• Nenhum resultado encontrado

A questão da sustentabilidade é um tema bastante discutido nos últimos anos. Em nível mundial, um evento importante marcou as primeiras discussões que deram origem ao movimento como é conhecido atualmente. A ONU deu início a trabalhos para discutir a questão ambiental através da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972.

Os resultados dessa conferência destacaram o desenvolvimento econômico como o grande responsável pelos problemas ambientais, sugerindo que seria necessário diminuir o ritmo de crescimento econômico. De acordo com Puppim de Oliveira (2009, p. 22), “na época, eram comuns as teorias de crescimento econômico zero para a humanidade resolver seus problemas ambientais e de qualidade de vida nas cidades”.

Apesar dos resultados pouco animadores, a Conferência de Estocolmo foi importante por institucionalizar o debate ambiental na agenda global. Muitos países começaram a introduzir as questões ambientais nas suas políticas nacionais e a criar a estrutura organizacional e legal para gerir os problemas ambientais, como leis e Ministérios do Meio Ambiente. (PUPPIM DE OLIVEIRA, 2009).

A partir da década de 1970 começaram os questionamentos sobre as conclusões vindas da Conferência de Estocolmo, principalmente a relação de dependência direta entre o desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Porém, para alguns, mas não para outros, tornou-se evidente que o desempenho econômico não era incompatível com a proteção ambiental.

Dessa forma, foram iniciados os trabalhos da ONU, através da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou comissão Brundtland, chefiada pela ex- primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. Formada por 40 especialistas de vários países e durante vários anos de estudos sobre a questão ambiental, foi elaborado um relatório final, publicado em 1987, denominado Nosso Futuro Comum, ou Relatório Brundtland.

Nesse relatório, o crescimento econômico e a proteção ambiental não são incompatíveis e podem acontecer ao mesmo tempo; a pobreza e as questões sociais devem ser incorporadas ao debate ambiental. O Nosso Futuro Comum popularizou o conceito de desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades. (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991). O conceito engloba a ideia de que o desenvolvimento deve ocorrer nas esferas ambiental, econômica e social.

A ONU organizou a segunda conferência global sobre questões ambientais, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Rio-92, tendo reunido mais líderes mundiais do que as reuniões anteriores. A Conferência deu origem a vários documentos importantes, além de avanços em termos de legislações para deter os problemas das mudanças climáticas e da diversidade biológica. A Agenda 21, um dos documentos mais citados após a Rio-92, trata-se de um documento de 40 capítulos que traça um plano de ação para implementação do desenvolvimento sustentável. Esse documento foi importante na divulgação e popularização do conceito. O objetivo atual é sua implementação na esfera local. Sobre a Agenda 21, de acordo com Barbieri e Cajazeira (2009):

Na sua essência, ela é uma espécie de consolidação sistematizada por assunto (erradicação da pobreza, padrão de consumo, combate ao desflorestamento, proteção da atmosfera, gestão de recursos hídricos, manejo de resíduos sólidos etc.) que foram tratados em diversos relatórios, acordos e outros documentos intergovernamentais elaborados durante décadas. (BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 148).

Observa-se a popularização do conceito de desenvolvimento sustentável, pelo menos nos discursos, em governos, empresas e organizações da sociedade civil. Vários países, regiões, cidades e organizações criaram agendas 21 a partir da década de 1990. (PUPPIM DE OLIVEIRA, 2009).

Os estudiosos que buscam contribuir para o movimento do desenvolvimento sustentável são muitos, assim como os esquemas propostos para apresentação e sistematização dos elementos que constituem o desenvolvimento sustentável. De acordo com Barbieri e Cajazeira (2009), o esquema proposto por Ignacy Sachs tornou-se um dos mais conhecidos e propõe as seguintes dimensões:

• A sustentabilidade social trata da consolidação de processos que promovem a equidade na distribuição dos bens e da renda para melhorar substancialmente os direitos e condições de amplas massas da população e reduzir as distâncias entre os padrões de vida das pessoas;

• A sustentabilidade econômica possibilita a alocação e gestão eficiente dos recursos produtivos, bem como um fluxo regular de investimentos públicos e privados;

• A sustentabilidade ecológica refere-se às ações para aumentar a capacidade de carga do planeta e evitar danos ao meio ambiente causados pelos processos de desenvolvimento, por exemplo, substituindo o consumo de recursos não-renováveis por recursos renováveis, reduzindo as emissões de poluentes, preservando a biodiversidade, entre outras;

• A sustentabilidade espacial refere-se a uma configuração rural-urbana equilibrada e uma melhor solução para os assentamentos humanos;

• A sustentabilidade cultural refere-se ao respeito pela pluralidade de soluções particulares apropriadas às especificações de cada ecossistema, cada cultura e cada local. (BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 67-68).

As dimensões social, econômica e ambiental são mais discutidas no âmbito empresarial e de acordo com Barbieri e Cajazeira (2009):

Uma organização sustentável seria a que orienta as suas atividades segundo as dimensões da sustentabilidade que lhe são específicas. Em outras palavras, é uma organização que busca alcançar seus objetivos atendendo simultaneamente os seguintes critérios: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica. Desse modo, os movimentos de responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável, cada qual com suas características próprias e campos específicos, convergem para o conceito de empresa sustentável. (BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 70).

O termo sustentabilidade, no caso das empresas, parece ter ficado banalizado antes mesmo de ter sido, de fato, absorvido e passado a fazer parte das decisões estratégicas e das operações. Existe um claro descompasso no discurso com relação ao efetivo alinhamento das empresas com a sustentabilidade. Na maioria das vezes os feitos são bem menores do que o alardeado, caracterizando o chamado greenwashing. Podem ser identificados vários motivos para o baixo alinhamento com a sustentabilidade, como a dificuldade para quantificar-se as ações de natureza socioambiental e seus impactos - muitas vezes são intangíveise/ou não são passíveis de ter um custo (ou benefício) financeiro atribuído. (BRANDÃO, 2009).

O modelo Triple Botton Line, desenvolvido pela empresa SustainAbility, amplamente conhecido no meio empresarial, além de ser citado no discurso e compromisso de diversas organizações, também é alvo de muitas críticas:

Apesar de ser uma visão aparentemente mais correta à primeira vista, a linha de resultados tripla traz diversos questionamentos práticos para sua implementação, de forma similar à teoria de equilíbrio dos interesses dos stakeholders: 1) como devem ser medidos os progressos nas áreas ambientais e sociais? 2) quais devem ser os trade-offs entre os resultados financeiros, ambientais e sociais: (em outras palavras, até que ponto se deve abrir mão de um resultado para alcançar outro, tendo em vista que tais dimensões muitas vezes podem ser concorrentes?); 3) como comparar o desempenho de duas companhias, que naturalmente apresentarão resultados diferentes nas três frentes de ação? (SILVEIRA, 2010, p. 78).

No entendimento de Silveira (2010), um dos problemas associados à questão da sustentabilidade é que:

Muitos praticantes do mercado passaram a apregoar a sustentabilidade (ou sobrevivência de longo prazo) como a nova função-objetivo das companhias, chegando ao ponto de incluir a governança corporativa dentro de um pretenso grande tema chamado “sustentabilidade”. Essa visão, entretanto, é enganosa. Infelizmente não existem evidências concretas de que alguns alertas sobre a importância das mudanças climáticas no planeta foram suficientes para alterar a natureza humana, de busca pela maximização da sua utilidade pessoal rumo a um novo objetivo, de maximização do bem-estar da humanidade para futuras gerações. (SILVEIRA, 2010, p. 76).

De acordo com a The Economist (2008), virou lugar comum ouvir discursos apaixonados de executivos em prol da salvação do planeta, ao mesmo tempo que a grande maioria das empresas ainda possui poucos resultados concretos relacionados ao tema.

Kanvinski (2009) analisou o discurso sustentável de cinco empresas de grande porte que operam no Brasil e concluiu que:

Nenhuma das empresas analisadas explicita em seu relatório o conceito de Sustentabilidade que embasa suas práticas. Muitas vezes as palavras Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável são utilizadas, porém, seu conteúdo não é detalhado. Neste sentido, uma das empresas faz referência ao alinhamento da gestão de seu negócio com os princípios de Desenvolvimento Sustentável, sem, contudo, apresentar estes princípios (KANVINSKI, 2009, p. 102).

Apesar das críticas, as companhias seguem firmes com o propósito de desenvolver e aprimorar cada vez mais os seus relatórios, voltando-se para questões socioambientais. Iniciativas de várias áreas têm sido cada vez mais aperfeiçoadas e buscadas pelo meio empresarial, como é o caso de carteiras diferenciadas em bolsas de valores, voltadas para a temática sustentabilidade.

Devido o interesse demonstrado por investidores nos últimos anos, que têm procurado empresas socialmente responsáveis e rentáveis para aplicar seus recursos, o mercado financeiro começou a criar produtos específicos para o atendimento a esses investidores, que aplicam nos chamados Investimentos Socialmente Responsáveis (Socially Responsible

Investment - SRI). A experiência no Brasil teve início em 2001, quando o Unibanco lançou o primeiro serviço de pesquisa para fundos verdes. No final de 2001, o Banco Real ABN Amro lançou os Fundos Ethical FIA. Desde então, os dois fundos da família Ethical I têm apresentado desempenho superior ao do Ibovespa para o mesmo período. (LOUETTE, 2007).

Outra tendência é o interesse de bolsas de valores em incorporar a sustentabilidade aos seus produtos, como mostram as seguintes iniciativas.

Dow Jones Sustainability Index - DJSI

Também denominado Índice de sustentabilidade Dow Jones, da Bolsa de Nova Iorque, o Dow Jones Sustainability Index é uma iniciativa pioneira do mercado financeiro a utilizar um indicador voltado para questões socioambientais.

O índice foi lançado em 1999, pela Dow Jones Indexes e a Sustainable Asset

Management (SAM), gestora de recursos suíça especializada em empresas comprometidas com a responsabilidade socioambiental (Sustainability-index.com).

Na época do seu lançamento, foram convidadas as 2.500 maiores empresas do índice global do Dow Jones, de 58 setores empresariais e presentes em mais de 30 países para participar da seleção, respondendo um questionário que engloba questões sociais, ambientais e econômicas e indicadores de governança corporativa.

O índice acompanha o desempenho financeiro de companhias líderes na questão socioambiental, inclui 318 companhias de 24 países, referente ao período 2004-2005.

FTSE4Good – Inglaterra

Criado pela Bolsa de Londres e o Financial Times em 2001, o FTSE4Good é uma série composta por quadro índices, desenvolvidos pela empresa de pesquisa Experts in

Responsible Investment Solution - EIRIS, avalia o desempenho de empresas globais por meio de critérios ambientais, direitos humanos e de engajamento de stakeholders.

Os critérios são avaliados segundo três aspectos: políticas (comitês de monitoramento, metas, código de conduta), gestão (acidentes públicos, planos de assistência, seguros) e

reporting (estatísticas, e relatório ambiental). O índice exclui indústrias do tipo bélica, nuclear e tabagista (FTSE4Good, 2010).

Índice SRI – África do Sul

A África do Sul foi o primeiro país emergente a incorporar o tema sustentabilidade ao mercado de ações. Em 2003 foi lançado através da Bolsa de Valores de Johanesburgo – JSE, um índice SRI. Apesar de ser inspirado no FTSE4Good, o índice SRI não exclui setores econômicos, mas categoriza-os como setores de “alto impacto”.

O índice é desenvolvido a partir de critérios sociais, econômicos, ambientais e de governança corporativa, avaliados do ponto de vista de políticas, gestão, desempenho,

relatórios e consulta pública. Alguns critérios são eliminatórios, e, portanto, as empresas devem pontuar nestas categorias para figurar no ranking do JSE (jse.co.za).

Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo

O Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE da BOVESPA foi criado em 2005. As empresas brasileiras são convidadas para participar, respondendo a um questionário que propõe 24 critérios e 56 indicadores de desempenho, nas dimensões econômico, social, ambiental e governança. O ISE não exclui setores econômicos e número de empresas que compõem a sua carteira é apresentado no Quadro 2.16.

Companhia Setor

1 América Latina Logística Transportes 2 Aracruz Celulose S/A Papel e Celulose

3 Banco Bradesco Financeiro

4 Banco do Brasil Financeiro

5 Banrisul S/A Financeiro

6 Braskem S/A Química

7 Cataguazes-Leopoldina Energia Elétrica 8 CCR Concessões Rodoviárias Infraestrutura 9 Companhia de Em. Elétrica de SC - Celesc Energia Elétrica 10 Celulose Irani SA Papel e Celulose

11 CEMIG Energia Elétrica

12 Coelce Energia Elétrica

13 Companhia de Gás de São Paulo - Comgas Distribuição de gás 14 Companhia Vale do Rio Doce Mineração

15 Copel Energia Elétrica

16 CPFL Energia Energia Elétrica

17 CSU Cardsystem Serviços de apoio a empresas 18 Cyrela Brazil Realty Construção

19 Diagnósticos da América S/A Serviços médicos

20 Dixie Toga Plásticos e Borracha

21 Duke Energy Energia Elétrica

22 Duratex Construção

23 EDP Energias do Brasil Energia Elétrica 24 Gerdau S/A Siderurgia e metalurgia 25 Grupo Pão de Açúcar Comércio Varejista

26 Invepar S/A Infraestrutura

27 Itaú S/A Financeiro

28 Klabin SA Papel e Celulose

29 MAHLE Metal Leve SA Peças automotivas 30 Natura Cosméticos SA Cosméticos

31 OdontoPrev Serviços médicos

32 OHL Brasil SA Concessões rodoviárias

33 Paraná Banco Financeiro

34 Porto Seguro Cia de Seguros Gerais Seguradora

35 Sabesp Água e saneamento

36 Sanepar Água e saneamento

37 Souza Cruz SA Indústria de cigarros

Quadro 2.16: Empresas que compõem a carteira ISE Fonte: BOVESPA (2010)

O ISE reflete o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com os melhores desempenhos em todas as dimensões que medem sustentabilidade empresarial. Foi criado para se tornar marca de referência para o investimento socialmente responsável e indutor de boas práticas no meio empresarial brasileiro. (BOVESPA, 2010).