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3. Métodos de Cálculo Aplicados ao Caso Brasileiro

3.1. Um Modelo Simples de Função de Produção

3.1.3. Resultados

O primeiro resultado, obtido a partir do cálculo do estoque de capital, é a relação capital/ produto. Essa razão nos diz, em média, quantas unidades de capital são necessárias para se produzir uma unidade do produto. Uma razão igual a dois significa que a economia produz, em média, uma unidade do produto, a partir de duas unidades de capital. Isso, porém, não significa que a cada duas unidades de capital adicionadas a economia, o produto se elevará em uma unidade. Para esse cálculo, é necessário saber a relação capital/ produto incremental da economia, isto é, quantas unidades de capital são necessárias para se produzir, na margem, mais uma unidade do produto.

A Figura 4 traz a relação capital/ produto total e efetiva, calculada para a economia brasileira de 1980 a 2004. A razão capital/ produto efetiva difere da total, pois, leva em conta somente o estoque de capital em uso, isto é, o estoque de capital é ajustado pelo NUCI.

2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 1980 1981 19821983 1984 19851986 19871988 19891990 1991 19921993 19941995 19961997 19981999 200020012002 20032004 Total Efetiva

Figura 4 – Relação capital/ produto efetiva apresenta estabilidade no período 1980-2004.

A primeira característica que chama atenção na figura acima, apesar de esperado, é que os movimentos na relação efetiva são muito mais suaves do que na relação total. A relação total indica uma intenção de oferta baseada em decisões

passadas dos empresários. A razão efetiva incorpora as decisões correntes de curto prazo de quanto ofertar, tomada pelo empresário. A Figura 4 mostra, então, que os empresários ajustam suas decisões de longo prazo para se adequar a demanda no curto prazo, mas ainda, a figura acima mostra que esse ajuste é substancial, pois, na relação total o ponto de máximo global é quase 19% maior que o ponto de mínimo global, enquanto que na relação capital/ produto efetiva essa mesma diferença é de 5%.

Outro fato que chama atenção na Figura 4, é a estabilidade relativa das duas relações. Note que apesar das variações ao longo do período, as duas séries apresentam valores finais, muito próximos dos iniciais. A relação capital/ produto total apresenta em 2004, um valor 2,3% maior do que em 1980, enquanto a relação capital/ produto efetiva apresentou em 2004, um valor apenas 1,2% maior do que em 1980. As próximas seções desse capítulo trarão outros cálculos para a mesma relação, o que nos permitirá concluir se esse resultado é geral ou fruto de alguma escolha metodológica específica.

O segundo resultado obtido com essa metodologia é a evolução da PTF e a tendência da PTF para esse período, como mostra a Figura 5.

0,82 0,84 0,86 0,88 0,90 0,92 0,94 0,96 0,98 1,00 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 PTF Tendência-PTF

A leitura da figura acima deixa claro que a produtividade da economia brasileira, medida por essa ótica e na visão de Silva Filho (2001), sofreu uma queda em 1981, da qual ela não se recuperou até hoje. É notório também, que a volatilidade da série diminuiu, a partir de meados da década de 1990. Isso é, de certa forma, justificável, uma vez que a década de 1980 e o início da década seguinte, foi um período muito instável marcado por uma sucessão de planos econômicos de estabilização baseados em terapias de choque. Esse ponto fica bem claro na Tabela 4, que mostra que o desvio padrão no período Pós-Plano Real se reduziu a menos de 30% do seu valor na década de 1980.

Contudo, o que pode parecer contra-intuitivo, é que a média da PTF nos subperíodos: 1981-90; 1991-00 e 1994-03, que correspondem respectivamente às décadas de 1980, 1990 e ao período de economia estabilizada, são muito semelhantes. De fato, um teste t aplicado a esses dois subconjuntos da amostra falha em rejeitar a hipótese nula de que as médias são iguais.31

Tabela 4 – A estabilização da economia diminuiu a volatilidade da PTF

Média Desvio Padrão 1980-03 0,911 0,030 1981-90 0,910 0,033 1991-00 0,904 0,018 2001-03 0,907 0,003 1994-03 0,911 0,009

Com base no que foi dito nos dois parágrafos acima, fica claro que o efeito do Plano Real sobre a PTF foi de conferi-la uma maior estabilidade, assim como ocorreu com as outras variáveis na economia. Entretanto, ele não foi nem de longe condição suficiente para que a PTF alcançasse um crescimento sustentado.

31 O teste t bi-caudal aplicado para comparar as décadas de 1980 e 1990, supondo variâncias iguais,

forneceu uma estatística de 0,5998, para um valor crítico à 10% com 9 graus de liberdade de 1,8333. Um segundo teste bi-caudal foi feito para comparar o período Pré e Pós-Plano Real, supondo variâncias distintas das suas amostras, fornecendo o valor de 0,9854 para a estatística de teste.

De posse do estoque de capital e da PTF podemos proceder à contabilidade do crescimento exposta na Tabela 5.

Tabela 5 – Decomposição do crescimento: taxa de crescimento e contribuição de cada fator

Y A K L 1981-1990 1,56% -1,56% 1,50% 1,63% -100,2% 96,1% 104,1% 1991-2000 2,61% 0,87% 0,81% 0,93% 33,3% 31,0% 35,7% 1994-2003 2,46% 0,19% 1,39% 0,88% 7,8% 56,5% 35,7% a

Os números em vermelho, na segunda linha de cada subperíodo, indicam a contribuição de cada fator para o crescimento .

A decomposição do crescimento confirma que do ponto de vista da produtividade da economia, a década de 1980 realmente foi a década perdida. É de certa forma emblemático constatar que, na visão do autor, se a PTF tivesse ficado estável nessa década, tudo mais constante, o PIB brasileiro teria crescido a uma taxa média duas vezes maior. Em outras palavras, a queda da PTF reduziu o crescimento do PIB pela metade na década de 1980.

A marca da década de 1990 é um crescimento eqüitativo com todos os fatores crescendo e contribuindo a taxas positivas e muito similares. Como resultado, a taxa média de expansão da economia foi a maior dos 3 subperíodos analisados.

O terceiro subperíodo, cuja característica unificadora é a estabilidade da economia, mostra uma menor taxa de crescimento (e também da contribuição) da PTF, evidenciando que qualquer que tenha sido o fator que impulsionou a PTF na década de 1990, esse foi perdendo força ao longo do tempo. Os números, porém, corroboram com a hipótese levantada anteriormente de que só a estabilização da economia não foi suficiente para sustentar o crescimento da PTF e liderar o desenvolvimento econômico.

Ainda sobre a Tabela 5, é válido comentar que a taxa de crescimento do estoque de trabalho é declinante, o que é condizente com um país como o Brasil, que

se encontra no estágio final de sua transição demográfica e é mais um ponto a favor da escolha da PNAD como fonte para o estoque de trabalho.

Por último, como mostra a Tabela 6, a comparação dos resultados obtidos nesse exercício com os resultados originais de Silva Filho (2001) evidenciam um aspecto importante da metodologia de cálculo da contabilidade do crescimento. Como aludido anteriormente, esses dois exercícios diferem na escolha da fonte de dados para o estoque de trabalho. Logo, é de se esperar que a taxa de crescimento do estoque de trabalho difira levemente entre os dois exercícios. O efeito colateral disso é uma diferença de mesma magnitude, porém, de sinal oposto na taxa de crescimento da PTF.

Por exemplo, na década de 1980, a taxa de crescimento médio do estoque de trabalho medido pela PME foi de 1,8%, enquanto que pela PNAD o mesmo crescimento foi de 1,6%, ou seja, uma diferença de 0,17 pontos percentuais a mais. Logo, a PTF calculada nesse exercício deve ser 0,17 pontos percentuais, menor do que a taxa encontrada em Silva Filho (2001).32

Tabela 6 – Diferenças na medição do fator trabalho são compensadas na PTF

Y A K L A K L 1981-1990 1,56% -1,74% 1,50% 1,80% -1,56% 1,50% 1,63% -111,2% 96,0% 115,2% -100,2% 96,1% 104,1% 1991-2000 2,61%a 0,97% 0,82% 0,84% 0,87% 0,81% 0,93% 37,0% 31,1% 31,9% 33,3% 31,0% 35,7% a

A soma das taxas de crescimento em (Silva Filho, 2001) não somam 2,61%, pois o IBGE reviu os números das contas nacionais, após a publicação do artigo.

(Silva Filho, 2001) Tabela 4

Tendo analisado, os resultados da estimação do estoque de capital, da PTF e da contabilidade do crescimento, o próximo passo é calcular o produto potencial da economia de acordo com a Equação (24). Para isso, adotou-se como NAIRU, a média da taxa de desemprego no período 1980-2003, que foi de 6,1%. Para a NAICU,

32 A diferença entre as duas medidas da taxa de crescimento da PTF na Tabela 6, não soma exatamente

manteve-se a taxa de 85% adotada no paper original. E para PTF adotou-se a tendência obtida pelo filtro HP, ilustrada na Figura 5. O resultado está na Figura 6.

1997 1989 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200 1980198119821983198419851986 19871988198919901991199219931994 19951996199719981999200020012002 2003 B il h õ e s d e R $ d e 1 9 9 9

PIB Potencial PIB Efetivo

Figura 6 – PIB potencial e efetivo: 1980-2003

A primeira evidência que chama atenção é, sem dúvida, o fato de que no período analisado o PIB efetivo nunca esteve acima do potencial. O menor hiato registrado foi em 1980, onde o PIB efetivo correspondeu a 97,2% do potencial. Em contrapartida, o maior hiato ocorreu 3 anos depois, quando o PIB efetivo era somente 83,9% do potencial.

Na Figura 6, podemos distinguir, grosso modo, 3 períodos. Nos dois primeiros que vão de 1980 a 1989 e de 1990 a 1997, respectivamente, o comportamento é muito similar. Os períodos iniciam com um hiato estreito que vai se ampliando até mais ou menos a metade do período, a partir da qual o hiato começa a se estreitar novamente, dando esse formato de barriga ao gráfico. No terceiro período, o que se vê é um hiato muito mais estável, com o PIB efetivo correndo quase que em paralelo com o PIB potencial. A coluna 2 da Tabela 7 confirma essa análise, mostrando que o DP (Desvio Padrão) do hiato, medido como porcentagem do produto efetivo, é muito menor no terceiro período.

Tabela 7 – Volatilidade do hiato diminui no período Pós-Real mas a taxa da crescimento do PIB potencial não aumenta

DP do Hiato Hiato Médio DP do Hiato PIB Potencial - Taxa de Cresc.

1980-89 4,97 1981-90 11,30 4,42 2,68

1990-97 3,98 1991-00 11,48 3,53 2,22

1998-03 1,02 1994-03 10,02 1,62 2,19

1980-03 3,95 1980-03 11,02 3,95 2,39

A Tabela 7, também mostra que a taxa de crescimento do PIB potencial no período todo foi muito baixa, média de 2,4%. Além disso, o período Pós-Plano Real é caracterizado pela menor taxa de crescimento do potencial da economia e pelo menor desvio padrão. Em resumo, a economia brasileira cresceu a taxas menores a partir de 1994, porém, mais previsíveis.