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3.6 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

3.6.4 Revolução Industrial e Popularização dos Parques

Apenas com a Revolução Industrial as áreas vegetadas passaram a ter uso público. Em época anterior a vegetação pertencia ao domínio privado e era usada para a coleta de víveres, consumo de madeira e para a prática da caça. Essas atividades eram permitidas apenas para a nobreza. A Revolução Industrial permitiu que maior quantidade de pessoas tivesse acesso aos benefícios advindos da modernidade. Modificou-se também o direito de propriedade das áreas. que a partir de então ao menos na Europa se tornaram acessíveis a qualquer cidadão da plebe. No Brasil a popularização de áreas verdes públicas iniciou apenas no século XX. No entanto, devido a conjuntura sócio-econômica a tentativa fracassou.

3.6.4.1 Século XVIII

A origem dos parques urbanos está ligada as praças residenciais privadas inglesas de fins o século XVIII, gradualmente convertidas para uso de todas as classes sociais. As praças ajardinadas de Blommsbury em Londres e os crescents de Bath são exemplos, (Hough,1998).

Scalise (2002) relacionou na Inglaterra, em finais do século XVIII, o surgimento do parque urbano público. A consolidação se deu no século XIX pelas intervenções do barão Haussmann em Paris e projetos nos EUA pelo Park Movement de Frederick Law Olmstead. As características morfológicas deles eram de jardins franceses formais e monumentais, e de jardins ingleses contemplativos e de paisagem e parkways - parques lineares norte-americano de vizinhança, respectivamente. A maior acessibilidade ao conhecimento e maior senso crítico incitaram a critica as tentativas renascentistas de domesticação do meio ambiente natural. Rejeitou-se a criação de uma paisagem artificial, monótona e estática. Aqueles jardins formais com topiarias; arbustos e árvores geometricamente podados foram condenados no intuito de valorizar a vegetação natural. Com as novas demandas que surgiram, expansão, adensamento urbano e mudanças no ritmo de trabalho houve necessidade de saneamento das cidades. As ações incluíram espaços propícios para a contemplação. Esta abordagem utilizou-se como inspiração os modelos paisagísticos que surgiram no século XVIII.

3.6.4.2 Século XIX 3.6.4.2.1 Modelos Urbanos

Conforme Geddes (1994), Scalise (2002) e Spirn (1995) diversos autores retomaram a discussão sobre a limitação do tamanho das cidades, jardins urbanos públicos e privados e na integração entre cidade-campo. A introdução de parques e árvores na paisagem urbana foi a tônica dos reformadores cívicos do século XIX. Eles defendiam a concretização da cidade saneada e verde vista como ideal. A vegetação e arborização visava integrar o tecido urbano e espaços públicos ao meio natural do entorno. As áreas vegetadas passaram, então, a ser reivindicação comum de todas as classes sociais. Alguns novos modelos urbanos surgiram. Eles negavam a cidade tradicional e traçaram planos para cidades-novas e subúrbios. A tentativa de tornar a vida da população mais agradável inspirou as Garden Cities e a implantação de parques. Essa iniciativa contribuiu para sensível mudança na definição de qualidade ambiental urbana.

Choay (1997) e Goitia (1997) descreveram alguns modelos de desenho urbano. As primeiras idéias neste sentido surgiram com o utopista Robert Owen em 1816. Ele propôs a combinação da cidade com áreas vegetadas. Contudo, foi apenas no século XX que ocorreram experiências práticas com as Garden Cities de Ebenezer Howard, entre outros utópicos. No modelo progressista de Le Corbusier, a Ville Radieuse de 1920, era previsto o zoneamento de funções com ênfase nos problemas de transporte e sobretudo na implantação de áreas vegetadas com grande amplitude, entre elas parques, jardins, entre outros locais destinados a prática desportiva. O modelo da Broadacre City, desenvolvida entre 1932 e 1935, de Frank Lloyd Wright caracterizava um caso extremo de dispersão. Era um tipo híbrido entre campo e cidade. Nela a natureza se harmonizava com o meio construído. As funções urbanas seriam ligadas por um eficiente sistema de transportes.

Nos modelos modernistas o espaço urbano é estruturado para que o cidadão realize apenas uma função em cada local. O resultado deste modelo reflete-se na produção de espaços exclusivos residenciais, educativos, comerciais, industriais, administrativos, entre outros e uma enorme mobilização de meios mecânicos, circulação de pessoas, fluxo de matéria, informação e desperdício de tempo e de energia, (Franco,2000).

3.6.4.2.2 Modelos Paisagísticos

A evolução dos parques públicos para Hough (1998) ocorreu durante o século XIX por influência do movimento Romântico. Acreditavam que o meio natural inserido no meio urbano melhoraria a saúde dos cidadãos. Além de que os espaços para atividades físicas, lazer e contemplação da natureza melhorariam os costumes morais. A idéia central era a melhoria da estética da cidade ameaçada pela expansão desordenada, destruição de rios, solo. Por outro lado pregava a substituição de vegetação nativa pela adoção ampla de espécies exóticas.

Os parques e boulevards pretendiam diminuir os problemas ambientais e sociais das cidades durante o século XIX. Entre as metas constavam melhoria do clima urbano, redução da poluição do ar e da água, controle de enchentes. Entretanto, na maioria dos casos os usos consistiam apenas em passeio e contemplação. O princípio do Park Movement, do “conservacionista” Olmsted, primava por utilizar os espaços livres, criar oportunidades para recreação e preservação do meio ambiente, dos recursos naturais, proteger mananciais e controle de enchentes. Algumas intervenções paisagísticas causaram grande alteração em nome de uma prometida recuperação ambiental e higienização urbana. Nesta época houve desmonte de montanhas para o aterro de faixas litorâneas e lacustres alagáveis, mangues e pântanos, vistos como insalubres. (Spirn,1995). Percebe-se que o processo de formação de parques públicos tanto na Europa como nas Américas ocorreu simultaneamente seguindo correntes doutrinárias semelhantes. Os projetos privados ou públicos desenvolveram uma forma de estruturação regida pela valorização do meio natural. Muitas cidades procederam a intervenções urbanas associadas ao simbolismo do poder econômico da elite social dominante. As mudanças embelezadoras de caráter monumental, contudo, destruiram o tecido urbano medieval europeu ou colonial americano cortando-o com grandes boulevards ou rings para valorizar a imagem na paisagem.

Embora a integração entre cidade-natureza fosse um objetivo as cidades e parques incorporaram a natureza apenas como ornamento. As árvores exóticas e os gramados em muitos casos substituíam os maciços florestais nativos. Os lagos não eram localizados observando os ecossistemas alterando o meio físico de forma agressiva. Apesar de intenções o foco sanitarista e moderno era superficial ignorando processos subjacentes.