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7. RESIDÊNCIA SOCIAL E PRÁTICAS EXITOSAS EM SEGURANÇA PÚBLICA

7.2 RESIDÊNCIA SOCIAL NO DISTRITO FEDERAL

Desenvolvendo residência social no Distrito Federal, mais precisamente em Brasília, mantive contato com a SENASP e com a ABIN, através de seus representantes, e colhi informações importantes para a estrutura deste trabalho.

Verifica-se que o serviço de Inteligência em Segurança Pública vem sendo realizado sem o devido cuidado da salvaguarda dos métodos, dos procedimentos, das técnicas, dos agentes de inteligência. A preocupação da proteção ainda é sobre a questão da informação e do conhecimento produzido.

Com exceção do Regulamento para Salvaguarda das Informações, não se produziu um instrumento que normatize, regulamente a proteção e salvaguarda da Inteligência como um todo. Entretanto, a Lei 9.883/99 que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência - SISBIN e a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, segundo Hauly (2002) ela conferiu uma viabilidade legal, mesmo a Constituição Federal silenciando quanto às atividades de informações, no que se refere, especificamente, à área de inteligência. ―No entanto, é bem explícita quanto à competência exclusiva do Congresso Nacional, no que se refere à fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta. Isso está disposto no artigo 49, inciso X‖. (HAULY, 2002, p. 01)

6 Estados-membros não tem soberania, característica essa que cabe ao Estado em quanto País, restando aqueles apenas

Assegura Hauly (2002) que a Lei 9.883/99 veio em boa hora, pois, além de conferir uma viabilidade legal, estabeleceu os fundamentos da Atividade de Inteligência no país, bem como uma explicação do ser inteligência e Contrainteligência. Tendo a ABIN constituído uma doutrina nacional para a conferência da atividade quanto a defesa nacional.

Por estes princípios, por estes meios e constituições, a SENASP busca uma doutrina própria com o entendimento de Sistema de Inteligência e Segurança Pública. O que é louvável, pois a Segurança Pública realizada pelos Estados difere da efetuada pela União e suas forças Marinha, Exército, Aeronáutica e Polícia Federal.

Notadamente, o que liga um sistema a outro é justamente a Polícia Federal como Polícia Judiciária da União. Esta em relação às Policiais Judiciárias de Estado possuem, praticamente, os mesmos crimes e ações de combate, porém a extensão territorial de ação é o maior diferencial.

As Polícias Judiciárias e Militares lidam, diretamente, como a sociedade no dia a dia. Já as Forças Armadas estão para momentos de guerra e conflitos, sendo estes últimos, os conflitos, palco de ações cívicas sobre o controle dos Estados, e que, para uma intervenção da União é preciso que haja um pedido fundamentado pelo Governo do Estado, por este não deter meios de contenção, repressão.

Esta intervenção é o que se tem de receios, pois os militares não foram formados, preparados para conterem, dispersarem ações cívicas revolucionárias, mas para, sem pensar, realizarem ações definitivas do cenário vigente. Na guerra é matar, para manter-se vivo. Manter o poder. É preciso atentar que as ações cívicas revolucionárias ocorridas no Brasil nesta primeira década do século XXI não são conflitos armados que se deva ter a intervenção militar. Por isso se faz jus ao entendimento de que é preciso ter uma doutrina, como preconiza a SENASP.

No caso da ABIN, sua preocupação pauta-se sobre estabelecer uma doutrina em Inteligência que de fato regulamente ações de responsabilidades por parte dos operadores da Inteligência, independente, de serem de áreas de políticas públicas ou da segurança nacional. O que se busca é uma uniformização na área para ação na qual esteja o operador sob a centralização da autoridade do sistema. (Buscar o que disse Prof. Moreira sobre Inteligência para a Presidência da República)

Cepik (2003) apud Rondon Filho (2009) esboça modelos para as analise das variáveis dos sistemas vigentes a exemplo das instâncias policymaking e nível de accountability:

1) Um modelo ―anglo-saxão‖ caracterizado por alta centralização da autoridade sobre as unidades do sistema, alto grau de integração analítica, média separação entre inteligência e política, além de média efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão. Nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como os Estados Unidos, Grã- Bretanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e, com reserva, India e África do Sul; 2) Um modelo ―europeu continental‖ caracterizado por média centralização da autoridade sobre as unidades do sistema, média integração analítica dos produtos de inteligência, alto envolvimento da atividade de inteligência com as instâncias de policymaking e, finalmente, uma baixa efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão (over-sight). Nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como França, Alemanha, Rússia, Polônia, Itália e, com reservas, Brasil e Argentina;

3) Um modelo ―asiático‖ caracterizado por baixa centralização da autoridade sobre as unidades do sistema, alta integração analítica dos produtos de inteligência, médio envolvimento da atividade de inteligência com as instâncias de policymaking e, de forma ainda mais pronunciada do que no tipo ―europeu continental‖, uma baixa efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão. Nesse modelo poderiam ser incluídos os sistemas nacionais de inteligência e segurança de países como China, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Corea do Norte e, com reservas, Indonésia e Vietnã. (CEPIK, 2003, apud, CASTRO e RONDON FILHO, 2009, p. 49).

Segundo Rocha (2011, p. 84):

Um dos problemas mais importantes dos regimes democráticos modernos consiste em desenvolver formas de instrumentos (grifo nosso) de accountability, isto é, processo de avaliação e responsabilização permanente dos agentes públicos que permitam ao cidadão controlar o exercício do poder concedido aos seus representantes.

Com base ao que pontua Cepik (2003) e Rocha (2011) a accountability é um instrumento eficaz, porém mal empregado na gestão pública e vai muito mais além de prestar contas do que se faz. Um exemplo são as políticas públicas como instrumentos dos Estados a serviço da sociedade que, devem ser por esta, fiscalizadas e não cabe tão-somente à gestão pública, como assegura Justa (2011), deixar conhecidos à sociedade como estão sendo bem aplicados os gastos públicos. Conforme Rocha (2011, p. 84), aos regimes democráticos atuais cabe estabelecer ―formas de instrumentos de accountability, [...] processos de avaliação e responsabilização permanente dos agentes públicos que permitam ao cidadão controlar o exercício do poder concedido aos seus representantes‖.

Nesta conjectura, à atividade de Inteligência na área da Segurança é necessário que se observe suas necessidades as quais são direcionadas: à política, à sociedade ou ao particular, para que os processos de avaliação e responsabilização sejam bem definidos para os agentes envolvidos.

Em qualquer direção, política, social ou privada a accountability, segundo Rocha (2011, p. 84) ―tornou-se o termo da moda porque expressa a preocupação contínua com a

vigilância em relação ao exercício do poder e as consequentes restrições institucionais sobre o seu exercício‖. Tanto a União na Segurança Nacional, os Estados na Segurança de Políticas Públicas, quanto a sociedade privada pela Segurança Privada, politicamente, estão imbuídas em manter o poder sob controle, impedindo abusos e submetendo-o a procedimentos determinados de regras de conduta.

Conforme Rondon Filho (2009, p. 49):

Importante frisar que, quando se referem à atuação das agências, as informações tangentes à segurança nacional (grifo nosso) sofrem restrições diretas pelos caracteres segurança e segredo (grifo nosso), havendo dependência exacerbada entre as burocracias inerentes às Forças Armadas, diplomacia e política e demais órgãos de inteligência com amplo domínio pelo Poder Executivo devido ao seu envolvimento mais efetivo em detrimento do baixo envolvimento do Poder Legislativo com a informação concernente à segurança nacional.

Desta forma, a SENASP está com coerência em apresentar um diferencial doutrinário em Inteligência para à vertente dos Estados Membros e entendendo e reforçando a necessidade de se ter uma doutrina que contemple as necessidades do Estado Nacional. À Sociedade Privada caberá à própria SENASP com a Polícia Federal, conforme a lei 7.102/83 e seu art. 1º, disporem sobre uma possível doutrina para a Segurança Privada de forma que esta contribua com as outras na prestação de serviço de informações.

Para o Estado Nacional, a União, cabe-lhe uma apreciação mais ampla da Inteligência, por conta de sua soberania e do segredo, ponto importante e preciso para a salvaguarda das informações e uso exclusivo do Chefe do Estado Nacional e por este delegado aos Chefes das Forças Armadas.

Sendo assim, dos modelos apresentados por Cepik (2003) como ―anglo-saxão‖, ―europeu continental‖ e o ―asiático‖, pode ser levantado um quarto modelo, que ilustre a forma de contemplar o anseio da SENASP, como aquele ―brasileiro‖, por ser um arquétipo tripartite, aqui proposto, como: caracterizado por alta centralização da autoridade soberana sobre a unidade de Segurança Nacional, para um alto grau de integração analítica em face de uma média separação entre Inteligência e Política de Estado, com uma baixa efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão. Unido a uma autoridade autônoma descentralizada sobre a Segurança de Políticas Públicas, tendo um alto grau de integração analítica entre os sistemas de Inteligência em Segurança Pública e as instancias de policymaking de forma a promoverem uma SPP de qualidade fiscalizada por uma média efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão. Por fim, uma baixa centralização da autoridade sobre o sistema de Segurança Privada, média integração analítica dos produtos

de inteligência com as instâncias de policymaking e uma baixa efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão pela sociedade, mas uma alta efetividade dos mecanismos de accountability e supervisão pelo Estado, o qual poderá, quando de sua tecnologia obsoleta, usar da empregada pela Segurança Privada.

Através deste modelo proposto, a Segurança Nacional e a Pública teriam acesso aos produtos analíticos da Privada, reavaliando e reanalisando os produtos de inteligência de forma a melhor emprega-los em suas ações revendo e propondo pareceres favoráveis à Política Nacional de Segurança para uma prevenção, precaução, proteção e até repressão de forma mais assistida, para a preservação da ordem pública, da paz nacional, do bem estar social.

Destarte, não há o que se falar em Inteligência de Segurança Pública, mas discorrer sobre Inteligência em Segurança Pública, pois o que é utilizado, criado pela Segurança Privada pode ser convertido para o uso da Segurança de Políticas Públicas, ao passo que o Estado não invista na área e os financiamentos particulares, as tecnologias estejam, quase sempre, na ponta.