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Uma igreja madura — que é isso?

No documento Igreja Forma e Essencia - Gene a. Getz (páginas 93-99)

Como se pode reconhecer uma igreja madura? Com que critérios podemos medir a nós mesmos como corpo local, para verificar se chegamos a um nível de perfeição? O Novo Testamento é, mais uma vez, muito claro. “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor” (1 Co 13.13). A maturidade no corpo de Cristo pode ser identificada pelas virtudes permanentes. O grau de perfeição pode ser medido pelo grau em que a igreja manifesta fé, esperança e amor. Isso fica bem claro nos escritos de Paulo, visto que empregou freqüentemente essas três virtudes para medir o nível de maturidade das igrejas do Novo Testamento.1 Observe estes parágrafos introdutórios nas cartas que escreveu às várias igrejas.

A P R IM E IR A C A R T A AO S T ESSA L O N IC EN SE S

Damos sempre graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações, e sem cessar recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa FÉ, da abnegação do vosso a m o r e da firmeza da vossa e s p e r a n ç a em nosso Senhor Jesus Cristo... (1 Ts 1.2, 3) A SE G U N D A C A R T A AO S TES SA L O N IC EN SE S

Irmãos, cumpre-nos dar sempre graças a Deus no tocante a vós outros, como é justo, pois a vossa FÉ cresce sobremaneira, e o vosso mútuo a m o r de uns para com os outros, vai aumentando a tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e FÉ, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais... (2 Ts 1.3, 4)

A C A R T A AO S CO LO SSEN SES

Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós, desde que ouvimos da vossa em Cristo Jesus, e do AMOR que tendes para com todos os santos; por causa da e s p e r a n ç a que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho... (Cl 1.3-5)

A C A R T A AO S E FÉ SIO S

Por isso também eu, tendo ouvido a FÉ que há entre vós no Senhor Jesus, e o a m o r para c o m todos os santos, não cesso de dar g r a ç a s p o r v ó s ,

fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a e s p e r a n ç a do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos... (Ef 1.15-18)

A P R IM E IR A C A R T A A T IM Ó T E O

Ora, o intuito da presente admoestação visa o a m o r que procede de coração puro e de consciência boa e de sem hipocrisia (1 Tm 1.5 )

Pedro também faz referência a essa trilogia:

... Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós, que, por meio dele, tendes em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa e e s p e r a n ç a estejam em Deus.

Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o AMOR fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros ardentemente... (1 Pe 1.20-22)

A C A R T A AO S H EB R EU S

... aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de FÉ [ . . . ] .

Guardemos firme a confissão da e s p e r a n ç a [...]. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao a m o r e às boas obras (Hb 10.22-24).

Está claro quais são os critérios do Novo Testamento para saber com precisão o nível de maturidade de um corpo local de cristãos. Em primeiro lugar, existe amor que se manifesta para com os outros membros do corpo de Cristo? Em segundo, existe um a/é forte e vital? Em terceiro, existe demonstração de esperança? Mas talvez essas palavras não passem de conceitos teológicos. Que significam? Só quando reforçamos o significado e o conteúdo dessas palavras é que temos a idéia completa. Mais uma vez o Novo Testamento fala com desenvoltura.

O amor

“O maior destes é o amor”, conclui Paulo (1 Co 13.13). Nas cartas às igrejas, constantemente o apóstolo traz à lembrança essa verdade que corresponde à exortação de Cristo registrada em João 13.34: “que vos ameis uns aos outros” .

A C A R T A AO S C O LO SSEN SES

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de temos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; a c im a d e tu d o is to , p o r é m , e s t e j a o a m o r , que é o vínculo da perfeição (Cl 3.12-14).

A P R IM E IR A C A R TA AOS T ESSA LO N IC EN SES

Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, com Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho até vós, e o Senhor vos faça c r e s c e r , e a u m e n ta r n o a m o r uns

para com os outros e para com todos, como também nós para convosco... (1 Ts 3.11, 12)

A C A R T A AO S F IL IPE N S ES

E também faço esta oração: que o vosso AMOR a u m e n te m a is e m a is em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as cousas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo... (Fp 1.9, 10).

A C A R T A AO S EFÉSIO S

... para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, s e g u in d o [ f a l a n d o ] a v e r d a d e em AMOR, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado, pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, e fe tu a o s e u p r ó p r i o a u m e n to p a r a a e d if ic a ç ã o d e s i m e s m o em a m o r (Ef 4.14-16).

O apóstolo Pedro também eleva o amor ao “nível mais alto” quando diz: “Acima de tudo, porém, tende a m o r intenso uns para

com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1 Pe 4.8). E não se questiona a preocupação de João a esse respeito, pois só em

sua primeira epístola ele declara quatro vezes que os cristãos devem “amar uns aos outros” (1 Jo 3.11, 23; 4.7, 11).

Mas que é o amor? Como se manifesta? Como pode ser reconhecido no corpo de Cristo? A mais destacada passagem que apresenta os aspectos particulares do amor é, obviamente, 1 Coríntios 13. Nela, Paulo esclarece para a imatura igreja de Corinto exatamente o que é o amor — como deve ser manifestado pelo corpo de Cristo. Infelizmente, esse “magnífico capítulo sobre o amor” é, com freqüência, desviado de seu contexto e utilizado isoladamente. Para ter o significado e o impacto completo das palavras de Paulo, você precisa ver sua descrição do amor à luz de toda a epístola aos coríntios e interpretar suas definições à luz da carnalidade de Corinto. Depois, também precisamos observar as palavras de Paulo em 1 Coríntios 13 em relação ao corpo de Cristo, não apenas em relação aos cristãos como indivíduos.

Repare, primeiramente, que os coríntios não tinham falta de “nenhum dom” (1 Co 1.7). Assim mesmo, eram uma igreja imatura. Paulo classificou-os como “crianças em Cristo” (3.1), carnais (3.3). Obviamente, a manifestação de dons espirituais numa igreja local não é sinônimo de espiritualidade e maturidade. Certamente não era o caso em relação aos coríntios.

Essa é a declaração principal de Paulo em 1 Coríntios 13. Não há dúvida de que, na igreja de Corinto, havia mais indivíduos que falavam em línguas que em qualquer outra igreja no Novo Testa­ mento; apesar disso, havia falta de amor, e, conseqüentemente, eles eram “como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine” (13.1).

Esses coríntios também possuíam os dons de profecia, sabedoria, conhecimento e fé, mas não possuíam amor, e, por conseguinte, Paulo deixou implícito, eles eram “nada” (13.2).

Sem dúvida, alguns desses cristãos de Corinto possuíam o dom de “dar” e estavam até mesmo dispostos a sacrificar fisicamente a vida em gestos de martírio, mas, sem amor, disse Paulo, esse tipo de comportamento é totalmente inútil (13.3).

Em contraste com o uso dos dons espirituais, Paulo então descreveu como reconhecer o amor no corpo de Cristo:

• O amor é paciente (13.4). Em outras palavras, é o oposto daquilo que os coríntios estavam demonstrando. Eles eram impacientes uns com os outros, e havia dissensões e divisões entre eles (1.10).

• O amor é benigno e não arde em ciúmes (13.4). Antes, nessa mesma carta, Paulo havia escrito a respeito de “ciúmes e contendas” entre os coríntios (3.3).

• O amor não se ufana nem se ensoberbece (13.4). Paulo teve de advertir os coríntios contra a vanglória (1.29). “Se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio [...]. Portanto, ninguém se glorie nos homens [...]. Que tens tu que não tenha recebido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (3.18, 21; 4.7).

• O amor não se conduz inconvenientemente (13.5). Havia imoralidade na igreja de Corinto, “e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios” (5.1; 6.15-20). Além do mais, estavam comportando-se de modo muito inconveniente à mesa do Senhor — alguns chegavam a comer e a beber além dos limites — a ponto de ficarem embriagados (11.20, 21).

• O amor não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal (13.5). Ali havia cristãos que estavam levando uns aos outros aos tribunais (6.1-7). Estavam fazendo o mal uns contra os outros e defraudando uns aos outros (6.8). Eram também insensíveis em relação aos membros mais fracos do corpo de Cristo, e alguns permitiam que sua liberdade em Cristo se tornasse “tropeço para os fracos” (8.9). Aliás, alguns chegavam a participar de idolatria (10.14).

• O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade (13.6). É difícil conceber que cristãos com tantos dons se vangloriassem da imoralidade na igreja, mas Paulo declara enfaticamente: “Andais vós ensoberbados [quanto a essa imoralidade], e não chegastes a lamentar” (5.2).

Após definir o amor e contrastar seus ingredientes com aquilo que tanto faltava aos coríntios, Paulo fez algumas declarações positivas so­ bre o amor (13.7). "... tudo sofre” (isto é, fica firme em meio à pres­ são e ao sofrimento). "... tudo crê” (isto é, está “sempre desejoso de acreditar no que é melhor” [Moffatt]). “ ... tudo espera” (isto é, demonstra confiança no futuro, não pessimismo irremediável). “ ... tu­

do suporta” (isto é, permanece firme e permite que o cristão prossiga em meio ao fragor da batalha).

Os coríntios, é claro, eram culpados em todos os aspectos. Não estavam suportando uns aos outros; estavam prontos a crer em afirmações falsas, mesmo acerca do apóstolo Paulo (4.3-5; 9.1-3); eram negativos em suas atitudes e estavam sucumbindo às pressões do mundo e ao seu sistema.

Agora, ao nos aproximarmos dos versículos de 8 a 12 de 1 Coríntios 13, alguns aspectos das afirmações de Paulo tornam-se um tanto quanto difíceis de compreender. Mas, no contexto, certas verdades tornam-se muito óbvias. Paulo conclui de forma natural e lógica que o “amor jamais acaba” (13.8). Os dons são temporários, mas o amor permanece para sempre (13.8).

“ ... porque” , diz Paulo, “em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em

parte será aniquilado” (13.9, 10). .

A que Paulo está-se referindo? Observe as palavras e expressões que empregou nesses versículos citados logo acima, em contraste com as que se seguem (ou seja, nos versículos de 9 a 12):

E M P A R T E O U P A R C IA L «--- ► P E R F E IT O O U C O M P L E T O menino ■*---► homem (infantil) «---► (maduro) vemos obscuramente,

como num espelho ■*--- ► veremos face a face conheço em parte --- ► conhecerei perfeitamente Olhando para toda a primeira carta aos coríntios e comparando-a às epístolas que Paulo escreveu às outras igrejas, destacam-se algumas conclusões. Esses cristãos não haviam atingido o grau de maturidade e de perfeição que outras igrejas do Novo Testamento haviam atingido. Ainda eram crianças ou recém-nascidos. Eram infantis no comportamento. Haviam progredido muito pouco em se conformarem à imagem de Jesus Cristo.2 No desenvolvimento espiritual, ainda não haviam atingido um ponto que permitisse a Paulo escrever-lhes tal como havia escrito aos tessalonicenses, aos colossenses, aos efésios e aos filipenses e dar graças a Deus por sua fé, esperança e amor. Ao

contrário, parecia que, como corpo local de cristãos, estavam quase desprovidos dessas virtudes. Estavam vivendo num estado de “parcialidade” , “infantilidade” e “obscuridade” na vida espiritual.3 A fim de corrigir a situação, Paulo admoestou-os a que revissem suas prioridades. Em primeiro lugar, orientou-os a lutar por “um caminho sobremodo excelente”; deviam buscar o amor (12.31; 14.1) e depois procurar, “com zelo, os melhores dons” (12.31).4

No documento Igreja Forma e Essencia - Gene a. Getz (páginas 93-99)