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3 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES DE H LEFEBVRE: UMA POSSIBILIDADE DE LEITURA DAS CONCEPÇÕES DOCENTES

3.1 Representações sociais: alguns impasses teóricos.

O tema da Representação Social vem se destacando nas pesquisas acadêmicas como uma alternativa bastante interessante de se compreender e interpretar os fenômenos sociais, especialmente, a partir da década de 1970, com os estudos de Moscovici. Este autor desenvolveu algumas formulações sobre Representação Social, cujo significado e pertinência marcaram o meio acadêmico, tornando-se referência incontestável para os estudos sobre representações. Sua teoria surge de uma visão crítica sobre a forma do pensamento tradicional e predominante, tanto na América do Norte como na Grã-Bretanha, que concebia o sujeito separado do seu contexto social, o que o levou à proposta de ruptura com este modelo.

Conforme Moscovici (1987), o conceito de Representação social é proveniente da Sociologia, a partir dos estudos das Representações coletivas de Durkheim, em quem se baseia para desenvolver seu pensamento, embora seu enfoque seja diferente, já que não tinha o mesmo compromisso com a visão positivista do final do século XIX e início do XX.

As “Representações Sociais”, antes denominadas de “Representações Coletivas”, circunscreviam-se ao campo dos fenômenos psíquicos e sociais, abrangendo tanto a ideologia, o pensamento filosófico e a consciência mítica, como os conceitos e as explicações nascidos no cotidiano em meio à interações pessoais. Por este sentido dado por Moscovici às representações, é que se pode considerá-las como um âmbito de estudos sobre a construção da realidade pelo viés da psicologia social.

Segundo o autor, para se compreender a consciência de uma determinada sociedade é importante que se considere as representações psicológicas daqueles que compartilham da

mesma cultura. Assim, para Moscovici (1987), é possível se conhecer uma sociedade pela forma como representa suas manifestações culturais. Com sua teoria inovadora, ele afirma não existir separação entre os universos interior e exterior do indivíduo, mas uma total articulação entre os universos psicológico e social que resulta na impossibilidade de separação entre o sujeito, o objeto e a sociedade.

Nesta perspectiva proposta por Moscovici (1987), os indivíduos, além de processadores de informações, são sujeitos ativos no processo de produção e comunicação de suas Representações. Portanto, para a compreensão de certos aspectos da realidade, é preciso recorrer às representações sociais, no sentido de tentar resgatar aquilo que está por trás das falas dos sujeitos, aquilo que foi produzido no processo de interação entre os indivíduos e que pode ter um significado específico, atribuindo um grau de realidade considerável aos elementos constitutivos de uma Representação.

Compartilhando das mesmas ideias, Chartier (1991) afirma que a Representação é o produto de ações práticas no interior das relações culturais, ou seja, é produto de um simbolismo, cuja prática se transforma em outras Representações. Desta forma, “o fato” em si, no sentido de um acontecimento histórico e social, nunca será o fato real, considerado válido, pois o que se tem, neste caso, é apenas a sua Representação do real e não o fato original. Visto desta forma, a realidade não determina a consciência individual, nem a social, mas é construída pela mediação da cultura e as Representações sociais é que são constitutivas da realidade.

A temática da Representação pode ser discutida por vários enfoques teóricos, partindo da sociologia clássica, através de Durkheim, Weber e Marx, e chegando até às abordagens mais contemporâneas, propostas por Bakhtin e Bourdieu. Segundo Bakhtin (1998), o dialogismo é a forma de existência da linguagem, pois por trás de cada enunciado, de cada palavra, ecoam a voz do “eu” e a do “outro”, carregadas de um conteúdo ideológico e/ou proveniente da vivência, construído entre o individual e o social. Considerar a linguagem em seu caráter dialético, é pensar na língua como atividade de natureza eminentemente social, pois, toda vez que o indivíduo dialoga, traz em si suas marcas e influências, por meio das quais irá buscar subsídios no discurso do outro.

Da mesma forma, em concordância com essa ideia de que os sujeitos carregam consigo as marcas de uma ideologia predominante no seu contexto social, encontramos Bourdieu (2005), que defendeu o pensamento de que existem estruturas objetivas construídas no âmbito social, as quais exercem uma pressão sobre a ação e as representações individuais. A interiorização de tais estruturas, como as condições específicas de uma classe ou grupos

sociais, gera certas estratégias ou respostas objetivas e/ou subjetivas para a solução de conflitos. A essa forma de disposição à determinada prática de classe ou grupo social, Bourdieu denominou de habitus.

Mas em meio à diversidade de concepções teóricas sobre Representações, foi possível encontrar um referencial importante, que tem sido utilizado em pesquisas na área da educação, principalmente a partir da década de 1970, pelo potencial em fornecer subsídios para o estudo do cotidiano escolar e as Representações docentes. Trata-se do filósofo e sociólogo marxista francês Henri Lefevbre, cuja perspectiva teórica enfatiza a importância de se considerar as condições reais em que os sujeitos produzem suas Representações. Segundo o pensador, as Representações são um produto de um determinado processo social e histórico e podem ser desveladas através do concebido pelos sujeitos envolvidos, da sua reflexão sobre determinados conceitos. Assim, Lefebvre (1983) apresenta uma possibilidade de análise que tem se mostrado muito rica e relevante nos estudos realizados sobre os fenômenos educacionais nas últimas décadas, ajudando a compreendê-los.