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Figura 16

Podemos, assim, ver o jogo de palavras feito por Paulo. Um cristão que é respeitável “adorna o evangelho de Deus”. Sua vida é como um “cosmético” para o evangelho. Um estilo de vida respeitável torna a mensagem de Cristo atraente aos outros, assim como o cosmético corretamente utilizado faz uma pessoa ser atraente para outras.

6. Ele deve ser hospitaleiro (1 Tm 3.2; Tt 1.8), ou seja, deve ser altruísta e desejar partilhar suas bênçãos materiais com os outros. Sua vida familiar e sua vida pessoal devem ser caracterizadas pela “hospitalidade” . 7. Apto para ensinar (1 Tm 3.2; Tt 1.9), ou seja, capaz de comunicar a verdade de Deus aos outros e de “exortar pelo reto ensino”, de maneira sensata, que não resvale para a discussão nem tenha uma atitude defensiva e melindrosa (2 Tm 2.24-26).21

8. Não apegado ao vinho (1 Tm 3.3; Tt 1.7), ou seja, não deve ser escravo do vinho. É importante entender que Paulo não estava ensinando a abstinência absoluta com essa declaração. A abstinência total pode ser um padrão que alguns cristãos devem praticar, especialmente em certas situações culturais, mas estabelecê-la como absoluto bíblico com base nessa qualificação dos presbíteros não constitui uma interpretação bíblica precisa. Pode-se elaborar um argumento melhor a favor da abstinência total a partir do “princípio da pedra de tropeço” em Romanos 14, 15 e em 1 Coríntios 8.

9. Não violento, mas amável (1 Tm 3.3; Tt 1.7), ou seja, não deve ser um “brigão” ou uma pessoa dada a violência física ou verbal, mas alguém caracterizado pela paciência e pela brandura.

10. Pacífico (1 Tm 3.3), ou seja, não dado a discussões e a polêmicas egoísticas.

11. Não apegado ao dinheiro (1 Tm 3.3; Tt 1.7; 1 Pe 5.2), ou seja, livre do amor ao dinheiro, “não cobiçoso de torpe ganância” nem movido por “sórdida ganância”, nem mesquinho em relação às bênçãos materiais. 12. Alguém que governe bem a sua própria família, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (1 Tm 3.4; Tt 1.6), ou seja, ele deve ter o respeito da família e ser reconhecido como o líder do lar. Paulo acrescenta: “Pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1 Tm 3.5).

13. Não recém-convertido (1 Tm 3.6), ou seja, alguém que não seja novo convertido nem criança em Cristo. Deve ser um cristão maduro e, obviamente, alguém convertido há algum tempo — por um período suficientemente longo para, pelo menos, demonstrar a realidade de sua conversão e a profundidade de sua espiritualidade.

14. Boa reputação perante os de fora (1 Tm 3.7), ou seja, os incrédulos também devem respeitar seu caráter e sua integridade.

15. Não orgulhoso (Tt 1.7), ou seja, não alguém rebelde, que esteja sempre tentando fazer as coisas à sua própria maneira. Não deve ser uma pessoa insensível, impondo idéias e opiniões próprias aos outros.

16. Não briguento (Tt 1.7), ou seja, alguém que não se irrita facilmente, “perdendo as estribeiras”. Ele deve controlar os ânimos. Quando fica irado (e todos ficamos), não deve pecar, deixando que o sol se ponha sobre a sua ira (Ef 4.26).

17. Amigo do bem (Tt 1.8), ou seja, não deve desejar e buscar as coisas más e pecaminosas. Deve ser o tipo de pessoa que deseja fazer a vontade de Deus em tudo (1 Pe 5.2).

18. Justo (Tt 1.8), ou seja, deve ser imparcial. Deve ser alguém que consiga fazer juízos objetivos, baseados em princípios justos e santos. 19. Consagrado (Tt 1.8), ou seja, santo e separado do pecado.

20. Apegado à mensagem fiel (Tt 1.9), ou seja, deve ser estável em sua fé e obediente à Palavra de Deus em todos os aspectos. Não deve ser hipócrita, ensinando uma coisa e vivendo outra.

Paulo também incluiu, em 1 Timóteo 3, uma lista das qualidades dos diáconos e das diaconisas. Repare na semelhança com as quali­ ficações dos presbíteros:

Diá c o n o s

1. Respeitáveis (1 Tm 3.8) 2. De uma só palavra (3.8)

3. Não inclinados a muito vinho (3.8) 4. Não cobiçosos de sórdida ganância (3.8)

5. Conservando o mistério da fé com a consciência limpa (3.9) 6. Irrepreensíveis (3.10)

7. Maridos de uma só mulher (3.12)

8. Que governe bem seus filhos e sua própria casa (3.12)

Dia c o n is a s

1. Respeitáveis (3.11) 2. Não maldizentes (3.11) 3. Temperantes (3.11) 4. Fiéis em tudo (3.11)

7. Raramente as Escrituras descrevem especificamente a form a como atuavam os presbíteros e os diáconos.

Quanto à descrição de como os líderes espirituais (em particular os presbíteros) trabalhavam, os escritores da Bíblia nos contam menos a respeito do assunto do que a respeito de qualquer outra área da vida da igreja do Novo Testamento. Por exemplo, as funções dos pres­ bíteros estão claras, e as qualidades que devem ornar as suas vidas são apresentadas minuciosamente. Mas a Bíblia não responde às seguintes “perguntas sobre a forma” :

1. Qual deve ser a idade desses líderes? 2. Como devem ser escolhidos?

3. Quantos líderes deve haver numa única igreja? 4. Durante quanto tempo devem trabalhar?

5. Qual a melhor maneira de desempenharem suas funções? 6. Quando existe mais de um líder espiritual, quem tem a pri­

mazia?

Resumo

Que aprendemos sobre a segunda fase do plano de Deus para a liderança na igreja do Novo Testamento?

1. Deus não nos prende a títulos específicos para os nossos líderes espirituais na igreja.

2. Os líderes espirituais devem governar e pastorear o povo de Deus. 3. Os líderes espirituais que gastam muito tempo no ministério

devem receber ajuda financeira.

4. Quando possível, as igrejas devem ter mais de um líder espiritual para servir de modelo de vida cristã.

5. Quando necessário, os líderes espirituais devem delegar respon­ sabilidades a outros líderes qualificados para que cuidem das necessidades culturais.

6. Todos os líderes da igreja devem estar espiritual e psicolo­ gicamente qualificados para liderar.

7. Devem-se desenvolver formas apropriadas a culturas específicas, para que os líderes da igreja desempenhem suas funções da melhor maneira possível.

Notas

1 Acerca do cânon do Novo Testamento, Tenney observa: “ ... É evidente que nem todos os atuais livros do Novo Testamento eram conhecidos ou aceitos por todas as igrejas do Oriente e do Ocidente durante os primeiros quatro séculos da era cristã”. (Merrill C. T e n n e y , O N o v o Testamento, sua origem

2 Todos os membros do corpo de Cristo receberam dons espirituais. Contudo, conforme vimos no capítulo anterior, os “melhores dons” eram importantes dentro do plano de Deus para o “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço”, e devia dar-se a prioridade à manifestação desses dons nas igrejas locais.

3 Compare Atos 20.17 com 20.28; Tito 1.5 com 1.7; 1 Timóteo 3.1, 2 com 1 Timóteo 5.17, 19.

4 J. B. L i g h t f o o t , Saint Paul: The Epistle to the Philippians, McMillan, p. 95.

5 Ibid., p. 96.

6 Veja Atos 4.5, 8, 23; 6.12; 23.14; 24.1; 25.15.

7 Observe que, quando empregada para referir-se aos “presbíteros da igreja”, na maioria das vezes, a palavra é utilizada em relação aos presbíteros da igreja de Jerusalém, que era constituída basicamente de judeus cristãos. (Veja Atos 11.30; 14.23; 15.2, 4, 6, 22, 23; 16.4; 20.17; 21.18). Em Apocalipse também ocorrem várias referências aos presbíteros.

8 Há três passagens básicas que fazem referência a bispos e presbíteros: 1 Timóteo 3.1-7; Tito 1.5-10; 1 Pedro 5.1-5. Tiago 5.14 faz alusão à função dos presbíteros.

9 O único autor da Bíblia que registrou a palavra “bispo” como sinônimo de presbítero foi Lucas. Significativamente, ele utilizou a palavra para descrever os líderes espirituais de Éfeso (At 20.17), e depois citou Paulo, que se dirigiu a esses líderes como “bispos” (20.28). Também é interessante notar que Lucas era um gentio convertido e devia compreender essa adaptação cultural. 10 Visto que a palavra “presbítero” é usada com mais freqüência em nossa cultura, será usada neste livro, daqui para a frente, para descrever os líderes da igreja local. Na Tealidade, muitas vezes a palavTa bispo é empregada com sentido diferente do que tinha no Novo Testamento. Hoje, freqüentemente se refere a um indivíduo responsável pela supervisão de um grupo de igrejas e/ou pastores. A palavra presbítero, entretanto, continua a ser usada de forma similar à do Novo Testamento. Conseqüentemente, a palavra presbítero é mais aceita por muitos evangélicos.

11 Veja uma vez mais a seção introdutória deste livro, nas páginas 26-9,onde se descreve de forma mais completa esse inter-relacionamento, no tópico “A renovação bíblica”.

12 A palavra presidir, que vem da mesma palavra grega traduzida também por “governar”, é empregada por Paulo em sua carta a Timóteo para descrever os presbíteros remunerados financeiramente pelos seus esforços (1 Tm 5.17). 13 Phillip Ke ll e r, Nada me faltará, Betânia, p. 9.

14 Jack Fin e g a n, Light from the ancietit past, v. 2, Princeton University Press, p. 495-9.

15 Embora haja alguma ambigüidade acerca do papel das diaconisas, parece que as “mulheres” mencionadas por Paulo em 1 Timóteo 3.11 eram aquelas que atuavam como diaconisas (3.8). Tem-se a impressão de que Paulo estava esboçando as qualificações dos homens e, então, com toda naturalidade, inseriu a afirmação “da mesma sorte, quanto a mulheres [que estão numa função de serviço], é necessário que” tenham certas qualificações. De outra maneira, o fluxo do pensamento de Paulo seria interrompido por uma idéia totalmente diferente — as “qualidades das mulheres cristãs em geral”. Se isso procede, e tendo em vista o contexto, é válido indagar: “Qualificações para que posição?” . Parece que a única resposta lógica a essa pergunta é: “Diaconisas” . Deve-se notar que alguns crêem que Paulo estava referindo-se às “esposas dos diáconos”. Mas, sendo assim, por que Paulo não especificou as qualificações das “esposas dos presbíteros”? Tendo em vista a função de um presbítero na igreja, devia parecer mais importante incluir as qualificações das esposas dos presbíteros ou, pelo menos, incluí-las também. 16 Esses homens foram nomeados para “servir as mesas”, e a palavra diácono vem da palavra servir. Nesse sentido podemos legitimamente chamar tais homens “diáconos”.

17 Para um estudo mais aprofundado dessas qualidades, veja Gene A . Ge t z,

A medida de um homem espiritual, Literatura Evangélica Internacional. 18 Veja Robert L. Sa u c y, The husband of one wife, in: Bibliotheca Sacra, 131 (523): 229-40.

19 Veja, em 1 Tessalonicenses 5.1-11, um comentário que bem descreve essa qualidade.

20 Veja Romanos 12.3, que descreve um cristão “sóbrio”.

21 Veja na página 182 uma definição abrangente do que significa ser “apto para ensinar”.

corpo

No documento Igreja Forma e Essencia - Gene a. Getz (páginas 161-167)