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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

7.2 P ROPOSTA DE EXTRATIFICAÇÃO EM NÍVEIS DE COMPLEXIDADE PARA AS COMPETÊNCIAS

A recomendação sobre os níveis de complexidade foi feita direta e explicitamente nas conversas com os especialistas, durante a Etapa Empírica I. Na etapa seguinte, nos estudos de caso realizados, este foi um código emergente, cujas citações – embora não tão expressivas – referiam-se às práticas de gestão por competências nas organizações. Antes de prosseguir com este ponto de revisão, vale esclarecer brevemente o entendimento sobre níveis de complexidade.

O termo “work level”, expressão traduzida para o português como “nível de complexidade”, foi cunhado por Elliott Jaques, e concerne à capacidade de abstração de um profissional para tomar decisões, considerando variáveis envolvidas e suas implicações ao longo do tempo (McMorland, 2005). Uma pessoa tende a executar seu trabalho dentro de um patamar de sofisticação, conforme suas atribuições e responsabilidades, sendo que este nível tende a ser maior de acordo com o desenvolvimento e a maturidade do profissional. Logo, profissionais que trabalham em níveis mais elevados de complexidade são capazes de articular um número maior de informações, antecipar tendências e acontecimentos, deduzir implicações e, diante disso, conseguem tomar, hoje, decisões mais acertadas (Fernandes, Santos & Fernandes, 2014).

O conceito de níveis de complexidade aponta tanto para o desenvolvimento individual quanto para o organizacional. À medida que um indivíduo se desenvolve, tende a aumentar sua contribuição à organização, aplicando novos conhecimentos, implantando processos, ampliando e sofisticando tecnologias. Tal contribuição representa um legado ao patrimônio de conhecimentos da organização (Dutra, 2010). No Brasil, a reflexão sobre níveis de complexidade recebe atenção especial de autores ligados à área de gestão de pessoas, sobretudo com relação à gestão de competências e ao desenvolvimento individual, (Fernandes et. al, 2014). Sendo assim, pela sua aplicação, justifica-se a pertinência dos níveis de complexidade para a proposta dessa tese.

Segundo Fernandes (2013), os conceitos de competências e complexidade podem ser combinados ao se estabelecer o que se deve esperar como competência para cada nível. Em geral, autores recomendam cinco a sete níveis de complexidade (McMorland, 2005), o que deve variar conforme cada estrutura organizacional. Para o exercício de revisão aqui realizado, a título de exemplificação, foram escolhidas uma competência humana para a sustentabilidade relativa à gestão (Gestão Socioeconômica) e outra à inovação (Inovação

Ambiental), de maneira aleatória. Foram atribuídos a três níveis de complexidade – estratégico, tático e operacional – definições e duas entregas respectivas. O Quadro 21 representa esta ideia.

Quadro 21 – Exemplificação da proposta de extratificação em níveis de complexidade para as competências humanas para a sustentabilidade.

Gestão Socioeconômica

Condição para agir frente à resolução sistêmica de problemas, de forma colaborativa e participativa, que estimulem e proporcionem a capacitação indutora de decisões autônomas e conscientes em grupos de interesse

diversos, capazes de suprir tanto as suas necessidades sociais quanto as econômicas, ao mesmo tempo contribuindo com os objetivos organizacionais.

Nível Descrição Entregas

Estratégico

Condição para agir com vistas à proposição e ao desenvolvimento de resoluções sistêmicas de problemas, de forma colaborativa e participativa, que estimulem e proporcionem a capacitação indutora de decisões autônomas e conscientes em grupos de interesse diversos, capazes de suprir tanto as suas necessidades sociais quanto as econômicas, ao mesmo tempo contribuindo com os objetivos organizacionais estratégicos.

- Desenvolve seus liderados, dando feedback sobre as respectivas atuações e oportunidades de desenvolvimento, em acordo com o mapa de sucessão definido na organização

- Projeta ações de capacitação para a comunidade local, em consonância à estratégia e políticas da organização.

Tático

Condição para agir com vistas à coordenação de resoluções sistêmicas de problemas, que estimulem e proporcionem a capacitação indutora de decisões autônomas e conscientes em grupos de interesse diversos, ao mesmo tempo contribuindo com os objetivos organizacionais tático- estratégicos e promovendo a colaboração participativa de equipes.

- Implanta sistemas de avaliação que permitam aos indivíduos feedbacks fidedignos sobre sua atual situação na organização.

- Coordena ações de capacitação para a comunidade local, em consonância à estratégia e políticas da organização.

Operacional

Condição para agir com vistas à execução e operacionalização da resolução sistêmica de problemas, de forma colaborativa e participativa, com apoio à sua própria capacitação indutora de decisões autônomas e conscientes, e em grupos de interesse diversos, ao mesmo tempo contribuindo com os objetivos definidos para sua área de atuação.

- Acompanha seu programa de desenvolvimento individual, solicita apoio e feedback ao líder sobre a execução do que lhe foi delegado e repactua resultados, se necessário. - Executa ações de capacitação para a comunidade local, em consonância à estratégia e políticas da organização. Inovação Ambiental

Condição para agir proativa e colaborativamente frente a novas soluções ambientais em

produtos/serviços/processos concernentes aos objetivos organizacionais de competitividade e condizentes aos objetivos e princípios de justiça estabelecidos na organização, nos domínios econômico, social e ambiental e em

observância a seus efeitos sistêmicos.

Nível Descrição Entregas

Estratégico

Condição para agir proativa e colaborativamente na proposição e no desenvolvimento de novas soluções ambientais em produtos/serviços/processos concernentes aos objetivos organizacionais estratégicos de competitividade e condizentes aos objetivos e princípios de justiça estabelecidos na organização, nos domínios econômico, social e ambiental, e em observância a seus efeitos sistêmicos.

- Desenvolve estudos que promovam inovações, em acordo com demandas internas por mudanças e melhorias em termos ambientais.

- Propõe soluções ambientais em produtos/serviços/processos em nível estratégico.

(Conclusão)

Tático

Condição para agir proativa e colaborativamente na coordenação e supervisão de equipes na implementação de novas soluções ambientais em produtos/serviços/processos, concernentes aos objetivos organizacionais tático-estratégicos e condizentes aos objetivos e princípios de justiça estabelecidos na organização, nos domínios econômico, social e ambiental, e em observância a seus efeitos sistêmicos.

- Coordena parcerias com stakeholders diversos na busca de novas soluções ambientais para produtos/serviços/processos, conforme objetivos tático-estratégicos estabelecidos.

- Supervisiona equipe na implementação de soluções ambientais em produtos/serviços/processos na sua área funcional.

Operacional

Condição para agir proativa e colaborativamente na execução e implementação de novas soluções ambientais em produtos/serviços/processos, concernentes aos objetivos definidos para sua área de atuação e aos objetivos e princípios de justiça estabelecidos na organização, nos domínios econômico, social e ambiental, e em observância a seus efeitos sistêmicos.

- Colabora em centros/redes de pesquisa locais, contribuindo para a preservação de recursos ambientais locais.

- Operacionaliza tarefas relativas a soluções ambientais em produtos/serviços/processos na sua área de atuação.

Fonte: Elaborado pela autora

Diante do Quadro 21, nota-se que enquanto as descrições das competências são adequadas para comportar elementos estratégicos conforme o nível de atuação, as entregas acompanham esta orientação e as exigências tornam-se mais complexas à medida que as pessoas vão assumindo posições de maior complexidade. Este ponto fica claro ao observar-se que, propositadamente, a segunda entrega de cada nível de competência refere-se à mesma ação, porém, com níveis de exigência diferenciados.

Este exercício é passível de ser aplicado a todas as seis competências humanas para a sustentabilidade propostas, novamente, com espaço para flexibilização conforme o contexto organizacional. Acredita-se que a extratificação das competências em níveis de complexidade e o esclarecimento de suas entregas deve contribuir para superar um dos desafios de ordem prática apontados pelos especialistas na Etapa Empírica I da pesquisa, o de promover a assimilação dos significados dados pelos membros da organização em relação às definições e entregas para as competências voltadas à sustentabilidade.