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REGIONAL, 1981-1999

3.1 As famílias e os arranjos de inserção no mercado de trabalho: reestruturação e a participação da força de trabalho feminina – aspectos gerais

Diante da incapacidade do sistema em conseguir atender as demandas da população, acrescido da decadência do Estado de Bem Estar Social e a ascensão do modelo neoliberal, resultando no fortalecimento das iniciativas pessoais e privadas, surgiu uma forte tendência de transferência de responsabilidades do Estado para a comunidade e a família. Sendo assim, perante a piora das condições de vida e a degradação progressiva do Estado ressurgiu a família. Família em que as dimensões foram ampliadas de forma a ultrapassar os limites do parentesco por sangue ou adoção (GOLDANI, 1994b). De tal maneira, as famílias responsabilizaram-se quase que totalmente pela reprodução cotidiana e geracional, passando a envolver, frequente e simultaneamente, o trabalho doméstico26 - inclusive o cuidado com os filhos – e do trabalho remunerado, por parte das mulheres (BILAC, 2014).

Tem-se, então, que as conjunturas marcadas por crise econômica ou crescimento geram implicações na relação família-trabalho. Em momentos de crise, emergem possibilidades de mudanças na relação, contudo assinaladas pelas questões de gênero com a divisão sexual do trabalho determinando os lugares ocupados por homens e mulheres na esfera da reprodução e da produção. O baixo crescimento das décadas de 1980 e 1990, especificamente a crise dos anos 1990 com a reestruturação produtiva, possibilitaram mudanças quanto à inserção dos componentes da família no mercado de trabalho. Rearranjos familiares de inserção foram definidos e pontuados pelo aumento da participação da mulher casada paralelamente à redução da participação dos filhos (MONTALI, 2016). Além de que, fatores sociais, demográficos e culturais, implicaram na diminuição do tamanho das famílias.

26 Dos serviços pessoais merece destaque o trabalho doméstico que no Brasil é marcado pelas raízes da

colonização e escravidão brasileira. Ao longo dos anos e dos ciclos econômicos se desenvolveu marcado pela precarização, informalidade, pela ausência de regulação dos baixos rendimentos e por expressiva presença das mulheres e negras no total das ocupações. Ressalta-se ainda, o fato do trabalho doméstico estar particularmente correlacionado com a desigualdade social, a concentração de renda e os períodos de crise e recessão da economia. De modo que, nos anos 1990, com o baixo dinamismo econômico e a crescente desestruturação do mercado de trabalho, observou-se o crescimento do emprego doméstico em termos absolutos e proporcionais no total das ocupações, constituindo no principal receptor da mão de obra feminina no mercado de trabalho. Portanto, segundo a autora o trabalho doméstico é extremamente sensível às oscilações da economia e do mercado de trabalho (FURNO, 2016).

Desse modo, esse processo apresentou como tendência a destituição do padrão de manutenção do domicílio do “chefe provedor” e o surgimento das famílias com dois provedores (MONTALI, 2016). Deste modo, as análises feitas tomando como base a unidade familiar identificam as respostas das famílias e dos sujeitos às diferentes conjunturas que condicionam as possibilidades de emprego (MONTALLI & LOPES, 2003).

No estudo da relação família-trabalho, devem-se avaliar as interações entre as estruturas produtivas e da estruturação das famílias, considerando a complexa influência entre os determinantes econômicos e os culturais no acesso ao trabalho associado à família. A articulação entre a esfera da produção e as estruturas produtivas e da esfera da reprodução e as estruturas familiares realizam-se pela lógica da divisão sexual do trabalho vigente no mercado de trabalho e na família (MONTALI, 2003b). Dessa forma, o trabalho e a família são eixos que organizam a vida dos homens e das mulheres de qualquer idade, raça ou nacionalidade. Dado ao crescente aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, ganharam centralidade as discussões acerca dos papéis e responsabilidades de homens e mulheres no interior das famílias. Porém, ainda permaneceram as desigualdades de gênero, modificando-se em ritmos diferenciados, resultando em uma condição de cidadania fragilizada para as mulheres (GOLDANI, 2002).

Assim sendo, considerar o tamanho das famílias e os seus arranjos, torna-se fundamental para verificar a situação socioeconômica da população. É na família que se concentra a responsabilidade pela qualidade de vida de seus integrantes, e a partir dela são feitas decisões relativas à moradia, alimentação, educação, tratamento de saúde, consumo e, especialmente, decisões quanto à participação na atividade econômica de seus membros, determinando, assim, a principal fonte de renda para parcela considerável das famílias (LEONE et all, 2010).

Todavia, a disposição dos componentes da família para o mercado de trabalho é marcada por diferenciações, pois expressam relações de hierarquia e atribuições que tecem as relações familiares definindo as possibilidades de inserção em atividades remuneradas. Logo, é diferenciada a disponibilidade para o mercado de trabalho entre os componentes familiares, assim como os vínculos de ocupações precários e não precários e mesmo a absorção destes por setores de atividade. De outro modo, a sua disponibilidade é afetada pelo padrão de absorção da força de trabalho vigente no mercado (MONTALI, 2016).

Durante as duas décadas de 1980 e 1990, evidenciou-se a permanência da divisão sexual do trabalho, apesar das mudanças ocorridas na estruturação do mercado de trabalho e no emprego, segundo o sexo. Por isso, as taxas de participação e de ocupação das mulheres é

menor, especialmente às atribuídas ao cuidado pela família como ocorre com as cônjuges e as chefes de família e, em especial, às atribuídas ao cuidado de crianças e adolescentes, correspondendo a determinadas etapas do ciclo de vida familiar. Assim, as mulheres, na posição de filhas, apresentaram maior disponibilidade de inserção no mercado de trabalho (MONTALI, 2016).

Levando-se em consideração a conjuntura econômica e as mudanças na configuração da família, conclui-se que as transformações na relação família-trabalho resultaram de mudanças de natureza sociodemográficas, bem como aos valores relacionados ao papel da mulher na sociedade brasileira (MONTALI, 2015), além dos de ordem econômica (MONTALI, 2016) e, os ligados aos fenômenos culturais (LEONE et all, 2010). Uma vez que outros determinantes, além da necessidade econômica, são explicativos para a mudança na inserção da mulher no mercado de trabalho, relacionados aos padrões de comportamento e o novo papel atribuído à mulher na sociedade (LEONE, 1996). Dessa forma, para Martine et all (1994), os determinantes que contribuíram diretamente para o aumento da participação feminina no mercado de trabalho foram: o movimento de modernização e urbanização da sociedade, acompanhado das mudanças culturais; o processo de terceirização da economia; aumento do nível de educação, superando o dos homens; os resultados da queda da fecundidade; a necessidade de manutenção e complementação dos rendimentos familiares.

As mudanças de caráter demográfico estão relacionadas à diminuição da fecundidade e ao envelhecimento da população (LEONE et all, 2010); o processo de concentração urbana dado ao intenso movimento migratório das décadas de 1970 e de 1980; as mudanças na composição dos domicílios, tanto na configuração como no número médio de componentes (MONTALI, 2016). Nas sociais e culturais, evidenciou-se a diminuição no número de matrimônios; o crescimento dos divórcios e o retardo das uniões com o novo papel assumido pela mulher na família e no trabalho. Mesmo que o modelo de família tradicional, constituído pelo casal com filhos seja predominante, reduziu-se em decorrência do aumento dos arranjos familiares constituídos pela mãe com filhos e pessoas vivendo sozinhas (LEONE et all, 2010); o movimento feminista que ganhou fôlego a partir dos anos 1980; o aumento da escolaridade da mulher. Quanto aos associados à natureza econômica, as crises econômicas dos anos 1980 e 1990 determinaram a expansão do setor de serviços, constituindo como o principal absorvedor da força de trabalho da mulher (MONTALI, 2016).

Os mecanismos de adaptação perante às mudanças econômicas, sociais, demográficas e culturais impactaram no funcionamento e na estrutura das famílias, tornando-as cada vez mais complexas e distanciando dos padrões tradicionais. Esse processo tornou-se evidente a

partir da metade dos anos 1960, com o aumento das coabitações, das separações e das novas uniões. Na família emergiu novas figuras como o padrasto, madrasta e o meio-irmão. Adiou- se o nascimento do primeiro filho e as taxas de fecundidade foram reduzidas. Ocorreram modificações nas configurações familiares, com o aumento de casais sem filhos e de famílias monoparentais, com queda das tradicionais. Com a redução da fecundidade e as transformações nos arranjos familiares, a tendência foi de aumento na proporção de pessoas idosas nas famílias (GORI et all, 2007; LEONE et all, 2010). Além de que, as probabilidades de casar-se por primeira vez, em crescimento na década anterior, diminuiu em cerca de 27% entre 1980 e 1984 (GOLDANI, 1994b).

Em relação à queda da fecundidade, acentuou-se a partir dos anos 1960. De uma média de 6,3 filhos por mulher, caiu para 5,5 em 1970, para 4,4 em 1980, depois para 2,9 em 1991, atingindo 2,4 em 2000 (BILAC, 2014). De modo que, a vida das famílias brasileiras passou por modificações substanciais a partir de meados dos anos 1970. O processo de transformação no tradicional arranjo familiar, composto por casal com filhos, apontou expressivas mudanças, mas também de continuidade no relacionamento entre seus membros. As esposas e os filhos aumentaram sua participação no mercado de trabalho e na composição da renda monetária familiar, dividindo com o chefe as responsabilidades de manutenção da família, redefinindo assim os padrões de hierarquia e sociabilidade (GOLDANI, 1994).

Nos anos 1980, houve deteriorações e aprofundaram-se as desigualdades sociais, encaradas na concentração da renda e redução do salário de parte expressiva da população, com acirramento das diferenças existentes. Acentuaram-se as divergências regionais, apontadas no final da década como destaque para a miséria e dos sintomas de modernidade em espaços urbanos regionais. De modo ativo, com intuito de enfrentar a deterioração das condições de vida, a família reapareceu, ampliando-se as redes de solidariedade (GOLDANI, 1994). De outro modo, as mudanças do início de 1990 foram em direção ao enxugamento no tamanho, com maior diversificação nos arranjos domésticos e familiares, intensificando-se nos últimos anos os adultos vivendo sozinhos e as famílias monoparentais (GOLDANI, 1994), tanto chefiadas por mulheres e homens (MONTALI, 2015).

Para tanto, segundo Goldani (1994b), o processo de reestruturação das famílias e a redução do seu tamanho não foi suficiente. Fez-se necessário o ingresso de um número maior de membros no mercado de trabalho em tentativa de manutenção do seu orçamento familiar, sinalizando para a entrada da mulher e dos filhos ao mercado. De outro modo, para Ramos & Soares (1995), o principal determinante na decisão de entrada da mulher no mercado de trabalho pode não ter sido a necessidade de complementação da renda familiar. Contudo,

marcada por estagnação econômica nos anos 1980 e por crescente empobrecimento da população no geral, ao ingressarem no mercado de trabalho, as esposas e mães contribuíram de fato com a manutenção da renda familiar, ajudando a arcar com os gastos da família. Assim sendo, independente dos estímulos e da relação de causalidade quanto à entrada da mulher na atividade econômica, o fato é que sua participação foi na direção de sustento da renda familiar, consolidando-se como a parcela de rendimento ao perder a função de meramente complementar (LEONE, 1996).

Os domicílios particulares quase dobraram entre o início de 1970 e o final de 1980, passando de 18,4 para 36,6 milhões, com intensificação do número de pessoas morando nessas unidades (59%), elevando-se de 89,9 para 143,2 milhões. De outro modo, reduziu-se o número médio de pessoas, de 4,8 para 3,9 (GOLDANI, 1994), alcançando 3,59 em 2002 (HOFFMANN & LEONE, 2004). Com as transformações, diminuíram-se os arranjos conjugais tradicionais, composto por casal com filhos, que nos finais dos 1980 representavam apenas 48% do crescimento total e, aumentaram as famílias monoparentais, totalizando 22% e as unidades unipessoais, com 11% do crescimento total. Ressalta-se, porém que no começo da década de 1990, grande parte dos domicílios eram constituídos por laços de parentesco, ainda que os arranjos do tipo “não-famílias”, fossem os que mais cresceram. Nesse sentido, em 1989, dos 36,8 milhões de domicílios particulares, cerca de 92,6% estavam organizados ao redor de uma família, com ou sem filhos e parentes residentes e, 7,4% eram de pessoas vivendo sozinhas ou de duas ou mais sem relação de parentesco (GOLDANI, 1994). A proporção das unidades domésticas brasileiras com chefes mulheres praticamente dobrou de 10,7% para 20%, entre 1960 e 1989 (GOLDANI, 1994b).

Entre 1981 a 2002, foi intenso o aumento na proporção dos domicílios com a presença de mulheres trabalhando, elevando-se de 35%, em 1981, para 46,9%, em 2002. Quanto aos homens, diminuíram de 82,2%, em 1981, para 72,3%, em 2002. Essa diminuição resultou não apenas da queda da participação masculina no mercado de trabalho, mas também do aumento no número de domicílios decorrente das separações e, da diminuição da frequência dos casamentos, resultando na presença de domicílios sem homens na atividade econômica. No período, o número de domicílios cresceu a uma taxa de 2,86%, maior que a observada para o aumento da população, 1,68% ao ano (HOFFMANN & LEONE, 2004).

As famílias apresentavam um tamanho médio de 4,1 pessoas, com o arranjo mais comum sendo o de casal com ou sem a presença de filhos, com 79% do total. Por outro lado, destacou-se o aumento dos arranjos monoparentais, com 16,5% das famílias. Mais da metade das famílias brasileiras, estavam em fase de formação ou expansão, com chefes com idade

média de até 39 anos e, mais de 75% apresentavam filhos com menos de 14 anos e dependentes da renda do chefe. Em 1989, a proporção média da renda familiar que dependia do chefe era de 72%, variando segundo os tipos de família cuja dependência maior era daquelas com todos os filhos menores de 14 anos, especialmente as das mães sem cônjuge, em que 90% da renda dependia do chefe e, dos casais com filhos, 82% (GOLDANI, 1994).

Paralelamente à redução do tamanho das famílias, aumentou-se a proporção dos membros que trabalhavam. Em 1981, em média 38% das pessoas trabalhavam na família, subindo para 42%, em 1989. Às mulheres foi atribuído o aumento, com as taxas de atividade saltando de 27% em 1981, para 37% em 1989 (GOLDANI, 1994), elevando entre as mulheres cônjuges, de 34,5% em 1983, para 39,7%, em 1988. O aumento na proporção das que trabalhavam ou estavam procurando emprego, representou importante mudança com a entrada no mercado de trabalho de 1,9 milhão de trabalhadoras cônjuges, subindo de 6 milhões em 1983, para 7,9 milhões, em 1988 (SEDLACEK & SANTOS, 1991).

Em pesquisa realizada por Montali (2016), com base nos dados censitários, verificou- se o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho para as regiões metropolitanas do país nas décadas de 1980 e 1990, assim como a consolidação nos anos 2000. A taxa de participação saltou de 31% em 1980, para 52% em 2010, paralelamente a estabilidade em torno de 70% da taxa masculina, com queda em 2010. Em 1980, as mulheres eram 32% da PEA e os homens 68%, e em 1991 representavam 38% e os homens 62%. Já nos anos 2000, as mulheres correspondiam a 43% e os homens, 46%.

Compreende-se que as mudanças na organização familiar, de modo especial as resultantes da crise econômica, impactaram diretamente no orçamento familiar à medida que a renda do trabalho tornou-se uma parcela a mais na renda da família a ser apropriada pelos membros. De forma que, alterações na composição da renda familiar foram sinalizadas pelo aumento na taxa de participação feminina (RAMOS & SOARES, 1995). Conforme Sedlacek & Santos (1991), as variações na taxa de participação representaram elemento primordial na determinação da capacidade das famílias de se adaptarem à crise do mercado de trabalho. Vê- se que esses resultados sinalizam para a importância do trabalho das mulheres e dos filhos quanto à sobrevivência das famílias, de outro modo, questionando o tradicional modelo familiar do chefe provedor (GOLDANI, 1994b).

No entanto, as transformações na década de 1980, ainda que resultassem em aumento da taxa de atividade das mulheres, manteve-se baixa, em 38%. Desse modo, a taxa de inatividade da força de trabalho feminina ainda era elevada, mesmo que tenha apresentado queda nas distintas faixas etárias e, também, entre as mulheres casadas e com filhos de pouca

idade. Porém, observou-se que as mulheres permaneceram concentradas em um reduzido número de ocupações com baixo rendimento e nível de qualificação inferior, marcadas por inexpressiva capacidade gerencial. Defrontamo-nos, então, com um quadro de participação no mercado de trabalho com forte segregação (LAVINAS, 1996).

O contexto econômico desfavorável determinou em aumento da vulnerabilidade para muitos. Com medidas flexibilizadas no mundo do trabalho, ocorreram restrições e cortes em empregos e salários, com as reformas resultando em um número cada vez maior de pessoas e famílias em situações de empregos precários, desemprego, deterioração na qualidade de vida e maior pobreza. A comunidade e as famílias assumiram então responsabilidades por serviços que o Estado se isentou de oferecer. Em um contexto marcado pela redução dos recursos do Estado e desmantelamento das proteções e garantias ligadas ao emprego, as famílias assumiram posição primordial de proteção social para os seus membros (GOLDANI, 2002).

Nos anos 1990, para os homens adultos reduziu-se a capacidade de atuarem como provedores, do mesmo modo em que os jovens deixaram de ser fonte de recurso adicional para a família, vista à dificuldade de se manterem e, também, inserirem no mercado de trabalho. Além do mais, a força de trabalho feminina surgiu como um dos poucos recursos disponíveis para a sobrevivência de muitas unidades domésticas (GOLDANI, 2002). A mulher emergiu com um desafio duplo de ser fonte de cuidados e provimento para as suas famílias, em um contexto de mudanças do perfil de inserção da mulher com um mercado completamente adverso. Verificou-se a redução na taxa de atividade das mulheres mais jovens, com intenso aumento nas idades mais elevadas, localizadas, em geral, em empregos precários com menor segurança e baixa proteção social (LAVINAS, 1997). Esse cenário não contemplou apenas as mulheres casadas e ocupadas, mas as não casadas, responsáveis por filhos, pais ou parentes idosos (GOLDANI, 2002).

Desse modo, durante a década, intensificou e consolidou-se a entrada da mulher no mercado de trabalho no Brasil. Aumentou a taxa de participação da força de trabalho e da PEA, ocorrendo um movimento inverso em relação à taxa de participação dos homens que apresentou queda. No agregado, ficou evidenciado que na média do país, a taxa dos homens declinou de 71% em 1991, para 70%, em 2000 e, a das mulheres subiu de 32%, em 1991, para 44%, em 2000. Cumpre ressaltar que, se na década de 1970 a tendência foi de aumento da entrada da mulher no mercado de trabalho, nos anos 1990 o movimento foi de aumento da entrada das mulheres cônjuges (MONTALI, 2015).

Nesse sentido, em um ambiente adverso e pouco favorável para o mercado de trabalho, as famílias recorreram a outros membros como suporte para colaboração com a

renda familiar (MONTALI, 2006). As transformações no mercado de trabalho afetaram a condição de atividade dos integrantes no interior das famílias, visto o intenso desemprego nos anos 1990, quando ficaram sujeitas a situações de vulnerabilidade quanto à pobreza. Para o seu enfrentamento (LEONE et all, 2010), no interior das famílias surgiram novas opções estratégicas de inserção no mercado de trabalho, como resposta à dificuldade de manutenção dos aportes pelos tradicionais provedores. Tornou-se frequente o aumento da participação das mulheres entre os ocupados, especialmente das cônjuges, com importância fundamental na composição dos rendimentos das famílias (MONTALI, 2006).

Segundo Lavinas (1996), com base nos dados da PNAD 1990, das mulheres que estavam inseridas no mercado de trabalho, metade encontrava-se no setor informal, logo destituída dos direitos previdenciários. A maioria realizava trabalho em tempo parcial, em detrimento dos homens que eram apenas 15,5%, determinando em condições desiguais de competição da força de trabalho feminina, comparada à masculina. Paralelamente, havia 82,2% das mulheres que desenvolviam atividades em seu próprio domicílio, sinalizando que as oportunidades de multiplicar suas atividades eram restritas a um número de funções compatíveis com os limites do espaço e das atividades domésticas. Limites esses, revestidos de grande importância quando são lares pobres e desprovidos de infraestrutura básica.

Desse modo, para Lavinas (1997), a alocação do trabalho feminino em um conjunto restrito de atividades foi uma constante durante a década. Em 1995, são quatro os ramos de atividades com predomínio em mais de 50% das trabalhadoras. Os principais ramos eram os serviços pessoais (empregadas domésticas, costureiras, lavadeiras, passadeiras e cozinheiras), administração pública, serviços de saúde e ensino (professoras da primeira a quarta série) privados, em geral, e os serviços comunitários. Ocupações pouco valorizadas e