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Renda fundiária, direitos de propriedade e uso dos recursos nas

No primeiro capítulo concluiu-se que a diversidade do espaço, natural e socialmente construída, origina produtividades dos factores diferentes de um local para outro e, por esse motivo, mais valias diferenciais. Por outro lado, a partir da análise do segundo capítulo, mostrou-se a importância dos direitos de propriedade na captação dessas mais valias diferenciais.

Ainda que os benefícios permitidos pela propriedade assumam múltiplas formas que não exclusivamente as económicas, esta dimensão diferencial imprimida à terra pelo espaço natural é estrutural e condiciona todas as funções, tanto as económicas como as sociais e simbólicas. Impõe-se, por isso, a avaliação desta dimensão mais estrutural e do seu efeito sobre aquelas funções, objectivo em torno do qual se centra este capítulo.

A heterogeneidade e a diferenciação das qualidades da terra surgem a vários níveis: tanto à escala do local, onde as parcelas se diferenciam umas das outras, como a escalas sucessivamente mais alargadas, ao nível das quais diferenças naturais e socialmente construídas são responsáveis pela hierarquização do território. Face a este conjunto de “diferenciações” é necessário encontrar um nível de análise que permita não só apreender a diversidade do primeiro nível (do local) como articulá-la, globalmente, com outras escalas de diferenciação. Como já se concluiu no capítulo 1, a comunidade de aldeia é uma unidade que reúne essas características. Tomar-se-á, então, como unidade de base da análise.

Nesta perspectiva, inicia-se este capítulo com uma análise da multiplicidade de relações da sociedade com o território, que se estabelecem ao longo desta unidade espacial de base, consoante a diversidade de condições naturais e construídas. Recorre-se depois à teoria da renda fundiária para explicar a produção diferencial de mais valias ao longo do território e a emergência de territórios centrais e marginais. Assim, na segunda secção do capítulo, procura-se no âmbito da teoria clássica da renda fundiária instrumentos teóricos adequados a esta análise. A partir de alguns desses desenvolvimentos inicia-se depois, na última secção, a formalização de um modelo de análise que permita apreender a dimensão estrutural da relação da sociedade com o território no âmbito da unidade territorial elementar que se escolheu: a comunidade de aldeia.

3.1 - A propriedade da terra nas comunidades de aldeia

Descreveu-se já no primeiro capítulo o processo histórico da construção do sistema fundiário em regiões marcadas por uma ocupação humana do tipo “comunidade de aldeia”, como é o caso de Trás-os-Montes. Viu-se então que nas aldeias transmontanas subsistiu, ao longo de muitos séculos, um regime fundiário caracterizado pela coexistência de uma zona de

apropriação privada, limitada ou não em determinadas épocas por direitos de propriedade de ordem superior, com uma zona de propriedade colectiva (baldios).

Porém, a partir de finais do século XVIII, dissolvido o sistema de propriedade feudal, os baldios passam a ser considerados como a única forma arcaica de propriedade que ainda restava e que interessava dissolver. Era, nesta altura, grande a preocupação com a intensificação da produção agrícola e a integração plena do sector na economia de mercado, o que se procurava conseguir através da mudança de regime jurídico da propriedade fundiária. Associa-se este regime de propriedade à ideia de incultos e de uma forma de utilização da terra socialmente indesejável. É “lamentável que esteja a maior parte inculta com baldios” afirmava José António de Sá22. Persiste, contudo, até hoje no Norte do país uma parte importante do território em propriedade comunitária, embora tivesse passado pela estatização e florestação durante o Estado Novo e, posteriormente, regressado ao regime de propriedade comunitária, processo que é bem conhecido e já anteriormente se descreveu.

Assim, uma proporção significativa do território mantém-se em regimes de propriedade não individual envolvendo propriedade da terra por parte do estado, das autarquias locais (juntas de freguesia e concelhos), Igreja (paróquias) e propriedade comunitária das aldeias (baldios). Como se justifica a persistência dos regimes de propriedade da terra em comum, mau grado a vontade política, em várias épocas reafirmada, de os anular?

Em termos económicos, estas terras estão (adoptando a designação de Bromley, 1991: 109) na margem económica extensiva. Viu-se já anteriormente que as comunidades de aldeia organizaram o uso do território hierarquizando o espaço, de forma mais ou menos concêntrica, em torno do núcleo habitacional central, surgindo nitidamente um gradiente de intensidade do uso e de acumulação de fertilidade do núcleo para a periferia. A aplicação de trabalho e de capital por unidade de terra é muito menor na margem do que no centro, bem como o produto obtido por unidade de superfície.

A uma comunidade de aldeia corresponde, portanto, uma coerência sistémica na exploração dos recursos naturais: o sistema social e o território compatibilizam-se com esse fim. Pode, assim, afirmar-se que a aldeia é uma unidade social de grande significado na gestão da terra e dos recursos naturais. De facto, a uma aldeia corresponde um território bem delimitado, identificado com um grupo particular de casas e famílias, constituindo uma organização social com um sistema de valores, de normas e de autoridade que, em boa parte, se centra em torno do controlo do uso dos recursos naturais.

Os direitos de propriedade sobre os recursos nas comunidades de aldeia são complexos e comportam vários regimes23. A terra agrícola é na sua maioria objecto de apropriação privada, mas com distinta delimitação de direitos consoante a configuração

22 Ver citação no capítulo 1.

23 Na última parte do trabalho apresenta-se evidência empírica que sustenta esta discussão, mas muitos outros trabalhos descrevem estas formas de organização. Ver p.e. Portela (1986) e O’Neill (1984)

espacial dos usos. Na primeira orla, mais intensiva e próxima das casas, alguns terrenos podem ser cercados impedindo a entrada de gados ou pessoas durante todo o ano. Semelhante definição de direitos existe relativamente aos lameiros, mesmo que longe da aldeia, onde também o sistema de campos fechados é norma. Pelo contrário, ainda na orla mais intensiva, na veiga, com o seu intrincado reticulado de muito pequenas parcelas, os direitos tem contornos bem diferentes: as pequenas parcelas não podem ter outra delimitação que não sejam os marcos enterrados, e as operações de mobilização do solo com animais ou máquinas devem ser efectuadas em datas determinadas, por regras de há muito estabelecidas, ou anualmente conforme decisão da assembleia do povo. Na orla das culturas anuais intensivas os campos são abertos, mas a invasão pelos gados não é permitida quando os campos estão em cultura, o que acontece a maior parte do ano. Mais distante, o espaço reservado às culturas anuais extensivas, obriga a um sistema de uso da terra segundo uma rotação que inclui um ano de pousio e o respeito pelas folhas em cultivo (um ano cultiva-se a folha de um lado da aldeia, no ano seguinte do lado oposto). Quando a terra está em pousio a passagem dos gados é livre. Finalmente, surge a terra em regime de propriedade comum – o baldio. Relativamente a esta, a aldeia institui um sistema de controlo do uso dos recursos que envolve, por exemplo, a decisão sobre a atribuição de direitos ao corte de lenha, ao eventual cultivo de uma parcela, bem como à salvaguarda da integridade territorial do baldio, garantindo que não há invasão por indivíduos exteriores à aldeia e que os limites não são alterados.

A definição dos direitos de propriedade não é pois simples. A dicotomia propriedade privada / propriedade comum está longe de reflectir a diversidade de configurações que os direitos de propriedade assumem no controlo do uso dos recursos. Duas conclusões fundamentais podem retirar-se desta forma de organização da propriedade da terra. Primeiro, os direitos nunca são absolutos: envolvem uma extensão maior ou menor consoante o recurso em causa. Por exemplo, nalgumas extensões do território, o direito de exclusão de outros é completo, bem como a autonomia dos usos. Pelo contrário, noutras zonas ecológicas, ambos são limitados. Segundo, é importante realçar o papel determinante da instituição “comunidade de aldeia”, com os seus mecanismos de controlo e tomada de decisões colectivas, na gestão e protecção destes direitos de propriedade. O estado e a sua dimensão jurídica protegem apenas o esqueleto da propriedade, cabendo depois às instituições locais a configuração exacta que estes direitos assumem, bem como a sua gestão e controlo na maioria das situações. O recurso aos tribunais, embora frequente, faz-se, na maioria das circunstâncias, para regular conflitos quando estes já ultrapassaram a estrita dimensão de disputa de direitos de propriedade.

Os custos de transacção são também diferentes consoante a configuração dos direitos e o tipo de recurso. Na figura seguinte ilustra-se esta relação em função do custo de imposição dos direitos. O custo de delimitação dos campos e a dimensão das parcelas são determinantes nesta relação: quanto menores são as parcelas, mais elevados são estes custos.

Campos fechados Horta Rotações intensivas Rotações extensivas Baldio Distância à aldeia $

Figura 2 – Custos de transacção e direitos de propriedade ao longo do território de uma “comunidade de aldeia”

Pode assim concluir-se que o ordenamento espacial do território e o peso das instituições locais na definição dos direitos de propriedade são determinantes da forma de controlo do uso dos recursos que resulta da organização social do tipo “comunidades de aldeia”.

Em termos muito esquemáticos, pode representar-se esta forma de organização territorial do uso dos recursos do seguinte modo. Considere-se uma comunidade de aldeia com uma determinada população. A agricultura desenvolve-se mais intensivamente nas zonas próximas da aldeia, tornando-se progressivamente mais extensiva à medida que a distância à aldeia aumenta. O aumento da distância e a cada vez menor disponibilidade de solos de boa qualidade fazem com que o retorno obtido por cada unidade de trabalho aplicado numa nova unidade de terra decresça. Relativamente ao pastoreio, a utilização de pastos cada vez mais distantes provoca igualmente um decréscimo do rendimento obtido por cada unidade de terra utilizada, mas, neste caso, substancialmente mais lento porque o custo da distância é menor, a qualidade da terra não é tão sensível na produção dos pastos e os custos de transacção do regime de propriedade comum são inferiores aos que se relacionam com a propriedade privada. Podem imaginar-se ainda outras funções de produção mais extensivamente ligadas ao território, tais como a caça, a recolha de lenhas e matos, a colecta de cogumelos, etc. Estas actividades, embora com retornos decrescentes à medida que a distância aumenta, apresentam uma sensibilidade ao afastamento do centro da aldeia muito menor do que a agricultura.

Temos portanto várias actividades alternativas de utilização do território, diversos regimes de propriedade (com diferentes formas de regulação) e diferentes condições de qualidade e de localização da terra.

Posta a questão em termos de diferenciais condições de produção, as semelhanças com o modelo clássico da teoria da renda fundiária são evidentes. Entende-se, de facto, que este modelo teórico pode revelar grande capacidade explicativa, não só das relações entre a sociedade e o território no seio da comunidade de aldeia, mas também subindo à escala de universos regionais distintos.

Nesta convicção, dedica-se a próxima secção à análise dos desenvolvimentos clássicos no âmbito desta teoria.

3.2 - A teoria da renda fundiária e o conceito de marginalidade

A teoria da renda fundiária revela uma invulgar capacidade de sobrevivência na explicação das relações sociais e económicas com a terra. De facto, não é só de conflitos de classes que a renda fundiária trata. Tem sido possível utilizá-la para explicar a formação dos preços de produtos agrícolas, a localização das culturas, a repartição da riqueza, entre outras questões. Com efeito, a renda é uma mais valia que resulta de condições diferenciais de produção (sejam elas naturais ou de situação) face a preços que o mercado determina. Pode ser um agente social a produzi-la e um outro a apropriá-la, ou podem as duas funções concentrarem-se na mesma pessoa. Em qualquer dos casos, ela existe e tem implicações múltiplas. Por isso, procura-se na teoria da renda fundiária algumas das ferramentas teóricas para construir o quadro explicativo.

A teoria clássica da renda fundiária trata esta categoria económica como sendo exógena ao processo produtivo, uma vez que tem por origem um sobre-lucro que o direito de propriedade autoriza a apropriar sob a forma de renda. A sua origem está não numa relação social de produção, mas numa relação social de distribuição de um sobre-lucro a uma classe social em particular: a dos proprietários fundiários.

Ricardo definia a renda como “aquela parte do produto da terra que é paga ao senhorio pelo uso das potencialidades originárias e indestrutíveis do solo.” (1983 [1821]: 73) A renda deve porém distinguir-se de outras categorias económicas, como o lucro e o juro, pelo facto de resultar simplesmente da quantidade limitada e da qualidade heterogénea da terra: “é só porque a terra não existe em quantidade ilimitada e a sua qualidade não é uniforme e porque, com o aumento da população, se cultiva a terra de qualidade inferior ou pior situada que se paga renda pela sua utilização.” (1983 [1821]: 76)

Ricardo explicava a origem da renda fundiária com base no “modelo do trigo” expressando todos os fluxos (produção, salários, capital, lucro) em termos físicos (unidades de trigo). A renda surge como um resíduo, que a propriedade permite aos proprietários fundiários captar, devendo-se a duas razões fundamentais: quando a procura de trigo aumenta, as necessidades adicionais de produção podem ser obtidas através do cultivo de novas terras, até aí incultas, que serão necessariamente de pior qualidade, ou da aplicação de mais capital e trabalho numa terra já em produção. Em ambas as situações a produtividade marginal do trabalho diminui: no primeiro caso (renda diferencial extensiva ou renda diferencial I) devido à menor qualidade das terras que vão sendo postas em produção, no segundo (renda diferencial intensiva ou renda diferencial II) devido à lei dos acréscimos decrescentes. No modelo de Ricardo os salários são determinados exogenamente (pelas necessidades mínimas de reprodução humana), e o capital é considerado igual ao montante de salários necessários para produzir durante uma campanha. A taxa de lucro é determinada pela concorrência entre

agricultores e corresponde ao excedente obtido na terra de pior qualidade dividido pelo total de capital aplicado. Nas terras de melhor qualidade o excedente é obviamente maior, dado que se obtém a mesma produção com menos trabalho, porém o mecanismo de competição entre rendeiros, determina que seja essa a taxa de lucro aceite por todos os agricultores, sendo o restante captado pelos proprietários fundiários na forma de renda. A renda é portanto determinada de forma residual - sendo mais elevada nas melhores terras e nula nas terras marginais - e não influencia os preços, são antes os preços que determinam o seu aparecimento.

A lei dos acréscimos decrescentes surge estreitamente ligada à explicação da renda24. Na figura seguinte ilustra-se o modelo Ricardiano da renda fundiária, admitindo, para simplificar a apresentação, que a produtividade marginal da terra decresce de igual modo à medida que mais capital é aplicado na mesma terra ou que terras de pior qualidade vão sendo postas em produção. Considerando categorias de terra de qualidade sucessivamente mais baixa (A, B, C e D) e admitindo que para satisfazer a procura global era necessário por em produção as terras da classe D, o preço de mercado (p) seria igual ao custo de produção nas terras de pior qualidade (CpD = p na figura), determinado a partir da quantidade de trabalho necessário para obter uma unidade de trigo, mais o excedente correspondente ao lucro do agricultor, o qual dividido pelo capital aplicado (que é igual ao montante dos salários) determina uma taxa de lucro igual para todos os agricultores. Todos estes montantes são expressos em unidades físicas (quantidade de trigo). Nas terras da categoria A é possível obter a mesma quantidade de produção com um valor de capital muito mais baixo, gerando um excedente superior ao das terras marginais. Porém, pela concorrência entre agricultores, a taxa de lucro é a mesma e só uma parte deste excedente constitui o lucro do agricultor, o restante (CpA menos CpD) constitui a renda que reverte para o proprietário. As terras de qualidade B e C, embora com um custo de produção por unidade de produção mais alto, permitem mesmo assim gerar um excedente face às terras da categoria D. Estas diferenças de produtividade entre as diferentes classes de terra, são responsáveis pela aparecimento do primeiro tipo de renda diferencial, representado na figura do lado direito por RD I. Porém, nas terras de melhor qualidade é possível aplicar maior quantidade de capital por unidade de superfície até ao ponto em que a rendibilidade marginal (Rm na figura) da última unidade de capital iguala o custo de produção. Assim, na terra do tipo A seria aplicada a quantidade de trabalho TA. Este

fenómeno é responsável pelo surgimento do segundo tipo de renda: a renda diferencial intensiva (na figura representa-se pela área RD II a renda diferencial intensiva gerada nas terras do tipo A). A renda total é o somatório dos dois tipos de renda.

24 Em 1815 surgem simultaneamente as obras de West, Torrens, Malthus e Ricardo, cada uma formulando de forma autónoma a teoria da renda diferencial. Cfr. Blaug, 1985: 89.

CpD = p A B C D TD TC TB TA Trabalho e Capital Categorias de terras Trigo Trigo RD II RD I Salários

Lucro Custo de produção

p

Rm CpA

Figura 3 – O modelo Ricardiano da renda fundiária.

O modelo de Ricardo pressupõe que não existe uma escassez global de terra, mas apenas de boa terra. Ou seja, será sempre possível encontrar novas terras para mobilizar produtivamente sem que tal implique qualquer custo pela sua utilização, uma vez que, na situação marginal, o valor da renda e portanto o valor da terra serão nulos25. Pelo contrário, Marx mostra que existe sempre uma renda, mesmo na situação marginal. A sua existência deve-se à propriedade privada da terra, a qual, criando um travão à expansão do capital, obriga a que o preço de mercado se afaste do preço de produção, de tal forma que o diferencial entre estes dois preços constitui a renda absoluta (RA). A renda absoluta deve-se pois à quantidade global limitada de terra e ao facto de a propriedade fundiária constituir uma barreira artificial ao livre desenvolvimento da agricultura. Deste modo, ao contrário da renda diferencial, a renda absoluta é um elemento constitutivo dos preços dos produtos agrícolas, na medida em que os preços de mercado não são iguais ao custo de produção nas terras marginais, mas antes se afastam destes num montante igual à renda absoluta.

A renda absoluta tem, segundo Marx, uma condição e uma causa. A condição é que a composição orgânica do capital no sector (

s

c , sendo “c” o capital médio consumido na

produção e “s” o montante dos salários integrados na produção de uma mercadoria) deve ser inferior à composição orgânica do capital nos restantes sectores. A causa é, muito brevemente, a seguinte: sendo π a taxa média de lucro numa produção e ϑ a taxa média de lucro entre os sectores de actividade obtida através da perequação das taxas de lucro, então Marx distingue entre valor de uma mercadoria (V) e preço de produção (Pp):

(

+

)(

)

= c s 1 V e

(

+

)(

)

= c s 1 Pp

25 Embora a não verificação da existência de terras marginais onde a renda é nula, não altere a validade do modelo.

Embora, normalmente, o valor e o preço de produção não se afastam muito, para além de pequenas variações que resultam do ajustamento da oferta e da procura, estes dois valores podem divergir se a taxa de lucro do sector for diferente da taxa média de lucro da economia. Assim, se a taxa de lucro num sector for superior à taxa média de lucro da economia devido à sua mais baixa composição orgânica do capital, então, como resulta das expressões anteriores, o valor é superior ao preço de produção. Marx defende que na agricultura, porque tem uma composição orgânica do capital inferior aos outros sectores, existe um sobre-lucro estrutural que a propriedade privada do solo permite apropriar, constituindo o terceiro tipo de renda fundiária: a renda absoluta (RA). A propriedade privada do solo, opondo-se à perequação da taxa de lucro, origina que os preços de mercado dos produtos agrícolas sejam estruturalmente