• Nenhum resultado encontrado

5.   SÍNTESE DAS ENTREVISTAS 46

5.4.  Transferência de conhecimento e parcerias locais 52 

O envolvimento a partir de relações locais em Moçambique é citado em todas as entrevistas como fator fundamental para o andamento do projeto e para a transferência de tecnologia e conhecimento. Entende-se aqui por envolvimento local, a inclusão participativa no projeto do governo nacional e regional, comunidades locais, os régulos (líderes das comunidades locais), pequenos agricultores e população rural situada na área do ProSAVANA, além do estabelecimento de parcerias.

ENTREVISTADO 8

(...)Essa relação com a comunidade local é muito importante e acontece via descentralização política em Moçambique. Estratégia agora do Programa é descer ao nível das províncias, para coordenação politicamente e institucionalmente no nível da província. Coordenação de perto. Para criar esta relação, desenvolver criar entre o que existe entre governo e instâncias de poder.

ENTREVISTADO 10

(...)Temos que olhar pra dimensão sociocultural, para que se quisermos ter sucesso dessa tecnologia não é apenas uma questão de dizer que essa tecnologia é boa e vamos aplicar cegamente sem ter em consideração outros aspectos socioculturais, precisamos entendê-las. (...) o desenvolvimento humano social, o capital humano social é a base, é fundamental. E temos que ter programas no contexto do ProSavana de desenvolvimento de recursos humanos, quando falo em recursos humanos não estou falando de pesquisadores, mas dos produtores, porque temos que encontrar formas de eles serem continuamente capacitados e modelos adequados para que tenha uma assistência técnica contínua e de forma adequada (...). Na verdade, o IIAM está estruturado de tal maneira que ao nível do campo tem aquilo que nós chamamos de centros de investigação, e a estruturação em centros de investigação foi exatamente para garantirmos uma maior comunicação entre os pesquisadores e os próprios produtores. É verdade que a administração não tem uma massa grande de pesquisadores, uma massa crítica que possa obter uma grande interação com todos os produtores, mas desenvolve mecanismos que permitem que essa interação ocorra. Nestas atividades, também cria-se relações interpessoais e uma maior compreensão daquilo que são os problemas dos produtores.

ENTREVISTADO 6

(...)A população que vive nas zonas rurais, a população que está na área do ProSAVANA está preparada, está pronta, tem disponibilidade total. Eles conhecem os desafios que têm no terreno e acreditam nos pacotes tecnológicos que existem em Moçambique e no mundo para aumentar os níveis de produtividade agrária de Moçambique. O grande desafio para esse projeto ser bem recebido e ser bem implementado é divulgar permanentemente (...)quanto mais falar do ProSAVANA, melhor é o entendimento, um. Dois: é fundamental que os atores presentes no território do ProSAVANA sejam parte do projeto, não podem assistir; precisam de uma capacitação para a gestão de empreendimentos, na perspectiva de sair da subsistência para uma agricultura comercial. Portanto, informação e divulgação são vitais para o sucesso desse projeto. Eu repito que, por um lado, melhorar a qualidade da prestação de serviços do estado para o cidadão, mas também reforçar mecanismos de interação, de parceria público-privada e população. Nessa parceria, o que nós promovemos é que as pessoas tenham a possibilidade de formar cooperativas, associações, empresas para montar joint ventures de moçambicanos e brasileiros, e implementar os diferentes projetos que se podem desenvolver no ProSAVANA. Na agricultura, quem tem potencial usa, quem não tem faz parceria.

Sem o envolvimento local o programa pode ser comprometido, com “bloqueio do projeto”, conforme é sintetizado no pensamento do entrevistado 1:

ENTREVISTADO 1

(...)Veja a minuta de cooperação triangular. Foi fruto do estudo de 2009. Este relatório definiu as ações do ProSAVANA de forma participativa para a região27. A base sociológica deste projeto é o foco do estudo. Existem duas etnias rivais (Nampula x Niassa). Então, é preciso haver duas estratégias diferentes. São 17 etnias no total, mas focaram nas duas ao norte, onde passa o corredor. A 1ª fase é a construção de uma base tecnológica, organização da produção, das instituições de pesquisa, assistência técnica e rural, com ONGs, governo moçambicano, associações de pequenos agricultores. Estes últimos precisam estar alinhados ao objetivo maior para uma maior sinergia. Teve que envolver o governo local, especialmente das duas regiões ao norte. Como o estudo envolveu este componente sociológico, é importante o apoio destes 2 governos (Niassa e Nampula), que têm poder de decisão, e são líderes. Eles que têm acesso aos líderes comunitários, os “régulos” que são os “reis” dos pequenos agricultores. Sem o aval deles, sem autorização deles, há bloqueio do projeto. Os régulos têm acesso aos chefes de família, diretores nas províncias, “das pequenas agricultoras”. Cada mulher tem uma “maxamba”. Normalmente, um chefe pode ter umas 4 ou 5 mulheres. Prioridade são os jovens e as mulheres, que representam 85% da força produtiva local.(...)

        27

Este projeto é muito importante, pois pode integrar as etnias rivais, pode ter impacto social muito importante, no processo de desenvolvimento para uma identidade nacional. Eles não são Moçambique, são Nampula, ou Niassa, ou outra etnia rival. Então, como o pessoal local será capaz de internalizar? Há uma barreira de assimilação e tem que escolher grupos emergentes de agricultores. Estes já têm uma base tecnológica mais avançada em relação à primitiva existente. Então, a pesquisa não pode focar só na tecnologia de ponta e, sim, como torná-la assimilável pelo povo, agricultores locais, que vão utilizá-la. O que o agricultor quer? O que ele necessita? Milho? Algodão? Boi? Sou empolgado com Moçambique, pois aprendi a conhecê- los. São 2 anos indo e voltando.

Observa-se nos depoimentos, portanto, que a relação com a população local e rural assume um papel importante na perspectiva dos entrevistados, que destacam alguns mecanismos e estratégias que podem contribuir para a maior interação e cooperação entre os atores atuantes no projeto (Entrevistados 8, 10, 6), e, assim, levar a uma maior assimilação de tecnologia pelo povo local.(Anexo O)

Documentos relacionados