar. Para Minayo (1994, p. 21-22):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa [...] com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Considerando este enfoque, a presente pesquisa se adequa a esta abordagem, pois tem como principal ênfase as vozes de seus participantes (crianças hospitalizadas e/ou em atendimento ambulatorial hemodialítico) como objeto interpretativo e de análise, assim como seus desenhos, como formas de expressão lúdica, que mais se adequam em estudos com crianças.

No entanto, a junção da pesquisa quantitativa e qualitativa é de caráter complementar e essencial para que se possa analisar fidedignamente o objeto de estudo, pois permite a adoção de critérios objetivos, tendo em vista as questões mensuráveis, que forneceram uma visão mais concreta e abrangente do que é estudado, sem se distanciar das questões intersubjetivas, que os constituem.

A pesquisa adota o paradigma naturalista-construtivista certo de que “[...] as realidades existem sob formas de múltiplas construções mentais, locais e específicas, fundadas na experiência social de quem as formula” (ALVES-MAZZOTI, 1996, p.20), pois sua abordagem e ênfase são influenciadas no contato direto entre o pesquisador e pesquisado, em constantes transformações. Sendo assim, a pesquisa baseia-se no paradigma naturalista- construtivista, partindo-se da ideologia de que a realidade é socialmente construída, atribuindo- se diretamente ao relativismo, tendo em vista a existência de múltiplas realidades, a exemplo, a infância que acontece intermediada pelo ambiente hospitalar, diferenciando-se das infâncias inseridas em outros contextos desenvolvimentistas.

Ressalta-se, ainda que, o presente estudo é de natureza qualitativa, e adota o paradigma naturalista-construtivista, o qual trata o estudo em questão, através de algumas

características próprias. De acordo com Alves-Mazzotti (1996, p.20) considerando a natureza interativa da díade pesquisador e pesquisado, baseando-se numa “ontologia relativista”, afirma que “as realidades existem sob forma de múltiplas construções mentais, locais e específicas fundadas na experiência social de quem as formula”.

Assim, a pesquisa baseia-se em uma “epistemologia subjetivista” e uma metodologia com o “pensamento hermenêutico-dialético”, defendendo uma posição relativista frente ao estudo retratado, com a concepção de que o fenômeno se apresenta em constantes transformações, que não o limita a uma verdade única e definitiva (ALVEZ-MAZZOTTI, 1996). O pensamento hermenêutico-dialético permite tratar dos impactos da hospitalização na vida da criança com insuficiência renal crônica, sobretudo seu processo de escolarização, através de suas relações sociais e suas vozes, onde “[...] as construções individuais são provocadas e refinadas através da hermenêutica e confrontadas dialeticamente, com o objetivo de gerar uma ou mais construções sobre as quais haja um significativo consenso entre os respondentes”. (ALVEZ-MAZZOTTI, 1996, p.20)

Desta forma, o pensamento hermenêutico-dialético permite ao pesquisador buscar e aproximar-se da essência do grupo social investigado. Essa essência ocorre na contradição existente na infância inserida ao contexto hospitalar, através do processo de hospitalização e/ou atendimento ambulatorial hemodialítico, frente às legislações que asseguram seus direitos nos contextos hospitalares e educacional, embasadas nos postulados das políticas educacionais inclusivas. Busca-se, assim, através de um contexto real, averiguar de que forma a criança com insuficiência renal crônica, atribui significados aos impactos da hospitalização e/ou atendimento ambulatorial hemodialítico ao processo de escolarização das mesmas.

Definiu-se como método de pesquisa, o estudo de caso, pois considera qualquer unidade como um todo, permitindo um maior aprofundamento no estudo. Yin (2015) caracteriza o estudo de caso como aquele que investiga o fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de mundo real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não puderem ser claramente evidentes.

Em relação a este método, Fonseca (2002) discorre sobre sua caracterização, viabilidade e utilização, afirmando que:

Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo uma pessoa, ou uma entidade social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revela-lo tal como ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva

pragmática que visa simplesmente apresentar uma perspectiva, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador.

Optar pelas vozes das crianças em situação de hospitalização, por insuficiência renal crônica, permitiu investigar minuciosamente o contexto em que se encontravam e, consequentemente, seus impactos e implicações à sua infância e ao seu processo de escolarização, tendo em vista que as vivências e experiências contribuem para sua formação, enquanto sujeitos de direitos. A pessoa ao falar, escuta-se, logo, a fala é um elemento bastante significativo, pois através dela permeiam sentimentos, valores (pessoais, culturais, sociais) e princípios que se apresentam ao haver o ato da expressão. (SILVA, 2007; CRUZ, 2008).

O contato com um grupo social delimitado, como propõe o método do estudo de caso, permite o aprofundamento na interpretação do estudo. Sendo assim, as técnicas de pesquisa utilizadas na coleta de dados foram através de documentos e da entrevista semiestruturada com recursos lúdicos (história interativa, livro autobiográfico, caixa dos desejos), foram avaliadas pela pesquisadora, a partir de análise já iniciada em trabalho monográfico sobre a importância da leitura mediada a crianças hospitalizadas e aperfeiçoada com estudos realizados por Cruz (2008; 2010), que visam a escuta de crianças em pesquisas através de métodos lúdicos pertinentes ao público infantil, como os adotados neste estudo.

Assim, alcançando a compatibilidade necessária com os participantes e ao fenômeno estudado, a pesquisa prosseguiu com responsabilidade social, almejando cumprir também aspectos éticos e sistemáticos exigidos, referentes aos lócus, participantes, procedimentos de coleta e análise de dados, como poderá ser visto nos itens posteriores. A história interativa, bem como o livro autobiográfico e a caixa de desejos, fora criados e ilustrados pela pesquisadora responsável, de forma que se aproximasse da realidade das crianças pesquisadas, objetivando que estas pudessem melhor interagir e se expressar. Os recursos lúdicos foram pensados considerando o público infantil e as peculiaridades do contexto hospitalar que tornam a vida da criança bem delicada. Sendo assim, almejou também proporcionar momentos prazerosos a elas, ressignificando a rotina do hospital.