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RELATÓRIOS SOCIOAMBIENTAIS: DIRETRIZES OBRIGATÓRIAS

Nos Estados Unidos, as normas financeiras emitidas pelo órgão de normatização contábil, o Financial Accounting Standards Board – FASB; o principal avanço foi a respeito da evidenciação de contingências ambientais (Statement of Financial Accounting Standards - SFAS nº 05), entretanto ainda há pouca regulamentação sobre o tema. (MATHEWS, 2002).

De acordo com Jiménez, Chulián e Carqués (2004), poucos países introduziram mudanças na legislação ambiental, obrigando as empresas a descreverem quantitativamente os impactos de suas atividades nos seus relatórios financeiros. Entretanto, a Espanha foi um dos primeiros países a introduzir este tipo de legislação (General Accounting Plan – RD 437/98), a partir de 1998. Por meio de um estudo empírico, os autores examinaram as informações ambientais divulgadas nos relatórios financeiros de uma amostra de oitenta indústrias espanholas, com ações cotadas na Madrid Stock Exchange, a bolsa de valores de Madrid. O período de análise foi de 2001 a 2003 e os resultados obtidos indicaram um aumento da qualidade e quantidade na divulgação de informações sobre o tema. Entretanto, ainda há um expressivo número de companhias que não detalham essas informações ou continuam omissas.

Jorgensen e Soderstrom (2006) analisaram os aspectos legais e ambientais, relacionando-os com o produto interno bruto de uma amostra de 117 países. Os autores identificaram evidências de que a questão legal afeta as informações ambientais divulgadas nos relatórios das companhias, além da ocorrência de um menor nível de divulgação em países emergentes, ou em desenvolvimento, quando comparados com países desenvolvidos. Contudo, de acordo com os autores, ainda são mínimos os requerimentos legais exigidos para padronização e sistematização das informações ambientais divulgadas nos relatórios de companhias de países desenvolvidos.

De acordo com Buhr e Freedman (1996), os Estados Unidos e o Canadá apresentam similaridades sobre o aspecto econômico, político e social, porém, há diferenças em ambos sobre o sistema legal e ambiente de negócios; o que conduz a diferenças na divulgação de informações ambientais praticadas pelas companhias dessas nações. Com base nestas constatações, as autoras compararam a quantidade e qualidade de informações ambientais divulgadas nos relatórios anuais de 68 companhias canadenses e 68 companhias americanas de setores potencialmente poluidores como mineração, química, papel e celulose e petroquímica. A análise de conteúdo foi utilizada para quantificar e classificar em categorias as informações divulgadas sobre o meio ambiente e técnicas estatísticas foram utilizadas para

a análise dos dados. Os resultados indicaram que não há significativas diferenças na extensão da divulgação de informações ambientais das companhias tanto nos Estados Unidos como no Canadá. Entretanto, as autoras verificaram que as companhias americanas divulgam mais informações ambientais oriundas do cumprimento da legislação daquele país, enquanto as empresas canadenses divulgam maior número de informações voluntárias, sobre as mesmas questões e, por serem voluntárias, ocorrem em maior quantidade.

O Canadá e os Estados Unidos são os países que apresentam maior número de recomendações e exigências legais para a divulgação de informações ambientais nos relatórios financeiros. Os Estados Unidos preocupam-se mais com os riscos das atividades e níveis de poluição emitidos por cada empresa. Países europeus como Dinamarca e Noruega também se destacam. Na Austrália, em especial os setores de mineração e extração de petróleo são os mais regulamentados. (DEEGAN, 2002; FROST e WILMSHURST, 2000 e TILT e SYMES,1999).

Os resultados do estudo conduzido pela Australian Conservation Foundation (2003) indicaram que a regulamentação requerida e praticada para evidenciação ambiental de companhias da Noruega, França e Japão não têm nenhum requerimento legal para riscos ambientais. Todavia, somente as companhias da Austrália, França, Japão e África divulgam relatório anual de sustentabilidade. Alemanha, Reino Unido e África do Sul não têm legislação específica sobre evidenciação ambiental de procedimentos utilizados no controle da emissão de poluentes. Ressalta-se que os países latino-americanos não foram incluídos no estudo.

Nossa (2002) analisou a legislação para a evidenciação ambiental de vários países (Brasil, Dinamarca, Canadá, Estados Unidos, Japão e Noruega), assim como diretrizes voluntárias relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Apesar dos avanços nos últimos anos, o autor ressaltou o estágio inicial da regulamentação sobre a divulgação de informações ambientais nestes países, principalmente no Brasil.

Com o objetivo de verificar o tipo de informação ambiental que as companhias devem divulgar, Nyquist (2003) comparou a legislação sobre evidenciação ambiental da Dinamarca, Noruega e Suíça. De acordo com o autor, esses países têm muitas similaridades no que diz respeito à legislação ambiental. Entretanto, a Dinamarca escolhe uma forma diferente para estimular as companhias a divulgar seu desempenho ambiental; companhias dinamarquesas evidenciam separadamente as chamadas “contas verdes”, enquanto companhias norueguesas e suíças relatam questões ambientais somente no relatório da administração. As informações de firmas norueguesas e suíças são direcionadas principalmente para o aspecto financeiro e a

legislação norueguesa é também mais extensiva que a Suíça. As informações sobre as firmas dinamarquesas são direcionadas para a sociedade em geral. A comparação indicou alguns tópicos interessantes para análise, por exemplo, em relação à abrangência da legislação norueguesa, para divulgação de informações sobre o impacto provocado pela destinação final de produtos. De acordo com o autor: “O propósito da legislação Suíça é promover a conscientização ambiental nas companhias. O objetivo da legislação da Dinamarca e da Noruega também, todavia, esta última foca a evolução financeira das companhias e a Dinamarca, a gestão ambiental”. (NYQUIST, 2003, p.22, tradução nossa).

Reppeto, Macskimming e Isunza (2002) compararam a quantidade de requerimentos legais do Canadá, México e Estados Unidos, para divulgação de informações sobre a questão ambiental nos relatórios contábeis, assim como o tratamento de ativos e passivos ambientais. A pesquisa revelou muitas similaridades na regulamentação ambiental do Canadá e dos Estados Unidos apesar da ocorrência de algumas diferenças. Porém, comparado com os demais países, o México apresenta um baixo nível de esclarecimento sobre os requerimentos para divulgação de informações ambientais.

Entre as principais economias em nível mundial, verifica-se que há poucos requerimentos legais específicos sobre o registro, cálculo e divulgação de gastos ambientais nos relatórios oficiais das organizações. O Quadro 2.8 resume as principais exigências legais sobre o tema em vários países.

País/região Requerimentos Legais

Alemanha • de divulgação de informações não-financeiras, como indicadores ambientais e sociais. The Bilanzrchtsreformgesetz (BilReG) – estende a legislação ambiental para a obrigatoriedade

Austrália

Corporations Laws (section 299 1f) introduziu requerimentos para as companhias prepararem o relatório da diretoria com detalhes sobre o desempenho em relação aos regulamentos ambientais. • National Pollutant Inventory requer das companhias industriais o relatório da emissão e inventário de substâncias específicas e devidas às autoridades regulatórias para inclusão no banco de dados.

Bélgica • O Bilan Social é requerido das organizações e inclui informações ambientais e sociais. Companhias de determinados setores devem disponibilizar anualmente o relatório ambiental. Canadá • operações correntes e futuras que têm potencial efeito sobre o meio ambiente, a serem divulgadas The Securities Commission requer de companhias de capital aberto o relatório dos efeitos de

nos relatórios anuais.

Dinamarca • O Danish Financial Statements Act requer o relatório sobre aspectos ambientais. O Green Accounting Act requer de companhias de determinados setores o detalhamento das “contas verdes”.

Espanha

A Resolución de 25 de marzo de 2002 (El Instituto de Contabilidad y Auditoria de Cuentas) estabelece a obrigatoriedade de inclusão de ativos, provisões, investimentos e gastos ambientais nos relatórios financeiros.

O National Accounting Plan estabelece normas específicas de evidenciação ambiental para o setor de energia elétrica.

Estados Unidos

A Securities and Exchange Commission requer a evidenciação dos efeitos materiais de requerimentos legais, provisões locais relacionadas com a proteção ambiental e gastos estimados com o controle ambiental. No Formulário 20-F as companhias devem descrever todas as questões ambientais que podem afetar a utilização de ativos das companhias.

O banco de dados do Toxi Release Inventory - TRI começou a ser desenvolvido em 1986. Requer de certas indústrias a divulgação anual para a Agência de Proteção Ambiental - EPA, os seus lançamentos de produtos químicos no ar, água e solo, como também informações sobre materiais que são dispostos e o gerenciamento de resíduos em instalações. A EPA mantém e disponibiliza o acesso ao banco de dados do TRI dessas companhias. Atualmente ela é uma das principais fontes de informações disponíveis ao público sobre emissões anuais de mais de 650 substâncias químicas perigosas nos Estados Unidos.

Finlândia • materiais no relatório da diretoria e relatório financeiro anual. O Finish Accounting Act requer das companhias a inclusão de questões não-financeiras França • e ambiental de companhias de capital aberto. O CJDES Bilan Societal é uma ferramenta para Law n. 2001-420 related to new economic regulations (Art. 116) é requerido o relatório social

avaliação dessas informações.

Holanda • divulgado pelas maiores companhias do país que exercem atividades potencialmente poluidoras. O Environmental Protection Act inclui uma seção sobre o relatório ambiental que deve ser Japão

The Law of Promotion of environmentaly concious business activities requer de companhias de setores específicos a publicação do relatório ambiental anual.

The Pollutant Release and Transfer Register (PRTR) requer um relatório sobre o gerenciamento e controle da emissão de substâncias químicas específicas.

Noruega • ambientais no relatório da diretoria, assim como diretrizes para prevenir ou reduzir potenciais The Accounting Act (Regnskapsloven) requer a inclusão de diversos aspectos sociais e impactos negativos.

Suécia • setores devem incluir a evidenciação de informações sociais e ambientais no relatório da diretoria The Annual Accounts Act (Arsredovisningslagen) estabelece que companhias de determinados que acompanha o relatório anual.

Suíça • específicos a obrigatoriedade de inclusão da evidenciação social e ambiental no relatório da Annual Accounts Act (Arsredovisningslagen) estabelece a companhias de alguns setores diretoria que acompanha o relatório anual.

Reino Unido • de capital aberto para providenciarem informações sobre suas estratégias de desempenho, planos O Operating and Financial Review (OFR) é um requerimento legal para todas as companhias futuros e riscos chave que incluem questões sociais e ambientais.

União Européia

O UE Modernization Directive (2003/51/EC) requer das sociedades anônimas de capital aberto a evidenciação dos riscos ambientais associados com suas atividades.

A aplicação do International Accounting Standards (IAS) na União Européia requer das organizações a contabilização de mudanças na avaliação de ativos por fatores ambientais se esses forem financeiros.

The Integrated Pollution Prevention and Control Directive (IPPC): É requerido dos Estados Membros o relatório de registro de dados sobre emissões gasosas de grandes companhias.

Quadro 2.8: Resumo dos Principais Requerimentos Legais a Respeito da Questão Ambiental em Alguns Países Fonte: Adaptado de KPMG (2005, p. 40-42)