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Este estudo, em síntese, revela que alguns fatores foram determinantes para a condução do ProSAVANA. O objetivo primário deste estudo de caso foi entender quais os fatores humanos determinantes, especificamente as relações interpessoais que se deram, podem ter contribuído e ainda contribuem para a condução e operacionalização do ProSAVANA-JBM e do ProSAVANA-TEC.

A análise dos dados corroborou com as proposições teóricas, conforme sintetizado a seguir:  Algumas relações interpessoais foram significativas para a formalização do

acordo ProSAVANA-JBM; o que pôde ser observado por relações interpessoais de ordem política e empresarial. Os dados de campo e os da revisão teórica corroboram para a alta gerência ou alta cúpula ou alto nível envolvidos e comprometidos com o projeto.

 Entre os fatores determinantes à condução do ProSAVANA, as relações interpessoais exerceram um impacto maior. A análise corrobora com esta suposição, visto que a categoria que apresentou mais citações, representando 21% das observações, e portanto, o maior impacto entre os fatores determinantes é “Relações interpessoais estabelecidas”.

 Relações interpessoais, que construam uma ponte entre organizações e instituições vinculadas à pesquisa, meio governamental ou empresarial, contribuem para uma condução mais exitosa de determinado projeto e contribuem para a transferência de conhecimento. Esta suposição também é corroborada por análise teórica, documental e de campo discutida neste estudo. Especificamente, sabe-se que o contexto político e suas motivações deflagaram o empenho na formulação do acordo e foram importantes para a sua condução. Relações interpessoais estabelecidas nas redes articuladas com instituições de governo, EMBRAPA, e demais parceiros da cooperação, souberam criar pontes que levaram à rede eficiente e estratégica ProSAVANA. Esta rede possibilita uma facilidade maior na transferência de conhecimento.

Dentre os objetivos intermediários, buscou-se identificar no contexto do ProSAVANA que outros fatores podem ter contribuído na condução desta aliança estratégica, conforme revelado nas categorias ilustradas na figura 10. A categoria Relações Interpessoais mantém a

maior centralidade em relação às demais categorias. Esta categoria aparece nas entrevistas associada à Motivação Política, Parcerias e Transferência de Conhecimento, além de Confiança ser parte integrante desta categoria. A única categoria com a qual Relações Interpessoais não faz ligação corresponde a Investimentos que, por sua vez, está apenas associada a Parcerias, categoria esta interpretada pela fala dos entrevistados como elemento indissociável. As demais categorias mantêm um certo equilíbrio em termos de número de citações, o que denota um equilíbrio de importância nas falas dos entrevistados.

Na figura 11, as categorias são classificadas com os percentuais respectivos à frequência em que foram citadas nas entrevistas como fatores determinantes à condução do ProSAVANA. Nota-se que embora as categorias estejam correlacionadas entre si, as Relações Interpessoais Estabelecidas receberam o maior número de citações, representando 21% dos fatores determinantes. “Motivações Políticas”, com 15%, são apontadas como o segundo fator que mais contribuiu, sendo seguida por “Parcerias” e “Transferência do Conhecimento”, com 13% e 12%, respectivamente. Por último, “Investimentos” e Confiança” representam apenas 8% e 5% das percepções.

Figura 11 Fatores determinantes à condução do ProSAVANA por categoria Fonte: Elaboração própria, a partir da utilização de dados coletados nas entrevistas e alinhados aos dados teóricos e documentais.

Outro objetivo intermediário foi o “de compreender a construção de redes de relações interpessoais efetivas e eficazes de informação a partir de perspectivas proporcionadas pelos dados coletados e pelo referencial teórico”.

As entrevistas revelaram nomes de indíviduos que tiveram um papel fundamental no estabelecimento de relações entre governos, empresas e instituições. Os nomes dos atores- chave que contribuíram para a formalização e condução do ProSAVANA permitiram a elaboração própria de uma rede de relações eficiente e eficaz. O desenho desta rede é exposto na Figura 12. A rede foi desenvolvida com base nas informações coletadas, adotando o modelo teórico para expansão de Rede Interpessoal – Eficiente e Eficaz (BURT, 1993). Levou-se em consideração o conceito dos laços sociais, que podem exercer influência em atores que possuem um papel crítico na tomada de decisão, conforme citado na revisão teórica de Capital Social.

A figura a seguir retrata de forma interpretativa os “nós” ou “elos”, representados por atores- chave dentro destas organizações, que estabeleceram laços fracos ou fortes, criando pontes que levaram a novos grupos, redes de contatos e instituições no âmbito do ProSAVANA. Na figura 12 os nós principais de conexão de grupos são representados por letras, pelas quais:

• M = indivíduo representado como elo principal ao grupo Governo de Moçambique, • B = indivíduo representado como elo principal ao grupo Governo do Brasil

• J = indivíduo representado como elo principal ao grupo Governo do Japão • E = indivíduo representado como elo principal ao grupo EMBRAPA

Esta rede é eficiente, pois contém um número considerável de contatos não-redundantes, e eficazes, pois proporciona vazios estruturais e laços fracos capazes de construir pontes que levam a uma rede de informações benéficas por meio dos grupos identificados como M, B, J e E. Na perspectiva da Rede ProSAVANA é também eficiente e eficaz, pois os relacionamentos interpessoais estabelecidos contribuíram para a condução do ProSAVANA, desde sua formalização até a fase atual de desenvolvimento do programa.

A figura desenvolvida pretende, assim, demonstrar que os relacionamentos interpessoais estabelecidos integram uma rede estratégica de indivíduos de grupos diversos, como o meio

governamental, acadêmico, empresarial dos três países, levando até líderes de comunidades locais (régulos das províncias ao norte de Moçambique) e o pequeno agricultor local. Cada nó representa um relacionamento interpessoal estabelecido de forma estratégica nesta rede ProSAVANA.

Figura 12 Rede Eficiente e Eficaz ProSAVANA-JBM

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados coletados nas entrevistas e do Modelo de Rede eficiente e eficaz (Burt, 1993)

A Rede ProSAVANA corrobora com o conceito de Capital Social, que representa a capacidade de organização de valorizar seu capital social ao investir em indivíduos que saibam formar e manter relações interorganizacionais estratégicas. Pelas informações obtidas, por meio dos dados de campo e teóricos, esta rede representa um esforço do pesquisador em conectar atores-chave, em instituições relacionadas à parceria, que contribuíram para a formalização do ProSAVANA, por meio de suas relações interpessoais estabelecidas neste contexto.

O conceito de aliança estratégica corrobora com elementos do ProSAVANA, assim como da coleta de dados documentais sobre EMBRAPA e o ProSAVANA, e as entrevistas. Estas alianças devem funcionar como casamentos, onde o estilo de gestão deve ser colaborativo e flexível, baseado em consenso, e “os tipos de relacionamento acontecem de indivíduo- indivíduo ao invés de hierarquia-hierarquia, também como forma de compensar possíveis diferenças culturais entre companhias ou parceiros.” O modelo de gestão da EMBRAPA sugere uma gestão flexível (Figura 1), assim como a gestão do projeto com elementos revelados nas entrevistas e nos documentos que corroboram com esta revisão (anexo H e I). Nota-se claramente na visão de alguns entrevistados como as relações de indivíduo para indivíduo ajudaram na condução do ProSAVANA e facilitaram o seu andamento.

À medida que foi se conhecendo a parte brasileira, a parte japonesa, ficou mais fácil, digamos assim, a execução do programa, porque era bem mais simples a comunicação entre todas as partes e a compreensão das partes, de modo que eu diria que as relações interpessoais de fato foram se desenvolvendo ao longo do processo, e que essas relações interpessoais têm de certa forma moldado e ajudado a execução do ProSAVANA. (Entrevistado 10)

Principalmente, um dos desafios enfrentados por gestores que lideram alianças estratégicas complexas internacionais, como a estudada, está na habilidade individual de gestores, que saibam como construir e manter tais relações em prol da parceria. “(...)Estas relações geridas internamente (formais e informais entre indivíduos e grupos) facilitam o compartilhamento e comunicação de novo conhecimento e provê a base para transformar o conhecimento individual para conhecimento organizacional. (INKPEN, 1998, p.75).

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