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3 4 8 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS

No documento Revista Completa (páginas 150-152)

ATRAVÉS DE REVISTAS E JORNAIS

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tados de conhecimentos bio-sociais, tocados, precipuamente, "dessa simpa- tia que força a penetração na alma do aluno", pela vara mágica do en- tusiasmo, indispensável para que as escolas se transformem em laborató- rio de atração e de emulação psico- mentais, nas quais sejam traçados pelos próprios frequentadores "pla- nos e projetos de vida" e, como com- plemento, as possibilidades pragmáti- cas de realização.

Os mestres do futuro procurarão conhecer os fundamentos hereditá- rios e os psicológicos da personali- dade dos discentes, de modo a que se torne possível ajusta-la e estimula-la ao amor, à existência, ao próximo e ao trabalho, ao contrário do que se ob- serva, presentemente, de escolares que vão às aulas sem entusiasmo, para armazenar conhecimentos não solici- tados, não apreciados, não desejados ou as noções, cuja importância não compreendem, porque não foram in- formados de modo claro e positivo da utilidade das mesmas.

Dentro destes conceitos, cumpre planejar e estabelecer em futuro breve "escolas de vida", para a formação de "mestres-educadores", capazes de incutir nos alunos a prática do "dis- cernimento", da "moderação" e do "prazer" intelectivo e espiritual de passar confortavelmente por êste mundo, no qual fomos lançados sem prévia consulta.

Para a fundação das referidas es- colas, é mister levar em conta os

fatores lugar, tempo e mentalidade. Os costumes e as exigências da época não permitem que se tome por mo- dêlo as escolas epicurianas ou a es- cola de sabedoria de Keyserling, nem

as prático-realistas suecas, dinamar- quesas e americanas.

O curso básico visará a consolida- ção "compreensiva" ou reajustadora dos discentes, que viverão na escola, como se fora num jardim de Aca- demo, onde Platão reunia, sob as ár- vores plantadas por Cimon, os seus inúmeros discípulos-amigos.

Não se cuide que se tratará de um curso a ser frequentado por elemen- tos hipervegetativos ou esplânenicos, isto é, por tipos que preferem dar mais trabalho às vísceras abdominais do que ao cérebro, a parte mais nobre do corpo humano. N ã o ! Trata-se de um curso de formação cultural para "mentores de vida", para futuros con- dutores de homens, imbuídos de que viver é alguma coisa mais do que atender às muitas exigências somá- ticas e poucas do espírito.

Deverá ser instituído um curso pre- paratório ou de triagem, por onde passarão os candidatos, num curto pe- ríodo de observação, a fim de compro- var a capacidade de cada um de viver

consigo mesmo, de bastar-se a si mesmo, sendo permitida a inclusão apenas de supermentais, que não pre- cisam "reaquecer-se" pelo contacto frequente corn a sociedade mundana, como é peculiar aos carneiros, que jamais conseguem viver isolados, por- que sentem frio, mesmo no verão.

Leituras, diálogos e solilóquios, se- rão praticados intensivamente, com método ou sem método, ao sabor das circunstâncias como o foram as pa-

lestras maiêuticas, por meio das quais se realizavam "descobertas" impre- vistas no domínio das meditações ou das lucubrações.

Nesses cursos, os frequentadores serão ao mesmo tempo mestres e alu-

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nos. Cada qual pergunta o que quiser e responde o que bem entender, den-

tro das normas acadêmicas, mantidos em rigoroso isolamento as vulgarida- des. os dogmatismos, os "parti-pris", para só terem em vista os verdadei- ros valores da ciência, da arte e da filosofia.

Os programas serão, pois, abolidos. As divagações desenvolver-se-ão de

acordo com as oportunidades e com a natureza personalista dos discentes, tendo sempre presente o objetivo de discutir os problemas em foco e orien- tar os mesmo; segundo as inclina- ções culturais que ensejam a "arte de viver".

No terreno da simpatia e da com- preensão torna-se fácil a instituição educacional processada entre mestres-

alunos e alunos-mestres, cuja mútua confiança faculta melhor oportunida- de para a troca e para a sintonia de idéias.

Durante a permanência na "escola de vida", que não deverá ultrapassar dois anos, para evitar as tendências monásticas de alguns, processar-se-á a estruturação da personalidade e a revelação das inclinações vocacionais.

Há anos passados Leacoock, edu- cador americano, escreveu um artigo intitulado: "Estará a educação devo- rando a v i d a ? " em que procura evi- denciar o fato de a educação tornar- se dia a dia mais complexa e inefi- ciente. Um menino permanece na es- cola do primeiro grau até 10 anos, nas secundárias até 18 ou 19, nas su- periores até 24 ou 25. Só aos trinta começa a viver, apenas a viver. Ca- sa-se muito tarde e, como disse o citado educador, "toda a sua vida é marcada por dez anos de atraso; tem filhos dez anos atrasados e a única.

coisa que consegue antes do tempo é m o r r e r " .

Divagando, como se fora nos do- mínios da utopia, à procura de uma

nova orientação educacional, Dewey, outro educador americano, em discur- so pronunciado em 1933 apresentou um tipo de escola, talvez viável em futuro próximo, em que é abordaria a questão da atividade escolar sob os moldes de uma escola-lar, onde não existem carteiras parafusadas, nem filas de alunos, os quais serão mais educados para a vida do que impreg-

nados de noções inúteis.

Não me encontro, pois, isolado no rumo através de uma perspectiva edu- cacional. O meu plano visa, em prin- cípio, a formação de "mestres-mento- res" para a organização e a disposi- ção pedagógica com a finalidade pre- cípua de "ensinar a viver", não den- tro de um programa rígido, mas de uma orientação prático-realista, para mais rápido e melhor aproveitamento do curto espaço de tempo de que dis- pomos para trabalhar, para lutar, para vencer e, também, para gozar com sabedoria os frutos do trabalho, da luta e das vitórias alcançadas.

A» conquista de um núcleo apreciá- vel de mentores-pedagogos para a for- mação de mestres-educadores é mais importante ao desenvolvimento do país, do que fórmulas de governo e mesmo do que a indiscriminada alfa- betização em massa.

Justifica-se, pois, a constituição de escolas para "mestres-mentores" os quais dirigirão os "mestres-educado- res", providos de conhecimentos para ter sempre em conta que a heredita- riedade dá a base e a educação bem orientada deve proporcionar a estru- tura firme da personalidade. Ter-

350 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS se-á, dêste modo, verdadeiros artistas

formadores de cidadãos disciplinados, cooperativistas e dispostos à solidarie- dade de que tanto necessita a fami- lia humana.

E a "matéria prima", o aluno, en- contrará, então, escolas de vida e para a vida, livres de preconceitos didáti- cos, que abafam e não educam. —

RENATO K E H L — (A Gazeta, São P a u l o ) .

O PAPEL DA ESCOLA

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