• Nenhum resultado encontrado

6 AS MACROVARIÁVEIS DE OAKERSON APLICADAS À REALIDADE DAS

6.4 RESULTADOS E CONSEQUÊNCIAS DAS DECISÕES NOS USOS DA ÁGUA

Os resultados e consequências das decisões acerca dos usos dos recursos hídricos, na bacia do rio Urussanga, compreendem a conjugação dos diversos fatores que compuseram as três primeiras macrovariáveis, num processo de interdependência. Esses representam um elemento importante no trabalho, como síntese dos processos decorrentes das dinâmicas envolvendo os diversos atores na apropriação da água, na qualidade de recurso comum. No caso do território em estudo, seria desejável que o cenário dimensionado a partir da análise de um quadro complexo pudesse ser mais favorável. No entanto, corroborando com o contexto apresentado na situação-problema, motivadora desta tese, a realidade auferida suscita grande preocupação, em face da sua gravidade não só pelos problemas socioambientais imbricados no processo, em si, como também pelas fragilidades nos arranjos de governança que poderiam contribuir à sua superação.

Tem-se no território da bacia hidrográfica um quadro delicado em relação à disponibilidade da água em quantidade e qualidade, em decorrência do modelo de manejo adotado na região, com contaminação hídrica e outros agravantes, conforme abordado na seção “6.1.3”. Panorama que ficou bem caracterizado na Figura 3, no capítulo 2 (subcapítulo 2.1), sobre prognóstico da evolução do balanço hídrico de Santa Catarina, retomada aqui para uma análise mais aprofundada. O estado é composto por 10 regiões hidrográficas, cuja classificação é dada pelas cores verde (confortável), amarelo claro (preocupante), amarelo escuro (crítico), vermelho claro (muito crítico) e vermelho escuro (insustentável). A conjectura contempla uma sequência de anos, incluindo 2019, 2023 e 2027, considerando a tendência de crescimento da necessidade de água para diferentes usos, compondo um cenário tendencial (SANTA CATARINA, 2018).

Os dados integram o diagnóstico do Plano Estadual de Recursos Hídricos, cujo documento final foi lançado no início de 2018, conforme já referido. Pertencente à 10ª Região Hidrográfica do Estado, a bacia do rio Urussanga, juntamente com a bacia do rio Araranguá, apresenta os piores números entre todas as regiões, estando classificada em todos períodos abrangidos como

“insustentável”. Suas demandas por água, em quantidade e qualidade, estão indicadas no Quadro 7, a seguir, com valores que sugerem a urgente necessidade de contínuas intervenções de gerenciamento, acompanhada de grandes investimentos (SANTA CATARINA, 2018).

Quadro 7 - Evolução do balanço hídrico na 10ª Região Hidrográfica de SC

RH 10 2019 2023 2027

Quantitativo (%) 164 173 204

Qualitativo (%) 437 487 536

Fonte: Adaptado de Santa Catarina (2018).

O prognóstico com números tão negativos é reflexo das atividades econômicas predatórias, que ao longo do tempo foram se diversificando no território da bacia, em combinação com os usos inadequados do solo (desmatamento, ocupação de APPs por atividades várias, como agricultura e mineração). Intervenções que provocaram processos erosivos, com consequente carreamento de sedimentos e assoreamento dos rios, além da contaminação por cargas químicas (Figura 19) e orgânicas dos lançamentos industriais e de esgoto doméstico. A condição de poluição da água e assoreamento reduzem a disponibilidade hídrica, além de provocar problemas às comunidades das áreas mais baixas do rio, por conta de cheias em período de grandes precipitações (GALATTO et al., 2015).

Figura 19 - Água ácida do rio Carvão, um dos afluentes do Urussanga

Os conflitos pelo uso da água são igualmente componentes desse cenário de problemas, com os consequentes impactos socioambientais no território da bacia. Nesse sentido, apresenta-se a situação mais recente do caso envolvendo a comunidade de agricultores de Santa Cruz e adjacências, e a empresa carbonífera que abriu uma mina na localidade. Os temores apresentados pela comunidade afetada de que haveria prejuízos severos aos recursos hídricos são confirmados, após quase sete anos de extração de carvão, conforme o relato de seus representantes. Segundo cinco agricultores que fizeram parte da articulação da resistência ao empreendimento, houve vários poços que secaram em virtude da mina, e não voltaram mais a ter recarga, mesmo em períodos de chuva, tendo sido afetadas até o momento 20 famílias (SCHNEIDER; VIRTUOSO, MARTINS).

No entendimento dos agricultores, a extração mineral no local tem relação direta com o secamento dos poços. Durante o período em que a mobilização social ganhou força, com o MIV, houve monitoramento da situação por parte da empresa, com acompanhamento do MPF. Nos últimos anos, no entanto, a comunidade revela que não houve mais movimento no sentido de se monitorar, mesmo com os reclames dos impactos em curso. O processo foi abandonado. Da mesma forma, o movimento de resistência foi perdendo força e atualmente está desarticulado. Conforme eles, as pessoas foram desanimando a partir do momento em que a empresa conseguiu entrar em operação e dar sequência à atividade extrativa, perdendo a esperança na reversão do problema (SCHNEIDER, VIRTUOSO, MARTINS).

Embora vencidos no processo, os agricultores avaliam que a mineração teria trazido muito mais impactos à comunidade, caso não tivesse havido o movimento de resistência. Um exemplo concreto disso é o lavador de carvão, cuja implantação, prevista no projeto original do empreendimento para o lado da mina, onde há mananciais hídricos superficiais, acabou não acontecendo por força da mobilização comunitária. Eles também reclamam que os rejeitos, que deveriam ser recolocados na mina, conforme determinação do MPF, estão sendo levados para um outro local do município, na localidade de Poço Oito (SCHNEIDER, VIRTUOSO, MARTINS).

Durante o processo de implantação da mina, a empresa buscou associá- la a uma prática sustentável, com o argumento da tecnologia utilizada nos seus

processos, o que não foi assim entendido pela comunidade, conforme Schneider, Virtuoso e Martins (p. 5) observam:

Os argumentos utilizados pela empresa, em uma tentativa de amenizar o conflito, de que a mineração atual não comprometeria os recursos, principalmente hídricos, não se sustentou na prática, uma vez que, cruzando as falas e experiências dos agricultores, se percebe que os recursos hídricos foram os primeiros atingidos, gerando escassez total em muitos poços e possível contaminação da água.

A exemplo dos agricultores de Içara, uma outra comunidade, a de Rio Maior, em Urussanga, também resistiu às atividades de uma mina de diabásio, por conta dos impactos socioambientais. A população local reclamava de rachaduras nas edificações, com quatro prédios antigos tombados pelo Patrimônio Histórico sendo afetados, além da poluição atmosférica e impacto direto nos recursos hídricos, dentre outros problemas. O conflito estendeu-se durante os anos 2000, com uma solução que atendeu parcialmente o objetivo dos moradores, quando a empresa precisou fazer ajustes, minimizando, mas não resolvendo totalmente o problema (NASCIMENTO; BURSZTYN, 2012).

Tratam-se de dois dos maiores conflitos socioambientais na história do território da bacia do rio Urussanga, nos quais a parte mais frágil, conforme os desdobramentos puderam revelar, foi a comunidade. Em ambos os casos, teve-se flexibilização dos dispositivos legais, considerando que as localidades em conflito eram classificadas como APPs, havendo igualmente o questionamento sobre as estratégias de atuação dos órgãos ambientais e dos membros do legislativo dos municípios. Ademais, o sistema de concessão de lavra de minérios, sob domínio da União, também contribuiu para o surgimento dos problemas ambientais, ao desconsiderar a interdependência dos elementos de solo e subsolo. Ao final, venceu o setor econômico, em detrimento dos interesses socioambientais, com um ônus maior à população impactada.

Os dois episódios são analisados por Nascimento e Bursztyn (2010, 2012) como relevantes, por terem contribuído para criar e fortalecer ações voltadas à governança ambiental local, por meio da constituição de estruturas, que acabaram por dar suporte a uma gestão ambiental nos municípios onde ocorreram. De fato, tem-se como resultado a articulação dos atores que protagonizaram o processo, de um lado os setores em conflito, mediados por segmentos responsáveis por esse papel, entre políticos e jurídicos. No entanto, mesmo ante a necessidade de se fazer

concessão pelas partes para uma solução mínima possível, fica evidenciado que a mais prejudicada no processo acaba sendo a comunitária.

A conversão de conflitos socioambientais em governança, por meio da interação dos atores, portanto, pressupõe a existência de uma arena de ações em que as regras atendam ao conjunto desses, não especificamente a segmentos como maior poder político. Nesse sentido, pôde-se constatar na pesquisa que os setores econômicos estão empoderados, alguns mais, outros menos, mas suficientemente articulados para alcançar seus intentos no território. De forma marcante, não somente na bacia do rio Urussanga, mas em toda a região carbonífera, constatou-se a força do setor carbonífero, dimensionada pelo suporte político nas esferas legislativa e executiva, em âmbito regional, estadual e federal. Condição que o coloca em posição privilegiada para defender seus interesses, mesmo sendo uma atividade em forte declínio, por questões ambientais e de mercado.

A posição que a mineração de carvão ocupa historicamente como um dos setores vinculados ao progresso da região, associada ao seu poder político, é, certamente, um dos motivos pelos quais os seus contínuos impactos socioambientais não vêm sendo problematizados nos comitês, considerado sobretudo a poluição dos recursos hídricos. Novos empreendimentos têm sido sinalizados para a região, sem que os principais órgãos afeitos à questão da água sejam chamados para se posicionar, do ponto de vista de um colegiado criado pela PNRH, com poder deliberativo, para discutir e definir os critérios de uso dos recursos hídricos em uma bacia hidrográfica.

No caso do comitê da bacia hidrográfica do rio Urussanga, que atua na bacia mais poluída de Santa Catarina e uma das mais poluídas do Brasil, seria imperativo que a situação hídrica local, sobretudo considerando as suas principais fontes poluidoras, fosse objeto permanente de discussão e indicativo de intervenções urgentes de solução ou remediação. No entanto, o órgão ainda não está dotado de condições para esse nível de atuação, o que ficou evidenciado quando da sua falta de resposta à solicitação da comunidade de Santa Cruz para parecer sobre os problemas hídricos causados pela mina de carvão naquela localidade. O pedido foi feito em 2014, sem retorno até o momento de finalização deste trabalho. Essa fragilidade foi apontada por quase todos os participantes da pesquisa, os quais identificam o seu pouco empoderamento político no enfrentamento do problema, considerando a força que os segmentos econômicos,

em especial a mineração de carvão, ainda detêm nas relações de disputas no território.

Criado e 2006, portanto há mais de uma década, o comitê do Urussanga, diante de suas limitações técnico-políticas, teve uma atuação mais restrita à mobilização social e educação ambiental, direcionada às escolas inseridas na sua área de abrangência. O órgão conseguiu difundir a questão da gestão hídrica pelos municípios da bacia, ampliou o número de usuários de água cadastrados no sistema de informações do Estado, que é fundamental para o planejamento da gestão. Essa atuação, no entanto, é insuficiente para evitar o agravamento da situação hídrica em seu território, cujo prognóstico de futuro é insustentável.

Assim, o cenário atual da bacia hidrográfica do rio Urussanga, resultante das dinâmicas de poder envolvendo os seus atores nos diversos segmentos, indica a falta efetiva de arranjos políticos para a gestão hídrica local. Por conseguinte, o uso da água, que é um bem comum - de direito de todos e já escassa-, tem ocorrido como se fosse em regime privado, sem observância dos regramentos que disciplinam o seu uso, estabelecidos na PNRH. Nesse contexto, enquanto nada ou quase é feito para a alteração do atual quadro hídrico, ainda reverbera um velho pensamento de que diante da degradação da água por metais pesados do carvão, por exemplo, pode-se ter um mal menor, conforme expressa um engenheiro vinculado ao setor carbonífero, no vídeo-documentário “Uma luta transparente: a campanha pelo Rio Mãe Luzia”, produzido por Eyng, Sartor e Ferreira (2015): “Não basta resolver o problema da mineração de carvão, porque a mineração do carvão é ácido e todas as outras porcarias, sobretudo esgoto doméstico, é base. Então a hora que o ácido não matar mais os coliformes, nós vamos ter um problema”.

O pensamento que minimiza a degradação ambiental no sentido do “mal menor” está atrelado à cultura do progresso, que incorporou os impactos socioambientais decorrentes das diversas atividades econômicas, sobretudo a da mineração de carvão como algo natural. A garantia de emprego e renda, permitindo para alguns o acesso a bens de consumo, e para outros (em menor número) o acúmulo de riqueza, deixou em segundo plano os efeitos nocivos desse processo, com a exploração intensiva dos recursos naturais. Dessa forma, a contaminação dos recursos hídricos passou a ser vista como normal, seja pelo lançamento de esgoto doméstico, seja pelo lançamento de efluentes industriais de várias origens. O mau odor e a coloração alterada da água, dependendo do tipo de contaminante, passou a

ser visto como algo necessário no imaginário coletivo e, consequentemente, inevitável.

O culto ao carvão como símbolo de progresso e crescimento econômico ainda é presente na região, conforme ilustra a Figura 20, em que o mineral é usado como um elemento do cotidiano, inserido entre os componentes do presépio de Natal, não possuindo qualquer conexão com o contexto natalino.

Figura 20 - Carvão no presépio, em Criciúma, símbolo do progresso

Fonte: Do Pesquisador (2018).

A se continuar o atual modelo econômico, pelo que indicam os dados atuais dos balanços hídricos referentes à bacia do rio Urussanga e demais bacias da região, tem-se uma possível crise hídrica à vista. Desdobramento que poderá se constituir em uma oportunidade para a revisão sobre a forma como atualmente são tratados os recursos comuns, na perspectiva de um aprendizado social que descortine novos arranjos de governança, mais voltados à coletividade. É imperativo que esse processo suicida em curso, de vertente neoliberal e, portanto, produto da expressão de um capitalismo globalizatório (SANTOS, 2001), seja problematizado para o surgimento de um novo modelo, com a valorização das soluções e potencialidades locais.

Os efeitos nocivos de uma economia predatória, ainda fortemente vinculada à ideia de progresso sem limites, por si só, ensejam a mudança de paradigma, para a adoção de um novo projeto não apenas aos municípios que integram a bacia hidrográfica do Urussanga, como também aos demais de toda a região sul catarinense. Neste sentido, a valorização da vocação regional, com a conjugação de um desenvolvimento harmônico, incluindo os elementos culturais, socioeconômicos e ambientais, poderia ser uma alternativa, conforme indicam os princípios do ecodesenvolvimento. Um novo caminho a ser construído, tendo-se por base um conceito em hibridização envolvendo os enfoques do desenvolvimento territorial e o ecodesenvolvimentista (VIEIRA, 2013), aliando cooperação e prudência ecológica.

Dentro dessa perspectiva do ecodesenvolvimento, conflitos socioambientais ocorridos na bacia como o das localidades de Rio Maior, em Urussanga, e Santa Cruz, em Içara, poderiam se tornar o ponto de partida para esse novo modelo. As articulações sociais de resistência em defesa dos recursos comuns e os arranjos envolvendo os demais agentes seriam a base dessa construção. Perspectiva na qual as experiências vivenciadas dariam suporte a processos adaptativos dinâmicos, dentro de novas aprendizagens socioambientais. Ou seja, o melhor modelo poderá advir de uma prática coletiva e participativa, marcada pela flexibilidade e adaptação, com ajustes no processo ao longo do tempo para o seu aprimoramento contínuo.

A presente tese teve o escopo de analisar as dinâmicas de poder determinantes na apropriação dos recursos comuns (commons), com recorte no uso dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Urussanga, dentro do atual modelo de gestão participativa estabelecido pela PNRH, sob o enfoque dos princípios de Ecodesenvolvimento. Com esse propósito, buscamos compreender por qual motivo, apesar de todo o conhecimento científico já consolidado sobre as questões ambientais, ainda se mantém ativo o processo de degradação socioambiental na região abrangida pelo estudo. De modo especial, com o comprometimento da água a ponto de se gerar um contexto de estresse hídrico grave, com iminente risco de colapso e indisponibilidade do recurso.

O desenvolvimento da pesquisa, por meio das estratégias metodológicas adotadas, permitiu o acesso a dados sobre o objeto da pesquisa, os quais foram organizados e analisados conforme o modelo de Oakerson (1992), com base nas quatro macrovariáveis: atributos físicos e tecnológicos dos recursos, arranjos para a tomada de decisão (ou regras de interação), padrões de interação (jogos de atores na arena de ação) e resultados e consequências e decisões nos usos da água. Assim, foi possível responder às questões que subsidiaram a investigação, com a consecução dos objetivos indicados por essas, dimensionando a realidade da questão hídrica do território estudado de forma inédita.

Ao se buscar o entendimento das dinâmicas no território da bacia, que historicamente determinam por quem e como os recursos hídricos são apropriados, com seus múltiplos usos e implicações, constatou-se que a água, em alguns momentos, recebe destaque como um elemento importante para a região. No entanto, o tema é tratado de forma pontual, em datas alusivas à questão ambiental, não havendo ações que demonstrem efetivamente a preocupação em relação à gestão hídrica, com o tema ficando mais restrito à retórica. Por outro lado, há iniciativas por parte do comitê de bacia, criado com tal fim, encontrando restrições por conta do suporte ineficiente institucional do Estado, além da flagrante ausência de empoderamento dos seus membros. Diante desse contexto, suas ações não produzem os resultados de impacto necessários, apesar do intenso e importante trabalho de mobilização social, com ênfase na participação da população, e na educação ambiental para a sensibilização aos cuidados e usos racionais dos mananciais.

Tomando-se por base a condição de insustentabilidade hídrica da bacia do rio Urussanga, seria desejável que o comitê já tivesse atingido a maturidade e a força política necessárias para discutir e decidir sobre os usos da água no seu território de abrangência. Destarte, pudesse estabelecer proibição às atividades que são insustentáveis em relação ao uso dos recursos comuns, principalmente os hídricos, cujos danos sejam irreparáveis, como o caso da contaminação química provocada pela mineração de carvão. Tal condição, muito provavelmente, só será alcançada em um contexto de colapso hídrico, em virtude da cultura reativa ainda vigente no país.

Independente de aspectos relacionados à poluição da água, os segmentos que representam o setor econômico atuantes na área do estudo tiveram e continuam tendo força política para buscar seus intentos. Notadamente, nenhum setor mostrou-se tão poderoso entre os demais que disputam espaço no território como o carbonífero. Tal poder pode ser observado na capilaridade com a qual ainda se articula, em nível transescalar, levando-se em conta os âmbitos local, regional, estadual e federal, tendo como uma de suas principais estratégias, além da sua inserção na sociedade com projetos de cunho social, o investimento em campanhas políticas de candidatos nas eleições majoritárias e proporcionais. Essa estratégia garantiu-lhe algumas vantagens, dentre as quais a flexibilização das legislações em favorecimento das suas atividades, bem como acesso a recursos públicos na ordem de R$ 7,4 milhões para desenvolvimento de projeto voltado à captura de carbono.

As atividades econômicas desenvolvidas na área de abrangência da bacia propiciam o crescimento econômico local, mas também respondem pelos graves impactos ambientais que ocasionam a escassez de recursos, como os hídricos. De longe, a mineração de carvão é a mais impactante, embora não se deva ignorar outras ações que ajudam a agravar a situação. Ainda que tenha aprimorado seus processos extrativos, por conta de avanços tecnológicos, o setor carbonífero continua a gerar seus impactos, sobretudo na água. A modernização de maquinários não impede, por exemplo, a contaminação hídrica e a consequente ocorrência de DAM, por conta das características hidrogeológicas da região.

Os processos de mudança em curso, em âmbito global, no tocante à substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis têm trazido repercussão também no Brasil, criando barreiras ao carvão nacional, e minando sua participação na matriz energética do país. Não obstante, as articulações políticas “pró-carvão”

continuam, ainda, vislumbrando que a extração do mineral continue movimentando a economia, a despeito das suas implicações socioambientais. Neste sentido, empresas do setor têm manifestado o interesse na abertura de novas minas, inclusive em municípios da bacia, como Urussanga. E mais recentemente, no