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5.   SÍNTESE DAS ENTREVISTAS 46

5.1.  Relações interpessoais estabelecidas e motivação política 46 

Em síntese, um fator constante que apareceu nas entrevistas foi a importância atribuída ao governo dos três países no apoio ao projeto, e também a representantes e relacionamentos políticos estabelecidos no contexto do projeto, que atuaram como pontes para a instituição das redes e parcerias.

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Apesar de ser um projeto muito técnico, de conhecimento muito científico, é humano. Os recursos caros, são os recursos humanos. Acaba sendo um dos fatores mais críticos manter a relação harmoniosa entre as partes que estão trabalhando. Isto é uma das grandes dificuldades, porque o projeto envolve três partes extremamente distintas. Culturalmente têm um abismo de diferenciações culturais. Um dos fatores críticos é a manutenção da harmonia entre os agentes e atores. (...) Desde a concepção as equipes integradas por japoneses, moçambicanos e brasileiros formataram escopo geral. Sem dúvida teve uma fundamentação baseada em idealismos, ideia da garantia da segurança alimentar, mas a decisão pelo ProSAVANA foi política e de muito alto nível. Este projeto tem uma característica de integrar pessoas do mais alto nível de cada uma das partes dependendo daquilo que esta sendo decidido.

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Acho que um dos fatores determinantes, foi o tanto que as pessoas que conduziram o processo de negociação diretamente acreditaram no projeto. Uma coisa geral que foi fundamental, foi como a negociação foi conduzida com o lado japonês. O Japão tem uma forma de lidar bem diferente e de forma cultural da nossa. Tem necessidade de ter segurança em absolutamente tudo. A coisa uma vez que seja decidida, não pode ser        

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 A fim de preservar a identidade do entrevistado e a possibilidade de correlação com a informação fornecida, as entrevistas não são disponibilizadas na íntegra, e alguns nomes de representantes ou de organizações públicas e/ou privadas também foram omitidas, sendo identificadas por “XYZ”. 

mudada, mesmo se algo não for o mais conveniente. Já Moçambique tem outra postura(...). Fator fundamental foi saber negociar com o lado japonês. Então o fator humano, o jogo de cintura, é fundamental. Tem que haver um exercício de flexibilidade e adaptação muito grande para lidar com estes parceiros. Boa gestão e chegar aos resultados.

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Como o projeto vai evoluir? Trata-se de um projeto de longo prazo e ousado. Tínhamos capacidade operacional, recursos, confiança pessoal. Fomos duas vezes para o Japão, visitamos empresas, fomos à JICA. Então, veio Representante XYZ da JICA ao Brasil. A partir dali, montamos missão conjunta. Tinha algumas facilidades, pela língua portuguesa, mais barato de implantar e o Governo moçambicano de mais fácil interlocução. Foi uma missão de prospecção, com técnicos da EMBRAPA e japoneses. Assinaram um memorando de entendimento e acertaram os projetos de cooperação para capacitação técnica na última visita do (representante político Brasil). Lá explicaram a ideia ao Representante X do Japão, e falamos “conte com nossa decisão da Organização XYZ, temos recursos e corpo técnico rápido para articulação. Temos condições humanas e financeiras e vontade política, e temos condições de emplacar o projeto.” Após 1 mês foram organizadas uma série de reuniões com empresas, associações, instituições públicas e privadas.

(...) Então, eu acho que tudo conspira a favor da boa execução do projeto. Têm vários atores que estão envolvidos já; não posso imaginar que o governo brasileiro vá ignorar um projeto como esse. Já têm muitos atores importantíssimos envolvidos no projeto, então, não há como ignorar. ENTREVISTADO 6

A agricultura é um setor básico para o desenvolvimento econômico de Moçambique, porque, por um lado, produz para atender às necessidades nacionais, mas, por outro lado, existe todo um potencial que permite que Moçambique possa exportar; aí a importância econômica. E a agricultura é um pilar incontestável (...) e o governo tem a agricultura como um setor prioritário para o desenvolvimento.

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Esta iniciativa do ProSAVANA para chegar onde chegou aconteceu em alguns capítulos.(...) Nesta época, eu já mantinha relações com as cooperativas japonesas. Com este episódio, aumentou a participação do governo japonês. Fui então eleito presidente de uma organização XYZ (internacional). Ela incluía também membros do Japão. Por conta disso, participei dos conselhos no Japão, e isso também ampliou o relacionamento. Então, assumi (Cargo político). Nesta época, o esforço com Japão aconteceu em 2 linhas. Rodada de Doha, OMC e depois na conferência de Cancun (2003), que reuniu 25 países. Japão era reservado nas discussões e decisões feitas por consenso. Não tinha consenso no Japão, em Doha, relação com Japão era precária. Em Cancun, conheci o então X (representante político Japão), e aí fui estreitando as relações com uma grande conversa para trabalharmos em outros países, da África em especial. Então veio Y (representante político do Japão). Trouxemos ele

para São Paulo, mostrei a Usina XYZ. E aí ele entendeu o que era o etanol. Criou então a comissão Brasil-Japão, para estabelecer um acordo bilateral para o etanol. O (representante político Brasil) era meu braço de confiança, que trabalhou para a montagem deste acordo Brasil-Japão. Criou-se o Grupo XYZ, grupo com líderes japoneses e brasileiros. Eu estava neste grupo. Era uma agenda comum e empresarial para discutir agroenergia, cross relationship, tecnologia e investimento entre Brasil e Japão. (...) ENTREVISTADO 10

(...) Esta iniciativa foi desenvolvida inicialmente por uma conversa entre dois governantes do Brasil e do Japão, e acredito que as relações das empresas desses dois governantes eram boas relações. Porque tradicionalmente o Brasil e o Japão já tinham operações de longa data, que começaram por serem relações muito de governos. Mas, à medida que o tempo foi passando, as relações pessoais também moldaram um pouco, digamos assim, o desenvolvimento do próprio programa. À medida que foi se conhecendo a parte brasileira, a parte japonesa, ficou mais fácil, digamos assim, a execução do programa, porque era bem mais simples a comunicação entre todas as partes e a compreensão das partes, de modo que eu diria que as relações interpessoais de fato foram se desenvolvendo ao longo do processo, e que essas relações interpessoais têm de certa forma moldado e ajudado a execução do ProSAVANA.

As entrevistas indicam um alinhamento de visão dos entrevistados sobre a importância dos relacionamentos formados e de que forma eles podem ter contribuído para a viabilização do ProSAVANA e sua condução até o presente momento. Revelam, principalmente, uma integração entre importantes atores de organizações públicas e privadas, com poder de decisão que são apontados como facilitadores deste programa. Apontam também uma aproximação de objetivos comuns e motivações políticas como forças propulsoras do ProSAVANA, como a motivação pela cooperação entre os países para o desenvolvimento da agricultura.

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