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Inteligência em segurança pública: uma reflexão sobre a gestão e suas práticas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO MULTIDISCIPLINAR E PROFISSIONAL EM DESENVOLVIMENTO EM GESTÃO SOCIAL

Salvador 2014

ELISALDO SANTOS SILVA

INTELIGÊNCIA

EM

SEGURANÇA

PÚBLICA:

UMA

REFLEXÃO SOBRE A GESTÃO E SUAS PRÁTICAS.

A INTERSEÇÃO ENTRE SAÚDE E SEGURANÇA PÚBLICA:

UM ESTUDO SOBRE PREVENÇÃO, REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO DE POLICIAIS MILITARES ADICTOS

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ELISALDO SANTOS SILVA

INTELIGÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA: UMA REFLEXÃO

SOBRE A GESTÃO E SUAS PRÁTICAS.

Dissertação apresentada ao Mestrado Multidisciplinar e Profissional em Desenvolvimento em Gestão Social, da Universidade Federal da Bahia, como requisito final para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Diederichs Fisher.

Salvador 2014

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Escola de Administração - UFBA

S586 Silva, Elisaldo Santos.

Inteligência em segurança pública: uma reflexão sobre a gestão e suas práticas / Elisaldo Santos Silva. – 2014.

114 f.

Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maria Diederichs Fischer.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, Salvador, 2014.

1. Segurança pública – Administração. 2. Policias – Formação profissional. 3. Serviços de inteligência. 4. Administração policial –

Recursos de informação. 5. Policias – Segurança no trabalho. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Título.

CDD – 363.1

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ELISALDO SANTOS SILVA

INTELIGÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA: UMA REFLEXÃO

SOBRE A GESTÃO E SUAS PRÁTICAS.

Área de Concentração: Desenvolvimento e Gestão Social

Linha de Pesquisa: Gestão Do Desenvolvimento Territorial, Interorganizações e Tecnologias Sociais.

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento em Gestão Social, Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia – UFBA.

Salvador-BA, 17 de outubro de 2014.

Banca Examinadora

Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Diederichs Fisher – Orientadora ______________________________ Doutora em Administração pela Universidade de São Paulo (1984)

Professora do Mestrado em Gestão Social - UFBA Universidade Federal da Bahia.

Prof.ª Dr. Julio Cesar de Sá da Rocha _____________________________

Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil (2001)

Professor do Mestrado profissional em Segurança Pública, Justiça e Cidadania da UFBA Universidade Federal da Bahia.

Prof.ª Dr.ª Márcia Esteves de Calazans_________________________________________ Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil (2009) Pós-Doutorado em Violência, Democracia e Segurança Cidadã, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - INCT/CNPq

Professora no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador

Líder do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Violência, Democracia, Controle Social e Cidadania./CNPq, Salvador, Brasil.

Prof.ª Me. Lucélia Oliveira Almeida _________________________________________

Mestre em Segurança Pública, Justiça e Cidadania pela Universidade Federal da Bahia, Brasil (2013) Profissional da área da Atividade de Inteligência em Segurança Pública

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Ao companheiro de vida, amigo que recebeu o maior aditivo pela descarga de aflições, inquietações, Manoel Canário Jr. À minha irmã Anamira. Ao meu filho Antonio Eduardo. Aos meus pais Antonio e Maria. À minha sogra Ilse. À minha família e amigos. Com todo meu amor e reconhecimento.

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À Nossa Senhora Virgem Maria, minha protetora, meu anjo da guarda. O Pai e o Filho reconhecem esta posição e a eles minha estima, pois não sou uma pessoa religiosa. Sou uma pessoa de fé. E assim, a todos meus Santos e Orixás.

A Antonio e Maria que me concederam a vida e apresentaram-me princípios, ensinaram-me ética, proporcionaram-me educação sem a qual não teria alcançado maturidade para seguir esta jornada; A Antonio Eduardo por ser um pedaço de mim, e que eu lhe seja uma de suas fontes de exemplos; A Manoel Canário Júnior por tudo que representa;

Às amigas, mais que amigas, o time feminino, Ana Cláudia, Ana Cristina, Elisângela Cardoso, Evanira Costa, Lucélia Almeida, Luciana Valverde, Natascha Cravo pela atenção, carinho, apoio na leitura do trabalho e suas contribuições de conteúdo e de gramática. A ordem alfabética foi para evitar quaisquer ciúmes, pois cada uma em seu jeito de ser e contribuir, o meu Obrigado de coração.

Aos colegas de trabalho, o time masculino, Alexinaldo Mota, Antonio Rosado, Antonio Vinícius, Ivo Tourinho, Luiz Augusto, João Ricardo, Ricardo Cruz pela compreensão e apoio ao longo deste trabalho;

À minha orientadora Tânia Fischer por sua confiança e parceria no desenvolver deste trabalho;

À Banca Examinadora, Me. Lucélia Almeida, Dr.ª Márcia de Calazans e Dr. Júlio da Rocha pela confiança ao trabalho;

Aos colegas de profissão, da área da Inteligência, principalmente, os policiais de Porto Alegre Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos - DIPAC/GIE/CH/PC-RS, Brasília SENASP e ABIN, e de Recife - Coordenação de Inteligência da Polícia Civil, que muito acolheram, auxiliaram e contribuíram para a realização deste trabalho. Pelo princípio do sigilo preservo o nome de cada um, na certeza de tê-los todos resguardados pelo objetivo que move esta dissertação.

À minha família sobrinhos, irmãos, sogra, cunhados, cunhadas, tios, tias, primos, primas; Aos colegas de turma nesta jornada intelectual;

À Marcela, secretária de curso, por sua presença no melhor desenvolver das atividades acadêmicas; A meu irmão Edson (in memóriam) por suas palavras de entusiasmo e conforto.

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―Cada homem é, ao mesmo tempo, um ente individual e, um ente social. Como indivíduo, distingue-se de todos os outros homens; e, porque se distingue, opõe-se lhes. Como sociável, parece-se com todos os outros homens; e, porque parece-se parece, agrega-se-lhes‖.

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SILVA, Elisaldo Santos. Inteligência em Segurança Pública: Uma Reflexão sobre a Gestão e suas Práticas. 113 f. il. 2014. Dissertação (Mestrado) — Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre o trabalho de Inteligência no Brasil, discutindo a questão da proteção do agente de inteligência e do modus operandi. Estabelece um olhar sobre a Inteligência em Segurança Pública no âmbito da gestão pública e suas práticas. Tomou-se como percurso metodológico, a observação participante, o que propiciou um contato intersubjetivo com os policiais civis durante a Residência Social vivenciada nos Estados do Rio Grande do Sul, Brasília e Pernambuco, para conhecer as práticas exitosas por eles desenvolvidas para a execução da ISP. Envolve a discussão sobre a amplitude da Atividade de Inteligência voltada para a prática da Segurança Pública em um contexto socialdemocrático voltado para a valorização do cidadão. A partir da revisão bibliográfica, deu-se o conhecimento do marco histórico da Inteligência e suas especificidades no campo de sua prática e gestão. É apresentado como preocupação central, a necessidade de proteção do agente de inteligência, haja vista que tanto a exposição deste como do modus

operandi como das informações obtidas e o conhecimento produzido, poderão comprometer a

sua finalidade. Das observações e vivências experimentadas através da Residência Social nos Estados já citados, verificou-se uma lacuna importante no campo da proteção ao agente de inteligência e do modus operandi tanto na bibliografia levantada quanto na prática da ISP. É sabido que a Atividade de Inteligência produz, através de ações legalizadas e realizadas por seus agentes, conhecimento para auxiliar no processo decisório dos gestores e aplicações de ações em políticas públicas que favoreçam a Sociedade em vários campos, em destaque no da Segurança Pública, bem como, direcionar a Investigação Policial para o caminho que identifique autoria e materialidade criminal contribuindo com o Judiciário. Dessa maneira, a ausência de mecanismos de proteção constatada, expressa a necessidade de sensibilizar gestores dos Poderes Legislativo e Executivo para uma cultura protetiva, como princípio básico para garantir a segurança de todo sistema da ISP, de sua função legal e social e, acima de tudo, de seus agentes.

Palavras-Chave: Inteligência Policial. Segurança Pública. Gestão.

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SILVA, Elisaldo Santos. Inteligência em Segurança Pública: Uma Reflexão sobre a Gestão e suas Práticas. 113 f. il. 2014. Dissertação (Mestrado) — Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

ABSTRACT

This work aims to present a reflection on the work of Intelligence in Brazil, discussing the issue of protection of the intelligence agent and modus operandi. Establishes a look at the Public Security Intelligence in the context of public management and its practices. Was taken as a methodological approach, participant observation, which allowed an intersubjective contact with police officers during the Social Housing lived in the states of Rio Grande do Sul, Brasilia and Pernambuco, to learn about successful practices developed by them for the implementation of ISP. Involves discussion of the breadth of Intelligence Activity directed towards the practice of Public Security in a social democratic context for the appreciation of the citizens. From the literature review, was given the knowledge of the historical landmark of Intelligence and its specificities within his field of practice and management. It is presented as a central concern, the need for protection of the intelligence agent, considering that both the exposure of this as the modus operandi as the information obtained and the knowledge produced may compromise their purpose. Observations and experiences experienced by Social Housing in the already cited, there was a major gap in the field of protection of intelligence agent and modus operandi in both the bibliography and in practice the ISP. It is known that the activity of Intelligence produces, through legalized and actions performed by its agents, knowledge to assist in decision making of managers and equity investments in public policies that promote the Society in various fields, especially in the Public Safety and as direct the police investigation to identify the path that authorship and materiality contributing to the criminal courts. Thus, the absence of mechanisms of protection observed, expressed the need to sensitize managers of the Legislative and Executive for a protective culture as a basic principle to ensure the safety of the whole system of the ISP, its legal and social function, and above all of its agents.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Segurança Pública X Segurança Privada... 24 Tabela 2 Ações da Sociedade Brasileira para a Segurança Pessoal e Familiar... 25 Tabela 3 Distinções comparativas entre a AI e INP... 48 Tabela 4 Quadro Comparativo entre os Princípios formulados por Ferro Jr e a

DNISP... 51

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência ACADEPOL Academia de Polícia Civil

AI Atividade de Inteligência AIn Agente de Inteligência

BCS Base Comunitária de Segurança CPP Código de Processo Penal

CVLI Crimes Violentos Letais Intencionais DIP Departamento de Inteligência Policial

DNISP Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública DPT Departamento de Polícia Técnica

ESG Escola Superior de Guerra EUA Estados Unidos da América

GIE Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INFOSEG Rede de Informações de Segurança Pública InP Investigação Policial

IP Inquérito Policial

ISP Inteligência em Segurança Pública MJ Ministério da Justiça

PFSISPP Fortalecimento do Sistema Estadual de Inteligência de Segurança Pública de Pernambuco

RONDESP Companhia de Rondas Especiais

RP Radiopatrulhamento

RSISN Segurança Nacional

SBT Sistema Brasileiro de Televisão

SDS/PE Secretaria de Defesa Social do Pernambuco SENASP Secretaria Nacional da Segurança Pública SEVAP Serviço de Valorização Profissional

SFICI Serviço Federal de Informações e Contrainformações SI Superintendência de Inteligência

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SISP Subsistema de Inteligência em Segurança Pública SNI Serviço Nacional de Informações

SSP Secretaria de Segurança Pública SPP Segurança de Políticas Públicas

SUSP Sistema Único de Segurança Pública TSPD Traga Seu Próprio Dispositivo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

2. SEGURANÇA PÚBLICA ... 18

2.1 PÚBLICO E PRIVADO... 23

2.2 SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS ... 27

3. SEGURANÇA PÚBLICA: UMA APROPRIAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 34

3.1 A CONDIÇÃO HUMANA NA ISP SEGUNDO PENSAMENTOS FILOSÓFICOS E ANTROPOLÓGICOS ... 40

3.2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA UMA POLÍTICA PÚBLICA .... 48

4. OS RAMOS DA INTELIGÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA ... 51

4.1 INTELIGÊNCIA ... 56

4.2 CONTRAINTELIGÊNCIA ... 62

4.3 OPERAÇÕES ... 70

5. AMBIENTE DE INTELIGÊNCIA E A PUBLICIZAÇÃO DOS AGENTES E DOS MODUS OPERANDI ... 72

6. GESTÃO PÚBLICA, GESTÃO DA SEGURANÇA E INTELIGÊNCIA PÚBLICA ... 81

6.1 GESTÃO DA SEGURANÇA E INTELIGÊNCIA PÚBLICA... 89

6.1.2 Breve Histórico da Defesa Nacional e da Atividade de Informação ... 92

7. RESIDÊNCIA SOCIAL E PRÁTICAS EXITOSAS EM SEGURANÇA PÚBLICA ... 95

7.1 RESIDÊNCIA SOCIAL NO RIO GRANDE DO SUL ... 95

7.2 RESIDÊNCIA SOCIAL NO DISTRITO FEDERAL ... 96

7.3 RESIDÊNCIA SOCIAL EM PERNAMBUCO ... 100

7.4 INTELIGÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA NA BAHIA ... 103

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 106

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1. INTRODUÇÃO

A área da Segurança Pública, ao longo das décadas, vem sendo problematizada, diante do aumento da sensação de insegurança instaurada entre os cidadãos e a prestação de serviço público ineficaz. O Estado, frente a estas expressões e do aumento da violência e da criminalidade, busca adequar uma nova política de controle desta onda através da prevenção e precaução na redução de danos e gerenciamento de riscos (atuarialismo), por meio da diminuição das oportunidades criminogênicas e do fortalecimento dos controles situacionais informais. Entretanto, estas ações não conseguem dar resultados e soluções desejáveis para a sensação de segurança que a sociedade busca.

A Gestão atual em Segurança Pública emerge nas instituições policiais como recurso do Estado para os administradores reconhecerem as demandas da área de Segurança Pública e construir ações estratégicas, operacionais ou administrativas no sentido de resolver problemas, diminuir indicadores de violência, melhorar o desempenho global de instituições, aprimorarem o trabalho das Polícias, de maneira a serem respeitados os direitos humanos e atingir resultados mais eficientes e melhor enquadrados, no que tange à necessidade social. Por estes parâmetros, a Segurança Pública permanece na incerteza de se fazer uma gestão competente.

Uma boa iniciativa dos Estados foi de estruturarem, nos órgãos da Segurança Pública, a atividade de Inteligência em Segurança Pública – ISP, objetivando a manutenção do fluxo sistemático de conhecimentos, para o Processo Decisório de Segurança Nacional/Segurança Pública, na a melhor prestação dos serviços de políticas públicas. A partir deste cenário, tornaram-se necessários recursos humanos especializados, com capacitação contínua, para a produção de conhecimento, infraestruturas adequadas, modus operandi diferenciado e atualizado, entre outros. Apesar de o Estado disponibilizar este instrumento para melhorar a prestação de serviços do Sistema de Segurança Pública; surgem questionamentos: de que

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forma a atividade de ISP é realizada? Dá forma com é realizada, a ISP tem alcançado seus propósitos?

Assim, por cinco anos, acompanhando a trajetória da atividade de Inteligência em Segurança Pública - ISP, na Polícia Civil do Estado da Bahia, mas precisamente no Departamento de Inteligência Policial – DIP e na Superintendência de Inteligência – SI, e, dentro destes cinco anos, realizando um maior aprofundamento, quando da imersão no mestrado em Desenvolvimento em Gestão Social, promovido pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia – EA/UFBA, pude ampliar minhas pesquisas buscando respostas em outras instituições policiais civis nos Estados do Rio Grande do Sul, Brasília e Pernambuco, observando práticas exitosas de cada um deles para a execução da ISP.

Neste ininterrupto acompanhamento na trajetória da atividade de Inteligência em Segurança Pública, pelas Polícias Civis ora mencionadas, em consonância às leituras empreendidas, surge a inquietação sobre o que se protege ou quer proteger como a efetivação da Inteligência em Segurança Pública. Foi ainda observada a preocupação de vários autores e agentes de inteligência que o primordial é a proteção da informação e do conhecimento produzidos. Mas, onde encontrar a mesma preocupação com aquele que produz o conhecimento e realiza o modus operandi para coleta das informações? Percebe-se que ainda existem caminhos a percorrer para se fazer uma atividade de ISP completa e protegida.

Uma vez conhecida a importância da temática e as motivações que movem o pesquisador, o estudo traz como reflexão a questão de investigação, em que medida a ausência de práticas exitosas na gestão protetiva da atividade de Inteligência em Segurança Pública tem impactado na proteção de seus agentes de inteligência, do modus operandi, do sistema como um todo, nos resultados da produção do conhecimento para a tomada de decisões pelos gestores?

Este trabalho estabelece como objetivo geral mapear práticas da gestão exitosa de gerenciamento da atividade de Inteligência em Segurança Pública no Brasil, para a redução de incidentes devido a não proteção, segurança e vigilância de seu corpo humano (Agentes de Inteligência - AIn) voltados à produção do conhecimento, para tomada de decisões pelos gestores, e do modus operandi (procedimentos, tecnologias, e sistemas).

Para consecução da proposta deste trabalho, delineia-se como objetivos específicos descrever a não proteção, segurança e vigilância dos agentes de inteligência e do modus

operandi, e, promover a conscientização nas Instituições que trabalham com Inteligência em

Segurança Pública - ISP, para a prática desta proteção, segurança e vigilância imprescindíveis, para se realização de uma atividade de ISP segura e completa.

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Para subsidiar o estudo, a temática suscita dos pressupostos de Segurança Pública, Inteligência em Segurança Pública, Gestão Pública, Políticas Públicas, bem como um breve apontamento da Reforma do Estado e das Agências Reguladoras da Atividade de Inteligência. De forma contumaz, a Residência Social realizada como pesquisa no aprofundamento prático na abordagem do tema é a parte essencial para a fundamentação deste trabalho no estudo de caso.

Neste sentido, atentando para esta inquietação, quanto a não devida proteção à ISP, foram coletados dados, informações e a produzir conhecimento que aqui são relatados em sete capítulos mais a considerações finais, refletindo sobre a gestão da Inteligência em Segurança Pública e suas práticas, bem como apresentando formas de contrainteligência na prática de ações protetivas dos agentes de inteligência e do modus operandi.

Assim, a dissertação está organizada da seguinte forma. Introdução, como primeiro capítulo de apresentação. Segurança Pública, no segundo capítulo, com perguntas norteadoras como o que é Segurança Pública? Quem realiza e para quem é realizada a Segurança Pública? Como é realizada a Segurança Pública? Qual Segurança Pública queremos? O terceiro capítulo aborda como é estruturada, quais os ramos da Inteligência em Segurança Pública. No quarto capítulo, ISP, propriamente dita, terá uma abordagem filosófica, antropológica e como instrumento de política pública. O quinto capítulo o cerne da questão, trabalhando com o ambiente de inteligência e a publicização dos agentes e do modus

operandi. O sexto capítulo na abordagem da Residência Social e as práticas exitosas

encontradas nos Estados visitados. Para compilar todo trabalho, o sétimo e último capítulo com a conclusão e apresentação de propostas relevantes.

Que fique claro que esta produção não esgota o entendimento sobre Contrainteligência na ISP, na proteção dos agentes de inteligência e do modus operandi, nem é mera criticidade à literatura existente. O que se busca é ampliar a visão, pela reflexão, de lidar com este instrumento de Políticas Públicas para o melhor gerir social e de sua instituição.

Creio que, o cuidado que se deve ter em relação à ISP é enfraquecido por conta de um histórico ditatorial militar do qual a Inteligência em Segurança Pública deriva, posto que antes não se falava em Serviço de Inteligência, mas sim em Serviço de Informação.

O Serviço de Informações era usado pelo Estado através das Forças Armadas para reprimir, coibir, inibir, destruir forças adversárias como políticos, grupos partidários, pessoas, organizações, instituições, qualquer forma de oposição ao Governo e não qualquer forma de inquietação, desordem social, insegurança pública.

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A partir das mudanças sociopolíticas que foram se erguendo ao longo dos tempos, as práticas governamentais permaneceram as mesmas em relação aos usos dos instrumentos estatais, sobretudo na área da Segurança Pública. A ISP como um deles continuou a exercer o papel de suporte para os interesses de Governo e não da Sociedade como uma política pública eficaz.

Desta forma, o cuidado que se deve ter, a proteção que se deve empregar, a Contrainteligência que deve existir para a prática de garantia, segurança e vigilância dos métodos, procedimentos, tecnologias (equipamentos e sistemas) e de seu corpo humano (agentes de inteligência - AI) voltados à produção do conhecimento científico, para tomada de decisões pelos gestores, foi tudo posto de lado e apenas priorizada a proteção da informação e do conhecimento produzido.

Diante a não existência de uma literatura que respondesse ao problema, a Residência Social, como estudo de caso, foi a parte mais importante para a confecção deste trabalho. Por conseguinte, a análise bibliográfica ampliou e trousse mais fundamentos para este objeto de estudo.

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2. SEGURANÇA PÚBLICA

O que é Segurança Pública? Quem realiza e para quem é realizada a Segurança Pública? Como é realizada a Segurança Pública? Qual Segurança Pública queremos?

Estes questionamentos, dentre outros, movem a concepção da Segurança Pública nos dias atuais. Muito se discute o tema, na atualidade, face às atrocidades cometidas por uma pequena parcela de policiais, em relação ao aumento da criminalidade, pelo descaso e omissão do Estado e da Sociedade quanto à constante marginalização dos excluídos. Pelas questões socioeconômicas, culturais, étnicas, políticas a Segurança Pública foi apontada para responder, sozinha, contra a criminalidade e a violência, contra a pobreza, como se esta fosse o mal social e dela saíssem todos os pontos negativos de uma sociedade.

Diante alguns estudos já realizados como a teoria das janelas quebradas, ficou constatado que a pobreza não é e nunca foi causa de violência e criminalidade, mas é a parte renegada do Estado e da maioria da Sociedade que não reconhecem pobres como parte integrante deste todo, mas excluídos, marginalizados destituídos de qualquer direito.

A teoria das janelas quebras, uma pesquisa norte americana, será vista mais adiante, em maiores detalhes, quando da apresentação do capítulo 6, no ponto 6.1 GESTÃO DA SEGURANÇA E INTELIGÊNCIA PÚBLICA, página (86).

Dentro do contexto de Segurança Pública tem os profissionais, policiais membros da sociedade que ingressam nas corporações para combater a criminalidade de forma inteligente, científica, técnica, preventiva, precavida, respeitando os direitos humanos e fundamentais e, caso necessário, reprimindo-a para manutenção da ordem pública. Entretanto, poucos acabam usando do poder de polícia conferido pelo Estado, para realizar justiça, acusar, aplicar pena, a qual, na maioria das vezes é empregada com o pecado mortal.

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Em contra partida, temos uma Segurança Pública e uma Sociedade que não atentam para o profissional da área, para o cidadão policial. A situação de mazela, de descuido, de desrespeito que o Estado, através de seus governos, coloca seus policiais, na maioria das vezes, ou quase nunca é questionada, observada, inquirida pela Sociedade civil, para um reenquadramento sócio-profissional.

O policial trabalha com o mínimo de segurança, estando a todo instante desprotegido, vulnerável em face da criminalidade, do crime organizado que tem, como um dos objetivos, aniquilar qualquer profissional da área. Porém, o que fica em evidência, em primeiro plano, são as atrocidades cometidas por alguns policiais que maculam a Instituição, agridem a Sociedade. Por isso, todo o Sistema da Segurança Pública é elevado a um contexto de despreparo, repúdio, insegurança por parte da sociedade civil que, com base nos direitos humanos, distorce todo um contexto de direito cidadão.

A sociedade civil que tem uma atuação complementar as ações do Estado, quando este não se faz presente por seus governos, falha também, por não entender, observar e acionar o Estado quando este não dá reais condições de segurança, preparo para seus agentes exercerem suas funções policiais em prol da sociedade e dele mesmo, já que ele, o agente profissional da Segurança Pública, faz parte dessa sociedade.

Infelizmente as discussões levantadas pela sociedade civil, como extremada posição de acusadora ao usar direitos humanos, para combater atos levianos de uma pequena parte de profissionais da Segurança Pública, acabam perdendo o foco no contexto e de propor melhores empreendimentos para o combate à violência, à criminalidade, assegurando a todas as vítimas do sistema o direito de se ter direitos humanos.

Policial e cidadão, qual a diferença de um para o outro? A mera questão do exercício de representatividade do Estado. Nem todo cidadão é policial, mas o inverso é verdadeiro. Por este ponto é que o policial também é vítima.

Todo este levantamento sobre responsabilidades, vítimas do sistema é para se ter uma ampliação de se trabalhar Segurança Pública para toda a sociedade, pela observância dos direitos humanos, de políticas públicas. Os direitos humanos, de início, parecem afastados da realidade dos policiais e apenas reforço de direitos para criminosos. Enquanto que, para o Estado, políticas públicas é algo distante da Segurança Pública.

Para assegurar direitos humanos e fundamentais, deveres, responsabilidades, políticas públicas, o Estado, a exemplo da Bahia, contava com quatro Secretarias, no final do século passado, e oferecia serviços públicos como prisão, detenção, correção, através das Polícias Administrativa e Judiciária pertencentes à Secretaria de Polícia e Segurança Pública. Esta

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forma de oferta de serviços públicos, de segurança pública, assegurar direitos não foi e não é eficiente.

Conforme dados coletados do site da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, a ideia estabelecida de polícia advém de origem grega politeia, e que ao ser transcrita para o latim

politia passou a ter o mesmo sentido que era o de governo de uma cidade, administração, forma de governo.

Com o passar dos tempos o vocábulo polícia passou a ter outra definição, mais específica quanto a representação das ações de governo ao exercício de suas funções de tutela da ordem jurídica, na garantia da ordem pública, onde a sociedade tinha a sensação de segurança e a criminalidade sabia que existia o Estado interventor, controlador.

No Brasil a ideia de polícia surge com a sua colonização, por volta de 1530, quando as terras de Portugal foram divididas em capitanias hereditárias. Martim Afonso de Souza regente administrativo era ainda aquele que promovia a Justiça e promulgava os serviços de ordem pública a exemplo de assegurar as terras de Portugal e todas as que conquistasse. Era o Estado liberal português presente na colonização brasileira através da repressão pela força de uma Polícia.

Quanto à estrutura deste instrumento de manutenção da ordem pública, Martim Afonso de Souza segue o mesmo modelo português, no qual as funções de Polícia e Justiça completavam-se. Tinha-se então o Alcaide-Mor, como juiz ordinário, ao qual lhe eram conferidas atribuições militares e policiais.

É interessante como, naquela época, a função militar era associada à policial. Existia o entendimento de que militar era para guerra, para o confronto armado, e que, a todo custo, extinguisse qualquer conflito e, sendo assim, a policial se investia dessa função, pois, naquele tempo, as terras de Portugal estavam sendo delimitadas, conquistadas e outras nações como a francesa, holandesa e inglesa a cobiçavam. Não se tinha contingente para compor duas estruturas diferenciadas, militar e policial para combater os invasores, as forças adversas aos interesses portugueses.

Além do Alcaide-Mor, completavam o quadro da Polícia o Alcaide-Pequeno, o qual era responsável pelas diligências noturnas, nas quais poderiam ocorrer prisões, este alcaide é hoje a figura do Delegado de Polícia. O Mor é o que se pode correlacionar de Chefe de Polícia. Tinham ainda os Quadrilheiros, homens que se ligavam aos Alcaides-Pequenos, auxiliando-os no cumprimento dos deveres de polícia, o Escrivão da Alcaidaria e os Mineirinhos, oficiais de justiça.

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Quanto à estrutura policial, quase nada mudou das capitanias hereditárias para os dias atuais. As funções permanecem as mesmas, porém em relação à nomenclatura dos papeis não se pode dizer o mesmo.

Por D. João VI, em 10 de maio de 1808, foi criado o cargo de Intendente Geral de Polícia da Corte, e seu primeiro nomeado foi Paulo Fernandes Viana. Em 1810, a 25 de maio, Fernandes Viana cria, através de um instrumento administrativo, Aviso, o Corpo Comissário de Polícia, porém este corpo só se tornara realidade em novembro de 1825, através de uma Portaria do Intendente Geral de Polícia, Francisco Alberto Teixeira de Aragão.

Como já expressado, poucas foram as mudanças no se realizar Segurança Pública, se bem que, ao certo, àquela época e até antes de 1988, existia Segurança Pública o que não existia, e ainda não existe, era uma Segurança de Políticas Públicas, uma Secretaria capaz de prover políticas públicas para melhor se realizar segurança pública.

Como visto, as funções militares e policiais eram cumulativas a um mesmo instituto, ao mesmo operador. Porém, com a promulgação do Código de Processo Criminal do Império, de 1841, a organização foi descentralizada. Morre o cargo de Intendente Geral de Polícia e elevasse o de Chefe de Polícia, ocupado por Euzébio de Queiroz Coutinho Matoso Câmara, em 1844. O que se tem de novo neste sistema é que, em cada Província e na Corte, tem-se o estabelecimento de uma Chefia de Polícia auxiliada por delegados e subdelegados de polícia, instituída pela lei de Chefatura de Polícia datada de 03 de dezembro de 1841.

Em 1842, através do Regulamento 120, são definidas as atribuições de Polícia Administrativa e Judiciária sob a chefia do Ministério da Justiça. Em 1871, a 20 de setembro, através da Lei 2033 e regulamentada pelo Decreto 4824 de 22 de novembro do mesmo ano, é então reformado o Sistema adotado pela Lei 261 que separa Justiça de Polícia, criando Secretarias distintas. Tem-se então a criação do Inquérito Policial.

Por este histórico, o qual pode ser encontrado em várias instituições de Segurança Pública do Brasil como a de São Paulo, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, pode-se perceber que, antes da concepção de Segurança Pública, muito ainda persiste no ordenamento administrativo do Estado no se prestar segurança pública.

O histórico institucional do Governo da Bahia alude que:

Os serviços da administração pública da esfera e competência do Governo da Bahia eram distribuídos por quatro secretarias no final do século passado. Uma dessas secretarias era a de Polícia e Segurança Pública, à qual pertenciam os serviços com a

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polícia administrativa e judiciária, a força policial do Estado e o regime penitenciário, correcional e detentivo, e com as prisões em geral. Em 1930, (Dec. n° 7.066/01 nov.), funde-se a outras secretarias, passando a denominar-se Secretaria do Interior, Justiça, Instrução, Polícia, Segurança, Saúde e Assistência Pública (grifo nosso). Em 1931, (Dec. n° 7.284/03, maio) volta à denominação anterior. Em 1935 (Dec. n° 9.479/24, abr.) passa a denominar-se Secretaria da Segurança Pública.

Neste enunciado do histórico institucional da Secretaria que se funde para realizar Segurança Pública é muito mais conveniente que ela mesma sozinha, pois a partir desse quadro pode ser percebido que Segurança Pública não dá para se fazer isolada é preciso uma integração de ações humanas, funções estatais que propiciem a construção de políticas públicas que coadunem em um realizar de serviços públicos coesos de relevância social e que fixe na sociedade a sensação de segurança, de paz, tranquilidade.

Segundo Leeds (2013, p. 135):

A segurança pública, de todas as arenas de políticas públicas, é a mais difícil de mudar. Com exceção da mudança nominal e simbólica do papel da polícia, deixando de ser responsável pela segurança nacional e assumindo a responsabilidade da segurança pública – ou seja, de protetora do Estado passou a proteger os cidadãos. Com a Constituição Federal de 1988, a qual necessita de reforma política, ao Estado cabe a responsabilidade de assegurar proteção aos cidadãos, através da Segurança Pública. No art. 144, da referida Constituição, houve uma manutenção da responsabilidade primária da Polícia com a Segurança Pública na esfera estadual, preservando a estrutura hierárquica da Polícia Militar e o seu papel ostensivo na manutenção da ordem no patrulhamento das ruas. À Polícia Civil foi mantida a função investigativa.

Com o passar dos tempos, cada instituição procurou se estabelecer na sociedade como partes dissociadas, mesmo dentro da mesma Secretaria de Estado, como se uma não dependesse da outra e que ambas não tivessem que realizar Segurança Pública, concomitantemente, de forma integrada para obtenção de resultados duradouros.

Cada instituição passou a estabelecer suas próprias regras, culturas, identidades dificultando a integração que se precisa para realizar uma Segurança Pública de qualidade, além do contato Intersetorial do Estado.

Antes de compreender a atividade de Segurança Pública - SP, vamos realizar uma abordagem sobre os conceitos dos termos que a compõem, Segurança e Público(a), para uma melhor explanação do tema.

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2.1 PÚBLICO E PRIVADO

O termo Público, que aparece ligado a Segurança, depreende-se dele, segundo Oliveira (2012), é caracterizado pelo:

Fato de possuir uma diversidade conceitual ao longo da história. O uso do termo é, normalmente, designado ao que é estatal, ou seja, a ligação com o Estado é a primeira ideia recorrente. Essa ligação é entendida quando a origem do termo mostra que os verbos ―publicar‖. Deriva do Latim publicu, ou seja, ―tornar público‖ e de publicus, ―relativo ao povo‖ além de populus, ―povo‖. Assim, sendo o Estado responsável, tradicionalmente, pelo bem-comum o termo normalmente está relacionado a ele. (OLIVEIRA, 2012, p. 44).

Pela primeira abordagem de Oliveira (2012) em relação ao termo ―público‖ a ele se relaciona ou associa-se o termo ―segurança‖, a qual conforme a Constituição Federal 1988, em seu art. 144, estabelece que ―a segurança pública, dever do Estado (grifo nosso), direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade (grifo nosso) das pessoas e do patrimônio [...]‖.

Segundo a Ministra Ellen Gracie (2008) a garantia da ordem pública revela-se na necessidade de assegurar a credibilidade das instituições públicas no tocante ao princípio da transparência e disseminando visibilidade de políticas públicas na persecução criminal.

Para Taranta (2008, p. 05) ―a ordem pública consiste ainda em agrupado dos princípios fundamentais, refletidos em normas de direito privado, subjacentes ao sistema jurídico que o Estado e a sociedade estão fundamentalmente interessados em que predominem sobre as convenções privativas‖.

Já incolumidade está voltada para a segurança e tranquilidade de um número indeterminado de pessoas. Versa em um complexo de condições, garantidas pela ordem jurídica, necessárias para a segurança da vida, da integridade pessoal e da saúde. A incolumidade pertence a toda sociedade e ao mesmo tempo não pertence a ninguém.

Como destaca Nucci (2011), ―devemos conferir à garantia da ordem pública um significado realmente concreto, distante de ilações ou presunções de gravidade abstrata de qualquer infração penal‖, sendo, desta forma, a manutenção da ordem pública versa pela garantia de afastamento temporário do réu do ceio da sociedade, observando a repercussão social e maneira destacada da execução do crime, pelas condições pessoais negativas do autor e envolvimento deste com quadrilha, bando ou organização criminosa.

O dever do Estado está para os entes União, Estados, Municípios e o Distrito Federal, e que cabe a estas pessoas políticas o poder de polícia.

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O dever estatal no poder de polícia, conforme estipulado pelo art. 78 do CTN, reforça o significado do termo público. ―Considera-se poder de polícia (grifo nosso) a atividade pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público (grifo nosso) concernente à segurança (grifo nosso), à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos‖. (CTN, art. 78). Ora, se o poder de polícia compete ao Estado, seja ele Federal, Estadual, Municipal ou Distrito Federal, e que a Segurança Pública é um exercício exclusivo deles não sendo possível sua delegação, concessão a terceiros, como a segurança privada é cabível?

A esta pergunta, tem-se resposta no ordenamento jurídico brasileiro, na lei Nº. 7.102/83 que dispõe sobre segurança privada aquela onde confere ―segurança para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dá outras providências‖. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA).

O Estado não delega a atribuição da investigação policial como os procedimentos investigatórios, a persecução criminal, apenas oportunizam particulares para que possam realizar serviço de vigilância. Aos que a praticam segurança privada são chamados de vigilantes.

Conforme o art. 10 da lei 7.102/83, - são consideradas como segurança privada as atividades desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade de: (Art. 10, caput alterado, incisos e parágrafos incluídos pela Lei nº 8.863, de 28/03/1994).

I - proceder à vigilância patrimonial das instituições financeiras e de outros estabelecimentos, públicos ou privados, bem como a segurança de pessoas físicas; II - realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga;

§ 1º - Os serviços de vigilância e de transporte de valores poderão ser executados por uma mesma empresa.

§ 2º - As empresas especializadas em prestação de serviços de segurança, vigilância e transporte de valores, constituídas sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses previstas nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; a estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residências; a entidades sem fins lucrativos; e órgãos e empresas públicas.

§ 3º - Serão regidas por esta lei, pelos regulamentos dela decorrentes e pelas disposições da legislação civil, comercial, trabalhista, previdência e penal, as empresas definidas no parágrafo anterior.

§ 4º - As empresas que tenham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do transporte de valores, que utilizem pessoal de quadro funcional próprio, para execução dessas atividades, ficam obrigadas ao cumprimento do disposto nesta lei e demais legislações pertinentes. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA).

Desta forma, Segurança Pública difere de Segurança Privada por vários pontos entre eles, conforme tabela que segue:

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Tabela 1 – Segurança Pública X Segurança Privada

Segurança Pública Segurança Privada

Constituição Federal Ordenamento Jurídico

Para todos (público) Para poucos (quem paga)

Ampla Restrita

Instrumento de Política Pública Ferramenta Fonte: Residência Social do autor e pesquisa documental. (2014).

Perceber a diferença entre a Segurança Pública da Privada realça o Público do Privado, onde o primeiro atende aos interesses da sociedade coletiva, enquanto que o segundo atende interesses particulares.

Em outra comparação tem-se ainda a realização da segurança individual, aquela que é realizada pelo indivíduo para assegurar-se de situações fortuitas, porém para cada cidadão, a depender de sua classe social, a disposição de meios será diferente para manter-se seguro, conforme tabela abaixo:

Tabela 2 – Ações da Sociedade Brasileira para a Segurança Pessoal e Familiar

Classe A [Elite] Classe Pobre

Blindar o carro Chamar por Deus

Comprar colete a prova de bala Mudar hábitos Cotidianos Instalar equipamentos eletrônicos de

segurança

Chaves e cadeados

Contratar segurança particular No sentido de vida, o lar vira um refúgio e, ao mesmo tempo, uma prisão.

Fonte: (SECCO apud COSTA, 2005, p. 166).

Pelas interpretações das tabelas apresentadas fica clara a distinção entre público e privado e que atende as definições apresentadas segundo Paoliello (2007), apud Oliveira (2012) de que a dinamicidade do processo histórico produziu leituras de contextos diferentes levando a compreensão de público como coletivo, uma ideia de popular, democrático opondo-se à esfera privada, indivualista.

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O termo público denota dois fenômenos, que, segundo a autora, são correlatos, mas não idênticos. Em primeiro lugar, significa que tudo o que parece público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível. Em segundo lugar, Arendt (2010) esclarece que o termo ―público‖ significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós e diferentes do lugar que possuímos nele. Nesse sentido, Arendt (2010) defende que o mundo ao mesmo tempo separa e relaciona os homens entre si. Assim, no domínio público, enquanto mundo comum, somos reunidos na companhia uns dos outros, mas, ao mesmo tempo, separados entre si.

De qualquer forma, para o exercício do público ou do privado houve a inserção do poder estatal.

Habermas (2003) elucida que as categorias ―público‖ e ―privado‖ são de origem grega e nos foram transmitidas ao longo da Idade Média, dentro dos preceitos do direito romano. Nesse viés histórico, as categorias de público e privado só passaram a ter uma efetiva aplicação processual jurídica com o surgimento do Estado moderno. (OLIVEIRA, 2012, p. 45).

Para a concepção de privado a este se associa o termo propriedade particular, individual que:

Para Locke (1998) o que é privado está relacionado intimamente com o caráter da propriedade individual, que começa com a concepção de trabalho do corpo do homem e com a obra de suas mãos. Assim, para Locke (1998) a propriedade individual só existe por meio do trabalho, de qualquer tipo, no sentido de usufruir de seus benefícios. (OLIVEIRA, 2012, p. 46).

Sendo assim, a compreensão do termo público é direcionada ao que se apresenta como direitos comuns tutelados pelo Estado, para uma determinada sociedade, posto que poderá ser diferente em relação às sociedades de diferentes culturas.

Cabe ao Estado ofertar serviços públicos para a sociedade e, entre eles, está a Segurança Pública para assegurar proteção, na reunião de providências reconhecidas pelo Estado contra danos ou prejuízos causados por terceiros, prevenção, e precaução antecipando-se a fatos desconhecidos ou não com intuito destes não antecipando-se consolidarem.

Para Milaré (2005) prevenção e precaução são ações antecipadas no tempo para evitar resultados danosos. Entretanto, a prevenção é mais ampla de forma a antecipar-se para evitar qualquer dano, enquanto que a precaução é direcionada a casos concretos.

Quando uma pessoa sai com guarda-chuva em dia de sol em uma localidade tropical, a chuva poderá ocorrer a qualquer momento e ainda leva com sigo um colete salva-vidas, caso chova e essa chuva seja um dilúvio, ela terá proteção, pois saiu de forma preventiva, antecipando-se a fato inesperado. Ela não irá se afogar por estar com o colete. Quando a

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pessoa sai em um dia nublado, sabendo que irá chover e leva seu guarda-chuva, ela antecipa-se a um momento difícil, porém conhecido, precavendo-antecipa-se.

Em relação à Segurança Pública, quando o Estado, através de seus governos, realiza prevenção, quer atentar para as janelas quebradas, onde os reparos de todas as janelas farão com que os cidadãos sintam a presença do Estado e passem a respeitar os lugares, os espaços, os seus semelhantes, as relações sociais, econômicas, políticas.

Desta forma é que se deve pautar-se a Segurança de Políticas Públicas, precavendo e prevenindo ações que anulem ou torne o mínimo possível os danos causados por atos e/ou fatos que atentem contra a sociedade.

2.2 SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS

A Segurança Pública, como já vista, dá-se na esfera pública extensiva a todos da sociedade, como poder de polícia prestado e regulado pelo ente público Federal, Estadual, Municipal ou pelo Distrito Federal, oferecendo serviço público como proteção, prevenção e precaução da salvaguarda da ordem pública e garantia do exercício da cidadania e da democracia, além de agir na investigação criminal, na apuração de fatos que o Estado não teve como impedir. Enquanto que para prover escolta e vigilância patrimonial e de pessoas poderá ser a segurança privada, mediante o quanto estabelecido pela lei 7.102/83.

Cunha (2013) define Segurança Pública como:

A preservação da integridade física e patrimonial dos indivíduos, nos termos dos ensinamentos de José Afonso da Silva (2000, p. 756), que assim a define: ―é uma atividade de vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas. Segundo a Constituição, a segurança pública é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio‖. (CUNHA, 2013, p. 4).

De forma restrita, o conceito apresentado por Silva (2000) apud Cunha (2013) não corresponde à realidade social vigente, pois o exercício da repressão por si só já não gera mais efeitos positivos no exercício da Segurança Pública.

O tema Segurança Pública, ao longo dos tempos, está em um processo de bastante discussão no meio acadêmico, da sociedade e das instituições que a realizam, devido a sua complexidade para prover atividades, atribuições em face da realidade social vigente, do avança tecnológico e do conhecimento científico a serem empregados contra a criminalidade e a violência.

Segurança Pública hoje é muito mais do que mero assunto de cunho exclusivo da justiça criminal. É algo que permeia e transpassa por várias áreas transversais, institucionais

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que tem a necessidade de se envolver com outros atores, com outras áreas para uma reflexão de como obter soluções para os conflitos sociais.

Segurança Pública não deve ser tratada por um único plano, o policial, mas a ele deve se processar o cultural, o social, o econômico, o educacional dentre outros, para a neutralização ou uma redução significativa da violência, da criminalidade, visando a manutenção da ordem pública e a promoção da paz social.

Várias são as tentativas para a neutralização ou redução da violência, da criminalidade, como o incremento de novas viaturas, aumento do quadro de policiais, melhorias no armamento e equipamentos de proteção policial, bem como a realização de cursos, treinamentos, simpósios, seminários de qualificação, capacitação com temas diversos para a formação contínua do policial e sua melhor atuação na sociedade. Entretanto, muito ainda se tem de soluções equivocadas e distantes da realidade social, onde não há diálogos, mas discussões sem fundamentos.

Hodiernamente é recorrente falar de segurança pública no Brasil, todos têm uma solução mágica, um remédio milagroso, uma pedra filosofal, vai desde a defesa do endurecimento das penas, através de constitucionalização da punição capital (estas que causam frenesi e êxtase na grande massa, quando pronunciadas por ―pit bulls‖ populistas, que se arvoram, choram e gritam: bandido bom é bandido morto) até aqueles que advogam pelo abrandamento ou extinção de crimes, como a liberação das drogas. Falam de segurança pública da mesma maneira pueril que falam de futebol, todos sabem o que fazer, onde mexer, o que está falando. (CATSRO e RONDON FILHO, 2009, p. 31).

Bem, parece que estas ações ainda não surtiram efeitos desejados, uma vez que a criminalidade e a violência, especificamente, contra a vida pelos CVLIs – Crimes Violentos Letais Intencionais não diminuíram. Ora, o que é necessário para que a instituição policial passe a dar maiores resultados?

A real atribuição das Polícias não é a elucidação criminal, o resultado que se espera de quem ou com quem praticou o crime, como praticou entre outros questionamentos não é solução para a extinção ou redução da violência, mas apenas uma resposta à sociedade de que o Estado solucionou o crime e que haverá reparação do dano causado, como se, caso tenha sido crime contra a vida, ela tivesse um preço estimado.

Não é esta a Segurança Pública que a sociedade quer. Mas é a que o Estado oferece e muito mal. Para Balestreri (1998, p. 4) ―se queremos, um dia, viver uma verdadeira ―cultura de cidadania e direitos humanos‖, precisamos ir além da acusação, somando esforços pela construção de um novo modelo de segurança pública‖.

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Sendo assim, dentro deste modelo de Segurança Pública cabível, deve estar o real papel do Estado em fazer com que o crime não ocorra e que a sociedade viva em um ambiente harmonioso, tranquilo, de paz. Pode ser utópico ou ideológico, mas soluções existem para a tranquilidade de uma sociedade não violenta, não criminal, e que, segundo Balestreri (1998, p. 4), estas soluções se darão por meio da ―parceria, portanto, entre a comunidade que se expressa através de suas organizações e a polícia, é fundamental para que alcancemos um patamar democrático mais pleno‖.

Para Castro e Randon Filho (2009, p. 31) a violência ―continua com as acachapantes taxas de crescimento, mantendo as pessoas prisioneiras de seus próprios medos e traumas, prejudicando a melhoria da qualidade de vida de todos, pelo constante clima de insegurança‖.

Na virada do século 20 para o século 21, a partir de 1984, podemos observar um contexto de crise das instituições formais de controle social. Escândalos envolvendo políticos, juízes, ministros. Casos de malversação de dinheiro público envolvendo ONGs, sindicatos e até a mídia. Sequestro relâmpago, pedofilia, desvio de dinheiro público, expansão territorial desordenada, favelização, organização de grupos de criminosos para a prática de tráfico de drogas, que ficaram conhecidos como crime organizado ou narcotráfico. Esses grupos, aproveitando a favelização e a posição geograficamente estratégica desses locais, ali se "encastelaram". No vazio da ausência dos serviços essenciais do Estado, criaram práticas assistencialistas com objetivo claro de estabelecer um "poder paralelo", onde ditavam as próprias regras, decidiam quem ficava, quem saia; prendiam, julgavam e sentenciavam num só ato (tribunal do tráfico). Novamente, a pergunta que se faz é "o que fazer (para acabar com a violência)‖? (CRAVO, 2012).

O Estado, há tempos, vem perdendo espaço para a criminalidade, onde ele, por sua vez, acaba sendo violento e gerando a criminalidade, ao passo que deixa de lado o processo civilizatório, onde não exerce sua função de tutor na oferta e fiscalização de necessidades básicas ao cidadão como educação, saúde, trabalho, lazer, infraestrutura dentre outras que incluam o sujeito no seio da sociedade, das questões sociais como sujeito social, político.

Evidencia-se então que o Estado ao não exercer uma Segurança Pública de qualidade acaba arruinando-a ao passo que gera mais desconfortos sociais pela prática de escândalos políticos como fraude nas urnas eleitorais, desvio de verba pública, nepotismo, dentre outros crimes, como os citados por Cravo (2012), que maculam o ente público e dão vazão ao crime organizado se estabelecer nas repartições públicas, nas periferias urbanas e contagiarem toda a sociedade.

Para Balestreri (1998, p. 04), ―herdamos, contudo, do passado autoritário, práticas policiais muitas vezes incompatíveis com o espírito democrático. Essa instituição tão nobre e necessária é, ainda, muitas vezes conspurcada pela ação de gente que não entendeu sua dignidade e importância‖.

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Frente a essa real situação na política brasileira, como agir com uma Segurança Pública que seja vista pelos cidadãos com credibilidade? Quais soluções são aplicáveis para a extinção ou redução da violência, da criminalidade?

Segundo Castro e Rondon Filho (2009), ao falarem sobre soluções apresentadas como remédios para a segurança pública por aqueles que acham que é a mesma coisa que opinar sobre futebol e de que a criação de leis seria a saída, porém tudo volta ao que era antes, tem-se o ―prelúdio do estado anômico, em que as pessoas não acreditam mais nos efeitos punitivos‖, (CASTRO e RONDON FILHO, 2009, p. 31), tão pouco em quem produz soluções para este efeito.

Como já pontuado, a análise de soluções para a violência e a criminalidade deve ser buscada pela conjuntura integração das diversas áreas do saber filosófico, sociológico, antropológico, da gestão social e pública, como uma multiplicidade no conhecimento e dos atores envolvidos que favoreçam o entendimento na área da Segurança de Políticas Públicas e elaborem o apanhado de recursos viáveis para mitigar ou suavizar a insegurança na sociedade. Para tanto é preciso que a sociedade vivencie a democracia, uma democracia política tal qual expressa por Balestreri (1998) que alude a presença da polícia como uma indispensável instituição no servir e proteger da sociedade, assegurando ―a todos‖ os direitos de cidadania e de liberdade. Pois democracia mesmo sendo púbere, não é a que queremos, por ainda ser escassa de cunho moral, social, porém é ―mil vezes melhor do que a melhor das ditaduras‖. Balestreri (1998, p. 04).

Em um formato de Estado democrático e não autoritário ditatorial. A oferta da Segurança Pública deve ser para todos, ou seja, até para quem atua como policial por fazer parte da sociedade e, como cidadão, também é e deve ser servido. Não se deve ter sociedade afastada da Polícia e vice-versa, pois a segunda está contida na primeira.

A visão que se deve ser parte do todo pode ser o início para a saída de um dos problemas sociais, a prática policial desumana.

Durante muitos anos o tema ―Direitos Humanos‖ foi considerado antagônico ao de Segurança Pública. Produto do autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e da manipulação, por ele, dos aparelhos policiais, esse velho paradigma maniqueísta cindiu sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira. (BALESTRERI, 1998, p. 7).

A Polícia foi e ainda é tida como um braço do Estado que age de forma truculenta, equivocada para atender aos anseios de governo e não da sociedade, desta forma, extinguindo

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a condição democrática. Por outro lado, os direitos humanos foram tidos como marco de defesa de criminosos e como militância de partidos de esquerda. Assim expõe Balestreri (1998):

Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos progressistas da sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como necessariamente afeta à repressão antidemocrática, à truculência, ao conservadorismo. ―Direitos Humanos‖ como militância, na outra ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à esquerda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, nos países do ―socialismo real‖, eram vistos como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). No Brasil, em momento posterior da história, a partir da rearticulação democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha de ―defensores de bandidos‖ e da impunidade. (BALESTRERI, 1998, p.7).

Face ao forte preconceito da época, as deduções sobre direitos humanos foram e ainda são equivocadas frente aos contextos sociais e políticos, pois não é possível crer que ainda se tenha atitudes preconceituosas, pois, diante a globalização nas comunicações, das informações, dos conhecimentos veiculados pelos meios de informática, de comunicação midiática, como nas redes sociais, televisivas, o termo preconceito ainda possa ser visto como usável.

O termo preconceito era usado por se acreditar em crendices, superstições, em algo que não se conhecia. Com o advento da informática, da globalização, da velocidade como os assuntos correm e são discutidos, este termo passou a ser obsoleto, tendo que ser substituído por outros como discriminação por não saber o sujeito discernir, de ter a gravidade de percepção sobre algo. Não ter sensatez, serenidade em relação ao outro que existe, colocando a essência deste como nada existencial, desprovida de direitos, como se direito fosse aquilo determinado por alguns em detrimento de outros e não a Constituição ao estabelecer direitos iguais.

Supõe-se então que os posicionamentos censuráveis estejam em um patamar de discriminação, onde o discernimento foi e está prejudicado por paradigmas retrógrados e não redefinidos no novo contexto social.

Superando paradigmas, para a implantação de uma polícia mais próxima da comunidade e distante do tradicional modelo policial, dentro do contexto dos direitos humanos e de uma policia humanitária, a junção dos dois conceitos para a neutralização ou redução da criminalidade e da violência são marcos na história de um novo modelo de Segurança Pública.

Nas últimas décadas, a crescente criminalidade fez com que em muitos países fosse questionada a eficiência do modelo tradicional de polícia, pautada no militarismo e na atitude meramente repressiva. A inserção de novos paradigmas na atividade

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policial culminou com a implantação de diversos projetos, cujos objetivos centravam-se na aproximação desse tipo de controle estatal junto à população. A essa ideia acostumou-se denominar de Polícia Comunitária, que, basicamente, tinha por intenção a diminuição da criminalidade por meio de ações preventivas e, sobretudo, a melhoria da imagem policial, notadamente conhecida por sua truculência. (ALMEIDA, 2009, p. 1).

Entretanto, tal ação, para que houvesse uma diminuição da criminalidade e uma visão diferenciada da imagem de uma polícia truculenta, acabou por desaguar em outros caminhos. A criminalidade por um tempo foi controlada e não sanada do seio social, pela mesma via a truculência policial foi encoberta e não extinta das Polícias.

O resultado discorrido deu-se por conta de que, a Polícia Comunitária, instalada em zonas pobres, com grande influência de organizações criminosas como o tráfico de drogas e de armas, não foi bem estruturada pelo Estado, o qual não conferiu à comunidade as necessidades básicas como saúde, educação, lazer, infraestrutura, apenas ofertando Segurança Pública, a qual sozinha não é eficaz. Nesse sentido, completa Almeida (2009), ―a atividade policial, que até então servia de barreira para o forte controle social que dava sustentação ao regime militar, passa a entrar em conflito com as suas posturas em face dos novos preceitos‖, os de necessidades basilares da comunidade.

Um dos pensamentos de quem trabalha e realiza Segurança Pública é de que a insegurança existe para quem mora em zonas de classe média para cima. A criminalidade existe onde existe a concentração de pobres. A pobreza é tida como ponto crucial para esta distorção equivocada da violência e da criminalidade. Esse dado foi e é comprovado pela Teoria Janelas Quebras realizada nos Estados Unidos, para expressar a fragilidade do sistema quando da omissão do Estado tutor.

Segurança Pública não é realizada apenas com o aparato policial. É necessário que exista, como relatado ao longo deste trabalho, parcerias entre os sujeitos envolvidos diretamente como a comunidade, que deve ser escutada e participar das resoluções para elaboração dos planos de ações, assim como a sociedade civil a exemplo dos conselhos comunitários, entidades filantrópicas, educacionais, dentre outras, que devem estar inseridas na elaboração dos planos de ações, os quais não devem nunca ser elaborados apenas por especialistas em Segurança Pública, pois pode faltar-lhes o conhecimento da gestão social e o olhar macro sobre a sociedade, a qual será abordada no capítulo 7, item 7.1 Gestão, Administração, Estado e Governo.

O que se busca nos dias atuais em relação a Segurança Pública é um serviço de prevenção e precaução e não mais de repressão como o estipulado no século XIX e que transcorreu o século XX, em que a necessidade do controle pelo uso da força, para combate

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de atividades criminosas, centrou-se na tentativa de impor padrões mínimos à atividade policial, onde o recrutamento era mediante a necessidade de mais policiais para o combate, amargando a cada dia a imagem das Polícias.

Com esta postura de recrutamento, a formação dos profissionais da Segurança Pública acaba sendo vexatória, não ofertando dignidade aos agentes, não constituindo o cidadão policial com formação técnica específica, qualificada que lhes deem o entendimento de que devem agir como se estivessem agindo para si mesmo, quando do atender a sociedade. Sem a devida fiscalização estatal os policiais passarão, a cada tempo, a se afastar da sociedade como se a Polícia fosse uma instituição a parte da realidade social, como se fosse a Polícia o remédio para todos os males da sociedade, entre eles o da marginalização social, étnica, econômica.

É preciso que governos, chefes de polícias, sociedade atentem para a formação destes agentes que enfrentarão a criminalidade, os desafios do dia a dia sem condições, sem proteção, sem apoio do Estado e de todos da sociedade. Mas um dia, quando em desgraça cair, por culpa ou dolo, todos voltaram para apontar o indicador e não observarão sua omissão no processo.

A sociedade civil, por ser atuante dos direitos humanos, deve ter a participação nesta fiscalização inicial, saber como está a formação destes agentes que comporão os quadros da Segurança Pública e, até que esta, de fato, seja uma Segurança de Políticas Públicas, será inequívoca sua fiscalização por todos os atores sociais como o MP, a Justiça, o Estado tutor.

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3. SEGURANÇA PÚBLICA: UMA APROPRIAÇÃO DA ATIVIDADE DE

INTELIGÊNCIA

A ISP teve grande impulso no seu desenvolvimento nos últimos 20 e 30 anos, com a chegada da era das chamadas "sociedades baseadas no conhecimento‖ Dantas (2003).

―A atividade de inteligência se presta à coleta de informação sem o consentimento, a cooperação ou mesmo o conhecimento por parte dos alvos da ação; nesta acepção, inteligência é o mesmo que segredo ou informação secreta.‖ (CEPIK, 2003, apud RONDON FILHO, 2011, p. 115).

É da coleta de dados e informações, em meios abertos ou fechados, que o agente de inteligência produzirá o conhecimento necessário para a tomada de decisões pelos gestores másters.

A inteligência é uma forma de agir muito antiga, desde os primórdios até os dias atuais, ela é uma das fontes que fornece às sociedades conhecimentos para promover e atualizar as transformações sociais.

Referências

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