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Nessa seção nos dedicaremos a abordar a importância da patriae para os romanos da época de governo de Otávio Augusto e da escrita da Eneida. Para isso, trataremos de temas relativos aos rituais cívicos praticados nos ambientes públicos de Roma. De acordo com o

Shorter Oxford Dictionary o termo cívico é definido como “adequado para um cidadão ou

cidadãos, ou ainda, relativo à cidadania, em oposição ao militar, eclesiástico, etc”. Esse conceito foi empregado por Adam Ziolkowski (2013, p.389) para o estudo dos rituais nos espaços públicos e privados da Roma republicana e imperial e de acordo com seu ponto de vista essa definição teria feito pouco sentido para os romanos. O autor justifica tal afirmativa pelo fato que nessa sociedade a vida cívica e o culto público, comandados mais pelo Estado que pelos sacerdotes, faziam parte de um todo inseparável. Tomaremos aqui de empréstimo a análise desse autor sobre como a religião e a política se entrelaçavam nos rituais cívicos da capital do império, a fim de ampliar nossa discussão em torno da trajetória política, militar e religiosa do personagem principal da Eneida, Eneias, documento através do qual podemos identificar como essas questões estavam enraizadas na Roma augustana.

Do ponto de vista de Ziolkowski (2013, p.394-403) a cidade Antiga era a comunidade dos deuses e dos homens, consequentemente o ritual cívico incluía elementos culturais. Em Roma todo ato político era significativo e estava relacionado diretamente a um ritual. Claúdia Beltrão da Rosa (2010, p.317) ao analisar a importância do solo para os romanos no período imperial observa que um dos aspectos mais relevantes no processo de integração política e territorial era a questão da cidadania romana. Era esperado o reconhecimento dos deuses romanos no momento que um indivíduo recebia o direito à cidadania romana, logo “aqueles que contavam como ‘romanos’ em termos cívicos, também contavam como ‘romanos’ em termos religiosos” (BEARD, NORTH & PRINCE, 1998 apud. ROSA, 2010, P.317). As divindades das mais variadas instâncias, lugares, atividades e grupos humanos, possuíam um papel de grande relevância nas relações de poder existentes entre as cidades imperiais, desde que os homens participassem dos seus cultos. Essa era a condição para a preservação da pax deorum, da concordia cívica, bem como da integração das províncias, levando a uma integração dos cultos que possuíam alguma ligação com o poder imperial. Este por sua vez era consolidado através da construção de altares em homenagem a Roma e a Otávio Augusto e pela realização de um juramento de fidelidade anual ao imperador (TÁCITO, Ag., 21, PLINIO, Ep., 10.35-36 apud ROSA, 2010, p.193).

Rosa (2010, p.193-194) frisa que os deuses eram uma parte integrante da urbs. O calendário festivo designava os dias regulares para as comemorações religiosas, no entanto

a presença das divindades não era uma garantia, pois elas respeitavam algumas leis físicas de tempo e espaço. Sua presença num ritual não podia ser considerada certa de imediato, por mais importante que fosse o grupo que a invocava. Era necessário que a deidade fosse convidada a participar do ritual, de um festival ou ser testemunha de pleiteantes. Isso implicava que os homens se esforçassem para atrair os deuses. A religião romana pode ser classificada como uma “religião do lugar”, centrada e localizada na cidade de Roma e isso parece ter sido um fator que dificultou a expansão dos seus cultos pelas províncias imperiais, que eram anexadas ao domínio romano. Essa relação da religião ao solo pode ser verificada nos mitos e nas regras que designavam o lugar ideal dos objetos de culto em caso de sua transferência para outro local, na qual a deidade era representada pelo deslocamento dos objetos de seu culto. No entanto, se tratando de uma religião cuja centralidade estava em Roma, onde deuses estavam ligados a lugares e objetos específicos, exportar um culto para outras cidades poder ter causado algumas dificuldades.

De acordo com Ziolkowski (2013, p.468-469) havia uma correlação entre o número e diversidade de habitantes da cidade e a heterogeneidade das suas divindades, bem como de seus cultos. Até o período imperial Roma viveu no auge da sua pluralidade cultural e religiosa. A percepção da capital como a casa de todos os deuses contidos no imperium romano e da imagem de todos eles como imigrantes em Roma se repetem como um tópos da literatura divulgada a partir de Augusto. Nem os novos cidadãos, nem os imigrantes sem cidadania romana, estavam dispostos a abandonar seus deuses e renunciar suas próprias tradições religiosas. Eles traziam os deuses de suas respectivas pátrias (patrii di) e necessitavam de abrigo em Roma. Além disso, comerciantes romanos e soldados levavam constantemente para sua cidade divindades que encontraram em terras distantes. A liberdade da comunidade para adotar deuses estrangeiros parece ter sido levada mais longe na capital do Império Romano que em outros lugares. Da República ao Império havia nessa cidade santuários dedicados as divindades recém-chegadas, movimento que acompanhou seu crescimento e favoreceu o desenvolvimento de sua influência em várias regiões.

O pomerium definia a linha interna da ager effatus, um espaço demarcado pelos augúrios a partir dos auspícios retirados do voo dos pássaros e cujo perímetro exterior, a cerca de 6 milhas da cidade romana era simbolizado por um amontoado de pedras (Varrão,

(‘em casa’, na cidade) e militae (zona de guerra). Ao exército não era permitido caminhar no solo do pomerium, bem como a assembleia centuriata, que era um corpo de cidadãos militarizados, às vezes chamado de exercitus (exército), seu lugar era fora da cidade, nos Campos de Marte. Vale ressaltar que a tríade Capitolina, Júpiter Juno e Minerva, foram um símbolo da República e, em menor medida, do Império, seu significado religioso estava intimamente envolvidos em rituais políticos de Roma. Há quem defenda também que o

pomerium serviu como um separador de deuses romanos e estrangeiros, com apenas os

autorizados a receber culto público dentro do perímetro sagrado da cidade (ZIOLKOWSKI, 2013, p.464).

Sobre os deuses romanos Beard, North & Prince (1998, p.41) observam que é possível fornecer um esboço do seu lugar na vida de Roma: intimamente envolvida na atividade política e militar da cidade, eles eram vistos como forças fora da comunidade humana com a qual o homem podia negociar e se comunicar através de regras, tradições e rituais. As atividades dos líderes da cidade em nome dela não deviam ser realizadas em negociações e ações conjuntas com os deuses, assim a benevolência divina foi essencial para o sucesso do Estado. A história de Roma, em outras palavras foi determinada pelas ações de homens e deuses em conjunto.

Uma parte fundamental da relação entre homens e deuses era a realização de sacrifícios. Muitas das informações sobre esses eventos foram obtidas através de vestígios arqueológicos e da literatura. Em algumas ocasiões o animal que seria sacrificado era testado e verificado para garantir que era adequado, por isso era preciso o controle sobre a escolha do sexo, idade e cor, em relação à divindade homenageada e a ocasião em questão. Depois de uma procissão para o altar e dos ritos preparatórios era realizada uma oração na qual o destinatário divino era nomeado. Em seguida, a vítima era “consagrada” com vinho e uma refeição colocada próxima a ela. Sua morte deveria ocorrer por um único golpe, suas entranhas eram examinadas pelo haruspice, que verificava se os augúrios eram favoráveis, o animal era então cozido e comido pelos adoradores. Se o exame mostrasse sinais desfavoráveis o ritual era repetido e outras vítimas poderiam ser sacrificadas. Todo o processo era conduzido de acordo com regras e tradições, qualquer erro ou infortúnio, a vítima fugir ou lutar ou as entranhas caírem no chão, por exemplo, era considerado um mal presságio (BEARD, NORTH & PRINCE, 1998, p.36).

No Livro III da Eneida encontramos referências sobre a importância da manutenção da pax deorum através da realização de sacrifícios de animais. Em vários dos lugares onde Eneias e seus companheiros aportam são realizados esse tipo de ritual em homenagem aos deuses, principalmente para Netuno, Apolo, Júpiter e Vênus, os principais protetores desses homens ao longo da epopeia, em busca de bons presságios. Na Trácia, Eneias funda um povoado chamado Eneia, mas reconhece que ele não foi abençoado com prósperos auspícios (Eneida, III, 16-17). A ausência de boas previsões divinas significa que essa terra não renderia bons frutos, mas mesmo assim os troianos exilados insistem em ficar nessas paragens até o momento em que recebem um segundo aviso para saírem da ilha90. Em Delos, quando os troianos se preparam para partirem em direção a Creta realizam novos sacrifícios, em altares dedicados aos deuses Netuno e Apolo imolam um touro para cada um desses deuses (Eneida, III, 118-119), buscando a proteção dessas divindades ao longo do seu percurso. Mais à frente, quando aportam na Ilha das Harpias os troianos sacrificam touros e cabras em homenagem aos deuses (Eneida, III, 219-224). No Ácio, onde participam dos jogos ilíacos, realizam rituais de sacríficos em homenagem a Júpiter (Eneida, III, 278-279). Percebemos nessas passagens a relação de troca que os homens possuíam para com os deuses, além do destaque às deidades protetoras do Império, principalmente Júpiter, o pai de Rômulo, fundador de Roma, e Vênus, a mãe de Eneias e da

gens Iulia, que desempenhavam o papel de guarda da linhagem que daria origem aos

romanos ao longo da epopeia, pois no decorrer da narrativa são mais enfatizados.

Os deuses, em especial Júpiter, Vênus e Apolo, interferem na vida dos exilados de Troia através de aparições, oráculos e em fenômenos da natureza, guiando-os até a Itália e promovendo vitórias nas batalhas que enfrentam no desterro, principalmente, conforme eles se dedicam a seguir seus conselhos e oferecer-lhes as devidas homenagens. Na Eneida os deuses não interferem apenas nos assuntos relacionados à religião, eles interagem com os homens em várias instâncias do seu cotidiano, como a guerra e a política. Foi pela garantia dos seres divinos que Eneias se tornou o líder dos sobreviventes da guerra de Troia, são eles também que os protegem durante as tempestades e guerras causadas também por interferências dos imortais, mais especificamente por Juno. Na epopeia virgiliana questões

90 Enquanto fazia uma caminhada pela ilha, encontra o corpo de um dos filhos de Príamo, Polidoro, que adverte Eneias para que fuja dessa terra o mais rápido possível, pois ela estava condenada a destruição, tal como Troia (Eneida, III, 37-46).

religiosas, políticas e militares se entrelaçam. A obediência de Eneias aos deuses demonstra a importância da observância religiosa dos romanos como garantia da manutenção da pax. Além disso, essa poesia enaltece o passado glorioso de Roma, marcado pelos sacrifícios do herói que levou sua pátria, deuses e compatriotas de Troia á Itália abdicando da sua própria vontade, principalmente de morrer lutando na Guerra de Troia e de se fixar em alguma das ilhas pelas quais aportou durante o desterro, como aconteceu em Cartago, onde encontrou o amor da rainha Dido. Tudo isso em beneficio da vontade dos deuses e da missão que lhe deram de fundar as bases de um futuro império. A Eneida traduz a possibilidade de reestruturação de uma cidade, mesmo após um período de caos – no caso de Troia, através da sua transferência para a Itália, e da Roma augustana, através da pacificação promovida por Otavio Augusto ao fechar os portões do templo do deus Jano, inaugurando o período de

pax.

Os sacrifícios que os troianos exilados realizaram em homenagem aos deuses podem ser vistos como forma de promover a transformação de um espaço anteriormente alheio ao seu conhecimento em um espaço conhecido e experienciado, pela busca de bons auspícios. O exílio na Eneida é uma experiência com o divino. Os troianos em todo o seu percurso, descrito no Livro III, se deparam com situações que testam sua fidelidade aos deuses sempre partindo, de onde encontram terra firme para repousar ou encontrando ambientes hostis, são levados pelos presságios divinos a seguirem para outras paragens. A deusa mãe, Vênus, Júpiter, Apolo e os Penates são os guias dessa viagem e Eneias é o intermediário entre essas deidades e os seus compatriotas. O herói troiano pode ser interpretado como uma representação de Otávio Augusto, que guiara seu povo ao “século de ouro”, mas também como o próprio povo romano, um incentivo para que este último se reconhecesse como descendente do herói piedoso de Troia, sempre cumpridor da vontade dos deuses, prestando-lhes homenagens nos tempos mais difíceis, assim como nos mais prósperos, defensor dos Penates e do respeito para com seus pares.

Encontramos representados na Eneida os princípios que regiam a relação dos homens com os deuses, amalgamados nas relações politicas e militares. A vida cívica da Roma augustana era pautada na realização de rituais públicos e privados que visavam manter a pax deorum, garantindo assim os sucessos militares e políticos. Os poetas da Antiguidade romana, entre eles Virgílio, foram responsáveis pela propagação de modelos

de comportamento social entre os cidadãos, criando uma ideologia sobre os valores morais instituídos não somente pelos seus trabalhos, mas também e, principalmente, pelo meio no qual se encontravam inseridos. A fonte literária se revela para nós como um importante acervo documental sobre essas questões, pois se encontra impregnada de interpretações e preocupações próprias de seu tempo.

Considerações finais

Acreditamos que a Eneida é uma rica fonte de estudo sobre a história de Roma, do século I a. C. Quando questionado sobre a importância da Eneida nos dias atuais, em entrevista realizada por ocasião da sua recente tradução da epopeia, Paul Veyne não esconde a sua admiração por Virgílio. Para o historiador e latinista francês, o poeta romano, como homem patriota e amante da ordem, queria dar a Roma o equivalente do que era a

Ilíada para os gregos: “uma origem mítica, uma lenda de fundação” (VEYNE, 2012). A Eneida, aos olhos de Veyne, “é um romance de aventuras, rápido, nervoso, cujo poder

evocativo é incrível”, por isso, Virgílio poderia ter sido o autor de um filme de ação, porque sua obra fornece “dezenas de aventuras em ritmo frenético” (VEYNE, 2012). Não apenas Veyne, mas outros autores chamaram a atenção para a força poética e a construção narrativa admiravelmente bem realizada por Virgílio. Mas os historiadores também, nunca deixaram de ler a Eneida como uma rica fonte de estudo sobre a história de Roma, do século I a.C.

Nesta pesquisa, procuramos demonstrar como a experiência, transformação do espaço e fundação de cidades na Eneida articulou três elementos ligados à sociedade romana, a política, a religião e a vida cívica, pensados a partir da relação entre mythos e memória no mundo romano, dentro e fora da epopeia. Tentamos demonstrar aqui a viabilidade desse estudo na interpretação de como se dava a relação dos romanos com o espaço que a cidade abrangia e como o culto desta, ligado ao sacrifício que os antepassados romanos enfrentaram para fundar as bases do império pautava-se na ideia de obediência aos deuses demonstrada por Eneias e seus companheiros de exílio.

Tentamos mapear na Eneida a configuração que o principado augustano deu ao mito de Eneias não só na literatura, mas também na estatuária, especificamente na Ara Pacis, onde a imagem emblemática do herói e seu filho, Ascânio, se preparando para a realização de um ritual de sacrifício em homenagem aos Penates, aparece em um dos painéis que a compõem. Otávio Augusto buscou divulgar sua imagem como descendente da gens do fundador das bases do Império Romano e na epopeia virgiliana essa relação foi explorada nas profecias que os deuses realizaram sobre o futuro de Roma e os descendentes de Eneias. Essa conexão entre o nascimento de Roma e a gens do princeps aparece na epopeia

virgiliana de maneira tão íntima que ambas as histórias chegam a se confundir. Acreditamos que essa questão deva ser investigada com mais profundidade. O tempo imposto para a realização desse trabalho não nos permitiu dar mais ênfase a essa questão, por esse motivo nos limitamos a uma observação mais disponível no capítulo I.

Foi uma de nossas principais preocupações problematizar a Eneida como documento histórico. Diante de uma tradição literária sobre o personagem principal da

Eneida, Virgílio produziu um poema singular, mais que uma continuação dos eventos

narrados na Ilíada. A epopeia virgiliana apresenta sua própria abordagem sobre o papel do herói, que ao contrário daqueles que foram cantados nos poemas homéricos, Aquiles e Odisseu, não era um vencedor, mas um perdedor. Na Guerra de Troia sua cidade foi destruída, sua esposa foi morta, assim como o rei a quem jurara fidelidade e muitos outros compatriotas. Apesar disso, era filho de uma deusa, Vênus, que não o abandonou durante o exílio, o auxiliou e protegeu em vários momentos. Tendo sido amparado também por Júpiter e Apolo. Procuramos avaliar como o mito de Eneias se encontrava entrelaçado a duas tradições, a grega e a latina, com o objetivo de problematizar como Virgílio se apropriou de uma personagem que já havia feito parte de outros poemas para construir seu perfil, de acordo com as especificidades necessárias para tratar de questões romanas, principalmente relacionadas à interação entre homens e deuses.

No Livro III da epopeia virgiliana a narrativa traz à tona a importância da rememoração do passado mítico de Roma e principalmente dos seus antepassados, fundadores das suas bases. Eneias relembra episódios que marcaram sua viagem de Troia à Cartago, na qual seu pai Anquises desempenhou o papel de guia do heroi, bem como de interprete das previsões divinas até o momento da sua morte, ressaltando assim a importância da obediência aos homens mais velhos, principalmente se este fosse membro de sua gens. Percebemos, no decorrer da narrativa do personagem sobre seus primeiros anos como exilado, que este adquire, nas provações que enfrenta, um conjunto de características que delineiam a sua personalidade como herói, desenvolvida nos episódios dos Livros seguintes.

Fundador de uma cidade, Lavínio, que nasceria livre da condenação dos deuses que levara Troia à destruição, principalmente no que se refere ao desrespeito da linhagem de governantes pertencente à gens de Príamo aos pactos selados com os deuses. Eneias é o

heroi piedoso, seguidor do fatum, que realiza sacrifícios em honra aos deuses, mas também um líder político e um guerreiro que pega nas armas para defender seu povo quando necessário, tal como observamos no episódio da ilha das Harpias. As provações que Eneias tem de enfrentar no percurso de Troia à Itália podem ser entendidas como garantias que os deuses teriam de que o líder escolhido não cometeria os mesmo erros que os reis de Troia.

Isso nos leva a pensar sobre as questões políticas e religiosas ligadas à vida cívica da cidade de Roma, durante o principado augustano, quando o princeps buscava se afirmar como imperador utilizando-se da valorização dos antepassados romanos e das suas tradições como uma das ferramentas para a legitimação do poder. A religião nesse período, conforme destacamos no capítulo III andava de mãos dadas com as questões referentes ao Estado. Mas, isso não significa que o herói da Eneida seja apenas uma metáfora da figura de Otávio Augusto. A nosso ver Eneias trazia em si características que deviam fazer parte também da conduta dos cidadãos de Roma, herdeiros de Eneias. O respeito aos antepassados e às tradições religiosas, a manutenção da pax deorum e a proteção da cidade nos tempos de guerra não eram tarefas apenas do princeps. Sendo assim, compreendemos que provavelmente o perfil de Eneias foi elaborado por Virgílio como símbolo da