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A – O RTOGNAISSES DO C OMPLEXO G NÁISSICO M IGMATÍTICO A RQUEANO A P ALEOPROTEROZÓICO NO A FLORAMENTO BCE-09 A S UDOESTE DE F ORTALEZA

1 3 Falha Principal

A – O RTOGNAISSES DO C OMPLEXO G NÁISSICO M IGMATÍTICO A RQUEANO A P ALEOPROTEROZÓICO NO A FLORAMENTO BCE-09 A S UDOESTE DE F ORTALEZA

A caracterização da deformação frágil no substrato cristalino a sudoeste da cidade de Fortaleza (CE) foi efetuada pelo estudo em um afloramento principal (BCE-09), localizado a aproximadamente 20 km da capital do Estado do Ceará (quadro 3 na figura 5-11), na margem leste da rodovia BR-020.

O afloramento é constituído por augen gnaisses pertencentes ao Complexo Gnáissico-Migmatítico arqueano a paleoproterozóico do Domínio Ceará-Central. Possuem composição granodiorítica a monzogranítica, contendo hornblenda, e são caracterizados por uma foliação Sn subvertical e de direção

NE-SW, que contém lineações de estiramento de baixo rake. É provável que esta trama seja o resultado da superposição de estruturas dúcteis de diversas idades (bandamento metamórfico, dobramentos isoclinais, zonas de cisalhamento etc.), cuja origem pode remontar à Orogênese Brasiliana (Neoproterozóico III/Eocambriano) ou mesmo a eventos tectono-metamórficos ainda mais antigos. Veios de quartzo subverticais apresentam direção principal ENE-WSW (prancha 5-8, fotografia 1) a E-W, e podem ser atribuídos a deformações dúcteis/frágeis a frágeis ocorridas em época tardibrasiliana (Eocambriano a Eoordoviciano).

Além das estruturas formadas em regime dúctil e em condições de alta temperatura, foi reconhecida a atuação de fases de deformação em temperatura consideravelmente mais baixa e em regime frágil, diagnosticadas pela presença de alguns sistemas de fraturamento que cortam ou retrabalham todas as estruturas anteriores.

As fraturas no afloramento BCE-09 são subverticais e dividem-se entre quatro conjuntos: E-W, WNW-ESE, ENE-WSW e NW-SE (figura 5-21). Dos quatro conjuntos, as fraturas E-W (prancha 5-8, fotografias 2 e 3) são as mais comuns, e apenas as fraturas NW-SE não apresentam estrias; nos demais, estas são suborizontais.

Todos as fraturas apresentam, como característica comum, preenchimentos por óxidos de ferro (prancha 5-8, fotografias 4 e 5), que constituem veios de espessura geralmente não superior a 2 mm. No entanto, nas fraturas de direção NW-SE, os preenchimentos são relativamente mais desenvolvidos o que, aliado à ausência de estrias discerníveis, permite indicar que estas estruturas correspondam a juntas de distensão. Ademais, em alguns locais as juntas NW-SE estão escalonadas em relação às fraturas E-W (prancha 5-8, fotografia 6), possibilitando inferir uma cinemática transcorrente dextral para estas últimas estruturas, cinemática esta que é reforçada pelos “batentes” presentes nos planos de fraturamento.

FIGURA5-21: Estereogramas de Schimdt (hemisfério inferior) para as fraturas mapeadas na região a sudoeste de Fortaleza

(CE).

A cinemática dos demais conjuntos de fraturas não pôde ser seguramente determinada, uma vez que não foram reconhecidos marcadores deslocados em campo. Sua cinemática pode, contudo, ser tentativamente inferida pela relação com as fraturas de cisalhamento E-W e as juntas distensionais NW- SE. Neste sentido, como as fraturas de direção WNW-ESE e ENE-WSW apresentam estrias de baixo ângulo e assumindo que estas fraturas sejam contemporâneas aos outros dois conjuntos (como pode ser inferido pelo preenchimento comum em todas as estruturas), é possível considerar que tanto as fraturas WNW-ESE como as ENE-WSW também apresentem cinemática transcorrente dextral (figura 5-22). Não foi possível indicar com segurança um sentido de movimento para as fraturas de direção NE-SW. A presença de estrias de baixo ângulo é uma indicação de que as fraturas NE-SW possuam uma movimentação transcorrente.

Sendo assim, o arranjo espacial destes conjuntos de fraturas é sugestivo de um campo de tensões com V1 na direção NW-SE e V3 orientado conforme NE-SW, o que estaria relacionado à presença

PRANCHA 5-8

FOTOGRAFIA

na região a sudoeste de Fortaleza (CE) e

1: Plano exposto de fratura, com direção E-W (o

cabo do martelo aponta para o norte), afetando augen gnaisse contendo preenchimento por veio de quartzo, correlacionado ao últimos incrementos da deformação brasiliana, já em regime frágil/dúctil.

FOTOGRAFIA

tampa da caneta aponta para o norte) 2: Fraturas de direção aproximadamente E-W (aafetando augen gnaisse monzogranítico na região a sudoeste de Fortaleza (CE).

FOTOGRAFIA

tampa da caneta aponta para o norte) exibindo películas de óxido de ferro. Augen gnaisse na região a sudoeste de Fortaleza (CE). O quadro em amarelo indica a localização do detalhe mostrado na fotografia 4.

3: Plano exposto de fratura com direção E-W (a FOTOGRAFIA

.

4: Detalhe do plano de fratura E-W, ilustrado na

fotografia 3, evidenciando a impregnação por óxido de ferro

FOTOGRAFIA

na região a sudoeste de Fortaleza (CE).

5: Fratura com direção ENE-WSW, completamente

impregnada por película de óxido de ferro. Augen gnaisse F

OTOGRAFIA

egião a sudoeste de Fortaleza (CE).

6: Juntas distensionais com direção NW-SE em

escalonamento com fraturas de cisalhamento E-W, indicando cinemática transcorrente dextral para estas. Note que as juntas de distensão sofrem deflexão para WNW-ESE próximo à fratura de cisalhamento. R

de falhas principais, transcorrentes dextrais e de direção E-W (figura 5-22). Em tal contexto, as fraturas E- W poderiam ser tidas com estruturas do tipo Y, enquanto que as juntas NW-SE corresponderiam a estruturas do tipo T da classificação de Riedel (figura 5-22). As fraturas WNW-ESE e as ENE-WSW possivelmente representariam estruturas sintéticas do tipo R e P, respectivamente (figura 5-22).

FIGURA5-22: Regime cinemático e estado

de esforços inferido a partir da análise das fraturas na região a sudoeste de Fortaleza (CE). O contexto definido mostra que as fraturas teriam sido originadas por um regime essencialmente transcorrente dextral relacionada a falhas principais (FP) atualmente de direção E-W.

Embora a orientação das fraturas e do campo de tensões associado sejam compatíveis com o que seria esperado para a tectônica do Cretáceo, devido ao rompimento do Gondwana e a origem da Margem Equatorial Atlântica, o tipo de preenchimento observado nas fraturas é muito similar àquele nas fraturas estudadas por Menezes (1999) e Menezes & Jardim de Sá (1999) na Grota da Fervedeira no Estado do Rio Grande do Norte (vide Seção 5.3.2), onde aqueles autores atribuem às mesmas uma idade neógena. Sendo assim, é possível que uma situação análoga seja encontrada no sítio do afloramento BCE-09, conquanto não possa ser descartado que o preenchimento por óxido de ferro também possa estar associado a uma atividade cretácea.

B – QUARTZITOS PALEOPROTEROZÓICOS A MESOPROTEROZÓICOS DO GRUPO CEARÁ NA PONTA DO