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2.8 Outros Atores de Relevância no Comércio Mundial

2.8.3 Rumo à integração

Posteriormente, com inspiração no modelo europeu (Mercado Comum Europeu), ocorreu a criação de um mercado econômico regional para a América Latina, estabelecendo-se

155 Vários conflitos de tensão hão e houveram entre os países latino-americanos, que a seguir se listarão apenas

para exemplificar a questão, como a chamada Guerra do Chaco, que foi um conflito armado entre a Bolívia e o Paraguai e se estendeu de 1932 a 1935, originando-se pela disputa territorial da região do Chaco Boreal; o Conflito de Beagle, que envolveu uma região que divide a Argentina e o Chile na Terra do Fogo, o Estreito de Beagle, e quase levou os dois países à guerra em 1978. Em 1985, a disputa foi submetida à arbitragem do Papa João Paulo II. Também, a questão do Acre, ocorrida entre 1899 e 1903, na qual o Brasil e a Bolívia, durante o ciclo da borracha, por pouco não entraram em guerra aberta; um conflito entre o Peru e o Equador (chamado Guerra de Cenepa, na área do rio com este nome) estourou em janeiro e fevereiro de 1995 em função de atrito sobre as fronteiras estabelecidas em 1942 e foi solucionado pelo Protocolo de Rio; tensões existentes entre o Brasil e o Suriname, a questão Brasil e Bolívia, a pendência dos Brasiguaios com o Paraguai, a própria Guerra do Paraguai, a construção de Itaipu, que gerou tensões com a Argentina; a disputa entre a Venezuela e as Guianas pelo território a oeste do Rio Essequibo, quase 60% das Guianas e que é reinvidicado pela Venezuela como sendo parte de seu território; a Guerra do Pacífico, conflito ocorrido entre 1879 e 1881, confrontando o Chile e as forças conjuntas da Bolívia e do Peru. Para maiores esclarecimentos, recomendamos pesquisa no sítio eletrônico <http://www.mre.gov.br/index.php?option=com_ content&task= view&id=1385>.

em fevereiro de 1960 a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc), a qual foi assinada por Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, México, Paraguai e Peru. Posteriormente, Colômbia, Equador, Bolívia e Venezuela aderiram. A Alalc objetivava a eliminação, até 1980, do maior número possível de restrições comerciais existentes entre os países-membros, todavia não prosperou.

Em 1980 é firmado o Tratado de Montevidéu, cujo objetivo foi a criação da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), por Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, visando implementar políticas convergentes, que conduzissem a um mercado comum regional. Esse Tratado encontra-se em vigor até os dias presentes, e em seu arcabouço foi criado o Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul).

Com o fim do ciclo dos governos militares, a redemocratização nesses países fez com que quase naturalmente cessassem as desconfianças recíprocas, aproximando a Argentina e o Brasil, nações que durante o século XX viveram uma disputa pela liderança regional, mas que firmaram a Declaração de Iguaçu157 de 1985, que estabelecia uma comissão bilateral, e à qual se seguiu uma série de acordos comerciais complementares em 1986.

O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado em 1988, fixou como objetivo central da política regional o estabelecimento de um mercado comum, ao qual os demais países latino-americanos poderiam unir-se.

Posteriormente houve a adesão do Paraguai e do Uruguai, e, não obstante as assimetrias econômicas e diferenças pontuais de ritmo, Argentina, Brasil e os dois países retrocitados firmaram o Tratado de Assunção de 1991, que estabelecia o Mercado Comum do Sul, observando um cronograma de integração próprio.

Importante notar que o Mercosul foi um marco político e econômico em uma região onde imperavam tensões e disputas geopolíticas, considerando-se as diversas ditaduras

156 LAFER, Celso. A política externa brasileira, necessidade interna versus possibilidades externas. Cadernos de Problemas Brasileiros, v. 375, n. 375, maio/jun. 2006. p. 2.

157 Em dezembro de 1985, Brasil e Argentina assinam a declaração de Foz do Iguaçu, que foi a base para a

e que as democracias existentes eram incipientes nesse ciclo autoritário que a América do Sul experimentou.158

Quando a moeda brasileira é estabilizada após a edição do Plano Real, o Mercosul se sedimenta, transmudando sua natureza de simples tratado para fato, representando doravante uma importante corrente comercial entre os quatro países acordantes.

Em 1994 temos o Protocolo de Ouro Preto, que, entre outras disposições, conferiu personalidade pública internacional para o Mercosul, facultando a esse bloco ser signatário de diversos acordos internacionais.

Em decorrência de diversas disputas internas e crises econômicas sucessivas, como foi o caso da crise argentina em 2002, e do alargamento da lista de exceção da TEC, o Mercosul foi significativamente enfraquecido.

A disputa havida entre Argentina e Uruguai159 versando sobre a construção de duas indústrias de celulose foi levada à Corte Internacional de Justiça160 para apreciação, sendo negada por 14 votos a 1 a concessão das medidas pretendidas pela Argentina.

Sobre ser uma questão ambiental, que serviu de pano de fundo para as tensões regionais, ficaram demonstradas para a opinião pública internacional a imaturidade dos atores

havia créditos internacionais disponíveis. Ambos perceberam a necessidade de complementaridade de suas economias em razão da assimetria entre elas.

158 Os países da América do Sul experimentaram sucessivos golpes militares: Brasil, em 1964; Uruguai, em

1973; Chile, 1973; Argentina, 1975. Na Bolívia, o general Alfredo Ovando Candía, que assume o poder pela força, é derrubado em 1970 pelo general Juan José Torres, que cai em 1971. O general Hugo Banzer Suárez assume o governo. Banzer renuncia em 1978, e abre-se novo período de golpes e contragolpes. Em 1980, Hernán Siles Zuazo, de centro-esquerda, é eleito presidente, mas impedido de assumir por um novo golpe liderado pelo general Luis García Meza, que é deposto em 1981. Generais sucedem-se na Presidência até 1982. Stroessner, general de exército, foi presidente do Paraguai entre 1954 e 1989. No Peru, o mais recente período militar é de 1968-1980. Fonte: <http://www.hrw.org/>. OK

159 Total de disputas levadas à Corte Internacional de Justiça por ano: 2006 – 3 decisões; 2005 – 1 decisão; 2004

– 1 decisão; 2003 – 3 decisões; 2002 – 3 decisões; 2001 – 3 decisões; 2000 – 1 decisão; 1999 – 17 decisões; 1998 – 4 decisões; 1996 – 1 decisão; 1995 – 2 decisões; 1994 – 1 decisão; 1993 – 2 decisões; 1992 – 3 decisões; 1991 – 4 decisões; 1990 – 1 decisão; 1989 – 3 decisões; 1988 – 1 decisão; 1987 – 1 decisão; 1986 – 3 decisões; 1984 – 2 decisões; 1983 – 1 decisão; 1982 – 1 decisão; 1981 – 1 decisão; 1979 – 1 decisão; 1978 – 1 decisão; 1976 – 1 decisão; 1973 – 3 decisões; 1972 – 2 decisões; 1971 – 1 decisão; 1967 – 1 decisão; 1962 – 3 decisões; 1961 – 2 decisões; 1960 – 3 decisões; 1959 – 5 decisões; 1958 – 4 decisões; 1957 – 10 decisões; 1955 – 8 decisões; 1954 – 2 decisões; 1953 – 3 decisões; 1951 – 10 decisões; 1950 – 6 decisões; 1949 – 4 decisões; 1947 – 1 decisão.

regionais e a sua fraqueza política, eis que não foram capazes de resolver pela via política ou diplomática as divergências intrabloco.

É de rigor assinalar que, em 2004, entrou em vigor o Protocolo de Olivos 2002, que estabelece o Tribunal Arbitral Permanente de Revisão do Mercosul, com sede em Assunção, capital do Paraguai.

Na crise entre o Uruguai e a Argentina, o Tribunal ad hoc161 foi acionado,162 em

razão do bloqueio argentino promovido nas pontes que interligavam os países. Em alegação, os representantes argentinos consideravam os bloqueios como um exercício regular de um direito, pois a legislação vigente na Argentina assegura a livre manifestação, e que não ocasionavam prejuízos aos uruguaios.

Diante disso, e ao exame da situação concreta, os árbitros decidiram dar provimento parcial à reclamação uruguaia, ou seja, que a Argentina, ao permitir a referida conduta, violou os termos do Tratado de Assunção, qual seja, garantir a livre circulação de bens e serviços entre os Estados-partes do Mercosul. No mesmo sentido foi reafirmado o compromisso com a proteção da qualidade da água e a sustentabilidade do desenvolvimento econômico.163.

Ainda, foi solicitada ao rei da Espanha a arbitragem dessa pendência entre os países.164

Em dezembro de 2005, a Venezuela protocolou seu pedido de adesão ao Mercosul, e em 4 de julho de 2006 seu ingresso ao bloco econômico foi formalizado, em Caracas.

160 Foi requerida uma medida cautelar para a Corte Internacional de Justiça requerendo a tomada de medidas

com base ao art. 41 do Estatuto da Corte. Maiores informações no sítio eletrônico <http://www.mrree.gub.uy/mrree/Prensa/Noticias/Ordenanza_CIJ_ing.pdf>.

161 Em 6 de setembro de 2006, o Tribunal Arbitral Ad Hoc emitiu seu laudo na controvérsia que envolve

Argentina e Uruguai sobre a obstrução de diversas estradas.

162 <http://www.mrree.gub.uy/mrree/Prensa/Laudo_Tribunal_AD_HOC>.

163 Para maiores esclarecimentos: <http://www.icj-ij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&code=au&case=135

&k=88>.

164 “Bajo los auspicios de S.M. el Rey de España, en el marco de su labor de buenos oficios para la facilitación

del diálogo entre la República Argentina y la República Oriental del Uruguay, los días 18 a 20 de abril de 2007 se han reunido en Madrid los representantes personales designados por los Señores Presidentes de ambas Repúblicas.” Vide sítio eletrônico <http://www.mrree.gub.uy/mrree/Prensa/madrid20042007.htm>.

Alguns fizeram a leitura de que o ingresso da Venezuela serviria de um viés antinorte-americano, em razão das seguidas preleções que o regime chavista faz na região, tornando o Mercosul mais uma instância para verberação de um discurso tosco e nacionalista, permeado com elementos ideológicos,165 autêntica retórica, clamando pelo socialismo do século XXI, embora, até o presente momento, raros sejam os que compreenderam o real significado da expressão, apequenando o avanço do comércio regional.166.

No que diz respeito ao meio ambiente, o órgão responsável é o Subgrupo de Trabalho Meio Ambiente SGT n. 6.167

A despeito do direito a um meio ambiente saudável, o Brasil, pelos termos da decisão do Tribunal Arbitral do Mercosul, obrigou-se a aceitar a importação de pneus usados, recebendo, desde o ano de 2003, 200 mil pneus do Uruguai. Semelhante decisão, cujo teor ainda não se conhece, foi tomada no âmbito da OMC. As críticas dos setores ambientalistas são várias, considerando que os países ricos estão exportando resíduos perigosos para os países em desenvolvimento.168

165 Uma das grandes influências de Hugo Chavez é o filósofo Francês Roge-Guarrody, que na década de 1970

promoveu um encontro em marxistas e cristãos, fundando uma nova corrente de pensamento “marxista- cristão”. Depois se tornou islâmico, e profundamente anti-semita, sendo influenciado pelo regime do Irã. Talvez isso explique a proximidade entre o regime de Caracas e Teerã.

166 “Na agenda externa do Mercosul, que inclui iniciativas nas esferas latino-americana, hemisférica e extra-

hemisférica, destacam-se os seguintes temas: a) a negociação de acordos de livre comércio entre o Mercosul e os demais membros da Aladi; b) a implementação do Acordo-Quadro Inter-regional de Cooperação Econômica e Comercial, firmado em dezembro de 1995 entre o Mercosul e a União Européia; c) a coordenação de posições no âmbito das negociações com vistas à formação da Área Hemisférica de Livre Comércio. A integração comercial propiciada pelo Mercosul também favoreceu realizações nos mais diferentes setores, como educação, justiça, cultura, transportes, energia, meio ambiente e agricultura. Nesse sentido, vários acordos foram firmados, incluindo o reconhecimento de títulos universitários e a revalidação de diplomas, até, entre outros, o estabelecimento de protocolos de assistência mútua em assuntos penais e a criação de um ‘selo cultural’ para promover a cooperação, o intercâmbio e a maior facilidade no trânsito aduaneiro de bens culturais.” Fonte: <http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/ web/port/relext/mre/orgreg/ mercom/index.htm>.

167 “El Grupo de Mercado Común ha instituido dentro del MERCOSUR, el Subgrupo de Trabajo n. 6 de Medio

Ambiente, el cual sostiene los principios de gradualidad, flexibilidad y equilibrio definidos en el Tratado de Asunción, los principios emanados de la ‘Declaración de Canela’ y de la CNUMAD´92 y la necesidad de promover el desarrollo sustentable.” Fonte: <http://www.mercosur.int/msweb/principal/contenido.asp>.

168 Para maiores informações, consulte o sítio do Mercosul: <http://www.mercosur.int/msweb/>, bem como o