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2 IMPRENSA E REVOLUÇÃO

2.2 Revolução Federalista (1893-1895)

Considerada uma das mais sangrentas revoluções da história latino-americana, a Revolução Federalista nasce a partir de dissensões políticas no Rio Grande do Sul que têm, de um lado, os “maragatos” (federalistas), e de outro, os “pica-paus” (republicanos). Ao final de 32 meses de luta, a “guerra da degola”, como ficou conhecida, deixou um saldo de aproximadamente 11.000 mortos.

O ódio entre duas facções começa a despertar no círculo político gaúcho logo após a Proclamação da República. Despojados do poder que gozavam durante a monarquia, os liberais liderados por Gaspar Silveira Martins foram forçados a entregar a direção de todos os negócios públicos. Diferentemente de outros estados, onde grupos de liberais e conservadores não resistiram ao avanço republicano, percebendo que poderiam manter as mesmas regalias de outrora, no Rio Grande do Sul o Partido Liberal continuava forte. Como explica Franco (1962, p. 195-6, HI), os grandes latifundiários gaúchos da região da Campanha não afluíam para a nova agremiação, fato que desperta o primeiro indício de descontentamento.

Profissionais liberais, militares e outros elementos da classe média urbana, predominaram no Partido Republicano, mesmo depois de sua ascensão ao poder. Quando este empolgou as posições de mando, era ainda pobre de quadros oriundos das elites, e, por isso mesmo, o seu predomínio se apresentou, para as correntes adversárias, como uma insuportável subversão da hierarquia social.

Dessa forma, sem poder contar com o apoio dos caudilhos tradicionais, manipuladores dos votos nas eleições por meio da imposição, os republicanos governam com

intolerância. Para estes, os liberais eram considerados “inimigos da República” e por isso sofriam perseguições e muitas vezes eram forçados a abandonarem as antigas crenças políticas.

Em maio de 1891, os republicanos saem vitoriosos nas eleições para a Constituinte Estadual e dois meses mais tarde elegem Júlio de Castilhos para o cargo de primeiro governador constitucional do Estado. Lideranças da União Nacional, que reunia os liberais, os conservadores e dissidentes republicanos, questionam o resultado das eleições e discordam em todos os termos do conteúdo positivista da carta magna, elaborada pelo próprio Júlio de Castilhos. Seus ataques são proferidos pelas páginas do A Reforma, o jornal oficial do Partido Liberal e que tinha o jornalista alemão Carl von Koseritz como um dos principais agitadores. O descontentamento da oposição, somado ao estilo autoritário de governar de Júlio de Castilhos, aumenta o risco de uma revolução. Conforme aponta Escobar (1983, p. 25, HI), Júlio de Castilhos “era rancoroso por índole, ávido de mando e poder, incapaz de compreender as transigências para um governo de paz e concórdia, de tolerância e liberdade”. Como a oposição era implacável nos ataques à Constituição, o presidente não escondia o desejo de esmagar os inimigos políticos.

Acusado de apoiar o presidente Marechal Deodoro da Fonseca na dissolução do Congresso Nacional, Júlio de Castilhos enfrenta a revolta de várias guarnições militares e movimentos populares. Sem apoio civil nem militar, renuncia ao cargo em novembro de 1891. No lugar de Júlio de Castilhos assume uma junta governista formada pela União Liberal, sem, no entanto, que os políticos ligados ao presidente deposto sejam afastados, motivo pelo qual esse período de cinco dias foi pejorativamente chamado de “governicho”. Os meses seguintes, em que a liderança de governo trocou três vezes, ocupando o cargo o General Barreto Leite, Barros Cassal e Visconde de Pelotas, ficaram marcados pelas perseguições e pela insegurança social, com a anulação de mandatos dos deputados estaduais e da Constituição.

Os republicanos “históricos”, porém, não pretendiam entregar facilmente o poder. Júlio Castilhos lançava manifestos aos correligionários, geralmente pelas páginas do jornal A Federação, conclamando a mobilização de todos para o restabelecimento do governo republicano, uma espécie de cruzada pela “legalidade”. Em meio à anarquia, antigos opositores também se apressavam em reformular os rumos do novo regime. Ao contrário do projeto positivista dos republicanos, os federalistas queriam o controle do poder federal sobre o estadual, em um sistema centralizador sem autonomia dos Estados. Além disso, eles

defendiam o sistema parlamentar nos moldes da monarquia, planejavam proibir a reeleição dos governadores, instituir câmaras legislativas e garantir autonomia aos municípios (CARNEIRO, 1965, p. 78, HI).

De volta da Europa onde estava exilado desde a proclamação da República, Gaspar Silveira Martins, desafeto ideológico de Júlio de Castilhos, torna-se chefe do Partido Federalista, fundado em março de 1892. Preocupado com o perigo que Silveira Martins representava para a manutenção da República, por conta de seu projeto parlamentarista, o presidente Floriano Peixoto assume desde o início uma posição favorável aos republicanos.

É justamente a proposta de implantação do parlamentarismo defendida por Silveira Martins que serve de arma política para os republicanos, que acusam os liberais de trabalharem para a restauração da Monarquia. Diante da gravidade da situação, acrescida de uma tentativa frustrada de revolta dos republicanos, o governo federal intervém com forças militares no Rio Grande do Sul. Nesse cenário de instabilidade, os federalistas assumem definitivamente o poder em junho, tendo à frente do governo Visconde de Pelotas – logo deposto para dar lugar ao General João Nunes da Silva Tavares.

O governo federalista dura pouco, pois neste mesmo mês os militares – a maioria deles adeptos à política castilhista e que não haviam sido destituídos – rebelam-se contra o governo do Estado. A estes oficiais juntam-se outros que foram libertados de prisões ou que haviam sido demitidos. Sem poder contar com o apoio federal, os federalistas assistem as forças policiais e do exército passarem para o lado dos republicanos. No dia 17 deste mês, Júlio de Castilhos volta a assumir o governo do Estado, passando o cargo no dia seguinte a Vitorino Monteiro (atendendo a uma condição imposta por Floriano Peixoto).

Deposto pelo golpe, o general Silva Tavares trata de organizar a resistência, mesmo sem armas suficientes para enfrentar as forças republicanas. Inicialmente apoiado por poucos chefes federalistas, o general consegue com sua audácia mobilizar cerca de 10 mil homens, divididos em várias cidades. Sem telégrafos, essas forças praticamente atuavam sozinhas, desconhecendo a verdadeira situação do movimento. Os republicanos agem rapidamente e enviam diversos regimentos militares para Bagé, onde fazem prevalecer o seu poderio bélico. Sem condições de enfrentamento, Silva Tavares depõe as armas mediante garantias de segurança.

Após a rendição, essas garantias não são respeitadas e o general, amigos e lideranças próximas são presos. Apesar de não haver mais resistência, os republicanos continuam

perseguindo os adversários. Os castilhistas assumem os cargos locais em todas as cidades e prendem centenas de federalistas, influentes ou não. Instigados pelo desejo de vingança pela deposição ocorrida em novembro, os republicanos também promovem saques a propriedades e violências de todo o tipo, como depredações, extorsões, assassinatos e estupros. Com medo dos ataques, os federalistas tratam de escapar, refugiando-se no Uruguai e na Argentina, onde se organizam para a revolta.

Enquanto Silveira Martins procura negociar um fim para o impasse, condenando a possibilidade de uma guerra civil, a política castilhista continua baseando-se na repressão e nas perseguições, com o argumento de defesa contra as conspirações federalistas. Nas palavras de Carone (1971, p. 87, HI), “a revolução é medida extrema, ditada pela persistente perseguição dos governos dominados por Júlio de Castilhos aos oposicionistas e pela certeza de que já não podiam estes voltar ao poder por meios normais”. Franco (1962, p. 202, HI) tem a mesma opinião, ao afirmar que a rebelião não pode ser explicada pela incompatibilidade entre ideias presidencialistas e parlamentaristas, ou entre liberalismo de uns e autoritarismo de outros. “A sublevação nasceu do ressentimento do grupo gasparista apeado do poder em 1889, e de outras facções que a intransigência e o sectarismo castilhista foram alheando das posições de liderança”.

A primeira “invasão” de federalistas saídos do Uruguai acontece em fevereiro de 1893, quando 400 homens liderados por Gumercindo Saraiva encontram-se com as forças de Silva Tavares, totalizando uma coluna com cerca de três mil federalistas. Os combates entre maragatos e pica-paus ocorrem em municípios próximos a Santana do Livramento e Dom Pedrito. Nos meses seguintes surgem novos confrontos em diversas cidades e os maragatos conseguem algumas vitórias. Em geral, os federalistas combatem com lanças e raras armas de fogo, contra republicanos armados de fuzis Comblain, com alcance de 1.200 metros. Além do apoio federal, Júlio de Castilhos recebe também auxílio material de São Paulo, estado aliado a Floriano Peixoto.

Em agosto, dois meses após recuarem devido à derrota na batalha do Inhanduí, os federalistas promovem a segunda transposição pela fronteira. Apesar da superioridade de recursos do governo, os revolucionários conquistam importantes vitórias. Já no final do ano, colunas lideradas por Gumercindo Saraiva e pelo Coronel Salgado aproveitam a instabilidade política causada pela Revolta da Armada e a ocupação de Desterro (Florianópolis) e invadem o estado vizinho. Em seguida entram no Paraná, conquistando cidades importantes como

Curitiba e Lapa. Enquanto isso, outras colunas continuam promovendo combates no estado gaúcho. Como o movimento revolucionário no Rio Grande do Sul procura auxílio das oposições, visualiza na revolta da Marinha uma possibilidade de queda de Floriano Peixoto e a conquista de reforços materiais e humanos. Por isso, mesmo em uma relação instável, dois movimentos que nada tinham em comum juntam-se contra o poder central.

Quando os rebeldes da Marinha entregam-se e a contraofensiva legalista no Paraná intensifica-se, os revoltosos e as colunas revolucionárias são forçados a retornar para o Sul, muitas vezes sem uma tática planejada. Sempre perseguidos pelos republicanos, fugindo dos combates quando a inferioridade bélica não compensa a superioridade humana, os maragatos ficam cada vez mais enfraquecidos pelas deserções, pelo cansaço e pela falta de mantimentos. Em agosto, Gumercindo Saraiva morre baleado quando fazia o reconhecimento de um terreno em Carovi. A morte de Saraiva tem o efeito de uma derrota para o restante dos federalistas e representa o fim da guerra. Após a queda do líder federalista ainda houve algumas lutas, mas o destino da revolução estava decretado. No dia 9 de agosto de 1895 foi redigido e assinado o tratado de paz, sem qualquer alteração na constituição castilhista. Seria preciso outra revolução, em 1923, para alterar a carta em pontos fundamentais.

Assim como aconteceu na Revolução Farroupilha, a imprensa também teve uma intervenção decisiva nos acontecimentos da Revolução Federalista, colaborando para a criação do ambiente revolucionário, dessa vez com melhores condições de circulação e distribuição das folhas periódicas. Primeiramente, os jornais são usados como porta-vozes dos partidos, onde são publicados os manifestos, questionamentos e contestações. Nestes casos, as folhas assumem o papel de documento oficial, levando aos leitores seus projetos e dogmas.

Com o abafamento da organização política liberal por parte dos republicanos, amplia-se a imprensa oposicionista e o volume de notícias que tratam de denúncias em torno de “atos criminosos” do governo. Mesmo com as medidas repressivas dos castilhistas, de perseguição e suspensão de inúmeras folhas, a atividade jornalística no Rio Grande do Sul vive uma época de efervescência em sua linha político-partidária. Por conta das perseguições, os jornais funcionam de forma clandestina, mudando constantemente de sede e não raro instalando-se em cidades do Uruguai e da Argentina. Jornais como O Rio Grande, de Porto Alegre, O Canabarro, de Livramento, e Echo do Sul, de Rio Grande, fazem a publicidade dos maragatos e conseguem levar notícias até o centro do país, via Montevidéu. Já os republicanos defendem-se pelo A Federação, folha oficial do partido fundada em 1884.

Marcados principalmente pela violência da linguagem e a disseminação de boatos e informações duvidosas, os jornais de ambas as facções travam uma guerra psicológica que tenta, por um lado – dos federalistas –, ampliar as derrotas das forças republicanas e a expansão da revolução e, por outro – dos governistas –, enfatizar as destruições e os prejuízos causados à economia do Estado (RÜDIGER, 1990, p. 28 e 31, IM). Veremos no próximo capítulo com mais profundidade a gênese do jornal A Federação e sua participação nos embates políticos. Neste momento, é importante lembrar que durante a Revolução Federalista a folha oficial republicana colabora para a elaboração de um imaginário cuja imagem de si e dos insurretos foi decisiva para a construção de um tipo de “verdade” identificada com o conteúdo ideológico atribuído a cada uma das partes (FÉLIX, 1995, p. 180, HI).

Reverbel (1957, p. 114, IM) ressalta que a originalidade e a autenticidade do jornalismo rio-grandense residem no seu espírito e na sua ação, “com raízes remotas e profundas que se confundem com as de nossa própria formação social, pois se é verdade que a imprensa influi sobre a sociedade, não é menos exato que a sociedade também influi sobre a imprensa, numa escala talvez mais determinante”. Talvez isso explique por que artigos violentos tendem a ficar cada vez mais escassos na imprensa gaúcha a partir da virada do século. Embora a característica doutrinária das linhas editoriais continue prevalecendo na maioria dos jornais pelo menos até 1930, uma nova fase do jornalismo rio-grandense começa a se desenvolver nesse período.

Na virada do século XIX para o século XX a imprensa brasileira desponta como indústria do noticiário, confirmando uma transição iniciada pelo menos duas décadas antes. Apesar de os jornais de caráter artesanal ainda persistirem nos municípios do interior, as empresas jornalísticas dotadas de equipamento gráfico e preocupadas com um plano de circulação, produção e estabilidade financeira conquistam a fidelidade dos leitores graças a mudanças radicais nas relações entre o jornal e o público. A imprensa diversifica-se e aos poucos conquista importância vital no cotidiano das famílias. Surgem os jornais e as revistas de grande circulação.

Por certo as mudanças que atingem a imprensa estão ligadas às transformações sociais e econômicas do país, ao avanço das relações capitalistas e à ascensão da burguesia. Novos estratos sociais já não recebem com a mesma simpatia a imprensa partidária e valorizam o noticiário menos opiniático e mais informativo, de preferência com notas sobre os acontecimentos do mundo exterior. Como destaca Bahia (1972, p. 45, IM), os editores

percebem que o jornalismo de poucas pretensões “não atende às novas necessidades da sociedade brasileira, que vai conhecendo os avanços das comunicações e vai se capacitando na função do jornalismo como veículo de massas”. As empresas que surgem da economia urbana encontram um público receptivo às novidades modernas e usam os jornais para anunciar esses produtos, o que propicia as condições ideais para a expansão dos jornais e revistas enquanto negócio lucrativo.

O progresso da imprensa periódica também passa pela evolução das técnicas de composição, a ilustração, a transmissão de informações por telégrafo, aumento no número de páginas, diversidade editorial voltada a públicos específicos e redução do preço do produto. Essa época, chamada de “idade de ouro da imprensa”, vive a experiência de uma expansão constante porque a imprensa periódica era o único meio de informação coletivo e não precisava temer nenhuma concorrência (ALBERT; TERROU, 1990, p. 51, IM). As tendências desta nova imprensa, segundo Goldenstein (1987, p. 29, IM), são a “ênfase crescente (em graus diversos segundo cada jornal) sobre temas ligados ao lazer, aos faits-divers, aos potins do mundo das celebridades, à violência, à utilização farta de fotos e de uma linguagem mais acessível distanciada da literatura”.

No Rio Grande do Sul, embora num ritmo mais lento, o jornalismo também revela aos poucos o seu novo formato aos leitores, acostumados a uma imprensa virulenta e ocasional, quase sempre de iniciativa individual e de curta duração. Apesar da força contrária exercida pela política e dos altos índices de analfabetismo, a imprensa como profissão remunerada e adequada à racionalidade mercantil torna-se um caminho sem volta.

O principal representante deste novo modelo, melhor enquadrado no conceito de empresa jornalística, é o jornal Correio do Povo, fundado a dois meses do final da guerra pelo sergipano Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior. Apesar de toda a expectativa em torno da atuação política do novo jornal, que naturalmente deveria pender para os federalistas por conta da ligação do proprietário com Gaspar Silveira Martins, o Correio do Povo manteve-se distante dos ódios partidários. Esta postura, na opinião de Reverbel (1985, p. 94, HI), contribuiu para desarmar os espíritos nos anos seguintes, um processo de pacificação que passa pelo jornalismo objetivo e isento.

Caldas Júnior vivia no Rio Grande do Sul desde criança e foi introduzido no jornalismo por Gaspar Silveira Martins como revisor de A Reforma. Mais tarde tornou-se redator-chefe do Jornal do Commercio e, como era comum na época, conseguiu levantar um

pequeno capital entre o comércio porto-alegrense para montar seu próprio jornal, o qual se apresentou ao público como “órgão de nenhuma facção partidária, que não se escraviza a cogitações de ordem subalterna” (RÜDIGER, 1993, p. 58, IM).

No entanto, o Correio do Povo não foi o único periódico a surgir na época com a proposta de imparcialidade na cobertura jornalística. O Jornal do Commercio, por exemplo, já tirava cinco mil exemplares por dia e também era considerado imparcial. Varela (1915, p. 621, HI), depondo sobre a superioridade do Jornal do Commercio no que concerne à oferta de dados para a pesquisa histórica, atribui isso ao “severo programa da folha, em nossas contentas civis, fazendo a imparcial transcrição de todos os documentos que ocorrem, seja de um, seja de outro círculo”. A novidade apresentada pelo Correio do Povo, e que de fato determina o seu sucesso, é a eficiência empresarial e administrativa comandada pelo gerente do negócio.

Em geral, os jornais independentes constituíam empresas apenas no nome e o seu cunho era mais estatutário do que empresarial, sem qualquer propensão de reinvestimento dos lucros. Para os proprietários, bastava que o jornal não significasse prejuízo para continuar funcionando. Caldas Júnior pensou diferente e conseguiu capitalizar o empreendimento com redução de custos e aumento da produtividade. Para fazer isso, reformou as oficinas, adquiriu os mesmos maquinários utilizados pela imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo e aumentou o número de páginas e o formato da folha sem custo adicional ao leitor. Aos poucos, outros jornais passaram a imitar o modelo do Correio do Povo. O resultado disso foi a substituição lenta, porém definitiva, do jornalismo partidário pelo jornalismo informativo moderno. Como bem observa Reverbel (1957, p. 124, IM).

Estabelecia-se, afinal, no nosso meio, o primado da notícia, abrindo-se caminho para as grandes tiragens e, com elas, as possibilidades de aparelhamento técnico e desenvolvimento econômico da empresa jornalística, como é entendida e praticada hoje em dia, dentro do dinamismo da era industrial, em todos os centros civilizados do mundo ocidental.

Deste estágio inicial para o seguinte o Correio do Povo deixou para trás todos os seus concorrentes em termos de expansão empresarial. A redução de custos permitiu um rápido crescimento nos pequenos anúncios, o que gerou aumento de vendas e criou leitores para os principais anunciantes (RÜDIGER, 1993, p. 60, IM). Dos mil exemplares iniciais, o jornal saltou para 10 mil em 1910, mesmo ano em que Caldas Júnior adquiriu a primeira impressora rotativa no Estado. Nos anos seguintes o empresário completou esse ciclo de renovação tecnológica com a compra das quatro primeiras linotipos da imprensa no Rio

Grande do Sul e com a inauguração, em 1912, do “serviço fotográfico”. Na edição do dia 13 de janeiro daquele ano o jornal trazia na primeira página uma fotografia “movimentada”, clara, impressa com precisão de detalhes e com a legenda informativa da chegada do Dr. João Simplício, secretário da Escola de Engenharia, a bordo do Itapema. “A novidade irritou os concorrentes, mexeu com a cidade, alegrou os amigos do jornal, acabrunhou os adversários e levantou dúvidas dos incrédulos. – Aí tem coisa... – resmungavam os mais céticos” (GALVANI, 1995, p. 159, IM).

A penetração do Correio do Povo em todo o território gaúcho foi notável nas duas primeiras décadas do século XX e acompanha o acelerado processo de desenvolvimento econômico e comercial da época. Dentro deste contexto, apesar de se declarar um veículo comprometido com toda a massa, conforme diz o editorial do primeiro número, o Correio foi encarado por muitos como um instrumento identificado com a nova burguesia gaúcha, formada em geral por pequenos comerciantes e estancieiros ligados aos setores agrícola ou

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