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3 POR UM USO FORMATIVO DO SAERJINHO!

3.1 Relevância das intervenções propostas no PAE

Partindo da realização do grupo focal – primeira etapa de pesquisas de campo – e da elaboração de dois tipos ideais que utilização do Saerjinho que não servem ao propósito formativo de utilização de seus resultados desenhado pela Seeduc/RJ, caracterizados pela pesquisadora como usos equivocados dos resultados, entende-se necessária a descrição de um tipo de utilização que seja, então, o não equivocado.

O Saerjinho é uma avaliação formativa, e defender essa característica de um instrumento de avaliação externa é de extrema importância, uma vez que se abre espaço de discussão sobre um ponto nevrálgico impelido à gestão escolar: avaliações externas – padronizadas. A avaliação externa, em regra, é tratada como algo que não tem nada de formativo, um juízo de valor que fica solto, essencialmente numérico. E o Saerjinho, como uma avaliação híbrida – uma avaliação externa, mas de caráter formativo – serve ao processo pedagógico para além do diagnóstico. Não devendo ter um fim si mesmo enquanto instrumento avaliativo que é, para que serve, afinal de contas, o Saerjinho? O que é uso formativo do Saerjinho? Como ele pode ser utilizado em seu caráter formativo? São

essas indagações que nortearam a elaboração do modelo formativo de utilização do Saerjinho e de seus resultados.

No modelo de utilização formativa dos resultados do Saerjinho, deseja-se que os professores conheçam e saibam utilizar a Matriz de Referência do Saerjinho, com destaque ao reconhecimento das habilidades avaliadas a cada bimestre, e ainda que tenham formação para lidar com os resultados divulgados nos relatórios do Saerjinho, mas que não sejam extremamente responsabilizados pelos baixos resultados dos alunos. A responsabilização pode haver, desde que esse professor tenha condições de acompanhar o rendimento de seus alunos e não o faça. Essas condições estão relacionadas, por exemplo, ao conhecimento e à devida utilização do relatório com os resultados dos alunos, o que, conforme entrevistas realizadas com os professores na Escola X, não ocorre por falta de formação aos professores.

A figura 11 insere o modelo formativo entre os dois tipos de utilização dos resultados do Saerjinho elaborados, de forma a prevê-lo como um meio-termo entre a valorização e a desvalorização do Saerjinho como instrumento de avaliação, promovendo sua valorização como um instrumento bimestral presente no cotidiano escolar. Aí está a principal relevância desta pesquisa.

Figura 11 – Tipologia de usos dos resultados do Saerjinho

Fonte: elaborada pela autora, a partir dos dados coletados no decorrer da pesquisa.

Os relatórios com os resultados do Saerjinho, no modelo formativo, devem ser acompanhados bimestralmente, para que se possa estabelecer uma comparação entre os resultados de um mesmo aluno em períodos diferentes, para que, assim, se possa avaliar se ele já domina uma habilidade não dominada anteriormente.

Quanto à presença do instrumento no cotidiano escolar, o modelo formativo prevê que professores considerem o Saerjinho ao prepararem suas aulas como uma

das avaliações bimestrais, que o reconheçam como um dos componentes do SAERJ, mas sem relacionarem o teste bimestral à política de bonificação apenas, e sim que o percebem como um instrumento capaz de verificar a aprendizagem dos alunos bimestralmente, de acordo com as habilidades previstas no Currículo Mínimo e focadas na competência leitora. O que – é claro! – não se traduz no único foco das aulas de Língua Portuguesa.

No modelo formativo, os cadernos de questão devem ser manuseados em sala após a aplicação de forma a promover a verificação, em conjunto com os alunos, das habilidades em que ainda há maiores dificuldades, mas sem fazer desse o foco principal das aulas. Os cadernos de questões podem ser utilizados em anos seguintes como testes, o que se configura como uma forma positiva de se reutilizarem os cadernos que sobram, ou mesmo como banco de questões para as avaliações internas, mas essa prática não pode reduzir o espaço das aulas ao treinamento para os testes nem inviabilizar a liberdade do professor ao elaborar suas avaliações.

Por fim, no modelo formativo, o professor reconhece o caráter formativo do Saerjinho o trata como outra avaliação normal no cotidiano escolar, criando estratégias para que os alunos possam aprimorar as habilidades mais críticas, sem treinarem os alunos para o teste, evitando o estreitamento curricular.

Feito o estabelecimento de um modelo formativo de utilização dos resultados do Saerjinho, há que se alinhar os achados da pesquisa de campo apresentados no Capítulo 2 às ações que serão propostas no PAE. O quadro 8 apresenta esse alinhamento, tomando por base os quinze pontos elencados na seção 2.7 do capítulo anterior. Ressalta-se que a sequência numérica apresentada na primeira coluna do quadro 8 obedece à sequência estabelecida na seção 2.7, estando em acordo com a análise feita dos dados coletados nas entrevistas com os professores de LP da Escola X.

Quadro 8 – Alinhamento entre os achados da pesquisa de campo e as ações

propostas no PAE

Achados da pesquisa de campo Ação proposta no PAE

(1) O Saerjinho ainda está distante tanto da prática pedagógica cotidiana quanto do planejamento bimestral, pois é basicamente utilizado instrumento de preparação para o ano seguinte – no caso das turmas que não fazem a prova no ano corrente – ou como simulados para as próximas avaliações.

(2) No cotidiano da sala de aula, as práticas docentes observadas

Ação 1 Criação de espaços de formação e de discussão sobre o Saerjinho, a Matriz de Referência, o relatório de resultados, o

restringem-se, em boa parte, à correção das questões do Saerjinho após a aplicação. Os professores incluem o Saerjinho em sua prática apenas por se tratar de um instrumento de avaliação instituído, e não por perceber nele potencial formativo.

(3) O Saerjinho tem importância para que o aluno conheça o modelo de questão de múltipla escolha, embora haja professores que não se preocupem em trabalhar esse modelo de questões em sala de aula. (4) Os professores não demonstraram o hábito de treinamento para o Saerjinho, não supervalorizam o instrumento de avaliação nem concordam com a substituição do instrumento avaliativo bimestral de maior peso pelo Saerjinho. As poucas estratégias de acompanhamento dos resultados observadas não são frequentes. (5) Os professores têm conhecimento acerca do relatório de resultados do Saerjinho, em maior parte, sabem que é possível utilizar esses resultados para que sejam revistas as habilidades críticas, mas só utilizam-no para o lançamento da nota no Diário de Classe depois de feita a conversão da porcentagem de acertos em número com uma casa decimal.

(8) A equipe gestora de Escola X, especificamente na figura da Coordenação Pedagógica, oferecia suporte aos professores para que analisassem os relatórios, mas que essa prática não perdurou.

(9) Os professores lidam com os resultados do Saerjinho como resultados de avaliações internas – transformando os percentuais em notas – e lidam com a prova como uma avaliação externa – um instrumento que não é reconhecido como válido pelo professor. (12) Os professores desconhecem o foco dado às competências leitoras e à seleção de questões que mesclem diferentes níveis de dificuldade; percebem exagero na quantidade de textos e/ou no tamanho dos textos presentes nas provas.

(13) Os professores esperam do Saerjinho a cobrança de conteúdos mais formais da LP, como os gramaticais, e o foco na competência leitora ainda está dissociado do que é compreendido como “conteúdo” que deva ser avaliado (por “conteúdo”, entendem-se as questões normativas da LP, ou seja, as questões gramaticais).

(15) Poucos professores reconhecem a contextualização do ensino de LP por meio do uso dos gêneros textuais nas provas do Saerjinho e ainda estão se acostumando a trabalhar o ensino de LP na perspectiva dos gêneros textuais.

Currículo Mínimo, o foco na competência leitora,

pela gestão escolar.

(6) Os professores têm dificuldade ao compreender o relatório de resultados do Saerjinho devido à falta de formação técnica oferecida e ao tempo disponível para as análises que podem ser realizadas, pois não há, por exemplo, a indicação das habilidades no caderno de questões, apenas no relatório de resultados.

Ação 2

Indicação das habilidades avaliadas nos cadernos

de questão elaborados pelo CAEd.

(7) As dificuldades dos alunos em determinadas habilidades acabam sendo desconsideradas diante da necessidade de se cumprir o Currículo Mínimo, no tempo previsto e da falta de eficiência ao lidar com os relatórios de resultados.

(14) Os professores reconhecem a dificuldade dos alunos ao realizarem as provas do Saerjinho, não pelo nível de dificuldade das questões, mas pela dificuldade que apresentam para resolverem questões de interpretação, em que é exigida a competência leitora.

Ação 3 Desenvolvimento de sequências didáticas disciplinares e interdisciplinares pelos professores.

(10) Professores percebem que os alunos fazem as provas do Saerjinho sem se dedicarem e demonstram preocupação com a avaliação que os gestores fazem de seu trabalho docente, ao analisarem os resultados de turmas em que os alunos não dedicavam atenção às questões.

(11) Professores desacreditam nos resultados e na eficiência da prova como indicadora do aprendizado, considerando-se, também, a falta de dedicação dos alunos ao realizarem as questões.

Ação 4 Divulgação da importância pedagógica do Saerjinho e da Matriz de Referência aos alunos,

pela gestão escolar e professores.

Estabelecidas as ações, destaca-se que foram pensadas levando em consideração os próprios atores da Seeduc/RJ, da RMP e da Escola X, sem a necessidade de contratação de profissionais externos com foco na economia de recursos financeiros. Essa medida leva em conta o Decreto nº 45.692/2016, de 17 de junho de 2016, que decreta estado de calamidade pública, no âmbito da administração financeira do estado do Rio de Janeiro, e dá outras providências. Segundo o Art. 1º, “Fica decretado o estado de calamidade pública, em razão da grave crise financeira no Estado do Rio de Janeiro, que impede o cumprimento das obrigações assumidas em decorrência da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016” (RIO DE JANEIRO, 2016). O baixo custo, estimado para o ano letivo de 2017 em aproximadamente R$ 1.980,00 (hum mil, novecentos e oitenta reais), que deve ser corrigido de acordo com os percentuais de inflação, pode ser considerado mais uma relevância do PAE, que faz de sua execução simples, bastando organização entre os envolvidos.

Na próxima seção deste terceiro capítulo, apresenta-se o modelo formativo de apropriação dos resultados do Saerjinho como um PAE, destinado aos professores de Língua Portuguesa da Escola X, tomando por base as perspectivas do projeto funcionalista de análise linguística – em oposição ao formalista – evidenciando o foco na leitura por meio do ensino dos gêneros textuais.

3.2 PAE: plano de intervenção para a utilização do Saerjinho como avaliação